sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Escutar o Senhor


Ano C - II Domingo Quaresma

Alguns alunos mostraram curiosidade em saber o que é que os padres do Colégio faziam antes do horário das aulas e depois da hora de fechar. Eu lá fui explicando que os padres viviam ali, que trabalhavam e rezavam mais ou menos com este horário:
- Às 07H00 rezam Laudes ou a oração da manhã, seguida de missa e mais meia hora de meditação. Entretanto chegam os alunos. À tarde, pelas 19H00 rezam o Ofício de Leitura, o Terço e antes do jantar fazem meia hora de adoração eucarística com recitação de Vésperas. À noite, depois de preparem as aulas para o dia seguinte, ainda rezam as Completas...
Alguém mais perspicaz perguntou:
- Afinal, quanto tempo vocês rezam por dia?
- Fazendo bem as contas... mais de duas horas.
- Caramba, eu vou dois minutos à Capela e já nem sei o que dizer a Deus. O que é que vocês têm para Lhe dizer durante esse tempo todo?
Então respondi que, de facto, eu tinha muito pouco para lhe dizer mas que Deus tinha sempre muita coisa para me falar.
No Tabor Deus disse:
- Este é o meu Filho muito amado, escutai-o.
É por isso que o cristão não reza:
- Escuta Senhor que o teu servo quer falar mas fala Senhor que o teu servo escuta.
O tempo de quaresma é tempo de oração, tempo de escuta.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Pai Nosso

3ª Feira - I Semana Quaresma

S. Cipriano, bispo e mártir (Séc III) sobre a oração dominical:

Fiéis aos ensinamentos do Salvador, ousamos rezar Pai Nosso…

Estes ensinamentos são:
- Fundamentos para edificar a esperança.
- Alicerces para consolidar a .
- Alimento para revigorar o coração.
- Leme para dirigir o caminho.
- Refúgio para garantir a salvação.
- Instruem os espíritos dóceis dos fiéis na terra.
- Conduzem-nos para o reino dos Céus.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Porta-voz

22 de Fevereiro
Festa da Cadeira de São Pedro, Apóstolo

Jesus perguntou: «E vós, quem dizeis que Eu sou?».
Então, Simão Pedro tomou a palavra e disse:
«Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo».


Pedro é o porta-voz dos homens diante de Deus
E ao mesmo tempo o porta-voz de Deus diante dos homens…


E nós?
Quando rezamos somos os porta-vozes da humanidade diante de Deus, pois ao rezar estamos a reprentar toda a humanidade.
Somos também os porta-vozes de Deus diante dos homens quando partilhamos a Sua Palavra, quando reproduzimos gestos divinos...

Via-Sacra (7)

A Via-Sacra das Pedras
E as Pedras da Via-Sacra


1ª Estação - Jesus é condenado à morte
Pedra de arremesso
Um dia Jesus evitou que uma pecadora fosse apedrejada. No tribunal que o condenou, não evitou que essas pedras de arremesso caíssem sobre Ele.
Quantas vezes vivemos com duas pedras na mão, prontos para acusar inocentes. As nossas acusações são pedradas que atingem os outros.
Aprendamos com Jesus que veio não para condenar, mas para salvar… Que saibamos deixar cair as pedras que carregamos nas nossas mãos para que possamos dar as mãos uns aos outros.

2ª Estação - Jesus carrega a sua cruz
Pedra de toqueÀs vezes as pedras comuns tornam-se pedras de toque com uma capacidade e um significado especiais.
Antes de Jesus carregar a cruz, esta era um sinal de condenação, destruição e morte. A cruz de Jesus tornou-se uma pedra de toque, passou a significar redenção e sacramento de vida eterna.
Também nós somos convidados a olhar para as nossas mãos e fazer de tudo aquilo que carregamos autênticas pedras de toque para que possamos fazer transbordar de amor e de vida.

3ª Estação - Jesus cai pela primeira vez
Pedra de tropeço
No Caminho do Calvário Jesus tropeçou e caiu. Ao longo da sua peregrinação pela Palestina, quantas pedras se lhe atravessaram no caminho. Apesar disso Ele seguiu sempre o seu caminho. Também agora depois de tropeçar continuou a sua escalada pela via dolorosa.
O mesmo Jesus nos dá força para contornarmos as pedras de tropeço que se atravessam na nossa vida e continuarmos em frente.

