segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Natal (9)

Sagrada Família

A porta que dá para a Basílica da Natividade, em Belém, é pequena e tão baixa que só se pode entrar curvando-se à altura de uma criança. O guia explica que foi construída assim para evitar a entrada de intrusos, de animais que na altura abundavam por ali.
Esta porta é uma lembrança e um convite:
Lembra que o Natal é o abaixar-se do Altíssimo que visitou o seu povo, fazendo-se tão pequeno, à medida da nossa estatura.
É também um convite a pôr-se numa posição de pequeno: Se não vos tornardes como crianças não entrareis no Reino dos Céus. Todo aquele que por esta porta entra, humilha-se e ajoelha-se.
Esta atitude de oração é o efeito da contemplação da Sagrada Família. Toda está em oração. A Virgem Maria, segundo a tradição, está de joelhos. São José igualmente recolhido e o Menino, de braços abertos, oferece a Deus Pai a oração de toda a Família. Os pastores que acorreram, prostram-se aos pés de Jesus e regressando cantavam os louvores do Senhor. Até mesmo os Anjos entraram neste clima de oração, dando glória a Deus.
Ao celebrarmos a Sagrada Família somos envolvidos neste clima de oração.
Se o presépio não nos leva à oração, se não nos une a Deus e aos irmãos, para que é que Jesus nascer!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal (8)

Natal no Quartel


Cumpri o meu serviço militar como capelão numa unidade de instrução, mais concretamente numa Base Aérea. A celebração do Natal, neste ambiente, teve para mim um significado mais genuíno em vários aspectos.
O que mais me surpreendeu foi o Presépio e a representação natalícia fora do habitual. Em vez da gruta havia uma tenda de campanha. O berço era um pneumático. Maria e José estavam vestidos, não como há 2008 anos, mas de camuflado. Os anjos tocavam clarim anunciando o nascimento do Menino como nova alvorada. Os pastores não traziam ovelhas pelos campos mas sim um pelotão pela parada. Ninguém se ajoelhava mas, junto à tenda, apresentavam armas ou faziam continência. Os reis magos substituíram os seus camelos por carros de combate e em vez de coroa na cabeça traziam um capacete militar. E tantos outros elementos da vida militar... Terá sido isto um atentado ao espírito do Natal?
Para mim foi uma boa oportunidade para descobrir algo mais do Natal. Não foi apenas o quartel a adaptar-se ao Natal mas este a traduzir-se em linguagem militar. Deus serve-se sempre da nossa realidade para Se manifestar. É nosso tempo, no nosso mundo, na nossa experiência concreta que deve haver Natal. Senti isso de modo especial na tropa.
No quartel vivi o Natal fora da minha terra, fora da minha família tal como o que aconteceu com Maria, José e o Menino.
O primeiro Natal ocorreu em tempo de guerra, num país ocupado por forças estrangeiras. A minha experiência na vida militar, em tempo de paz, fez-me recordar tudo isso.
Não foi mais do que a concretização da frase: “Deus plantou a sua tenda entre nós”. E realizou-se a profecia de Isaías: “Das espadas farão relhas de arado e das lanças forjarão foices”. É que as armas, aos pés de Jesus, ganharam outro sentido.
Estou grato à vida militar por me ter proporcionado um Natal tão sugestivo.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Natal (7)

A Melhor Prenda

Neste domingo acordei com vontade de comprar um presente para o Menino Jesus, afinal, no dia 25 de Dezembro o aniversário é dele. Sentia-me cansado de escolher prendas para tanta gente excepto para a personagem principal de mais um Natal. Também não achava bem continuar a receber tantos presentes dos meus amigos quando Ele ficava preterido para segundo plano.
Saí cedo de casa e fui ao maior shopping da cidade sem pensar ao certo que oferta poderia escolher no meio das sugestões que por lá abundam.
Nas lojas de roupa veio-me à ideia comprar uma nova túnica, talvez bordado Madeira, para o meu Menino. Quando vi que o branco mais branco do linho ainda era cinza perto da sua pureza, fiquei com vergonha e passei adiante.
Numa vitrine vi umas sandálias de couro, mas lembrei-me que também eu não sou digno de desatar as sandálias dos seus pés como referiu João Baptista.
Tinha de escolher algo mais moderno. Talvez uma linda caneta de marca famosa, com o nome de Jesus gravado em ouro. Veio-me então à memória tudo o que Ele falou e mostrou com o exemplo e não o que escreveu.
Já meio desanimado continuei a espreitar entre as lojas à procura de algo para oferecer a Jesus, no seu aniversário. Tudo me parecia supérfluo e não apropriado para partilhar com Alguém com tanta dignidade. Afastei ainda outras duas ideias: Uma coroa de pérola que não servia pois o seu reino não é deste mundo e uma almofada de brocados de ouro pois Ele queixara-se um dia de não ter onde reclinar a cabeça. Ri-me de mim mesmo pois tudo o que via era matéria que o tempo iria corroer e ele era o senhor do tempo.
Confesso que saí frustrado do Shopping sem comprar o presente que Jesus merecia.
Junto ao carro cruzei-me com um rapaz, talvez um arrumador, que me cumprimentou sorrindo e estendeu-me a sua mão. Não sei se foi para me dar um aperto de mão ou para pedir esmola. Só sei que fiquei assustado e, tirando a mão do bolso, entreguei-lhe a nota que não gastei na compra do presente sonhado para o Menino Jesus. Ao chegar a casa achei-me ridículo, verdadeiramente de mãos vazias, com um presente adiado e sem o dinheiro reservado para o comprar. Ao abrir a porta encontrei uma carta no chão com uma mensagem que dizia assim:
”Obrigado pelo melhor presente de aniversário que me podias dar: Fizeste feliz um dos pequeninos deste mundo!” assinado, Jesus.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Natal (6)

O SONHO DE MARIA

“Esta noite sonhei, José, que toda a gente estava a preparar uma grande Festa. Limpavam tudo, decoravam as casas e compravam roupa nova. Saíam às compras e adquiriam muitos presentes. Não pude compreender bem o que se passava mas creio que se tratava de um aniversário natalício. Creio até que se tratava do nascimento no nosso Filho.
O que mais me surpreendeu, José, é que esses presentes não eram para Ele. Envolviam-nos em lindos papéis que atavam com preciosas fitas e colocavam-nos debaixo de uma árvore. Sim, José, devias ver essa árvore brilhante! Toda a gente estava feliz e emocionada com as ofertas. Trocavam prendas uns com os outros mas... não ficou nada para o nosso Filho.
Pareceu-me que nem O conhecem pois nunca mencionavam o Seu nome. Não te parece estranho que as pessoas se cansem tanto para celebrar o aniversário de Alguém desconhecido? Se Jesus batesse à porta seria apenas um intruso.
Tudo estava tão lindo, José, e todo o mundo feliz, mas eu senti vontade de chorar.
Que tristeza para Jesus não ser desejado na sua própria festa de anos.
Estou contente porque foi apenas um sonho, mas que terrível seria se tudo isto fosse a realidade!”

Boas Festas e não se esqueçam de colocar Jesus no centro do Natal!

Natal (5)

Deus fez-se homem

O Verbo divino se fez carne e habitou entre nós. É este o ponto central do mistério do Natal. Um Deus que se fez homem como nós, excepto no pecado, para elevar a nossa condição humana.
Os meus colegas, professores de biologia, mostraram-me a lista dos elementos que constituem o corpo humano. Depois de saber as proporções e as medidas destes componentes, cheguei à conclusão da pequenez do nosso corpo humano.
Com a água de um corpo humano lavava-se uma toalha.
Com o ferro tirado dos glóbulos vermelhos do sangue podiam fabricar-se sete cravos para uma ferradura.
Com o gesso poderia caiar-se a parede de um quarto individual.
Transformando em grafite ou carvão, proporcionaria matéria para preparar noventa e cinco lápis.
Com o fósforo poderia fazer-se uma caixa de fósforos.
Com o sal obteríamos algumas colherinhas para condimentar uma salada familiar.
Se tivéssemos de comprar tudo isto em conjunto, diria uma empregada doméstica, gastaríamos apenas um euro e pouco.
De facto a nossa condição humana é reduzida, mas Deus, ao assumir um corpo como o nosso, veio dotar-lhe de grandeza e majestade.
Aos olhos humanos valemos pouco mas aos olhos de Deus somos tão importantes que ele quis ser como nós. Deus nasceu como nós para que pudéssemos viver como Ele.
O Natal mostra-nos um Deus que se preocupa com o homem, que desce ao lado do homem, que se avizinha do homem, que se faz homem. Um Deus que se põe na estrada do homem para fazer caminhada juntos, para compartilhar com ele aflições, misérias, lágrimas, angústias e esperanças.
Deus ao nascer menino supera todos os horizontes terrenos. O homem é elevado à condição divina. Deus é um da nossa família humana e nós pertencemos à sua raça. Este mistério manifesta a grandeza do homem e a valorização plena do nosso corpo. Apesar disso nós consideramos Deus como um intruso na nossa vida. Achamos que ele é um desmancha-prazeres, como um inimigo do nosso corpo. Achamos que Ele veio para nos despojar do nosso corpo.
Materialmente nós valemos um pouco mais de um euro. Jesus Cristo veio repor-nos a grandeza ao assumir um corpo como o nosso.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Natal (4)

O MELHOR PRESENTE


Neste Natal, como o momento é de austeridade, tive de cortar no orçamento, poupar no luxo, reduzir as expressões, juntar as visitas. À medida que limitava os gastos, os compromissos e as atenções, vi-me concentrado no essencial do Natal. Para quê tanto folclore se o Natal é tão simples? Natal é apenas isto, e é tão grande: “é o Filho de Deus que Se fez homem para fazer dos homens filhos de Deus.”
Tenho de agradecer à crise económica a oportunidade que me deu de me centrar na especificidade do Natal.
Nesta quadra natalícia, não quero nem posso dar e receber ofertas vazias de sentido, fazer celebrações banais, receber inutilidades – troca de prendas, postais, mensagens de telemóvel, brindes… Nada disto.
Quero apenas estar com os meus amigos e que Cristo seja um deles.
Para todos eles, partilho um episódio que me contaram e que me estimula a viver de maneira diferente o meu Natal:

“Uma senhora ia todos os Domingos à Missa. À porta da igreja, um homem pedia esmola. A senhora passava, o pedinte estendia a mão e uma moeda sempre lá ficava. Fosse Verão ou Inverno, Natal ou Páscoa, a esmola era entregue como ritual de entrada no lugar sagrado.
Um dia, porém, sem saber como, a senhora à porta da igreja reparou que se tinha esquecido da carteira em casa. E agora? O seu pobre lá estava de mão estendida e ela, pela primeira vez, não podia exercer a sua caridade. Toda envergonhada disse:
- Peço-te desculpa. Hoje não te posso dar nada. Esqueci-me do dinheiro em casa!
O mendigo sorriu feliz e respondeu com toda a sinceridade:
- Muito obrigado! Hoje a senhora deu-me muito mais do que todos os outros dias. Hoje dignou-se falar comigo pela primeira vez. Obrigado!”

