quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Um banquete para todos


Ao terminar outubro, o mês missionário, partilhamos a reflexão conclusiva apresentada na missa do último domingo pelo Grupo missionário paroquial.

Foi apresentado o resumo da mensagem do Papa Francisco para o 98º Dia Mundial das Missões, inspirado na parábola de Mt 22, 9.

 

Ide e convidai

A missão é ida incansável e convite para a festa do Senhor.

A missão é ida incansável rumo a toda a humanidade para a convidar ao encontro e à comunhão com Deus.

Deus, grande no amor e rico de misericórdia, está sempre em saída ao encontro de cada ser humano para o chamar à felicidade do seu Reino, apesar da indiferença ou da recusa.

Assim, Jesus Cristo, bom pastor e envidado do Pai, ia à procura das ovelhas perdidas.

 

Para o banquete

É a dimensão escatológica e eucarística da missão de Cristo e da Igreja.

A missão de Cristo é missão da plenitude dos tempos, como Ele mesmo declarou no início da sua pregação: Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo.

Os discípulos de Cristo são chamados a continuar esta mesma missão do seu Mestre e Senhor.

 

Todos, todos, todos

A missão é universal, de todos para todos de todos os tempos.

Todos devem convidar e todos devem ser convidados.

Os destinatários do convite são todos, sem excluir ninguém.

Cada uma das nossas missões nasce do Coração de Cristo para deixar que ele atraia todos a si.

Todos numa só comunhão.

Todos na mesma participação.

Todos com igual missão.

Também foi encenado e cantando o diálogo da canção – Vai amigo vai… – em que Jesus envia e desfaz dúvidas ou temores aos chamados a evangelizar.

E no adro da igreja, ao terminar a missa, foram partilhados os biscoitos típicos da Ilha de São Miguel para lembrar que a missão é um convite para o banquete e que é preciso circular pelo mundo para que a humanidade dê uma volta.

Ver também:

etiqueta – Ano Missionário

 




quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Sem esforço não há salvação


4ª feira – XXX semana comum

Sem esforço ninguém se salva

Alguém perguntou a Jesus:

- Senhor, são poucos os que se salvam?

Jesus podia ter dito sim, sim são poucos – e os ouvintes teriam a tentação de desistir, porque seria difícil alcançar o objetivo.

Jesus podia ter dito não, não são poucos, são muitos – e os ouvintes teriam a tentação de alivar os seus trabalhos porque seria fácil alcançar a salvação.

Jesus podia ter calado, mas não dizendo nada, estaria a indiciar que concordava com os poucos sugeridos, pois quem cala consente.

Jesus podia ter dito que não sabia, mas os seus ouvintes perderiam a fé em Jesus salvador que não sabe o que faz.

Então Jesus respondeu simplesmente – Esforçai-vos. – E dizendo isto estava a valorizar o esforço e não o resultado. Estava a sugerir que se queriam saber quantos eram salvos deviam perguntar cada um a si mesmo… se se esforçavam para ser salvos.

 

- São muitos ou poucos os que se salvam?

- Esforçai-vos, isto é, perguntai a vós mesmo se vos esforçais muito ou pouco para serdes salvos. A resposta à vossa pergunta está aí.

 

Ver também:

Aumentai a porta estreita

Procurar a porta estreita

Porque ninguém se salva

A porta estreita é a cruz

Continua estreita

Porta elegante e fina

Humilde e estreita

Caminho apertado

A porta da Cruz

As aparências enganam

Porta estreita e baixa

Esforçai-vos

Porta estreita

 

terça-feira, 29 de outubro de 2024

A capacidade de crescer


3ª feira – XXX semana comum

A) Tudo e todos nascem pequenos.

Um grão de mostarda.

Uma pitada de fermento.

Algo invisível, pequeno, insignificante, mas se tratado com amor vai crescendo e chega à maturidade.

B) Jesus não quis fugir à regra.

Nasceu pequenino, humilde e pobre.

E foi crescendo em idade e sabedoria e graça.

Começou sozinho a anunciar o Evangelho, chamou outros e todos foram sementes, fermento, sal, luz.