4ª Estação - O Encontro de Jesus e Maria
Pedra de apoio
Jesus cruzou-se com a sua mãe no caminho do Calvário. No meio de tantas dificuldades, obstáculos e contratempos, esse encontro foi fonte de ânimo, força e alento. Maria, mãe de Jesus, foi sempre uma pedra de apoio solidário na missão do seu filho Jesus. Ela esteve sempre presente nos momentos mais importantes ou mais difíceis. No meio de tantas pedras dolorosas, Maria foi a pedra de apoio para Jesus.
Também nós podemos sentir o mesmo apoio no nosso caminhar, mas podemos também ser, tal como Maria, um apoio solidário para quem ao nosso lado mais precisa.

5ª Estação - Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz
Pedras de pontes
Na via-sacra das pedras podemos ver que nem todas são de tropeço ou de arremesso. Há também pedras que são lançadas não para ferir, mas para unir, para criar pontes. Simão de Cirene foi uma dessas pedras vivas que se transformou em ponte de ajuda solidária. Foi assim que Jesus foi ajudado a levar a sua cruz.
Ao encontrarmos tantas pedras no nosso caminho, saibamos pegar nessas pedras e construir pontes de união e de comunicação com os outros.

6ª Estação - Verónica limpa o rosto de Jesus
Pedra esculpidaJesus quis premiar a coragem de uma mulher que no meio de tantas pedradas enxugou-Lhe o rosto. E a face divina ficou estampada como expressão de gratidão. No meio de tantas dificuldades Jesus pensa nos outros e em quem pratica o bem.
Um dia Jesus escreveu na areia. Gravou em areia movediça talvez os pecados daquela que alguém queria apedrejar. Grava em areia efémera o mal, mas o bem quis gravá-lo para sempre em pedra duradoura como feliz memória pelo tempo fora.
Saibamos também escrever o mal de modo que possamos apagá-lo com facilidade. Que o bem seja esculpido de modo indelével na nossa vida.

7ª Estação - Jesus cai pela segunda vez
Pedra do caminho
No caminho do Calvário Jesus encontrou tantas pedras soltas, pedras que O impediam de progredir e que O fizeram cair outra vez. Não foram os grandes pedregulhos que O deitaram por terra, foram as pedras soltas da calçada.
Também na nossa vida o que mais nos atrapalha não são as grandes pedras que se atravessam na nossa vida. Atrapalham mais as pequenas pedras, ou grãos de areia que se alojam no nosso sapato. Saibamos limpar do nosso caminho as pequenas coisas, à primeira vista insignificantes, mas que nos tiram a paciência e travam o nosso progredir.

8ª Estação - As mulheres choram por Jesus
Pedras de construçãoUm grupo de mulheres de Jerusalém aproximou-se de Jesus e chorando procuraram consolá-Lo. Jesus falou-lhes para que não se esquecessem de consolar os seus filhos.
Todos fazemos parte da mesma construção. Somos pedras do mesmo edifício. Precisamos de todos. Sem a nossa colaboração haverá uma brecha no edifício que juntos edificamos.
Em qualquer construção há pedras vivas para consolar, outras para chorar, estas para sustentar, aquelas para enfeitar. Saibamos aproveitar todas as pedras na construção da nossa casa comum, como disse o poeta: “Pedras no caminho?! Guardo todas, um dia vou construir um castelo…”

9ª Estação - Jesus cai pela terceira vez
Caminho de pedras
O Caminho do Calvário era um caminho de pedras por onde passavam tantos transeuntes. Não admira que Jesus tenha escorregado e caído nas pedras lisas e gastas do caminho. Este foi o caminho de Jesus e é também o nosso próprio caminho.
Não há calvário sem pedras. Não há caminho sem pedras, nem vida sem cruz, nem cruz sem Cristo.
Saibamos caminhar por entre pedras, algumas escorregadias, outras pontiagudas, às vezes duras, outras vezes frias ou cortantes.

