terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Natal (72)


Ninguém de mãos vazias

“Conta uma graciosa lenda que, no nascimento de Jesus, os pastores acorriam à gruta com vários dons.
Cada um levava o que tinha, ora os frutos do seu trabalho, ora algo precioso.
Mas, enquanto todos se prodigalizavam com generosidade, havia um pastor que não tinha nada.
Era muito pobre, não tinha nada para oferecer.
E enquanto todos se emulavam na apresentação dos seus dons, ele mantinha-se aparte, com vergonha.
A dada altura, São José e Nossa Senhora sentiram dificuldade para receber todos os dons, especialmente Maria que devia segurar nos braços o Menino.
Então, vendo com as mãos vazias aquele pastor, pediu-lhe que se aproximasse e colocou-lhe Jesus nas mãos.
Ao acolhê-Lo, aquele pastor deu-se conta de ter recebido aquilo que não merecia: ter nas mãos o maior dom da História.
Olhou para as suas mãos, aquelas mãos que lhe pareciam sempre vazias: tornaram-se o berço de Deus.
Sentiu-se amado e, superando a vergonha, começou a mostrar aos outros Jesus, porque não podia guardar para si o dom dos dons.
Querido irmão, querida irmã, se as tuas mãos te parecem vazias, se vês o teu coração pobre de amor, esta é a tua noite. Manifestou-se a graça de Deus, para resplandecer na tua vida. Acolhe-a e brilhará em ti a luz do Natal.”
(Cf. Papa Francisco, noite de Natal 2019)



segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Sagrada Família de Belém


Ano A 
Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José






















Na Festa da Sagrada Família preguei uma partida a quem participou na missa paroquial. Pedi que depois de beijarem o Menino Jesus, fossem até ao presépio, na capela lateral, pois havia lá uma surpresa.
E lá foram, obedientes como sempre.
E o que viram?
Eu tinha colocado na entrada da gruta um espelho… de modo que quem se colocasse à frente para ver o presépio, em vez de ver como antes a Sagrada Família, via-se a si mesmo na gruta…

Conclusão
Cada um de nós é personagem do presépio. Nós fazemos parte da Sagrada Família, já que a Sagrada Família faz parte de nós. A nossa família é Sagrada.
Assim nos faz cantar o Pe. Zezinho:
Tudo seria bem melhor
Se o Natal não fosse um dia
Se as mães fossem Maria
E se os pais fossem José
E se os filhos parecessem
Com Jesus de Nazaré.

À margem
Perguntei num grupo quem dos presentes não tinha constituído família. Claro que todos apontaram para mim. Por minha vez disse que todos os presentes também não tinham constituído família. Ninguém ali tinha família, porquê?
Porque não somos nós a constituir família, a família é que nos constitui. Nos não formamos família, a família é que nos forma. Nós não temos família, a família é que nos tem; esta família não é minha, eu é que sou desta família.

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sábado, 28 de dezembro de 2019

Natal (71)


Por que chorava o Menino

Há uma canção de Natal no folclore madeirense que diz:

Meia-noite dada,
Meia-noite em pino
Cantava o galo
Chorava o Menino.

Chorava o Menino
Como um enjeitado
Em lapa da serra
Não no povoado.

A virgem lhe disse
Com mui grande dor
Calai-vos meu Filho
Jesus, meu amor.

E como estas há tantas letras que falam das lágrimas do Menino Jesus, lágrimas de oiro ou de prata, nas canções de ninar ou de embalar. Mas porque é que chorava o Menino?






















O Menino Jesus chorava por 5 motivos:
1º - Chorava de compaixão para com os homens que eram réus de morte eterna, e oferecia as suas lágrimas ao Eterno Pai, a fim de obter para eles o perdão e a salvação. Consolemo-lo misturando as nossas lágrimas com as suas.
2º - Chorava de dor, vendo que, mesmo depois da Redenção tão grande número de pecadores continuaria a desprezar a sua graça. Não o façamos chorar mais.
3º – Chorava de alegria por antever a fidelidade e a coragem dos seus discípulos perseguidos, maltratados e martirizados por causa do seu nome.
4º - Chorava de amor por estar a cumprir a vontade do Pai e por manifestar o grande amor de Deus. Porque Deus amou de tal modo o mundo que lhe deu o Seu Filho único.
5º - Chorava por mim. Pela mesma razão que os judeus, ao verem o Salvador chorar a morte de Lázaro, diriam: Vede como o amava… Assim também os Anjos em Belém, vendo as lágrimas de Jesus Menino, podiam dizer: Vede como nosso Deus ama os homens… porque O vemos chorar.