Eu acho que Jesus nasceu pequenino não para copiar todas as coisas que nascem pequenas, mas todas as coisas nascem pequenas para imitar Jesus.

C) Mesmo amassados crescemos

Precisamos de crescer porque todos nascemos pequenos.

Às vezes pensamos que já não aprendemos mais nada, que nada mais temos para crescer, mas o ditado popular diz – morrendo e aprendendo, pois nunca é tarde para crescer.

A parábola do fermento mostra que mesmo amassados e maltratados temos oportunidade de aumentar e de crescer…

 

Ver também:

Ninguém nasce grande

As três medidas de farinha

Sementes do reino

Semeando mostarda

Fazer crescer

A praga da mostarda

Grão da fé

Jesus é grão e fermento

Receita para mudar o mundo

Grão a grão

Da semente à árvore

Sementes de humildade

Fermento

Pequenas grandes coisas

Lições da mostarda

Grão de trigo e de mostarda

Mostarda

Flor da mostarda

Semente de mostarda


domingo, 27 de outubro de 2024

Chamar, curar, seguir


Ano B – XXX domingo comum

Jesus e Bartimeu:

Chamou para curar e curou para seguir

 

A – Sair da cegueira

O cego Bartimeu coloca-se nas mãos de Jesus, disposto a deixar-se iluminar, recebendo a ajuda do Mestre, para se tornar seu discípulo.

Por isso despoja o pouco que tem, abandona o seu lugar de mendicante na estrada, joga fora o seu manto de mendigo e corre até chegar ao lugar onde está Jesus.

O ‘milagre’ está feito: Jesus simplesmente confirma-o, dizendo-lhe: a tua fé te curou, a sua própria fé no Filho de David, a quem chamou Mestre e a quem pediu misericórdia, para o seguir no caminho.

Bartimeu está sentado à beira da estrada.

É um homem cego e desorientado, fora do caminho, sem capacidade de seguir Jesus. Curado da cegueira por Jesus, o cego não só recupera a luz, mas também se torna um verdadeiro seguidor do seu Mestre, pois, a partir daquele dia, seguiu-o pelo caminho.

 

O episódio da cura do cego Bartimeu é para nós um convite para sairmos da cegueira.

É a cura que precisamos porque também estamos cegos e não vemos onde está o essencial da fé cristã no seguimento de Jesus.

 

B – O chamamento ao discipulado

O episódio da crua de Bartimeu termina com a frase – logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.

Isto faz-nos concluir que o episódio tem uma intenção vocacional.

Podemos equacionar as coisas nestes termos:

 

A vocação do ponto de vista de Jesus

1º - Jesus passa, escuta, vê… Não está parado. Está atento.

2º - Jesus chama ou manda chamar. Convoca. Toma a iniciativa.

3º - Jesus dialoga, interage. Pergunta e responde.

4º - Jesus faz que ele veja. O encontro com Jesus faz sempre ver as coisas de outra maneira.

5º - Jesus faz caminho com os seus amigos. Jesus segue com o chamado e este caminha com Jesus.

 

A vocação do ponto de vista do discípulo

1º - Aceita o chamamento ou o convite de Jesus.

2º - Deixa a capa, desprende-se, despoja-se de tudo o que tinha

3º - Vai ao encontro de Jesus. Muda de posição e de condição. Levanta-se (recupera a dignidade) deixa a berma da estrada e vai ao encontro de quem o chama.

4º - Quer fazer a vontade de Jesus – manda que eu veja –  Vai, a tua fé te salvou.

5º - Pôs-se a seguir Jesus pelo caminho. Isto foi só o começo, pois o caminho continuou.

 

Ver também:

De cego a discípulo

Rezar com corpo e alma

Os olhos do coração

Soma e segue

O pequeno Bartolomeu

As virtudes de Bartimeu

Curar a cegueira

À margem da estrada

O cego Bartimeu

Três personagens

A cura de Bartimeu

Ser cego

O cego e a onça

Que eu veja

Bar Timeu

Abrir os olhos

 

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A criança é o pai do homem

 

6ª feira – XXIX semana comum

 

Sabeis discernir o aspeto da terra e do céu, porque não sabeis discernir o tempo presente?