10ª Estação - Jesus é despido das suas vestes
Pedra de geloAo chegar ao alto do Calvário Jesus foi despido das suas vestes. O que mais lhe fazia doer não eram as pedras que lhe atiravam, mas o frio coração dos que o levavam. Era uma autêntica pedra de gelo. Os corações de pedra são pesados, frios, sem palpitação. Não eram apenas de pedra os corações dos que atiraram Jesus para a cruz, eram corações de gelo.
Também na nossa vida o que nos faz sofrer mais não é o frio da falta de roupa ou da neve lá fora, mas o frio do nosso coração, o gelo do nosso entusiasmo ou o baixo grau da nossa caridade.
Que o amor de Jesus nos ajude a derreter as pedras de gelo do nosso coração.

11ª Estação - Jesus é crucificado
Rocha de refúgioJesus ao ser crucificado, realiza as palavras da Escritura que diz: Sois a rocha do meu refúgio… Toda a nossa glória está na cruz de Nosso Senhor.
O nosso abrigo seguro é a Cruz de Cristo.
Jesus foi elevado na cruz e nós hoje podemos vê-lo elevado na mesma cruz nas torres das Igrejas, nos campanários das capelas, nos torreões dos conventos para nos lembrar que continua a ser a rocha firme do nosso refúgio.
“Firme no amor divino, como ilhéu no meio do mar” assim é Jesus pregado na cruz.

12ª Estação - Jesus morre na cruz
Pedras preciosas
Jesus morreu na cruz. Um dos soldados vendo-o já morto trespassa-lhe o lado com uma lança e do seu coração saíram sangue e água.
São essas as duas pedras preciosas que brotaram do alto Calvário. No meio de tanta pedra brotou a maior riqueza.
As duas pedras preciosas só poderiam surgir de um coração de ouro. Foi a herança que Jesus nos deixou:
A pedra preciosa do seu sangue redentor, simbolizado na Eucaristia e a outra pedra preciosa que é a comunidade eclesial ou a igreja simbolizada pelo batismo.
Zelemos por esta herança preciosa que Jesus nos legou.

13ª Estação - Jesus é descido da Cruz
Pedra para reclinar a cabeçaJesus disse que na sua peregrinação por esta terra nem tinha de seu uma pedra onde pudesse reclinar a cabeça. Encontrou esse apoio ao descer da cruz: reclinou a cabeça no ombro da sua mãe, a Senhora da Piedade.
Ao nascer, Maria sua mãe, foi a pedra segura em que repousou. Agora ao morrer voltou aos braços da sua mãe.
A exemplo de Maria, saibamos ser o ponto seguro de apoio, de repouso e de acolhimento. Com Maria poderemos dizer: O Espírito de Deus repousa em mim.

14ª Estação - Jesus é Sepultado
Pedra do túmulo
Perto do local onde Jesus morreu havia um sepulcro novo, escavado na rocha. Foi aí que sepultaram o corpo de Jesus. Jesus entrou de novo na rocha escavada. Nasceu numa gruta de Belém, numa rocha escavada. Deposto na rocha do túmulo, voltará a nascer no interior da terra.
Foi rolada a pedra do túmulo. Só a força de Cristo ressuscitado poderá derrubar as pedras ou os muros da morte.
Será o mesmo Cristo a abrir a pedra do túmulo de cada um de nós. Se com ele morrermos, com Ele ressuscitaremos.

15ª Estação - Jesus ressuscita
Pedra angularA antífona do dia da Ressurreição do Senhor lembra que e pedra que os construtores desprezaram tornou-se pedra angular…
Cristo é a verdadeira pedra com a qual podemos edificar com segurança a nossa vida.
Sem essa pedra angular é inútil levantar qualquer construção.
Saibamos então construir a nossa casa, não na facilidade sobre a areia, mas com coragem sobre a rocha firme.
Quer numa quer noutra circunstância havemos de contar sempre com chuvas, ventos e tempestades… mas se edificarmos sobre a pedra angular nada havemos de temer.


Mensagem final:
Uma Pedra para o caminho
- O caminhante tropeçou nela.
- O violento utilizou-a como projétil.
- O empreendedor construiu com ela.
- O camponês cansado utilizou-a como assento.
- A criança brincou com ela para fazer círculos no lago.
- David com ela matou o gigante Golias.
- Miguel Ângelo tirou dela a mais bela escultura.
- E Deus… Deus plantou nela uma cruz redentora.
- E eu… que farei das pedras que a vida me dá?