O Verbo encarnou e habitou entre nós. É este Menino Deus que veio falar connosco que quero celebrar neste Natal.
Dispensarei as ofertas, a dar ou a receber, para estar mais disponível para falar com Ele e estar os outros.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Natal (3)


LAPINHA OU ESCADINHA MADEIRENSE

1. A escadinha
É formado por três ou mais degraus, de aspecto piramidal, tendo no topo o menino Jesus de pé para quem tudo converge.
O Deus Menino desce pelos caminhos dos homens para os elevar até aos Céus. A nossa vida é assim uma escalada que representa esforço e ascese.
É o altar do presépio no qual Deus se nos oferece.
Por fim é a analogia com o Monte Calvário – O Cristo que nasce veio salvar-nos pela sua Cruz e Ressurreição.

2. Searinhas
Criam um ambiente natural, como campo fértil. Cristo como novo Adão passeia por esta terra, novo Éden. É sinal de esperança e de reconciliação.
Representa também o trabalho do homem e a harmonia da natureza.
Por fim é a referência ao mistério da Eucaristia. Desse trigo das searas a crescer, Cristo se servirá, na Última Ceia, como sacramento do seu corpo.

3. A fruta
Espalhada pela escadinha encontra-se a melhor fruta. São oferecidos a Deus os melhores frutos da terra. Dão cor e sabor à nossa vida.
Aos pés do Menino Deus é reposto o fruto que outrora foi roubado da Árvore da Vida pelos nossos primeiros pais.

4. Arco florido
É uma espécie de baldaquino ou cúpula natural de alegra-campo e flores.
Representa a abóbada celeste expressando a antífona: abram-se os céus, germine a terra e chova o Salvador.
O colorido das flores do arco e dos ramalhetes sugere o arco-iris da Nova Aliança que o Messias veio instaurar.
Este céu é de esperança e de alegria realçado pelo alegra-campo.

5. Pastores
Na lapinha madeirense figuram não são os pastores de há dois mil anos, mas também gente tradicional da Madeira. É uma expressão anacrónica com bandas de música, matança do porco, procissões, romarias, igrejas, cenas do quotidiano da nossa terra.
Lembra que Cristo veio não só para o mundo de então, mas também ao mundo do nosso tempo, aqui e agora.
É a valorização do presente e a actualização da redenção.
Os homens precisam de Deus e este precisa dos homens de hoje e de sempre.

6. A lamparina
Permanece acesa durante toda a quadra natalícia.
É o sinal da presença de Alguém. Cristo é a verdadeira luz que veio a este mundo. Na sua presença ninguém vive nas trevas.

7. O Menino de pé
É um vencedor no pódio para onde tudo converge.
Não está a dormir, mas quer caminhar connosco.
Aponta para o alto donde veio e para onde nos quer levar.
Assume a nossa condição humana, como ‘homo erectus’.
Lembra também a sua Ressurreição como Cristo glorioso.
Finalmente, está de braço levantado como que a pedir a palavra.
Deixemo-lo então falar…

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

... Deus, esse desconhecido

Ano B - IV Domingo Advento

Certo dia, uma menina de seis anos veio contar-me, toda satisfeita:
- Senhor Padre, eu ontem fui à catequese.
- Muito bem, Marilisa. E com certeza aprendeste muitas coisas. Diz-me, por exemplo, o que é que já sabes.
- Eu aprendi que o Pai do Menino Jesus não é São José...
- Óptimo! És capaz de dizer então quem é o Pai de Jesus?
A Marilisa põe-se a pensar, esforça-se e desiste:
- É um Senhor que já não me lembra o nome...É verdade, Deus é um Senhor que não conhecemos bem.
Tal como nos diz São Paulo neste IV Domingo do Advento, é "um mistério encoberto desde os tempos eternos mas agora manifestado e dado a conhecer a todos os povos".
Somos limitados para compreender o mistério de Deus mas Ele conhece-nos bem, tal como conhecia a Virgem Maria e os desejos do rei David.
O Natal vem ensinar-nos algo sobre Deus: Ele é Pai. É ao mesmo tempo um Irmão, que nasceu com um rosto humano para nos lembrar que O podemos encontrar no nosso semelhante.
Obrigado, Marilisa, por me teres lembrado que se sabemos pouco de Deus, Ele Se nos revela como Alguém próximo, a caminhar connosco. Ele entrou na nossa história para nos ajudar a conhecer melhor, a Ele e a nós mesmos.

O Caminho do amor

Ano B - II Domingo Advento

Um pai contou-me, emocionado, uma lição que recebera da sua filha mais nova.
Durante a missa do passado fim-de-semana, o Padre falou da preparação que era preciso fazer para o Natal. A miúda, desde a Igreja até casa, não parou de pedir coisas ao Pai, que comprasse isto, aquilo e mais outra coisa e tal. Por fim o pai perdeu a paciência (e só se perde aquilo que se tem):
- Compra-me isto! Compra-me aquilo! - explodiu - E tu? Já pensaste o que é que vais dar aos teus pais? Só falas em ti. E nós? O que tens para nos dar?
A resposta da filha deixou-o sem palavras:
- Só tenho amor. Disse simplesmente.
O amor é o lugar de encontro onde se cruzam os caminhos de Deus e o dos homens. Preparar os caminhos do Senhor é afinal apurar o coração, afinar o amor, partilhar aquilo que afinal todos têm. O amor deve ser a única coisa que quanto mais se dá mais se terá. Deus amou de tal maneira o mundo que lhe enviou o Seu Filho. Foi o amor que nos trouxe o Salvador. Só o mesmo Amor que nos levará até Ele. É preciso amar a Deus servindo os irmãos e ao mesmo tempo amar os irmãos servindo a Deus.

Natal (2)

NATAL É DOM

Aproxima-se o tempo de Natal. A azáfama é grande nas ruas, lojas, casas e por toda a parte. Preparam-se iguarias, enfeites, presépios e ... muitos presentes. Todos se preocupam para que não falte uma prenda a ninguém nesta quadra natalícia.
Numa loja de brinquedos, entre tantas compras e vendas, um jovem casal mostra-se enervado por entre os brinquedos de várias cores alinhados nas estantes, pendentes do tecto ou em desordem sobre o balcão. Pegam em bonecas que choram e riem, jogos electrónicos, cozinhas em miniatura. Não conseguem escolher um brinquedo ou porque a oferta é diversificada demais ou porque o grau de exigência não corresponde ao exposto.
Aproxima-se então uma funcionária muito simpática com a habitual pergunta:
- Posso ajudá-los em alguma coisa?
- Olhe - explica a mulher - nós temos uma menina muito pequena, mas estamos quase todo o dia fora de casa e, por vezes, até de noite.
- É uma menina de poucos sorrisos pois não se contenta facilmente - explica o marido.
- Nós queremos comprar um brinquedo que a torne feliz – acrescentou a mulher – Não nos interessa o preço ... desde que seja algo com que a nossa filhinha se entretenha, que lhe dê alegria mesmo quando esteja só...
A funcionária olha-os com uma expressão desolada, mas com gentileza avisa:
- Lamento muito não poder ajudar, mas aqui não vendemos pais.
Muitas vezes nós refugiamo-nos por detrás de prendas, procuramos compensar défices de atenção ou de carinho através de presentes ou gestos vazios de significado.
No meio de tanta partilha, saibamos colocar ao dispor dos outros aquilo de que eles mais precisam. Mais do que dispor de coisas, saibamos dispor-nos a nós mesmos e o resto virá por acréscimo. E quanto mais nos dermos em atenção, tempo e companhia, menos necessidade teremos de nos fazer representar por brinquedos ou outros objectos e menos falta irão fazer.
Jesus Cristo veio até nós não para nos trazer coisas, iguarias ou entretenimentos, mas para estar connosco. A seu exemplo que a nossa melhor prenda, neste Natal, seja DISPONIBILIDADE.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Natal (1)


O sonho do jovem cavaleiro

Como prenda de Natal ofereço a reprodução de uma pintura com o comentário do Pe. Dehon (A Crónica do Sudeste, nº 3, Março 1903):
A National Gallery de Londres tem um pequeno quadro de Rafael, do qual todos os jovens deveriam ter uma reprodução.
Aos 16 anos Rafael traçou um projecto de vida, mas como era pintor, tudo fazia pintando. Rezava, meditava, sempre com o pincel na mão, isto é, as suas orações ou reflexões eram pinturas e as suas pinturas eram orações e reflexões.
Escreveu com o seu pincel a reflexão que qualquer jovem faz e que hoje a National Gallery nos mostra: O sonho do jovem cavaleiro.
Um loureiro esguio divide a cena em duas partes. A paisagem é variada, límpida e profunda. Debaixo da árvore, um jovem e belo cavaleiro, armado dos pés à cabeça, bem recostado e com a cabeça apoiada sobre o seu escudo, entrega-se ao sono.
Uma jovem mulher está de pé à sua direita e uma outra à sua esquerda, uma simboliza a virtude e a outra a voluptuosidade. Esta é muito sedutora: tem um rico e gracioso vestido, oferece flores, os seus traços exprimem uma doce despreocupação. Do seu lado a paisagem está em harmonia com este aspecto: um vale fértil e florido, com aliciantes zonas de água e frescas sombras. É o caminho da vida fácil e agradável.
À direita do cavaleiro, a Virtude tem um vestido simples e austero. Apresenta uma espada e um livro, símbolos da luta, do trabalho e da oração. A paisagem deste lado é mais austera, um caminho tortuoso numa montanha escarpada, coroada por um castelo e uma igreja.
Rafael representou assim o cavaleiro que queria ser. Vemo-lo escolher o caminho da virtude e do trabalho, recusar as flores inebriantes da voluptuosidade e agarrar o livro e a espada, símbolos do estudo e da luta.
Jovens cavaleiros, tal deve ser o vosso sonho. Tal deve ser o vosso projecto de vida. O livro e a espada devem caracterizar a vossa vida. O livro é a oração, a leitura, o estudo pessoal. A espada é a luta, a conquista, a acção social.
O livro e a espada, tais são, caros jovens, as armas do vosso brasão.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Criancices (32)

De manhã ao entrar na Sala de Professores, alguém reparou que eu tinha ainda os olhos ensonados. Desculpei-me:
- Levantei-me cedo por causa da missa do parto…
Uma professora, que morava junto à Igreja do Monte, lamentou-se:
- Por causa dessa missa acordei hoje com um corno…
- Ai sim?! Com quem dormiu, Senhora Professora
É que na Madeira, acorda-se o pessoal para a missa do parto com o som de cornos, búzios, campainhas etc…

Vida de Capelão (32)

- Um padre a fumar? Você não devia ter nenhum vício.
- E não tenho! Estou apenas a queimar incenso.
- Ó Capelão, você sabe que isso faz mal à saúde.
- Sim, sim. Morrer por morrer morro satisfeito.

Passados alguns anos, considero-me hoje um FUMADOR NÃO PRATICANTE.

Dizem? Esquecem!

6ª Feira - II Semana Advento

No Evangelho de hoje: "João não comia nem bebia e diziam que era do maligno... Eu como e bebo e dizem que sou glutão..."
O povo tem sempre algo a dizer... Deixai-o.
Presos por ter cão e presos por não ter... Continuemos fieis a nós mesmos.
Não somos mais quando nos lisonjeiam nem somos menos quando nos vituperam...

O poeta Fernando Pessoa escreveu:

Dizem?
Esquecem!
Não dizem?
Dissessem!

Fazem?
Fatal!
Não Fazem?
Igual!