Sabeis descobrir hoje o tempo que vai fazer amanhã.

Devíeis também saber, pelo que sois hoje, que tipo de pessoas sereis amanhã.

Ou seja, sabeis que o tempo de amanhã é determinado pelo que foi o dia de hoje, porque vos esqueceis que a vossa vida de amanhã será o efeito da vida que levais hoje?

De facto, o jornal de amanhã é escrito no dia de hoje.

Como Freud, o criador da psicanálise, dizia: a criança é o pai homem.

 

Habitualmente dizemos que o dia de hoje não é irmão do dia de ontem, quando hoje as condições meteorológicas são contrárias às de ontem.

Devíamos dizer com maior propriedade que o dia de hoje é o pai do dia de amanhã.

Hoje é o efeito de ontem e a causa do amanhã.

 

Conclusão:

Que eu saiba analisar a vida que eu tenho hoje para saber o que me espera amanhã.

Como é que eu quero amanhã ser melhor se continuo com as mesmas atitudes?

Diz-me o que fazes hoje e dir-te-ei como serás amanhã.

Se és assim hoje, o que é que esperaras ser amanhã?

 

À margem:

O Pe. António Vieira lembrava nos seus sermões que “todos os homens prometem a Deus o dia de amanhã e quase todos dão ao demónio o dia de hoje.

 

Ver também:

Mudam-se os tempos

Saber discernir

Sinais dos tempos e os tempos dos sinais

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Fogo, guerra, divisão


5º feira – XXIX semana comum

Eu vim trazer o fogo à Terra e que quero Eu senão que ele se acenda?

Essas palavras ditas por Jesus parecem-nos estranhas e contrárias ao Evangelho, mas se pensarmos bem são palavras que revelam e completam a sua missão.

Na manhã do dia 24 de janeiro de 2016, na ilha da Madeira, foi vista esta nuvem com uma forma peculiar. Foi apelidada de ‘Mão de Deus’ ou ‘Mão de fogo’. (Cf. meteomadeira.blogspot.pt)

Quem não arde, não incendeia.

1º - O Senhor não quer ter ao seu serviço almas mornas ou frias, mas corações acesos pelo fogo que ele trouxe à terra e que quer ver arder.

Às vezes nós somos mais parecidos com os bombeiros do que homens e mulheres com ardor de fazer fogo.

2º - O Senhor não nos quer inativos, pois há sempre um combate a enfrentar, uma guerra a vencer. O cristão é aquele que vive sempre inquieto para alcançar novos ideais.

Aproximemo-nos então do fogo que arde e inflama, isto é, Jesus Cristo Nosso Senhor.

É preciso arder, iluminar e incendiar para contagiar o ardor que Cristo nos acendeu.

Com Cristo seremos vitoriosos.

 

Ver também:

O fogo sagrado do templo

O fogo que Jesus nos traz

Sem atrito não há fogo

A igreja que arde

O fogo do coração

De cisão

Piróforo

Lutar para vencer

Trazer o fogo

O fogo da terra

O santo que esteve na matriz da ilha do Faial

Memória litúrgica de Santo António Maria Claret (1807-1879)

António Maria Claret foi um sacerdote católico espanhol, arcebispo de Cuba, fundador da ordem dos padres Claretianos, também conhecida como Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria em 1849.

Em 1850 foi nomeado bispo de Santiago de Cuba onde desenvolveu um apostolado frutuoso.

Em 1857 retornou a Espanha onde veio a exercer várias responsabilidades eclesiásticas zelando pela instrução, pelas artes, pelas ciências, fundando bibliotecas

Passou pela Matriz do Santíssimo Salvador da Horta na ilha do Faial, Açores.

Esteve em Lisboa em dezembro de 1866. Depois de pregar em várias igrejas da capital foi agraciado por D. Luís com a Cruz da Real Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa

Santo António Maria Claret foi beatificado por Pio XI em 1934 e canonizado por Pio XII em 1950.