NB. Em todos estes casos, a diferença não está na pedra, mas na pessoa que a usou. Que não exista pedra no meu caminho que não possa aproveitar para o meu crescimento.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Vencer o deserto


Ano C - I Domingo Quaresma

Certa tarde o pai saiu para um passeio com as suas duas filhas. Depois de algum tempo, a miúda mais nova pediu ao pai que a carregasse pois já estava muito cansada. O pai cortou então um pequeno galho de árvore, entregou-o à filha dizendo:
- Eu também estou cansado mas aqui está um cavalinho para te ajudar. Ensina-lhe o caminho que ele levar-te-á depressa até casa.
A menina parou de chorar e pôs-se a cavalgar o galho verde que foi difícil alcançá-la. Ficou tão encantada com o seu cavalo de pau que continuou a galopar toda a tarde pelo jardim.
A irmã mais velha ficou intrigada com o que viu e perguntou ao pai como entender o que se passou. O pai sorriu e respondeu:
- Assim é a vida, minha filha. Às vezes nós ficamos cansados, certos de que é impossível continuar. Mas encontramos então um cavalinho qualquer que nos dá ânimo outra vez e lá vamos nós...
Este cavalinho pode ser um conselho, uma palavra de amigo, um livro, um exemplo, um elogio, uma canção ou uma oração.
Para vencer o deserto Jesus socorreu-se da Palavra da Escritura, ultrapassando assim a tentação de desanimar.

Neste tempo da Quaresma temos um deserto a ultrapassar.
Que espécie de cavalinho precisamos mais de deitar a mão para nos levar até onde podemos ou queremos ir?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Jejum é higiene espiritual

6ª Feira após Cinzas

- Por que motivo nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?
Jesus respondeu-lhes:
- Podem os companheiros do esposo ficar de luto, enquanto o esposo estiver com eles? Dias virão em que o esposo lhes será tirado e nessa altura hão-de jejuar.


Para Jesus, o jejum só tinha sentido se servisse para uma verdadeira higiene espiritual.
A Sua presença no meio dos discípulos já era suficiente para que eles pudessem viver a alegria plena.

O jejum tem assim uma função de purificação.
Quem tem Jesus por companhia não precisa de se purificar, portanto, não precisa fazer jejum.
Quem perde a companhia de Jesus precisa sim de jejuar, isto é, precisa de se purificar.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Tomar a cruz













5ª Feira após Cinzas

"Se alguém quiser seguir-Me, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me."

Actividade:

A - Recortar as figuras abaixo apresentadas.

B - Fazer uma cruz como a de acima apresentada, com as 6 peças, de modo que:

1. Cada braço da cruz seja do mesmo tamanho, tanto na horizontal como na vertical.

2. Todas as peças sejam utilizadas, sem desprezo de nenhuma.

3. Que a cruz não tenha espaços vazios ou ocos.

4. Que não haja esquinas ponteagudas, mas apenas ângulos rectos.

5. Que a cruz seja um sinal mais (+) isto é, um sinal positivo.

6. Que não jaha sobreposição de nenhuma peça sobre outra.

7. As peças são em número necessário e suficiente. Não estão a faltar peças nenhumas.

NB. É indiferente voltar as costas de qualquer peça!

Assim é a nossa cruz ou a nossa maneira de servir ou de seguir a Jesus:
- de braços iguais para Deus e para os irmãos.
- Sem desprezo de ninguém.
- Sem vazios.
- Sem espinhos para os outros.
- Sempre optimista e positiva.
- Sem passar por cima de ninguém.
- Valorizando tudo o que recebemos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Início da Quaresma

4ª Feira de Cinzas

Jejum, Oração, Caridade

Como comentário ao Evangelho de hoje fui procurar no Oficio de Leitura da Terça-feira da III Semana da Quaresma: Dos Sermões de S. Pedro Crisólogo, Séc IV (Sermo 43: PL 52, 320,332)