...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Vinde a Mim

4ª Feira - II Semana Advento

A Palavra de ordem deste tempo é MARANATHÁ, VEM SENHOR JESUS.
Jesus no trecho do Evangelho de hoje vem lembrar-nos que o movimento deve ser mútuo: VINDE A MIM...
Jesus virá até nós se nós formos até Ele.
Vem Senhor Jesus, dizemos nós.
Vinde a mim, diz-nos o Senhor.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Pregar no Deserto

Ano B - III Domingo Advento

- Senhor Padre, porque é que João Baptista pregava no deserto?
- Porque era lá que ele vivia - respondi - Para além disso o deserto sempre foi um lugar de encontro consigo mesmo e com Deus. Mas porque é que me perguntas isso?
- É que eu pensava que ele pregava no deserto porque ninguém o ouvia...
De facto, parece que João pregou para o deserto pois, passados 2000 anos, a mesma voz se faz ouvir sem surtir ainda o efeito desejado. E mesmo acordado sonhei.
No meu sonho apresentei-me diante de João Baptista para lhe dizer:
- Repara que ninguém te ouve. Tu não consegues mudar as pessoas. Todos os anos a mesma pregação... Muda o teu discurso...
- Não. Se eu não sou capaz de mudar as pessoas, não serão elas a mudar-me. Endireitai o caminho do Senhor - gritou ainda mais forte.
Ao acordar ainda me soavam essas mesmas palavras. Que fazer para endireitar esse caminho para que esta pregação não ficasse por terra? Lembrai-me então das sandálias de que João falava. Pois é. Em vez de retirar todas as pedras do longo caminho o melhor é calçar uns fortes sapatos para não sentir a aspereza do chão. Pareceu-me então ouvir a mesma voz a dizer: mãos à obra, ou melhor, pés a andar.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sobre a Rocha

5ª Feira - I Semana Advento

Casa construída sobre a areia ou sobre a rocha:

1.Todos somos trabalhadores de construção civil – todos estamos a construir uma casa. Ou construímos sobre a Areia ou sobre a Rocha:
O trabalho é diferente num ou noutro caso:
Cauteloso – R
Imprudente – R
Fácil – A
Inseguro – A
Sensato – R
Precipitado – A
Difícil – R
Seguro –R
Se construímos sobre a Areia o nosso trabalho será mais fácil, mas imprudente, inseguro e precipitado. Por outro lado se construirmos sobre a Rocha o nosso trabalho será mais difícil, mas mais sensato, seguro e cauteloso e sobretudo com mais futuro.
2. Uma situação comum ou constante: Tanto uma casa como outra têm de enfrentar as mesmas tempestades. Pelo facto de ser uma boa construção, não está isenta de enfrentar ventanias e torrentes… O problema não são as tempestades mas a capacidade de resistir com segurança.
3. Nós recebemos Jesus Cristo na nossa morada através da eucaristia, da palavra de Deus e do bem que fazemos. Que tipo de habitação lhe oferecemos a Deus: uma casa segura ou uma morada sobre a areia?

sábado, 29 de novembro de 2008

Saber Esperar

Ano B - I Domingo Advento

Contaram-me, há tempos, um episódio que pode ilustrar este tempo de Advento, de espera ou de preparação.
Numa aldeia indígena, algures em África, um missionário pediu à população local que o ajudasse a transportar um carregamento de material até ao cimo da montanha. Com o fardo às costas, partiram todos cheios de entusiasmo. A meia encosta o pessoal parou, pousou o material no chão e sentou-se. O missionário esforçou-se para os pôr outra vez em marcha mas foi em vão:
- Porque parastes? Estais cansados?
- Não.
- Quereis comer ou beber?
- Não.
- Quereis uma gratificação maior? A carga é muito pesada? Quereis voltar para trás? Então o que é que se passa?
Após um silêncio geral, um dos indígenas explicou:
- É que nós viemos depressa demais. A nossa alma ficou para trás. Ficaremos à espera que ela chegue.
Às vezes parece que somos um corpo sem alma. Sentimo-nos vazios ou a dormir. É preciso aguardar que o espírito nos encha, que a alma nos desperte para continuarmos a caminhar. Eis que Cristo está à porta e bate. Estaremos cheios por dentro?Vivemos numa azáfama contínua. É preciso parar e zelar pela nossa interioridade. Afinal Cristo é a alma da nossa vida, só Ele nos pode encher por dentro.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Vida de Capelão (31)

Durante as férias fui visitar um confrade que fez questão em dar-me uns conselhos morais:
- Sabes, o meio militar é bastante liberal, há muita imoralidade nas conversas e não só… Cuidado, é um perigo para a castidade!
- Não se preocupe – sosseguei-o – olhe que em nenhum convento há tanta continência como na tropa.

Criancices( 31)

- Senhor padre, venho acusar-me de ter estragado uma bola de futebol.
- Na próxima vez que jogares deves ter mais cuidado…
- Está bem, mas o senhor padre sabia que essa bola já tinha anos?
- Como assim?
- Sim, essa bola já tinha anos.
- Então se a bola tinha ânus, mostra-me então onde é que está o ânus da bola.
E não é que o aluno aponta para um grande buraco da velha bola? … E eu pensava que o malicioso era eu.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sorrir para Deus

Ano A - Cristo Rei

Uma vez apresentou-se no Céu um homem tão simples, tão humilde que até os santos se espantaram:
- Como é pequena a sua alma! Não tem as vestes brancas das Virgens, nem a coroa dos Mártires, não tem a estola dos Pastores nem a divisa das Ordens Religiosas. Que terá feito de especial para estar aqui?
O homem, já preocupado com isso, ainda tremeu mais ao ouvir as perguntas que Deus fazia a quem se aproximava:
- Partilhaste os teus bens com os pobres? Ensinaste a minha Palavra? Viveste os Mandamentos?
Quando chegasse a sua vez que iria responder? Nada partilhara porque nada de seu tivera. Não ensinou nem viveu os mandamentos porque nunca os aprendeu. Qual seria o seu lugar ali?
Chegado ao trono, Deus abriu o livro da vida, olhou para o homem e disse:
- Aqui está escrito apenas uma coisa: tu sorriste ao teu semelhante. E isto basta para teres o primeiro lugar no céu. Entra na alegria do teu Senhor.
Mais do que isto não quer de nós o Senhor. Não quer obras extraordinárias, não quer grandes jejuns ou longas penitências, não quer milagres, não. Quer a vida simples, com as suas cruzes diárias, com um sorriso nos lábios e a alegria no coração; quer-nos felizes fazendo felizes os outros.

domingo, 16 de novembro de 2008

Semana dos Seminários


Nós precisamos do Seminário e o Seminário precisa de nós.
Nós precisamos que o seminário forme padres e os mande para as nossas paróquias.
Mas o Seminário também precisa que as paróquias lhes enviem vocacionados pois só assim haverá padres novos.


Paróquia que não dá seminaristas, não merece o padre que tem.
É dando que se recebe, ou é dando que merecemos receber…
Se não sabemos dar gente para o seminário como é que podemos esperar ter um padre na nossa comunidade?


Alguém ao visitar um seminário quase vazio perguntava-me:
- Afinal onde estão os padres do futuro? Será que não existem? Onde estão eles?
- Os padres do amanhã não estão nos seminários, mas estão ainda na tua casa, na casa do teu vizinho etc. Estão aí os padres do futuro.
É preciso criar condições para que a semente vocacional se desenvolva no primeiro seminário que é a família e depois possa ser transplantado para o seminário propriamente dito.


Se no mundo há fome de Deus não é por falta de pão, mas por falta de mãos para abençoar e distribuir esse pão.

Se há crise de vocações, não é porque Deus já não chama como outrora. Também não é porque os chamados não ouvem a sua voz. É simplesmente porque essa semente não encontra ambiente favorável para germinar, crescer e dar fruto. Deus continua a dar sementes, as sementes continuam a ser de boa qualidade, mas o terreno é que podia ser melhor.
É preciso criar ambiente favorável, é preciso saber cultivar…

Se a falta de vocações é um problema de todos, a solução dependerá também de todos.

O Coração da Diocese

SEMINÁRIO

Ocorrem-me ao pensamento duas pequenas situações, a propósito da Semana do Seminário.
A primeira é o que se passava comigo, sempre que regressava a casa, vindo do seminário. Um vizinho perguntava-me, todas as vezes, se eu já sabia dizer missa. Eu ficava com vontade de repetir a palavra missa, sem mais, bem pronunciado, para mostrar que há muito que aprendera essa palavra. Mas, sorrindo, respondia apenas que ser Padre era bem mais do que aprender a missa.
A última situação é uma lição por conta própria. Numa conversa de amigos, um aluno dizia-me que o seu irmão proclamava, alto e bom som, de que não precisava de padres para nada. Alguns ouvintes responderam logo que se ele não precisava, havia quem precisasse. Eu limitei-me a perguntar se ele namorava. Meio surpreendido, esse aluno respondeu:
- Sim, mas porquê ?
- É que mais cedo ou mais tarde o teu irmão estará na igreja à procura de um padre para assistir ao seu casamento, depois ao baptismo dos filhos...
Não demorou muito a concretizar-se aquilo que profetizei.
Destas situações posso concluir que a primeira resposta sobre o seminário é simples, evasiva, que ficou aquém daquilo que realmente é ou deve ser um seminário. É um viveiro de vocações sacerdotais, lugar de discernimento vocacional. Já alguém definiu o seminário como o Coração de uma Diocese, com toda a sua simbologia. Lá aprende-se, não a dizer missa, mas aprende-se tudo com o coração. Lá sente-se o vibrar de uma diocese. De lá revitaliza-se as comunidades.
Quanto ao último episódio concluo apenas: Todos nós precisamos do seminário. Mas não devemos esquecer que também o seminário precisa de nós. Eu necessito do seminário porque necessito de animadores das comunidades eclesiais. Ele precisa de mim, da minha promoção vocacional, da minha ajuda material, do meu apoio moral, da minha oração, da valorização do serviço sacerdotal.

Vida de Capelão (30)

- Ó Capelão, este texto tem muitos erros de máquina. Em vez de um Cabo Auxiliar você devia ter uma boa dactilógrafa.
- Eu não me importava, mas quanto melhor fosse a dactilógrafa mais erros eu faria…

Criancices (30)

Um miúdo chegou tarde ao lanche e encontrou a janela fechada. Eu ia a passar e ele perguntou-me:
- Senhor Padre, posso entrar na cozinha para pedir leite?
- Sim, mas pergunta primeiro se a funcionária está muito ocupada.
Quando eu passava junto da janela ouvi o miúdo:
- A Menina N... está muito ocupada?
- O que é que me queres?
- A Menina tem leite?
- Tenho mas não é para ti. Desaparece senão eu chamo o Senhor Padre!
Corri para não ter que responder.

sábado, 15 de novembro de 2008

Vida de Capelão (29)

Acompanhava eu uma visita de estudo de uma Escola Secundária pela Base Militar. Alguém ao contemplar tão esbelta companhia grita-me:
- Ó Capelão, quer ajuda?
- Sim, sim. Vem tu ajudar-me. Este rebanho já tem pastor. Só lhe falta um cão de guarda.

Criancices (29)

- O senhor padre por acaso não me arranja uma peça de fruta em vez de geleia?
- Olhe, só se for uns manguitos...
O aluno fica vermelho e volta para a sua mesa todo envergonhado e eu sem culpa nenhuma dos mangos não terem crescido mais.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Agradecer

4ª feira - XXXII Tempo Comum

"SÓ VOLTOU UM PARA AGRADECER..."



Tudo o que temos é dom de Deus.
Tudo o que somos é dádiva da vida.
Tudo o que usamos é oferta da natureza.
Tudo nos foi oferecido.