Ó meu Menino Jesus, quando choravas na gruta de Belém estáveis a pensar em mim. Que as vossas lágrimas lavem as minhas culpas. Fazei que eu chore convosco, pois para que serviriam as minhas lágrimas sem as vossas?



sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Apóstolo preferido


Festa de São João Evangelista
























Este é o meu apóstolo preferido.
Porquê?
- Não por ter sido do primeiro grupo dos apóstolos a ser escolhido (Mt 4, 21-22)
- Não por ter o mais jovem dos chamados (Jo 20, 4-5
- Não por ter sido antes discípulo de João Baptista (Jo, 1, 35)
- Não por sua mãe ter pedido a Jesus que o fizesse sentar à sua direita na sua Glória (Mt 20, 20-23)
- Não por ter respondido a Jesus que podia beber do mesmo cálice da paixão (Mc 10, 28-29)
- Não por ser o discípulo predileto de Jesus (Jo 20, 2)
- Não por ter sido escolhido para acompanhar Jesus à casa de Jairo, chefe da sinagoga (Mc 5, 37-42)
- Não por querer proibir fazer milagres quem não estava a seguir Jesus (Lc 9. 49-50)
- Não por ser chamado, com seu irmão Tiago, Filhos do Trovão ou Boanerges (Mc 3-17)
- Não por ter pedido que descesse fogo sobre os samaritanos que recusaram hospitalidade a Jesus (Lc 9, 51-56)
- Não por ser do grupo dos três que acompanharam Jesus na subida ao Tabor para a Transfiguração  (Mt, 17, 1-2)
- Não por ter ido preparar a sala para a Última Ceia juntamente com Pedro  (Lc 22, 7-13)
- Não por estar sentado ao lado de Jesus na Última Ceia (Jo, 13, 23-25)
- Não por ter ido com Jesus para o Jardim das Oliveiras (Mt 26, 37)
- Não por ter acompanhado Jesus quando este foi preso e julgado (Jo 18, 15-16)
- Não por ter estado no Calvário junto à Cruz (Jo 19, 25-26)
- Não por ter sido entregue aos cuidados de Maria junto à Cruz (Jo 19, 26)
- Nem por ter recebido Maria como sua Mãe (Jo 19, 19, 27 27)
- Não por ter levado Maria para sua casa (Jo 19,27)
- Não por ter sido o primeiro discípulo a chegar junto ao túmulo e a ver o sepulcro vazio (Jo 20, 3-7)
- Não por ter sido o primeiro a ver e a acreditar, pois até então não tinham entendido a Escritura segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos (Jo 29, 8-9)
- Não por ser o discípulo que identificou em primeiro lugar a presença de Jesus ressuscitado junto à praia, dizendo: É o Senhor! (Jo 21, 7)
- Não por ter estado em união com a comunidade dos apóstolos, assíduo na oração e unido nos mesmos sentimentos e recebendo o Espírito Santo (Act 1, 13-14; 2, 4)
- Não por subir ao Templo para rezar e ter curado juntamente com Pedro um coxo de nascença em nome de Jesus junto à Porta Formosa (Act 3, 1-11)
- Não por continuar a anunciar desassombradamente Jesus Cristo apesar de ameaçado, proibido e preso juntamente com Pedro (Act 5, 13 ss)
- Não por ter sido enviado como missionário para a Samaria (Act 8, 14 ss)
- Não por ter sido considerado por Paulo como uma das colunas da fé (Gal 2, 9)
- Não por ser evangelista (Jo 21, 24-25)
- Não por ter sido perseguido e deportado para a Ilha de Patmos (Ap 1, 9)
- Não por ter escrito o último Livro da Bíblia, o Apocalipse (Ap 1, ss)
- Não por ter escrito três das chamadas Cartas Católicas a partir de Éfeso na fase final da sua vida (1Jo 1,1)
- Não por ser considerado o discípulo teólogo (Jo, 1,1-18)
- Não por ser o discípulo que chegou a idade mais avançada (3Jo 1,1)
- Não por ser o único discípulo a não ser martirizado, mas a morrer por morte natural (Jo 21, 20-23)
- Nem é por ser o único apóstolo cuja festa não é com paramentos vermelhos, mas brancos.