"Há 3 coisas pelas quais se confirma a fé, se fortalece a devoção e se mantém a virtude:
- A oração
- O jejum
- A misericórdia.
O que pede a oração, alcança-o o jejum e recebe-o a misericórdia.
Oração, jejum e misericórdia: 3 coisas que são uma só e se vivificam mutuamente.
O jejum é a alma da oração, e a misericórdia é a vida do jejum. Ninguém tente dividi-las, porque são inseparáveis. Quem pratica apenas uma das três, ou não as pratica todas simultaneamente, na realidade não pratica nenhuma delas, Portanto, quem ora, jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede, pois aquele que não fecha os seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.
Quem jejua, entenda bem o que é o jejum: seja sensível à fome dos outros, se quer que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso, se espera alcançar misericórdia; compadeça-se, se pede compaixão; dê generosamente, se pretende receber. Muito mal suplica quem nega aos outros o que pede para si…
Façamos, portanto destas 3 virtudes – oração, jejum, misericórdia – uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única operação sob três formas distintas.
Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura…
Mas para que esta oferta seja aceite a Deus, deve acompanhá-la a misericórdia; o jejum não dá fruto se não for regado pela misericórdia; seca o jejum se secar a misericórdia.
Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se sejua a sua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros.
Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também tu não possuirás."


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ser Padre

Ser Padre!
Trazer os olhos cheios de ternura,
De noite e dia, prontos a chorar,
Como duas cisternas de água pura,
Por sobre a vida, esse deserto em brasa
Que tanta vez não tem a sombra de uma asa
Nem um beijo do céu num raio de luar!

Ser Padre!
Dar os braços aos braços sucumbidos
E erguê-los como se erguem as ogivas;
Pô-los a defender os perseguidos
E a consolar a dor das mãos cativas.

Ser Padre!
Encontrar um mendigo de pés nus,
E, sem jamais lhe perguntar o nome,
Matar-lhe a sede e a fome,
Dar-lhe sandálias, encostá-lo ao peito
E adormecê-lo entre lençóis de linho,
Como se fosse o corpo de Jesus
Que, todo em suor e exausto do caminho,
Nos viesse pedir o próprio leito!

Ser Padre!
Passar na rua e ser escarnecido,
Ser cuspido na face e continuar,
Como se nada houvera acontecido!

Ser Padre!
É ser na terra apenas isto,
Isto que é tudo, à luz dos claros céus:
A presença de Cristo
E a projecção de Deus!


(Monsenhor Moreira das Neves)

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Máscaras do Carnaval


MÁSCARAS INFORMÁTICAS

É uma brincadeira de Carnaval, mas há dias sentei-me à mesa para escrever algo no computador. Fiquei em silêncio a olhar para o monitor vazio à espera de inspiração para começar o meu texto. Eis que o ecrã virou espelho e vi aí reflectida a minha imagem. Reconheci-me com várias máscaras. Fui identificando em cada máscara um tipo de homem:

Homem servidor – está sempre ocupado quando se precisa dele.
Homem Windows – toda a gente se queixa dele, mas ninguém vive sem ele.
Homem Excel – dizem que faz muitas coisas, mas só é utilizado para as quatro operações básicas.
Homem Word – tem sempre uma surpresa reservada para os outros, mas não existe ninguém que o compreenda totalmente.
Homem MS-DOS – Todos o pretenderam um dia, mas ninguém o quer agora.
Homem Backup – crê-se que tem o suficiente, mas na gora da verdade falta-lhe algo.
Homem Scandisk – sabemos que é bom e que só quer ajudar, mas no fundo ninguém sabe realmente o que está a fazer.
Homem Screensaver – não tem grande utilidade, mas pode distrair.
Homem ROM – o que faz da sua palavra lei inalterável.
Homem RAM – aquele que se esquece de tudo logo que é desconectado.
Homem Harddisk – lembra-se de tudo em todo o tempo.
Homem Mouse – funciona quando é arrastado sem tropeços.
Homem Multimedia – faz com que tudo pareça bonito.
Homem Utilizador – não faz nada bem, mas exige mais do que oferece.
Homem Processador – por fora parece que tem tudo, mas por dentro é uma ninharia.
Homem Monitor – Faz ver a vida com outras cores.
Homem Leitor CD – cada vez mais rápido, cuidado!
Homem E-mail – Em cada dez coisas que informa, oito são banalidades.
Homem Microsoft – quer dominar procurando convencer que é o melhor. Sem que se perceba afirma-se, pouco a pouco, como o único na vida. Chegará o dia em que até para ir aos balneários se terá de lhe pedir licença.
Homem Virus – também conhecido como molestador, quando menos se espera, instala-se e apropria-se de tudo. Se alguém o tenta desinstalar, vai perder algumas coisas e se o não fizer perderá tudo.