Tudo devemos agradecer
porque tudo recebemos.
Quem não agradece
não sabe receber.


Quem não é capaz de dar
nem que seja um simples agradecimento
não merece nada daquilo que tem.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Amar o que se faz

Ano A - XXXIII Domingo Comum


Numa reflexão sobre a Parábola dos Talentos, pedi que me identificassem as suas personagens indicando o que cada uma tinha e com que ficou, fazendo as contas aritméticas. Eis uma resposta:
5 x 2 = 10 + 1 = 11
2 x 2 = 4
1 x 0 = 0
Perguntei então qual o valor do coeficiente ou multiplicando.
- É a quantidade do amor – respondeu um miúdo – Duas pessoas tinham amor de grau dois, a outra não tinha amor e por isso ficou sem nada. Sem amor nada se consegue.
De facto há duas maneiras de fazer as coisas: por obrigação, e então são cansativas, aborrecidas e maçadoras e por amor, e então são suaves, alegres e fecundantes. Um estudante que trabalha naquilo que tem vocação torna-se criativo e produtivo. Um profissional que tem o seu trabalho no coração realiza-se e cria um mundo novo. Fazer as coisas com temor e por obrigação, por muito que alguém se esforce, será sempre um peso doloroso e estéril. O importante é amar o que se faz quando não se pode fazer o que se ama. Só assim desaparece o esforço e surge a alegria. Pelo contrário, quando algo nos custa demasiado não é por ser difícil, o que nos falta é essa força interior que é o amor. Tarefa que não redunda em prazer é porque é feita por obrigação.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Semente de Mostarda


2ª Feira - XXXII Tempo Comum

"Se tivésseis fé do tamanho de uma semente de mostarda ... nada seria impossível."

Não importa ter uma grande fé, ou uma fé pequena, ou então uma fé mediana... o que importa é TER FÉ, porque a fé não se mede pelotamanho, ou pela grandeza, nem pela quantidade...

Uma semente não pode ser medida pela sua dimensão... o que interessa é que seja uma semente de boa qualidade e isso basta para poder germinar e suscitar o milagre da vida.
Tanto faz uma semente pequena ou grande, pois tanto uma como outra podem germinar.

Basta a uma semente ser semente.
Assim também a fé. Basta ter fé...

Morada de Deus

9 de Novembro - Dedicação da Basílica de Latrão

Celebrando esta Festa, ao contemplar um edifício físico, recordo qual a morada preferida de Deus - o coração de cada pessoa.

Uma senhora veio ter comigo no final da missa, no Funchal:
- O Senhor Padre mora no Coração de Jesus?
Sem perceber bem o sentido da pergunta, mostrei-me surpreendido:
- Sou Padre do Coração de Jesus, sim. Em que a posso ajudar?
- Perguntei se morava no Coração de Jesus, no Colégio Missionário.
- Ah, sim… - e fiquei a pensar que de facto nunca me tinha apercebido que morava no Coração de Jesus. É que até então pensava que era o Coração de Jesus que morava em mim e afinal eu é que moro nele…

Muitas vezes procuro preparar-me para entrar no Santuário para louvar o Senhor e esqueço-me de que é Ele quem quer entrar no meu santuário.
E outras vezes quero que Deus esteja comigo e esqueço-me de que Ele quer também que eu esteja n'Ele.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Renunciar

4ª Feira - XXXI Tempo Comum


Diz a sabedoria popular que para se dar é preciso primeiro encher-se.

A Sabedoria divina diz que para se encher é preciso esvaziar-se:

“Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo” diz Jesus no Evangelho de hoje.

Para dizer SIM a Deus é preciso dizer NÃO a muita coisa.

Para ENCHER-SE de Deus é preciso ESVAZIAR-SE de muitas coisas.

Porque dois proveitos não cabem na mesma alma.

E ninguém pode servir a dois senhores…

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uma só Alma e um só Coração

2ª Feira - XXXI Tempo Comum

Filipenses 2, 1-4

Ter os mesmos sentimentos em Cristo
– É ter uma só alma e um só coração

Sentir a mesma caridade em Cristo
– É ter uma só alma e um só coração

Não fazer nada por rivalidade
– É ter uma só alma e um só coração

Olhar só pelos interesses dos outros
– É ter uma só alma e um só coração

Viver na humildade e simplicidade
– É ter uma só alma e um só coração

Na escuta da palavra proclamamos
– Uma só alma e um só coração

Em cada Eucaristia celebramos
– Uma só alma e um só coração

Unidos na oração nós confessamos
– Uma só alma e um só coração

Na vida em união testemunhamos
– Uma só alma e um só coração

Na partilha da vida anunciamos
– Uma só alma e um só coração

Socorrendo os irmãos realizamos
– Uma só alma e um só coração


Ser Responsável

Ano A - XXXII Domingo Comum
- Hoje, senhor padre, não posso concordar com o Evangelho que foi lido na Igreja. Então aquelas Virgens não quiseram partilhar do seu azeite com as colegas e foram elogiadas? Isso não pode ser pois é um convite ao egoísmo.
- Ainda bem que estavas atento à leitura e não dormiste como aquelas personagens – respondi timidamente. Como és responsável por aquilo que pensas não vás a reboque de ninguém. É isso mesmo que se passa nesta parábola. Ninguém partilhou porque cada uma devia responder pela sua vida. É uma experiência pessoal que não pode ser responsabilizada aos demais.
Não sei se o meu amigo ficou mais esclarecido. Ao voltar para casa fui pensando que afinal é preciso vigiar, estar atento porque na hora em que menos esperamos vem uma lição e de quem não contamos vem uma chamada de atenção. E fui preparando o sermão que devia ter feito:
Estes dois grupos de pessoas representam cada um de nós. Estamos divididos: às vezes preparados, outras vezes pensado em tudo menos naquilo que de facto tem importância. Dentro de nós coexiste o bem e o mal. Ninguém nos poderá emprestar uma parte da sua vida. Devemos ser responsáveis.
O homem prudente é como um alfinete: É a sabedoria, isto é, a sua cabeça que lhe dá a força para ir até onde deve e o impede de ir além de mais.

Ser Grande

Ano A - XXXI Domingo Comum
Num acampamento de amigos era necessário escolher alguém para a chefia do grupo. Seria o representante de todos, o coordenador das actividades, o responsável pela ordem etc. Fizeram uma votação. Quando o resultado foi anunciado, o mais votado começou por dizer:
- Eu não sou digno dessa escolha. Há outros que tem mais capacidades do que eu. Não sei se serei capaz de ser o chefe que esperais...
Então um colega sugeriu que se escolhesse outro para o seu lugar.
- Caramba – disse o primeiro – já não se pode fazer um acto de humildade?
E não abdicou do seu novo cargo.
Também nós gostamos de ser importantes.
Jesus Cristo lembra-nos que quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado. Ser bom é importante mas o importante é ser bom.
O homem grande é silenciosamente bom. É poderoso, mas sem exibir poder. Adora o que é sagrado, mas sem fanatismo. Carrega fardos pesados, com leveza e sem gemidos. Domina, mas sem insolência. É humilde, mas sem servilismo. Fala a grandes distâncias, mas sem gritar. Ama, sem se oferecer. Faz bem a todos, sem o fazer notar. Renuncia, sem fazer disso um culto. Abre novos caminhos, sem esmagar ninguém. Entra no coração do homem, sem arrombar a porta.

domingo, 2 de novembro de 2008

Vida de Capelão (28)

A RTP estava a passar um filme ousado e eu sozinho na sala de Televisão. Nisto chega alguém e opina:
- Ó Capelão, você devia estar junto de Deus a rezar por esses pecadores.
- Olha, eu prefiro estar aqui a ver isto com o pensamento em Deus, do que lá na Capela a rezar, mas com o pensamento nisto.

Criancices (28)

Fui a uma Secretaria Regional perguntar se havia alguma resposta a um pedido formulado. A recepcionista, querendo fazer-se engraçada diante das colegas, respondeu:
- Ó Senhor Padre, por enquanto não há nada. Vá para casa rezar à Virgem...
- Sim, sim - respondo eu - já que aqui não há nenhuma...

sábado, 1 de novembro de 2008

Viagem Sem Retorno

A vida não passa de uma viagem de comboio, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis ou tristezas surpreendentes.
Quando nascemos, entramos nesse comboio e deparamo-nos com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre nessa viagem connosco, como por exemplo os nossos pais. Infelizmente, isso não é verdade. Nalguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos do seu carinho e da companhia insubstituível... mas isso não impede que, durante a viagem, outras pessoas importantes para nós entrem nessa carruagem. Chegam os nossos irmãos, novos familiares, outros amigos. Uns, mal entram, logo descem. Outros parecem eternos passageiros.
Muitas pessoas tomam esse comboio apenas como turistas ou na desportiva. Outras levam a viagem muito a sério que nem desfrutam da companhia dos outros ou da beleza da paisagem. Outras pessoas circulam pelas cabines, prontas a ajudar a quem precisa. Muitas descem e deixam saudades eternas, outras passam pelo comboio de uma forma que ninguém sequer se apercebe. Alguns passageiros, que nos são caros, acomodam-se noutros vagões diferentes dos nossos e por isso somos obrigados a fazer a viagem afastados deles. De vez em quando vamos ao seu encontro na carruagem seguinte.
É assim a nossa viagem, cheia de atropelos, sonhos, encontros e despedidas. Retornos é que nunca os há.
É possível fazer dessa viagem uma experiência aliciante, tentando relacionar-nos com todos os companheiros, partilhando com eles sonhos e realizações. O grande mistério, afinal, é que nunca sabemos em qual estação vamos descer, muito menos os nossos companheiros, nem quem está sentado ao nosso lado.
Eu fico a pensar nas saudades que sentirei quando chegar a minha vez de descer. Acredito que sim, tal como sinto saudades de todos os que já se apearam.
Até esse dia procurarei criar um ambiente agradável na carruagem onde viajo com os meus amigos. Seguirei viagem com a esperança de chegar à minha estação com as bagagens bem recheadas de tudo aquilo que me fará feliz no além. Quando chegar a hora de desembarcar, o meu lugar ficará vazio, mas as boas recordações e o bem que eu tiver feito, continuarão com aqueles que prosseguirem viagem.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Todos os Santos

1 de Novembro

1ª Mensagem:
Este é o dia em que celebramos todos os que são santos ou celebramos todos, pois todos são santos? Com certeza as duas situações.
Foi em Antioquia que pela primeira vez se chamou aos discípulos de Cristo o nome de CRISTÃOS. E antes como se lhes chamavam? A esses irmãos chamavam SANTOS. Naquele tempo ser discípulo de Cristo era ser santo, ser santo era ser discípulo de Cristo? E hoje?

2ª Mensagem:
Ser santo é ser feliz. Jesus Diz que santo é aquele que apesar de ter lágrimas no rosto, apesar de ser perseguido, maltradado, injuriado, pobre... mantém a sua felicidade. Ser santo é ser feliz aqui na terra sem comprometer a felicidade por toda a eternidade.
Se não sou feliz nesta vida, como posso ser feliz no céu?
Queres saber quanto és santo? Diz-me simplesmente quanto és feliz...
Diz-me como és feliz e dir-te-ei quanto santo és...