Então por que é que São João é o meu apóstolo preferido?
- Porque foi ele o primeiro a contemplar o Coração trespassado de Jesus. Ele é o apóstolo do Coração de Jesus, o primeiro a ver e a acreditar: Um dos soldados perfurou-Lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água. Aquele que o viu é que o atesta, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. E isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que Diz: Hão de olhar para Aquele que trespassaram. (Jo 19, 34-36) Alem disso foi quem apresentou a melhor apresentação de Deus em 1Jo 4,8: Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois DEUS É AMOR.

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quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Natal (70)



















Natal é proximidade

Com certeza já todos reparámos nalguns pormenores do presépio.
Já reparámos que no presépio não existe porta. É um espaço acessível a todos, sem restrições nem descriminações. No presépio não existe portas porque Jesus nasceu para todos, acessível a todos, derrubando toda e qualquer barreira.
Reparemos agora noutro pormenor ou pormaior:
No presépio há sempre um caminho, uma escadinha como na tradição madeirense.
Qualquer presépio tem sempre um caminho porque o próprio presépio é um caminho.
Jesus veio fazer do nosso caminho o seu caminho para que nós façamos do seu caminho o nosso caminho.
O nosso caminho foi o seu caminho para que o seu caminho seja o nosso caminho.
Podemos ver ainda que todo o caminho tem dois sentidos: Vem do céu para a terra, de Deus para junto de nós, e vai da terra ao céu, dos homens até junto de Deus.
Toda a escadinha tem um duplo movimento: é uma descida de Deus até nós, e uma subida de todos nós até Deus.























Natal é caminho porque é proximidade.
Nesta quadra natalícia todos nós nos sentimos mais próximos, mais solidários dos nossos irmãos, tal como nos devemos sentir mais próximos com Deus, que se tornou próximo de todos nós.
Que todos os caminhos neste Natal nos conduzem a Belém, ao Deus Menino, quer ao Menino deitado na manjedoura, quer ao menino que se identifica com o nosso próximo.





Natal (69)

















Roubaram o Menino Jesus

Durante a Segunda Grande Guerra, uma rede de resistência foi organizada para esconder crianças judias separadas dos pais. Elas eram confiadas a famílias cristãs, que ignoravam a identidade dos pais.

Um dia, uma dessas crianças, um menino de seis anos, foi acusado de ter cometido um roubo. 
Na mesma hora, em pânico, a família de acolhimento entrou em contacto com a organização. Um agente foi enviado para se informar do que tinha acontecido. A família atordoada, só lhe dizia:
- Pegue nesse menino e leve-o de volta. É um ladrão!  
Arrasado, o agente disse que não podia tomar aquela decisão sozinho e iria reportar aos superiores. O chefe maior resolveu ir pessoalmente verificar o caso. Ao chegar ouviu a mesma deplorável ladainha que o agente tinha escutado. A família continuava irredutível na decisão de se livrar daquele menino. E queria que tudo fosse feito naquela mesma noite. 
O chefe, então, pediu para ficar por alguns momentos a sós com o menino. 
Sozinho com a criança, falou-lhe de igual para igual:
- Tu tens noção do que fizeste? Essas pessoas arriscam a própria vida para salvar a tua, e tu, em agradecimento, roubas essas pessoas que te ajudam! Ainda pior! Esta família diz que, além de ladrão, tu és um mentiroso.
De facto, quando o acusavam, ele negava o roubo, obstinadamente.
Foi quando, de repente, o chefe da organização teve uma ideia, dessas iluminações que nos chegam diante das urgências. Ele perguntou ao menino:
- Afinal de contas, ainda não sabemos o mais importante. Ainda não sabemos o que foi que tu realmente roubaste? Acusam-te de ter roubado o quê?
Ninguém, até então, se tinha preocupado com a questão material da acusação, nem havia perguntado o que, afinal, havia sido roubado. 
Sem levantar os olhos, o menino respondeu:
- Eles acusam-me de ter roubado o Menino Jesus do presépio.
Espantado, o chefe da organização voltou a perguntar:
- E não é verdade?!
Decidido, o menino voltou a repetir:
- Não, não é verdade.
- Mas, então, o que é que fizeste?
O menino, de olhos baixos, respondeu:
- Eu não roubei o Menino Jesus, eu escondi-o.
- Mas por que é que o escondeste? – Perguntou o chefe.
Então, o menino ergueu os olhos e declarou:
- Porque ele é um menino judeu, como eu, e por isso precisa ser escondido. 