E o Homem Blog?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ser Feliz Aqui


Ano C - VI Domingo Comum


Desiludido pela vida, um beduíno isolou-se no deserto. Depois de muito andar entrou numa gruta tão enigmática como a sua vida. Olhando as paredes nuas e frias, seguiu um rasto de luz.
- Entra, meu irmão – encorajou-o uma voz benévola.
Na penumbra viu então um eremita em oração.
- Tu vives aqui? – perguntou surpreso – Como consegues resistir sem conforto e longe de todos? Como podes ser feliz aqui?
O eremita sorriu:
- Eu vivo pobre mas tenho um grande tesouro. Olha para cima – E apontou para uma pequena abertura no tecto da gruta – Que vês?
- Não vejo nada.
- De certeza que não descobres nada?
- Só um pedaço do céu...
- Só um pedaço de céu?! E não te parece que é um tesouro maravilhoso?
Jesus Cristo apresenta-nos hoje uma proposta de felicidade. Muitas vezes a nossa felicidade parece um projecto adiado: Só seremos felizes quando tivermos isto, quando fizermos aquilo, quando chegarmos ali... Depois ficamos frustrados porque a felicidade continua mais à frente, qual alvo móvel.
A felicidade é um caminho. Aproveite todos os momentos que tem, eles são um cantinho do céu. Não há hora melhor para ser feliz do que agora mesmo, com ou sem lágrimas. A felicidade é uma viagem, não um destino.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

As Bem-aventuranças


Ano C - VI Domingo Comum

AUTO-RETRATO DE JESUS

O texto das Bem-aventuranças é uma pregação típica de Jesus. Ele declara felizes aqueles que vivem segundo a lógica divina. Não é um sermão qualquer, mas a sistematização daquilo que os ouvintes podiam observar na figura do mestre pregador. O verdadeiro sermão estava patente na figura e no estilo da sua vida. Jesus pregava o que vivia e vivia aquilo que pregava. Assim sendo, as Bem-aventuranças ou “felizes” é um autêntico auto-retrato de Jesus. Nos domingos anteriores o evangelho tem apresentado alguns aspectos de Jesus como profeta, mestre, Messias. Agora é a altura de apresentá-lo na sua integridade de vida, na fidelidade de uma câmara fotográfica.
Cada alínea é um traço característico da sua figura. Cada frase é um aspecto da sua personalidade. O que é que nós vemos neste auto-retrato?
Em primeiro lugar vemos uma pessoa feliz. Essa felicidade está para além do bem-estar físico, do ambiente circundante ou do simples prazer. É realmente feliz apesar de pobre, faminto, maltratado e perseguido. Estas circunstâncias não afectam a sua felicidade interior.
Vemos também, neste retrato, alguém de olhos postos nos outros. Jesus ergue os olhos para os seus discípulos. Não os olha com superioridade, mas valoriza e eleva todos aqueles para quem olha. Para além disso é alguém que fala de olhos abertos, isto é, com toda a atenção e envolvimento pessoal.
E podemos completar este auto-retrato com a transparência das suas lágrimas e moções, com o sorriso dos seus lábios, a serenidade de um injustamente perseguido…
O verdadeiro sermão das Bem-aventuranças é o próprio Jesus Cristo.
Felizes seremos quando formos como Ele. Até lá precisamos de dar a volta à nossa vida.
De facto logo após às quatro bem-aventuranças Jesus apresenta quatro “maldições” ou “ai de vós…”. Afinal nós somos uma espécie de medalha que tem frente e verso. Há uma proposta de felicidade, mas também o seu oposto. Perguntamos: De que lado nos colocamos? Somos uma peça valiosa. É preciso dar a cara e mostrar o que valemos, tal como Jesus o fez.