3ª Mensagem:
Na minha terra quando alguém não queria pagar uma dívida, dizia simplesmente: vás ter o pagamento no dia de São Nunca à tarde. Como o calendário não apresentava este dia, deixaria assim de cumprir com a promessa.
Mas no dia um de Novembro, celebramos todos os santos e por isso também celebramos este São Nunca. Este é também o seu dia, como o dia de todos os outros santos.
Então hoje é o dia de pormos todas as nossas contas em dia. É dia de cumprirmos com todos os nossos compromissos.
Ser santo é assim ter as contas em dia, é pagar todas as nossas dívidas, é assumir plenamente todos os nossos compromissos, baptismais e não só.

Pão Por Deus

O Primeiro de Novembro
É dia do Pão Por Deus.
Eu vou dar uma esmolinha
Por alma dos entes meus.

Este é um dos significados do dia do Pão Por Deus: dar esmola em memória dos seus parentes defuntos. Eles como já não podem dar esmola, nós damos por eles...

Outra explicação deste dia: No norte da Europa, a partir deste dia começava a haver neve pelos campos. Para que os pobres pedintes não tivessem necessidade de andar pela neve a pedir esmola, então organizavam uma festa para lhes atribuir tudo o que precisavam durante todo o inverno. Era partilhado então o pão e todos os produtos da terra aos pobres por amor de Deus: era o pão por Deus.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Armadura de Deus

5ª Feira - XXX Tempo Comum

Novo Vestuário de Efésios 6, 10-20

Revestir-se com a ARMADURA DE DEUS
(para resistir e perseverar firmes)

. Cinturão da Verdade (bem firmes)

. Couraça da Justiça (bem ajustados)

. Calçados com Zelo (anunciando o Evangelho da Paz)

. Escudo da Fé (para apagar o maligno)

. Capacete da Salvação (que é o comando de tudo)

. Espada do Espírito (a Palavra de Deus)

Qual destas 6 peças de vestuário eu tenho mais necessidade de cuidar, de reparar ou de acertar, hoje na minha vida, para ser um autêntico soldado revestido com a Armadura de Deus?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Endireitar-se

2ª Feira - XXX Tempo Comum

Naquele tempo apareceu uma mulher doente: andava curvada e não podia endireitar-se. Jesus chamou-a e disse-lhe: estás livre. Ela endireitou-se e começou a dar glória a Deus.

Ela começou a dar glória a Deus e por isso ficou endireitada ou ficou direita e então começou a louvar a Deus?
Quando alguém não é capaz de dar glória a Deus fica curvado, não consegue endireitar-se, não consegue olhar em frente, carrega um grande fardo.
É preciso ouvir o chamamento de Jesus e começar a louvar o Senhor. Só assim endireitamos a nossa vida e vamos longe porque olhamos em frente e apuramos a nossa posição.
Endireitar-se é tomar a posição do HOMO ERECTUS, é ser verdadeiramente homem ou pessoa. Diante de Jesus o homem torna-se realmente homem.
Homens, sede homens!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Fogo à Terra

5ª Feira - XXIX Tempo Comum

"Eu vim trazer o fogo à terra"

O FOGO simboliza a Palavra de Deus, mas também simboliza o juízo divino que purifica o seu povo, passando meio dele. Assim a Palavra de Deus constrói, mas ao mesmo tempo destrói.
O fogo tem o poder de transformar a matéria.
O fogo não tem forma permanente, pois está sempre em movimento, em acção.
O fogo aquece o corpo humano, ilumina o homem, defende-o (os animais são afugentados com o fogo).
O fogo orienta, guia, é comunicação etc…
Deus quer acender em nós este FOGO.
Cada um saberá o que mais precisa que ele faça: ou purificar, ou animar ou aquecer, ou guiar, ou defender, ou comunicar, conforme a sua situação existencial de cada momento.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Vida de Capelão (27)

Alguém que me viu junto das Fotocopiadoras:
- Ó Capelão, você muito gosta desta Secção.
- Tens razão. Sempre gostei da reprodução.

Criancices (27)

Numa Segunda-feira uma aluna do 2º Ano ou, como antigamente se dizia, da 2ª classe, toda satisfeita, veio contar-me:
- Senhor padre, eu ontem fui à catequese.
- Muito bem. E aprendeste muita coisa?
- Sim. Aprendi que o pai de Jesus não é São José.
- Muito bem. E como é que se chama o pai de Jesus.
A miúda pensa, faz um grande esforço e desiste:
- É um senhor que já não me lembro o nome.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Vigiar

3ª Feira - XXIX Tempo Comum

No Evangelho de hoje Jesus declara felizes os que ouberem VIGIAR.
Vigiar quer dizer - CONTEMPLAR (olha, vigia...)
Vigiar quer dizer também - GUARDAR

São felizes os que sabem contemplar.
São felizes os que sabem guardar o tesouro que receberam.
Isto é, são felizes os que sabem vigiar.

O Maior Mandamento

Ano A - XXX Domingo Comum

ESTE É O MAIOR MANDAMENTO:
AMAR A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS
AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO


- Deus, tu e eu , isto é, NÓS.
O maior mandamento é construir o NÓS,
a comunhão, a família.

- Amar a Deus e amar o próximo:
amar a Deus nos irmãos
amar os irmãos em Deus.

- Amar o próximo como a nós mesmos,
como se ele fosse parte de nós.

Quem Vem Depois

Ano A - XXX Domingo Comum


A catequista estava a interrogar os seus alunos:
- Quem é capaz de dizer qual é o maior mandamento da Lei do Senhor?
- Amar a Deus e amar o próximo – responderam em coro.
- Muito bem, vê-se que os meninos estão atentos na catequese e sabem muitas coisas. Mas qual de vós quer dizer quem é o próximo?
Todos ficaram pensativos até que uma menina, sem hesitação, levantou o dedo para falar:
- O próximo é o que vem depois.
A catequista nem queria acreditar no que ouviu:
- Como? Aquele que vem depois?
- Sim. É o que vem a seguir. Ontem, a minha mãe levou-me ao médico e estava lá muita gente. Cada vez que saía uma pessoa do consultório a enfermeira pedia: o próximo.
- É verdade, é assim... confirmaram todos.
- Bendito seja Deus! – concluiu a catequista. Estes meninos sabem mais do que eu.
É o mesmo Senhor Jesus que continua hoje a revelar a Sua lei: Amar a Deus e ao Próximo, amar a Deus que vem primeiro e amar o próximo que vem depois, amar o Mestre e o discípulo que está a seguir, amar o Senhor e amar aquele que dele precisa, amar a Deus e a quem está perto dele porque todos estamos no seu coração.

domingo, 19 de outubro de 2008

Criancices (26)

Uma Professora estava a lamentar-se da sua falta de tempo:
- Quem me dera ter alguém que me passasse a ferro!
- Oh, eu não sabia que estavas assim tão engilhada...

Vida de Capelão (26)

- Ó Capelão, as freiras usam aliança pois são casadas com Nosso Senhor. E então os Padres? Não usam aliança, mas também são casados com Ele.
- Por quem me tomas. Eu sou casado sim, não com Ele, mas com Ela, a Santa Madre Igreja.
- Santa?! Isso é que era bom.
- Santa sim. Não há esposa como a minha. Posso chegar a qualquer hora da noite, ela nunca resmunga, nunca me chateia nem pergunta onde estive, com quem andei, se venho a cheirar a álcool etc. e tal. Assim, só de uma santa.

sábado, 18 de outubro de 2008

Dia das Missões

BREVE TESTEMUNHO

É preciso ir ao povo, dizia o Pe. Dehon.
Foi a pensar nisto que deixei a minha sacristia na Madeira e parti para Madagáscar para participar na ordenação de D. José Alfredo e visitar as missões dos meus confrades dehonianos, em Março de 2001.
Era a minha vez de ir até aquele povo de quem ouvira falar, de visitar aqueles que deixaram tudo para evangelizá-lo.
Parti com o sonho de ver como se evangeliza e voltei convencido de como somos evangelizados. É preciso ir ao povo, não para evangelizar mas para se deixar evangelizar. Foi esta a conclusão a que cheguei ao dialogar com os seminaristas do colégio Missionário, ao regressar de Madagáscar. Ao explicar aquilo que mais me tinha surpreendido na viagem, fiz a lista das qualidades daquele povo:
- Vive o espírito de pobreza evangélico, contentando-se com o mínimo dos mínimos e apesar disso mostra-se feliz. Tem uma vida pobre mas pura. Encontrei pessoas sempre alegres, felizes. Bastava olhar para elas para se abrirem num sorriso.
- Vive numa fome de aprender e de participar. Fazem grandes caminhadas a pé para celebrar a sua fé. Até mesmo as crianças ficam quietinhas a absorver tudo o que ouvem ou vêem. Com o mínimo das condições, conseguem tirar o máximo na aprendizagem. Não olham para o relógio, não apenas porque não os há mas porque para crescer não medem o tempo. Todos cantam e rezam com entusiasmo. Rezam com a boca cheia, pois ela está vazia de pão mas o coração a transbordar. Cantam com o corpo inteiro com toda a espontaneidade. E dançam num balanço lento que exterioriza uma serenidade contagiante.
- É um povo bastante contemplativo. Frequentemente vê-se alguém sentado a olhar para o infinito. Dizem que é por causa do calor e do esforço das caminhadas ou da dureza da própria vida. O certo é que sabem parar e quase que nem se movem na sua paz ou tranquilidade.
- Gente que não se queixa. À pergunta se está tudo bem, respondem prontamente que sim e só mais tarde é que fazem a ladainha das ocorrências – a tempestade levou-me a casa, o meu parente está doente, o arrozal ficou destruído, mas está tudo bem. Está tudo bem porque estou vivo, não interessa o resto pois tudo se irá compor.
Podia continuar numa exaustiva enumeração destas qualidades. Quando as assinalei, um jovem seminaristas desabafou:
- Então, se os malgaxes são assim tão bons, o que é que eu vou lá fazer? O que é que posso ensinar-lhes? É que eles são melhores do que nós.
- Pois é. Não vamos até eles para os evangelizar mas para nos deixar evangelizar.
Como admiro aquele povo, pobre em condições de vida mas tão rico humanamente!
Como admiro os missionários que comungam da sua vida, com coragem e com fé.
Os malgaxes estão orgulhosos dos seus missionários, como posso ficar insensível a tudo isto. Eu sinto orgulho de uns e de outros.
Obrigado a todos por esta evangelização.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Criancices (25)

.
Na turma do 1º Ano (antiga 1ª Classe), estávamos a fazer uma lista de palavras que começavam pela letra Q. Depois de algumas palavras (quadro, queijo, quarto etc.), a turma ficou a pensar em silêncio, à procura de outras até que um aluno levanta o dedo e diz saber uma outra palavra:
- Quilhões.
- Olha lá, essa palavra só é usada por quem não anda na escola. Há outra palavra mais própria para dizer a mesma coisa. Quem sabe qual é? Eu vou ajudar. Essa palavra começa por T.
A turma, em silêncio, pensava, pensava... até que uma menina prontificou-se para responder. Respirei fundo pois era filha de um médico e de uma enfermeira. Com certeza lá em casa já devia ter ouvido a palavra Testículos.
- Diz lá a palavra certa.
- Tomates.
.

Vida de Capelão (25)

Entro no Bar que estava bem animado. Alguém levanta a voz e pergunta:
- Então, Capelão, como vão as suas ovelhinhas?
- As ovelhas estão bem, graças a mim, mas tenho por aí uns cabrões que me dão cabo do juízo.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Teresa de Ávila

15 Outubro - Santa Teresa de Ávila

Este texto não é meu original. Apenas resumi ainda mais o que encontrei.