 

Dos escritos de Santo António Maria Claret

“A mim próprio o digo: um Filho do Imaculado Coração de Maria é um homem que arde em caridade e que abrasa por onde quer que passa; que deseja eficazmente e procura por todos os meios acender em todos os homens o fogo do amor divino. Nada o demove, alegra-se nas privações, empreende trabalhos, abraça dificuldades, compraz-se nas calúnias, regozija-se nos tormentos. Não pensa senão no modo de imitar e seguir Jesus Cristo, rezando, trabalhando, sofrendo e procurando sempre e unicamente a glória de Deus e a salvação das almas.”

 

Ver também:

António Maria Claret

 

quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Estar ocupados e preparados


4ª feira – XXIX semana comum

 

Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem…

Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado.

Um dia a celebração da missa foi perturbada por uma terrível tempestade que causou grande pânico entre os participantes. A eletricidade foi cortada, os relâmpagos, os trovões, e a força dos ventos que atingiam o edifício cujas paredes estremeciam. Muito assustados, todos pensavam que era o fim do mundo e que o juízo final estava a chegar.

Os presentes pediram ao padre que suspendesse a celebração, pois as trevas e o medo impediam-nos de continuar a rezar.

O sacerdote, de pé e com voz forte e firme, disse-lhes:

- Meus irmãos. O dia do juízo final pode estar para breve como também pode tardar muitos anos. Ninguém o sabe. Se não está perto, então não temos com que nos preocupar; a tempestade passará e continuaremos tranquilos… Mas se o juízo final está muito perto, eu prefiro que me encontre cumprindo com o meu dever e bem ocupado. Por favor, acendam mais velas para iluminar minimamente a assembleia e continuemos a celebração. Aliás, nestas circunstâncias o que podemos fazer é rezar juntos.

 

De facto, se isto não é o fim do mundo, não nos preocupemos e continuemos a trabalhar que mais cedo ou mais tarde o temporal passará. E se é o fim do mundo, não nos preocupemos, continuemos a rezar, pois convém que Deus nos encontre ativos e fiéis aos nossos deveres.

Que o Senhor nos encontre todos os dias da nossa vida assim bem ocupados, no cumprimento das nossas obrigações. 


Ver também:

Grande responsabilidade

Virá como um ladrão

Deixa Deus entrar

Sempre alerta

Preparar-se

 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

Homem de profunda oração


Memória litúrgica de São João Paulo II

 

Sempre me impressionou a grande capacidade do Papa João Paulo II em entrar em oração. Onde quer que fosse, à frente de multidões, abstraindo-se do som, das imagens e de tudo o mais via-se que ele entrava em oração, ou melhor, a oração entrava nele. Era tão rápido que até parecia ser fruto de um clique e assim permanecia em profunda concentração.

Ele foi mestre de oração em qualquer lugar, em qualquer circunstância, mesmo no meio de ruído. E todos os presentes eram contagiados pelo mesmo espírito de recolhimento e oração.

Aprendamos com ele a rezar sem cessar, em todo o tempo e lugar.

Episódio histórico

Ele também ensina que o amigo reza pelo amigo, e que a amizade leva a rezar juntos.

É o que podemos aprender do episódio que se segue.

O antigo presidente italiano Sandro Pertini (1978-1985), no seu leito de morte, pediu para ver o papa João Paulo II, que se dirigiu imediatamente ao hospital onde estava internado o dirigente socialista, mas a sua esposa não permitiu a entrada do Pontífice, que ficou rezando no corredor.

O relato foi feito por Arturo Mari, fotógrafo do jornal Osservatore Romano, que esteve durante 27 anos no séquito de Karol Wojtyla.

Mari, numa entrevista à revista semanal italiana Chi, antecipou o conteúdo do livro "Arrivederci in Paradiso" (Adeus no paraíso).

O episódio ocorreu em fevereiro de 1990, quando o ex-presidente italiano foi internado em estado grave no hospital da Universidade de Roma Umberto I.