Os contos não precisam ter acontecido para que existam.  Há neles uma verdade que transcende os factos. Não faz diferença se esse conto aconteceu ou não. Ele é maior que qualquer acontecimento. 
Esconder meninos judeus foi uma dolorosa verdade da Segunda Guerra Mundial. Se um desses meninos escondeu outro menino, diminui a dor da verdade. E se algum deles tenha escondido o Menino Jesus do presépio, isso só torna a dor mais leve: redime a dura realidade (cf. D. José Francisco, Arcebispo de Niterói).

Ainda hoje também podemos apresentar uma queixa semelhante.
Roubaram hoje o Menino Jesus.
Não é anedota, nem história de Natal. É a história nua e crua.
É caso para dizer com Maria Madalena – Roubaram o Senhor e não sabemos onde o puseram.
Porque é que nós dizemos que roubaram hoje o Menino Jesus?

1º - Porque o roubaram do ambiente público. Por todo o lado há enfeites de Natal, mas onde está o Menino Jesus? Há estrelas, árvores, estrelas, renas, postais de todas as espécies, presentes, luzes, mas onde está o Menino Jesus? Não está aqui, roubaram-no da nossa sociedade.
2º - Roubaram o Menino Jesus do seio das nossas famílias. Em vez de celebração e de oração há comemorações, jantaradas, troca de prendas, visita do Pai Natal, votos de boas festas, e o Menino onde está? Muitas famílias esquecem-se dele. Festejam o Natal, mas não querem ser visitados pelo Menino Jesus, nem querem visitá-lo na Igreja.
3º - Roubaram o Menino das nossas casas. Dizemos que o presépio é coisa de antigamente. A nossa mentalidade despreza o Menino Jesus, a Sagrada Família e o próprio presépio. E quando desprezamos isso estamos a roubá-lo.
4º - Roubaram o Menino Jesus das nossas escolas. Onde estão os sinais da nossa fé nesse Menino? Retiraram das escolas e dos edifícios públicos todos os símbolos cristãos. Além disso há tempo para tudo, para desporto, para a música, para a academia, para o agrupamento e outros lazeres menos para o Menino… Estamos a roubar o tempo a Deus.
5º - Roubaram o Menino Jesus até das igrejas. É isso que acontece quando vamos à igreja, não para rezar, mas para cumprir apenas o preceito, uma obrigação, ou quando vamos à igreja só quando nos interessa… Estamos a roubar o Menino da nossa vida.

Enfim, roubaram o Menino Jesus nos nossos dias e o mais grave é que nem damos conta, ou não nos importamos com isso.
Mas afinal Ele quer uma vez mais ficar connosco porque Ele é e continuará a ser sempre o Emanuel, o Deus Connosco.
Hoje vão continuar a roubar o Menino Jesus da sociedade moderna, mas nunca poderão roubá-lo dos nossos corações.
Não deixemos que nos roubem o Menino do nosso coração!



terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Natal (68)


A diocese onde trabalho pastoralmente está em caminhada sinodal.
Isso inspirou o postal de Boas Festas da minha comunidade paroquial.























Natal em tempo de caminhada sinodal
ou caminhada sinodal em tempo de Natal.

A beleza de Cristo caminhar junto connosco
ou a beleza de caminharmos juntos em Cristo.

BOAS FESTAS



Assim foi o advento


Ele desceu para nos elevar















segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Acolher e bendizer


Novena de advento – 23 de dezembro

Podemos resumir em duas palavras e em dois movimentos a liturgia deste dia:
- Acolher – Movimento de fora para dentro
- Bendizer – Movimento de dentro para fora

1º - Acolher – Todo o povo guardava no seu coração os misteriosos acontecimentos que via. Tal como também a Virgem maria guardará tudo, o que via e vivia, no seu coração.
Saibamos nós também acolher e guardar o mesmo mistério que nos é dado contemplar e viver neste tempo de Natal.
É preciso abrir o coração para que possa entrar o mistério de Deus, neste movimento de fora para dentro.

2º - Bendizer – Zacarias e todo o Povo bendizia a Deus pelas maravilhas que o mesmo Deus operava no meio deles. Tal como a Virgem Maria também glorificava a Deus pelas maravilhas que Ele operou.
Saibamos nós também glorificar o mesmo Deus.
É preciso abrir o coração para que dele possa sair, de dentro para fora, o louvor perfeito, cantando com os anjos: Glória as Deus nas alturas…