Santa Teresa nasceu em Ávila (Espanha) no ano 1515. Tendo entrado na Ordem das Carmelitas, fez grandes progressos no caminho da perfeição e teve revelações místicas. Ao empreender a reforma da sua Ordem teve de sofrer muitas tribulações, mas tudo suportou com coragem invencível. A doutrina profunda que escreveu nos seus livros é fruto das suas experiências místicas. O “Castelo Interior” é o ensinamento maior da Santa. Fruto maduro da sua última jornada terrena, reflecte o estádio definitivo da sua evolução espiritual e completa a mensagem das obras anteriores. Aqui fica um breve esquema:

Primeira morada:
entrada no castelo
, converter-se, iniciar o trato com Deus (oração); conhecer-se a si mesmo e recuperar a sensibilidade espiritual.

Segunda morada:
lutar; o pecado ainda cerca; necessidade de uma opção radical; progressiva sensibilidade na escuta da palavra de Deus (oração meditativa).

Terceira morada:
a prova do amor. Estabelecimento de um programa de vida espiritual e de oração; zelo apostólico; mas sobrevêm a aridez e a impotência como estados de prova.

Quarta morada:
brota a fonte interior, passagem à experiência mística; mas intermitentemente: momentos de lucidez infusa (recolhimento da mente) e de amor místico-passivo (quietude da vontade).

Quinta morada:
morre o bicho-da-seda; a alma renasce em Cristo; estado de união por conformidade de vontades, manifestada especialmente no amor.

Sexta morada:
o crisol do amor. Período extático e tensão escatológica. Novo modo de sentir os pecados. Cristo presente.

Sétima morada:
Matrimónio Místico
. Duas graças de ingresso no estado final: uma cristológica, outra trinitária. Plena inserção na acção. Plena configuração a Cristo crucificado.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Criancices (24)

Uma professora veio queixar-se dos seus alunos:
- Ó Senhor Padre, eu não me casei para não ter que aturar filhos e tenho de aturar os filhos dos outros?
- E eu não me casei para não aturar mulher e tenho de te aturar a ti.

Vida de Capelão (24)

Alguém ao ver um Aspirante a falar comigo:
- Ó Capelão, manda-o àquela banda…
- A ti é que te mando a uma lugar que tem cinco letras, começa com M e acaba em A. Vai tu à … MISSA!

Imagem de Deus

Ano A - XXIX Domingo Comum


Um dia as Irmãs da Caridade recolheram um mendigo, lavaram-no, deram-lhe de comer, aconchegaram-no. Quando recuperado e lúcido, este homem pediu à Irmã Teresa de Calcutá:
- Dizei-me o vosso nome. Nenhum humano fazia por mim o que vós fizestes. Vós deveis ser deusas. Que posso fazer para servir a vossa divindade?
- Não, não somos deusas. Tu é que és para nós imagem de Deus. Nós fizemos tudo isto porque reconhecemos em ti o nosso Deus.
É preciso retribuir a Deus o que é de Deus e a César o que é de César.
A mensagem de Jesus é muito subtil. A moeda deve ser restituída a César, porque nela está impressa a sua imagem. Há uma criatura sobre a qual está impressa a imagem de Deus. Esta é Sua e mais ninguém pode apropriar-se dela.
Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, à imagem de Deus Ele o criou. O Homem é esta criatura que não pode pertencer a mais ninguém senão a Deus. Ninguém poderá dominá-lo, escravizá-lo, oprimi-lo como se fosse um objecto de sua propriedade porque é sagrado.
É preciso respeitar a imagem de Deus que está impressa no rosto de cada pessoa. Não será tarefa fácil pois só os puros de coração verão a Deus.
Dar a Deus o que é de Deus só se entende se eu me der todo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Efeméride (3)


Efeméride (2)


Efeméride (1)


11 de Outubro

100 Anos
No dia 11 de Outubro comemoram-se os 100 anos da Ordenação Episcopal do primeiro Bispo da Congregação que também foi o primeiro missionário SCJ. Trata-se de D. Gabriel Grison ordenado bispo a 11 de Outubro de 1908 em Roma com destino à Diocese de Stanley-Falls como Vigário Apostólico, actual Kisangani no Alto Congo. Manteve-se no cargo até 1934 quando lhe sucedeu outro dehoniano, o Bispo D. Camilo Verfaillie.

50 Anos
Em 1958, também no dia 11 de Outubro outro bispo da Congregação tomou posse da mesma Diocese como Vigário Apostólico, D. Nicolau Kinsch. No ano seguinte é designado Arcebispo mantendo-se aí até resignar em 1967. A partir de então não houve mais bispos dehonianos nessa diocese.

Primeiro Missionário
O Bispo D. Gabriel Grison é considerado também o primeiro missionário dehoniano. De facto foi ele o primeiro a partir para a missão do Equador, na América Latina em 1888. Depois da expulsão dos missionários do Equador em 1896, o Padre Gabriel Grison partiu no ano seguinte para abrir a primeira missão africana da Congregação no Congo Belga, onde se manteve como missionário e depois também como bispo desde 1908 até 1942, ano da sua morte.
Escreveu as memórias da sua primeira missão no Equador e uma “Crónica de Stanley-Falls” publicada em 1936 na revisa “O Reino do Coração de Jesus” de Lovaina (Bélgica).

Primeiro Bispo
D. Gabriel Grison foi o primeiro bispo dehoniano de toda a Congregação. Segundo o actual Elenchus a nossa Congregação já deu à Igreja 40 bispos, dos quais 22 vivos (incluindo os dois únicos Cardeais, o Brasileiro Óscar Scheid e o Polaco Estanislau Nagy).
Mártires
Quando D. Gabriel Grison morreu em 1942 com 81 anos de idade, já 52 missionários o tinham precedido na morte, grande parte em idade jovem.
Para a sua sepultura escolheu um espaço à frente da Gruta de Lurdes no exacto lugar onde celebrou a sua primeira missa de Natal na Missão de S. Gabriel quando chegou às terras africanas. O Papa João Paulo II, visitando o Congo em 1980, rezou ajoelhado na campa de D. Gabriel Grison.
Recordando os seus missionários que sacrificaram a sua vida, o Padre Dehon escreveu em Fevereiro de 1925 nas notas quotidianas: “Alguns morreram generosamente na missão no Congo, no Brasil”.
Nos “Souvenirs” ao recordar os “nossos defuntos” o Fundador confessou que “um santo cardeal lhe dizia que só pelo facto de terem ido para longe, expondo-se a uma morte iminente, estes missionários mereciam a palma do martírio”.
Mais tarde o martírio continuou mais explícito: Durante a rebelião dos Simbas, após a proclamação da independência do Zaire a 30 de Junho de 1960. Dos 144 missionários assassinados, 29 foram dehonianos.


Bilhetes de Identidade
D. Gabriel Grison:
Nasceu a 24 de Dezembro de 1860 em Verdún
Ordenado Presbítero a 30 de Novembro de 1883 = 125 anos
Primeira Profissão a 13 de Setembro de 1887
Partiu para o Equador a 10 de Novembro de 1888
Expulsão do Equador a 12 de Junho de 1896
Partiu para o Congo a 6 de Julho de 1897
Ordenado Bispo a 11 de Outubro de 1908 = 100 anos
Resignou em 1934
Morreu a 13 de Fevereiro de 1942
Era de estatura pequena, mas robusta, de temperamento nervoso, inteligente, com uma vontade tenaz e um coração generoso. Possuía uma alma poética que se entusiasmava diante das belezas da natureza. Era um excelente mestre, especializado em Ciências Naturais e tocava bem guitarra.

D. Camilo Verfaillie:
Nasceu a 4 de Julho de 1892
Primeira Profissão a 23 de Setembro de 1912
Ordenado Presbítero a 13 de Julho de 1924
Ordenado Bispo a 27 de Maio de 1934
Resignou em 1958 = 50 anos
Morreu a 22 de Janeiro de 1980

D. Nicolau Kinsch:
Nasceu a 31 de Outubro de 1904
Primeira Profissão a 22 de Setembro de 1926
Ordenado Presbítero a 12 de Julho de 1931
Ordenado Bispo a 11 de Outubro de 1958 = 50 anos
Resignou em 1967
Morreu a 23 de Março de 1973

Documentos

Carta do Pe. Dehon : 28.03.1908 Destinataire : Madame von Christierson Inventaire : 1152.09 AD : B104/1
Madame, … A nossa Congregação acaba de obter uma grande graça da Santa Sé. A nossa missão do Congo foi erigida Vicariato Aostólico, e o Pe. Grison, da nossa Congregação, foi nomeado bispo. Recebei os meus respeitosos votos. L. Dehon


Carta do Pe. Dehon : 13.10.1908 (mardi) Destinataire : Louis Julliot Inventaire : 861.01 AD : B62/4
Mon cher Louis,… Neste momento, estamos todos reunidos em Roma. Nós tivemos no Domingo a sagração de D. Grison. Isto é narrado no Jornal La Croix. Foi o Cardeal Gotti que fez a sagração. Ele tinha uma bela assistência : quatro bispos, prelados, príncipes romanos, o embaixador da Bélgica, etc. Que bela cerimónia ! As promessas do novo bispo, a prostração, as unções, a imposição das mãos, a bênção da mitra, da cruz, do anel, com as fórmulas que explicam o simbolismo, tudo isto impressiona vivamente. O Pe. Mathias está aqui, o Pe. Jeanroy, o Pe. Falleur, o Pe. Duborgel. Eles vão visitar as sete basílicas, as catacumbas, etc. etc. Terão assim muito que contar durante todo o inverno. Hoje haverá uma grande recepção na nossa casa. Amanhã, haverá uma segunda audiência do Papa. Ele já ofereceu a D. Grison uma bela cruz peitoral em ouro, ornamentada com filogramas, pérolas e safiras. Mais dois ou três dias e toda a gente regressará. Eu ficarei até 15 de Novembro… Teu devotado L. Dehon

O Adeus de D. Grison ao Pe. Dehon
Das lembranças de D. Philippe, escritas em 1952, em alemão, traduzidos em italiano pelo Pe. Lellig para o Pe. Memolo, segundo parece demasiado literalmente o que torna a sua leitura difícil. (pp. 286.296):
“Quando D. Grison veio de férias tive a ocasião de ver uma cena inesquecível.
Antes de ir embora houve uma última discussão com o Fundador sobre a questão sempre escabrosa do dinheiro para as missões. Depois o Bispo partiu. Cada dia estava informado, como se disse atrás, sobre o estado da doença do Pe. Dehon. Ao chegar, entrando comigo na câmara mortuária, e vendo-o no ataúde, caiu de joelhos chorando como uma criança e eu disse-lhe: “Olhe, isto é para si a recordação do Fundador”. Sobre o crucifixo estava gravado: “Fortis ut mors est dilectio” que quer dizer: “O amor é forte como a morte”. Mais tarde o bispo escreveu-me do Congo: “Você sabia muito bem do que eu tinha necessidade quando me deu o crucifixo.
A Superiora Geral das Servas do Coração de Jesus tinha oferecido a cada Padre um crucifixo igual na primeira profissão perpétua…”

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Criancices (23)

.
Durante o tempo de estudo fui até junto a um aluno que se ria descontroladamente:
- Que se passa? Qual o motivo dessas gargalhadas?
- É que Fulano deu um peido.
- Ó rapaz, há uma palavra mais cuidada para nomear isso. Diz-se flato.
Ao mesmo tempo escrevi o termo no seu caderno. Ao regressar ao meu lugar notei que o seu colega lhe perguntava que palavra era aquela. A resposta foi por escrito: Flato = peido de padre.