sábado, 6 de fevereiro de 2010

Mais Além

Ano C - V Domingo Comum

Naquele tempo Jesus subiu para o barco de Simão Pedro e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra e, do barco, começou a ensinar a multidão. Depois disse a Simão:
- Faz-te ao largo.
A vida ou a vocação de um homem é como um rio que se faz ao mar. Ao nascer é débil, dá uns trambolhões, passa por lugares estreitos e escuros mas pouco a pouco vai-se acalmando e encontra seu lugar próprio, torna-se meio de comunicação, por onde passa faz surgir esperança, partilha o que é mas nunca se esgota.
Diz-se que, mesmo ao entrar no oceano, o rio treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, os vales, o caminho caprichoso pela planície e vê à sua frente um oceano, tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Tem de ir em frente. O rio precisa de arriscar e entrar no oceano. E somente quando entra no oceano é que o medo desaparece. Porque só então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Será apenas um renascimento.
Assim somos nós. Voltar atrás é impossível. Temos que ir em frente, arriscar e navegar mais além.
Faz-te ao largo tu também.
Coragem, torna-te oceano.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Já não acredito


Já não há fé como antigamente

Ao chegar à Serra de Água hesitei em deixar o guarda-chuva no carro:
- Não sei se levo ou não o guarda-chuva – disse eu a quem passava a caminho da igreja.
- Credo, Senhor Padre. Se fosse ontem, ainda compreendia a sua dúvida, mas hoje, com um tempo destes, nem pensar…
- É que eu já não acredito no tempo.
- Bendito seja Deus – exclamou a devota – Hoje em dia até os Padres já não acreditam…
- Não. Nos dias de hoje nem o próprio tempo é credível.
E fui entrando na igreja a pensar quem de nós teria razão:
Se todos já não acreditam como outrora, até mesmo os padres, ou se todas as coisas já não são de confiança. Não sei onde estará o mal: se nas pessoas ou se nas coisas. Desisti de culpabilizar nada e ninguém… apenas recordei-me de que um dia Jesus também se admirou da falta de fé daquela gente. Aquela velhinha da Serra de Água não fez outra coisa.
Ao lembrar-me deste episódio, acrescento simplesmente:
- Hoje em dia já não acredito no tempo… Só quero acreditar na eternidade.


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Criancices (45)

No final da aula uns alunos, junto à porta, desafiavam entre si qual teria a vantagem de sair primeiro. Tive de intervir:
- Então vocês não sabem que quem sai por último é mais importante? Na minha terra diz-se que primeiro sai o lixo e só depois vem a vassoura.
A reacção foi imediata: Ninguém quis sair em primeiro lugar.
Para resolver o impasse abri a porta e saí com descontracção enquanto os miúdos murmuravam:
- Lixo! Lixo!
Virei-me para trás e com calma acrescentei:
- Na minha terra diz-se isso, mas nas aulas de História diz-se melhor: primeiro vem o Clero, depois a Nobreza e só depois o Povo. Então venha o povo atrás do clero...
Ainda ouvi alguém lamentar-se
- E quem se lixa é sempre o povo...

Vida de Capelão (45)

Estava eu a almoçar com alguns militares e o tema da conversa era a qualidade da comida.
Um dizia que o almoço nem era bom nem mau, era uma merda.
Outro acrescentava que nunca comera merda como aquela.
O terceiro, também desgostoso, passou-me a palavra:
- Ó Capelão, o que diz a esta merda?
- Só sei que ainda agora começámos a comer e vocês não param de arrotar...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Dez Prioridades dos Presbíteros

As prioridades dos Presbíteros, segundo Mons K. Hemmerle, Bispo de Aix-la-Chapelle e M Breuning, Bispo de Bonn, são as seguintes:

1. O meu modo de viver como presbítero é mais importante do que tudo aquilo que possa fazer como presbítero.

2. O que Cristo faz em mim é mais importante que tudo o que possa eu fazer por mim mesmo.

3. Viver a unidade no presbitério é mais importante do que deixar-me absorver pelo meu trabalho em solidão.

4. O serviço da oração e da Palavra é mais importante do que o serviço das mesas.

5. Acompanhar espiritualmente os colaboradores é mais importante do que fazer por si mesmo e sozinho o máximo de trabalho possível.

6. Brilhar e estar totalmente presente em poucos lugares é mais importante do que querer estar à pressa e mal em todas as partes.

7. Agir em unidade é mais importante do que agir isoladamente mesmo que seja de maneira perfeita; a colaboração é mais importante do que o trabalho solitário.

8. A comunhão é mais importante do que a acção.

9. A cruz, já que é mais fecunda, é mais importante do que a eficácia.

10. A visão aberta do conjunto (de toda a comunidade, da diocese, da igreja universal) é mais importante do que a atenção aos interesses particulares.