“Foi-nos informado que ele repetiu expressamente 'chamem o meu amigo'. No hospital, não entendiam quem era o 'amigo' que deveriam chamar, mas finalmente o presidente conseguiu dizer que se tratava do Papa", continuou o fotógrafo. João Paulo II, informado, cancelou imediatamente todas as audiências e se dirigiu ao hospital, onde surgiu um problema inesperado: a esposa de Pertini não quis deixá-lo entrar no quarto. Com muita indelicadeza, nem lhe dirigiu o olhar.

O Pontífice não insistiu, mas explicou que foi chamado pelo seu amigo no leito de morte. Depois, visto que não tinha nada a fazer, pediu à senhora Pertini permissão para conseguir uma cadeira: 'Assim posso estar próximo dele ainda que ficando do lado de fora'. Faça o que quiser', respondeu a mulher do presidente.

Depois o Papa começou a rezar no corredor diante da porta. Recitou o rosário e depois parte do breviário. No final João Paulo II disse: "agora está em paz", e levantando-se da cadeira e deixou o local.”

O ex-presidente italiano morreu a 24 de fevereiro de 1990 e a sua esposa, Carla Voltolina, morreu também em Roma no final de 2005.

Um dos mais estreitos colaboradores de Sandro Pertini, Antonio Ghireli, declarou à ANSA que não foi testemunha do fato narrado no livro por Giovanni Mari, mas admitiu que não se espantou ao saber que o ex-presidente tenha pedido para ver o Papa João Paulo II antes de morrer.

"Sou testemunha da primeira vez que Pertini foi convidado a jantar por João Paulo II. O presidente não era crente e tinha muitos escrúpulos, mas voltou entusiasmado com a inteligência e a abertura do Papa", declarou Ghirelli.

João Paulo II e o ex-presidente italiano, socialista e declaradamente ateu, mantiveram os laços de amizade e admiração mútuas mesmo após o fim do mandato de Pertini.

A amizade manifesta-se também através da oração.

Quem não reza pelo outro, não pode ser seu amigo.

 

Ver também:

Deus on line

São João Paulo II

João Paulo Santo

Dois beatos, duas memórias

Os papas que conheceram o Pe. Dehon

 

segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Carlos de Áustria escritor


Memória litúrgica do beato Carlos de Áustria

A) O livro que o Santo Imperador não escreveu

Sabemos que Carlos de Habsburgo queria escrever um livro de impressões colhidas na Madeira e das suas gentes. (168)

Parece que o seu sonho não se concretizou por causa da sua morte prematura.

Este sonho não se realizou porque um “sonho mais alto se levantou”.

Não foi o imperador Carlos a escrever um livro sobre o povo da Madeira, mas sim o povo da Madeira é que escreveu e continua a escrever sobre as impressões colhidas do imperador na Madeira.

É um livro feito de gestos e palavras, de paz, humildade e confiança em Deus.

O povo continua a escrever esse livro através da devoção, testemunho e intercessão do Beato Carlos de Áustria.

 

B) O livro que o santo Imperador escreveu

Pensando melhor, afinal o Beato Carlos escreveu um livro cuja edição transcende esta terra, pois é lido também no céu. É o livro da sua vida de santidade.

Entre tantas, assinalamos apenas duas realidades que podemos ler no livro que o Imperador nos deixou, que é a sua vida e santidade:

- Nenhuma missão tem concorrido tão eficazmente para reavivar a Fé na minha diocese como o exemplo da paciência heroica e da morte santa do ‘seu imperador’. É um livro de espiritualidade e de santidade.

- Referindo-Se à régia personalidade, o ex-imperial exilado da Madeira, Carlos da Áustria-Hungria, que nenhuma propaganda podia dar melhor resultado do que a sua permanência aqui. Nem com três mil contos tanto se poderia conseguir. (83) É um livro de promoção a todos os níveis.

 

C) O livro que o Imperador queria escrever

Se alguém quiser assumir o desafio de completar o Livro que o imperador Carlos não chegou a escrever, aqui vão algumas impressões que ficaram registadas e que deverão integrar esse tal livro:

- Na sua vinda para o Funchal como exilado, ao dobrar a Ponta do Garajau, olhou para a montanha e viu a Igreja e as torres de Nossa Senhora do Monte que de longe se assimilavam às Igrejas do Tirol Austríaco. Logo prometeu à sua esposa que ali viriam como peregrinos.