Vida de Capelão (23)

- Ó Capelão, você hoje está chateado. Venha dar uma volta de avião.
- Não, muito obrigado. Neste estado prefiro ficar cá em baixo, longe do meu chefe.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Banquete do Reino

Ano A - XXVIII Domingo Comum

Jesus Cristo, com frequência, compara o Reino dos Céus a um banquete. A este propósito recordo uma metáfora oriental já muito divulgada:
Um certo homem faleceu e antes de entrar no céu quis dar uma espreitadela pelo inferno. Reparou que numa sala havia uma mesa e ao centro um pratão de arroz com colheres enormes, de um metro de cumprimento. Nisto chegaram os convivas. Cada um tentava comer com aquelas colheres gigantes mas era impossível e toda a gente passava fome.
Ao entrar no paraíso viu, para seu espanto, uma mesa igual, o mesmo prato de arroz e as mesmas colheres enormes.
- Mas como é possível comer aqui no céu?
- Espera e já verás que isto não é inferno nenhum, respondeu-lhe um anjo.
Aproximaram-se os santos do Paraíso, sentando-se pegaram nas colheres, e cada um dava de comer àquele que estava no outro lado da mesa.
- Eis a diferença. No inferno cada um pensa em si e todos passam fome. No paraíso todos servem os outros numa refeição fraterna e há alegria e paz. A mesa é igual, as pessoas é que são diferentes.
Já que o Reino dos Céus é um grande banquete, treinemos aqui na terra a partilhar, servindo e pensando nos outros para não haver surpresas para ninguém na eternidade.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Vai e Faz o Mesmo

2ª Feira - XXVII Tempo Comum


Bom Samaritano: Aprender dele é fazer o mesmo:

- Ocupar-se das misérias dos outros
empregar o nosso tempo e a nossa vida
a favor dos infelizes.

- Não reprovar ninguém,
mas como Cristo narrar apenas os factos
sem julgar ou censurar.

- Passar como o Samaritano
olhar e ver quem precisa de si.
Ser um homem atento, sempre alerta.

- Como o Samaritano não se desviar
nem um centímetro do seu caminho.
Não é preciso procurar ninguém.

- Amar o nosso próximo é
amar o nosso Samaritano,
isto é, amar quem nos ajuda.


- não se desviar do nosso caminho
voltando as costas aos outros.
Dar vitalidade a quem precisa mas não mais.

- Não ficar retido
por aquele que salvamos.
Lembrar-se que devemos
a nossa sobrevivência a outrém,
e fazer por outro o que esse fez por nós.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Vida de Capelão (22)

- Ó Capelão, você deve vir mais vezes à oficina, abençoar estes motores para não nos darem tanto trabalho. E traga também a água benta.
- Posso deitar água benta, mas garanto-lhes que os motores ficarão ainda mais enferrujados...

Criancices (22)

No Colégio dois alunos começaram a namorar.
- Quem são? - Perguntaram-me curiosos os professores.
- É a Cláudia que não é Virgem, é Vargem e o Gonçalo que não é Casto, é Castro.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Vida de Capelão (21)

Ao visitar uma secção:
- Boa tarde, senhores trabalhadores!
Olharam-me com ar surpreendido pela saudação e por isso acrescentei imediatamente:
- Ó, desculpem se ofendi alguém.

Criancices (21)

Durante o recreio do almoço, um Padre ao passar no corredor notou algum movimento na Capela. Abriu a porta e viu três miúdas do 1º Ano, de joelhos a passear entre os bancos.
- Ó meninas, este não é o lugar apropriado para essas brincadeiras, vamos lá para fora.
Elas obedeceram envergonhadas, mas o Padre ficou com problemas de consciência. Contou depois:
- Fiquei a pensar que talvez Deus estivesse a gostar daquela brincadeira e eu tirei-lhe esse prazer.

Santa Teresinha

1 de Outubro

Três palavas, no princípio, no meio e no fim da breve, mas perfeita vida de Santa Teresinha do Menino Jesus, Virgem, Doutora da Ireja e Padroeira Mundial das Missões.

- No Princípio - CÉU - Ela testemunha que a primeira palavra que leu sozinha foi "céu". E com isso o compromisso de "passar o seu Céu a fazer o bem sobre a Terra".

- No Meio - SANTA POR INTEIRO - "Não quero ser Santa pela metade, escolho tudo". Todos os gestos e sacrifícios, do menor ao maior, oferecidos a Deus pela santificação de todos.

- No Fim - AMOR - Ao morrer Santa Teresinha exclamou "Meu Deus, eu vos amo... eu vos amo!" Foi o coroamento da sua vocação: no coração da Igreja a sua vocação foi o amor.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Virtudes Gémeas

Ano A - XXVII Domingo Comum

Um dia o Senhor Todo-Poderoso convidou para uma festa no Paraíso, todas as Virtudes. Cheias de alegria, rodearam o Trono de Deus, louvando o Senhor, como se se encontrassem na sua própria casa: todas as Virtudes se conheciam...excepto duas. Uma disse à outra:
- Estou contente por te conhecer. Nunca te vi antes. Deves ser uma virtude bastante nova.
- Também eu estou satisfeita por te cumprimentar pela primeira vez. Tu é que deves ser novata nesta família.
Deus, a quem nada escapa, mostrou um rosto pensativo e declarou:
- Como é que vós as duas, as mais belas Virtudes, não se conheciam ainda? Daqui para a frente deveis andar sempre de mãos dadas, para que ninguém fique privado da alegria da vossa companhia.
Sabeis de que Virtudes se tratava? Uma era a Beneficência e a outra o Reconhecimento!
O eco do profeta Isaías ainda se faz ouvir hoje: “Que mais Deus podia fazer à sua vinha que não tenha feito? E quando esperava que viesse a dar uvas, apenas produziu agraços.”
E Jesus concluiu: “Ser-vos-á tirado o reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos.”
Quem não agradece não sabe receber. O bem que é feito tem de ser reconhecido pois Beneficência e Reconhecimento são irmãs gémeas.

Criancices (20)

Um aluno, de sobrenome Macedo, costumava chegar tarde ao encontro da manhã. Depois de várias repreensões disse-lhe um dia:
- Caramba, tu és Mais Cedo mas chegas sempre Mais Tarde.

Vida de Capelão (20)

Uma senhora depois da missa lamentava-se:
- Ó Sr. Capelão, você esquece-se das mulheres na celebração, pois só diz MEUS IRMÃOS. E nós?
- Sabe, quando eu digo MEUS IRMÃOS, quero abraçar também as mulheres.

sábado, 27 de setembro de 2008

Criancices (19)

Um aluno tinha recebido dos seus colegas de turma um aquário com um peixe como presente do seu aniversário. Todos o queriam ver. Aproximei-me também e alguém, sem notar a minha presença exclamou:
- O grande filho da puta (ou seria truta?) está sempre de boca aberta…
- Ouve lá – atalhei eu – donde conheces a mãe deste peixe?
Todos riram e desculparam a irreverência.

Vida de Capelão (19)

- Ó Capelão, porque é que não requisita uma bicicleta para o seu serviço? Assim poderia chegar mais depressa e sem mais canseiras a todos os serviços...
- Bem, eu até gostava, mas para quê uma bicicleta se o Capelão não deve montar?

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Vida de Capelão (18)


Alguém estava a falar comigo e com o entusiasmo deixou escapar uma palavra que rima com carvalho. Desfez-se em desculpas:
- Ó Capelão, eu não queria dizer…
- Está à vontade, rapaz. Assim não ficas com isso guardado na boca.

Criancices (18)


No Colégio veio um miúdo confessar-se:
- Diz então quais os pecados que queres confessar hoje...
- Senhor padre, confesso que atirei uma pedra ao meu irmão.
- Ó filho, erraste!
- Não errei nada, acertei-lhe em cheio...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Oh Feliz Culpa !

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Ano A - XXVI Domingo Comum

Um dos pontos mais desconcertantes e, ao mesmo tempo, mais deliciosos, dos ensinamentos de Jesus é que Deus está mais perto dos pecadores do que dos santos... e que os publicanos e as mulheres de má vida irão diante dos bons para o Reino Celeste.
Anthony de Mello explicava assim esta verdade:
Deus segura cada pessoa por um barbante invisível. Cada vez que nós pecamos, cortamos esse fio mas Deus volta a emendar tudo com um nó cego. Como o barbante fica mais curto, por causa deste nó, nós ficamos também um pouco mais perto de Deus.
E assim cada pecado faz um corte e a cada corte corresponde um nó e cada nó leva-nos até mais perto de Deus.
Pecar é fazer uma ruptura, é cortar as relações com Deus, connosco mesmos, com os outros ou com as coisas. É dizer uma coisa e fazer outra, é ser quem não se é.
Arrepender-se é apresentar a Deus as pontas do barbante para que Ele possa atá-las de novo. Perdoando, Deus reata uma relação e manifesta a sua misericórdia. Se eu não pecasse, ou não reconhecesse o meu pecado, Deus não teria ocasião de mostrar que é misericordioso.
E no fim de tudo podemos dizer como Santo Agostinho: Oh feliz culpa... que nos aproximou mais de Deus.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Deus Procura-nos

Ano A - XXV Domingo Comum

Um grupo de mineiros, num túnel, emparedados por um desmoronamento, tentava abrir uma saída, após longas horas, batia na parede e notava o pequeno progresso e se perguntava se não seria em vão o seu esforço. Houve um momento em que pararam exaustos e ergueram silenciosamente as cabeças, apuraram os ouvidos e escutaram ao longe outras pancadas que lentamente venciam a mesma resistência e se dirigiam ao seu encontro. Era a equipa de salvamento. E descobriram nova coragem para recomeçar o trabalho. E sempre que não podiam mais, detinham-me um momento para tornar a ouvir e a crer.
Ninguém pode vir a mim se o Pai o não atrair, repete Jesus. A Parábola dos vinhateiros contratados nas mais diversas horas vem lembrar-nos precisamente a mesma realidade: Não somos só nós que procuramos a Deus mas é sobretudo Deus quem nos procura. Ele é Alguém acessível, pois sai inúmeras ao encontro dos homens. É Alguém que quis precisar de nós pois sabe que nós não somos ninguém sem Ele. Quer ter uma relação pessoal contratando pessoalmente cada trabalhador. É bom, justo, generoso e livre.
De vez em quando temos necessidade de recordar que o nosso Deus é assim para reforçarmos a nossa procura. Sabendo que Ele está próximo, a melhor maneira de se encontrar com Ele é ficar onde se está, isto é, não se transviar porque mais cedo ou mais tarde ele virá ter connosco.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Vida de Capeão (17)

Para alguém que me tentava tramar:
- Já estou lixado e com EFE grande!
- Ó Capelão, é pecado falar mal.
- Nem por isso. Um palavrão não tem maldade para quem diz ou ouve, mas alivia muito.

Criancices (17)

Estávamos a ler um texto do Principezinho de Saint Exupery:
"Vais-te aproximando de mim...e olhas-me pelo rabinho do olho..."Uns miúdos começaram a rir com malícia. No final fui ter com eles e perguntei-lhes qual tinha sido a piada.
- Foi por causa do rabinho do olho.
- Mas o que estava lá é o contrário daquilo que vocês pensaram.
- O que é que nós pensámos?
- Vocês ao lerem Rabinho do olho pensaram no olho do rabinho...

Lágrimas Purificadoras

5ª Feira - XXIV Tempo Comum

Uma pecadora banhou os pés de Jesus com as suas lágrimas…

Se eu quiser lavar as minhas mãos sujas de terra, preciso apenas de um pouco de água.
Se eu quiser lavar as minhas mãos sujas de gordura, preciso para além de água um pouco de detergente ou sabão.
Se eu quiser lavar a minha alma da sujidade do pecado, preciso não de água nem de detergente mas sim de muitas lágrimas…
As lágrimas da contrição, do arrependimento, da mágoa de ter ofendido…

Jesus disse à pecadora: Os teus pecados estão perdoados…

Cântico do Amor

4ª Feira - XXIV Tempo Comum


Podemos fazer a correspondência do Cântico do Amor (1Cor 13,1-8) com a expressão Deus Caritas Est (1Jo 4,16):
Se Deus Caristas Est e se A Caridade é... como nos diz São Paulo, então podemos fazer duas aplicações.
1ª - Dizer aquilo que pensamos de Deus
2ª - Dizer o que Deus quer pensar de cada um de nós.

1ª Aplicação

Se eu falasse as línguas dos homens e dos anjos,
mas não tivesse DEUS,
seria como bronze que soa ou címbalo que retine.
Se eu tivesse o dom da sabedoria
e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência;
se eu tivesse a plenitude da fé,
a ponto de transportar montanhas,
mas não tivesse DEUS, nada seria.
Se distribuísse todos os meus bens
e entregasse o meu corpo às chamas,
e não tivesse DEUS, de nada me aproveitaria.
DEUS é paciente,
DEUS é benigno, não é invejoso,
DEUS não se vangloria,
não se ensoberbece, nada faz de inconveniente,
não procura o seu interesse, não se irrita,
não guarda ressentimento,
não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
DEUS não acaba mais.


2ª Aplicação

O David é paciente,
O David é benigno, não é invejoso,
O David não se vangloria,
não se ensoberbece, nada faz de inconveniente,
não procura o seu interesse, não se irrita,
não guarda ressentimento,
não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O David não acaba mais.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Vida de Capelão (16)

Um Oficial Superior ao entrar no Bar onde eu estava em conversa com um Oficial Miliciano;
- Ó Capelão, você hoje está muito mal acompanhado...
- Sim, sim, desde que tu cá chegaste...

Criancices (16)

Na aula de Educação Moral e Religiosa Católica no 8º Ano, eu estava a rever a lição anterior sobre o Perdão e perguntei:
- Quem se recorda do nome da Parábola que nós lemos na semana passada sobre o perdão? Diz lá.
- A Parábola do filho prodígio.
- Sim, sim! Que belo prodígio me saíste!

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A Cruz de Cristo e o Cristo da Cruz

14 de Setembro - Exaltação da Santa Cruz

- Quem é Aquele que está levantado na cruz?
- É Jesus Nosso Senhor.

- Porque é que tem uma coroa de espinhos na cabeça?
- Porque Ele é o nosso Rei.

- Porque é que tem a cabeça inclinada?
- É para nos beijar.

- Porque é que tem os braços estendidos?
- É para nos abraçar.

- Porque é que tem o Coração aberto?
- É para nos amar.

- Porque é que tem os pés cravados?
- É para podermos alcançá-l’O.

domingo, 7 de setembro de 2008

Como Reagir às Ofensas

Ano A - XXIII Domingo Comum

Confrontemos.
- O que Jesus ensina através da sua palavra
- O que nós costumamos fazer
- O que Jesus faz.

A – O que Jesus ensina por palavras
Se teu irmão de ofender resolve a questão esgotando estas soluções por esta ordem:
1º - Vai ter com ele a sós.
2º - Pede ajuda a duas ou três pessoas amigas.
3º - Comunica o caso à Igreja.
4º - Afasta-te dele, considerando-o pagão.
Se uma solução não resultar, passa para a seguinte e assim sucessivamente. Isto é o que Jesus ensina por palavras.
É uma espécie de receita que Ele prescreve em caso de desentendimento fraterno.

B – O que nós costumamos fazer
Precisamente o contrário daquilo que Jesus propõe:
1º - Afastamo-nos. Viramos as costas (a última hipótese que Jesus recomenda…)
2º - Pomos a boca no trombone para dizer a todos que fomos ofendidos, quem nos ofendeu, o que nos fez.
3º - Ficamos à espera que quem nos ofendeu nos venha a pedir desculpa. Esperamos que ele venha ter connosco e não nós ir ter com ele como Jesus nos manda…

C – O que Jesus faz
É caso único: Jesus ensina uma coisa, mas faz outra. Senão vejamos:
No momento mais dramático da sua vida, no alto da cruz Jesus é ofendido pelos presentes e por um dos colegas de crucifixão. O que Jesus faz? Dirige-se ao Pai dizendo:
- Pai, perdoa-lhe que eles não sabem…
A primeira coisa que Jesus faz ao ser ofendido é dirigir-se a Deus Pai. Ele não se sente ofendido e por isso não precisa de perdoar.
Este é o maior ensinamento de Jesus: ensina com o seu exemplo – quem não se sente ofendido não precisa de perdoar.

Nós apenas dizemos que quem não se sente não é filho de boa gente e por isso ficamos magoados e ofendidos… Jesus ensina-nos com a sua vida que quem não se ofende não tem que perdoar…

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Corpo e Alma

5ª Feira - XXII Tempo Comum


Dois ensinamentos do Pe. Dehon que aplicamos a propósito do Evangelho de hoje.

1. "Nosso Senhor, para conquistar as almas, não curou ele os corpos, alimentou os famintos no deserto e encheu a rede dos pescadores?"
"O Evangelho nos ensina que Jesus curava os corpos para chegar às mentes e multiplicou os pães para santificar as almas."
De facto, Jesus passou a maior parte do dia a ensinar as multidões que se aglomeravam à sua volta para O ouvir. Depois, de saciar o seu espírito com a sua Palavra, eis que a pesca milagrosa vem saciar o seu corpo.

2. "É no alto mar que faremos a pesca milagrosa..."
É para aí que nos manda Jesus: Faz-te ao largo...
É preciso ir mais além, alargar os horizontes, deixar a babugem da praia e aventurar-se com coragem...

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Um Dia Cheio

4ª Feira - XXII Tempo Comum

O trecho do evangelho de hoje apresenta uma Jornada típica de Jesus ou o Seu Horário Diário:

1. Tempo para a Comunidade
(Jesus saiu da sinagoga…)

2. Tempo para a Família
(Entrou na casa de Simão… A sogra de Simão estava com febre muito alta…)

3. Tempo para as Multidões
(Todos os que tinham doentes traziam-nos…As multidões procuravam-no…)

4. Tempo para Cada Um
(Impondo as mãos sobre cada um deles, curava-os…)

5. Tempo de Recolhimento
(Ao romper do dia Jesus dirigiu-se a um lugar deserto.)

6. Tempo para a Missão
(Tenho de anunciar a Boa Nova também às outras cidades…)

7. Tempo para a Comunidade
(E pregava nas sinagogas da Judeia)
E o horário volta ao princípio…e assim sucessivamente.)


E nós? Como ocupamos o nosso tempo?
Deixamos algum aspecto ou alguma dimensão para trás?
.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Corrigir-se

Ano A - XXIII Domingo Comum


1- Necessidade da Correcção fraterna.
O pecado nunca é um facto isolado pois nenhum homem é uma ilha. Cada um é parte dum continente. Quando uma ave poisa num ramo é perturbado o equilíbrio de toda a planta. Quando uma pedra cai no lago comunica o movimento a toda a água.
2- Como corrigir.
A) Com serenidade para não aumentar o mal; a sós; na intimidade e num relacionamento pessoal. Conta-se que um dia Platão teve que corrigir um aluno impertinente. Sentando-se, pediu ajuda a um amigo dizendo: Eu não posso corrigi-lo agora porque não me encontro suficientemente calmo.
B) Em espírito de comunhão e oração. É por isso que Jesus, no Evangelho deste Domingo, conclui que onde dois ou três se reunirem em seu nome, estaria no meio deles. Isto porque a comunidade reúne-se para fazer oração mas afinal é a oração que constrói a comunidade.

Um dia, uma mãe lamentava-se ao pároco que o seu filho, em crise espiritual, andava transviado pelas más companhias. Dizia com tristeza:
- Eu falo muitas vezes de Deus ao meu filho mas não serve de nada.
Então o santo pároco, consolando-a respondeu:
- Coragem! Se quer obter melhores resultados, mais do que falar de Deus ao seu filho, fale do seu filho a Deus.
E assim fez. Quanto mais rezava mais calma e compreensiva ficava de modo que o seu filho, assim acolhido, não precisou mais de procurar satisfações longe de casa e corrigiu-se. E a mãe chegou à conclusão que para corrigir é preciso corrigir-se.

domingo, 31 de agosto de 2008

Libro de Boas Obras

Ano A - XXII Domingo Comum


“Deus dará a cada um segundo as suas obras.”

Depois de um dia de muito trabalho dedicado a obras sociais, um certo empresário adormeceu e SONHOU
Sonhou que se encontrava na sala de espera do Paraíso. Vieram ter com ele dois anjos carregando um grande livro.
- Deve ser o livro das minhas boas obras – pensou o homem – e deve estar cheio. Que grande livro!
Os anjos abriram o livro e mostraram-no. Apenas havia uma simples página escrita e o resto tudo em branco…
- Como é possível? – Inqueriu o homem – Eu fiz tanto bem, tantas boas obras, ajudei tanta gente, dei trabalho a muitos, ninguém entregou tantas esmolas como eu…
- Tudo o que fizeste por amor aqui foi registado. A maior parte das vezes o que fizeste foi por vaidade, para te mostrares, não foi caridade, foi orgulho… Antes de entrares no paraíso terás de aguardar e reparar o bem que podias ter feito…
- Já agora, enquanto espero, Vossas Majestades podiam saciar uma curiosidade minha? Se não levarem a mal, eu amo muito a minha mulher, será que posso ver o livro dela enquanto está ainda na terra.
- É para já – disseram os anjos enquanto se dirigiam à estante à procura do dito livro.
O homem, estava ansioso. Queria saber que boas obras a sua mulher estaria agora a fazer, já que até então tinha sido uma mulher simples, muito discreta ou apagada, silenciosa, quase não se dava pela sua presença.
Quando os anjos se aproximaram e colocaram o livro à sua frente, o homem pegou nele e ao abri-lo ACORDOU.

Lições:


Seremos de facto avaliados pelas nossas boas obras. Não basta ser activos, é preciso ser caridosos. Não basta evitar o mal, é preciso fazer o bem. Às vezes ao tentarmos fazer o bem só pensamos em nós e não nos outros que precisam da nossa ajuda. Não basta dar esmola, é preciso fazê-lo por amor.


Cada um é responsável pelas suas obras e só responsável por si e não pelo que os outros fazem. Ninguém nos poderá julgar a não ser o próprio Deus. Não vale avaliar a vida dos outros segundo os nossos critérios. Cada um só tem acesso ao seu livro de boas obras. E só Deus será o seu juiz. Cada um sabe de si… e Deus sabe de todos!