- Estamos encantados com a Ilha da Madeira e mais ainda com a forma carinhosa como o povo nos saudou à nossa passagem. É um povo deveras hospitaleiro. (33)

- Sabemos que os ex-imperadores de Áustria se encontram altamente penhorados pela maneira como foram tratados a bordo do cruzador inglês estando também muito satisfeitos por ser a Madeira a terra escolhida para o seu exílio. (38)

- Sabemos, por informação segura, que Carlos de Habsburgo e Zita de Bourbon, os ex-soberanos da Hungria, que se encontram exilados nesta ilha, continuam manifestando o seu agrado pela nossa terra. (56)

- O Século publicou os seguintes telegramas: O ex-imperador Carlos e a ex-imperatriz Zita mostram-se satisfeitos pelo acolhimento e atenções que lhes têm sido dispensadas pelos madeirenses e estão encantados com o panorama da ilha. (61)

- O Diário de Notícias da capital publicou o seguinte telegrama: O Ex-imperador Carlos recebeu em audiência particular o Sr. António Vieira Castro. Mostrou-se muito satisfeito com a escolha do lugar de exílio e fez votos pela felicidade de Portugal.

- S.S.M.M. saíram anteontem do seu aprazível chalet Vitória pela uma hora da tarde, em automóvel até à Ribeira Brava, mostrando-se em todo o percurso bastante admirados com os acidentes naturais

- Carlos de Habsburgo ficou agradavelmente impressionado, tanto pela hospedagem que lhe foi oferecida pelo proprietário sr. Augusto de Gouveia, como pela forma agradável como foi recebido pelas populações rurais. (90)

- Os ex-imperadores d’Áustria estiveram na fortaleza de S. João Baptista (Pico) na noite do dia 31, admirando os lindos fogos de artifício que se queimaram nesta cidade e arredores, para solenizar a passagem do ano velho para o ano novo.

- Consta-nos que Suas Majestades ficaram muito agradavelmente impressionados com os belos espetáculos que se desenrolam aos seus olhos. (93)

- Sua Majestade voltou encantado com estas serras, que são deslumbrantes, na verdade. (93)

-  Os madeirenses consagram aos seus reais hóspedes, um interesse profundo, feito de respeito admirativo por suas grandes virtudes e ilustração invulgar, e de carinho amoroso para com as suas augustas pessoas (121)

- A imperatriz recebeu várias pessoas manifestando o seu reconhecimento pelo carinhoso acolhimento que lhe tem sido dispensado pelos madeirenses. Espera que o Arquiduque Roberto parta muito em breve para a Madeira, a fim de completar a sua convalescença no maravilhoso clima dessa ilha. (128)

…/…

 

D) Título para o Livro do Imperador

Já que o Imperador Carlos queria pôr em livro as impressões colhidas na Madeira, e tendo em conta o seu testemunho divulgado pelos jornais, proponho que o livro tenha por título: GRATIDÃO E RECONHECIMENTO.

De facto, gratidão e reconhecimento, são virtudes próprias dos santos.

Que não nos faltem ainda hoje os mesmos sentimentos de gratidão e de reconhecimento.

 

E) A vida é como um livro

A vida é como um livro e o livro é como a vida.

Cada dia uma página nova.

Cada hora uma vírgula.

Mas nem o lápis pode escrever o futuro nem a borracha apagar o passado.

E chega um momento em que Deus nos tira o lápis e escreve FIM.

É este o livro que cada um deve escrever.

 

(Advertência – por uma questão prática as citações apresentadas neste texto foram abreviadas, constando apenas o número da página. São todas do livro de Duarte Mendonça: Carlos e Zita de Habsburgo, crónica de um exílio imperial na cidade do Funchal, antologia anotada de textos da imprensa regional, Município do Funchal, setembro 2013).

A fotografia é da autoria da Maria da Paz Mendonça, Monte 3 de outubro de 2024.)