domingo, 31 de dezembro de 2023

Gratidão e esperança


Te Deum – ORAÇÃO DE AÇÃO DE GRAÇAS no final de 2023

Senhor, ao terminar este ano 2023, aqui estamos para Te bendizer e louvar por todas as maravilhas que realizas entre nós e para Te agradecer de todo o coração!

Obrigado, Senhor, pelo dom da Vida. Obrigado pelo serviço de Saúde, pela Segurança Social, pelas forças de segurança e proteção civil, pelos nossos governantes a nível de freguesia, de Concelho, da Região Autónoma, do Estado Português e da União Europeia ou a nível mundial.

Obrigado, Senhor, pelo trabalho que nos concedeste, para podermos ganhar o pão de cada dia que, alimentando o corpo, lhe dá vigor e forças para continuarmos a servir-Te de todo o Coração! Obrigado pelas condições de vida que nos destes, pelo bem-estar, pelos meios de comunicação social e redes sociais que nos ajudam a interagir uns com os outros.

Obrigado, Senhor, pela Eucaristia, Pão do Céu e pelo Pão da Palavra, que alimentam as nossas vidas, para que assim fortalecidos possamos continuar esta caminhada de eternidade! Todos aqueles que participam na celebração dominical ou diária te agradecem esta força que vem do alto.

Obrigado, Senhor, pelo dom maravilhoso e extraordinário da Paz, interior e exterior: esta paz que nos dá a possibilidade de Te servir e louvar em liberdade, sem pressões motivadas pelo ódio apesar da guerra bem perto de nós e dos conflitos nalguns países.

Senhor, aqui está a Comunidade Paroquial do Cabouco comunidade consagrada à Vossa e nossa Mãe, Nossa Senhora da Misericórdia, com todas as suas dificuldades e esperanças. Pedimos a Tua Ajuda e Proteção para todos os paroquianos, presentes ou ausentes, amigos e benfeitores, de modo particular por todos os que contribuem para o Culto, oferecem azeite para o Santíssimo, as hóstias e o vinho para a celebração, as flores para os altares e tantas outras dádivas. Nós Te agradecemos a graça de pertencermos à Igreja Universal, a bênção do Santo Padre o Papa Francisco, que nos deste como pastor segundo o teu coração, a nossa Diocese com o nosso bispo e todos os seus sacerdotes. Obrigado pelo Sínodo doa Bispos que teve lugar em Roma, mas que envolveu toda a Igreja.

Obrigado, Senhor, pelos que diariamente rezam o Terço nesta igreja ou nas suas casas e semanalmente fazem a adoração do Santíssimo Sacramento e mensalmente consagram as suas famílias ao Teu Sagrado Coração.

Todas as Mães e todos os Pais da nossa Comunidade Te agradecem a saúde, a alegria e o bem-estar dos seus lares; todas as crianças, as 150 da nossa catequese, e seus 18 catequistas, as crianças da Creche e Jardim de Infância O Ninho e seus educadores e auxiliares e demais funcionários ou das nossas escolas, Te agradecem o carinho que sempre lhes manifestas e pedem a Tua Bênção e proteção para os seus pais e irmãos.

Os nossos jovens, Guiados por Jesus, vêm dizer Obrigado pela força da sua juventude e pedem que sejas sempre o seu Caminho. Obrigado pela oportunidade que tiveram de participar na Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa. Os nossos idosos, aqueles que se encontram no ocaso da sua vida, agradecem a longa vida que lhes deste e que sejas sempre o seu amparo até à última hora.

Nós te agradecemos a dedicação do Conselho Pastoral, da Comissão de Festas e dos Assuntos Económicos. Te louvamos pelo empenho dos nossos Escuteiros, dos nossos irmãos Romeiros, dos Cursilhistas; pelo exercício da caridade do Núcleo Paroquial da Cáritas; pelo zelo dos Leitores, dos irmãos de O Caminho Neo-catecumenal, dos educadores, professores, catequistas e pelo serviço e dedicação do Grupo Missionário Santa Teresinha do Menino Jesus. Louvado sejas pelo serviço dos Acólitos, dos Ministros Extraordinários da Comunhão, dos que zelam, enfeitam e preparam esta nossa igreja.  Obrigado, Senhor pela Legião de Maria, pelos Impérios do Divino Espírito Santo, seus mordomos e colaboradores. Juntamente com os grupos corais Sénior e infantojuvenil Pedrinhas de Sal, pelo grupo de animação Sons da Fé. todos agradecem e cantam os Teus louvores.

Os nossos doentes, Senhor, agradecem a coragem que lhes concedeste para poderem abraçar e levar a sua cruz, aquela cruz da doença que os torna parecidos Contigo. Muitos deles desejariam estar aqui, neste momento de Ação de Graças, mas na impossibilidade de estarem presentes Te enviam, lá do seu leito de dor, o seu coração agradecido!

Agradecemos, Senhor, todos os dons e maravilhas que nos concedeste: os 19 batismos deste ano na nossa paróquia, os 4 casamentos, as bodas de prata e de outro matrimoniais, as 18 Primeiras Comunhões, as 9 Profissões de Fé e os 30 jovens que receberam o Sacramento do Crisma.

Agradecemos ainda o dom da vida dos nossos 13 irmãos que durante este ano partiram para a eternidade. Obrigado por eles rezarem connosco e por nós, na tua Paz, Senhor.

Aceita, Senhor, o agradecimento e o louvor de todos nós que aqui estamos e de todos aqueles que trazemos no nosso coração.

Estes são os nossos agradecimentos eclesiais, comunitários ou coletivos.

Agora cada um, em silêncio, no íntimo do seu coração, pode continuar a louvar a Deus, fazendo os seus agradecimentos a nível familiar, individual ou pessoal…

Por tudo isto te dizemos, TE DEUM, A TI Ó DEUS, nós Te louvamos, nós te bendizemos e te agradecemos… cantando com alegria e gratidão.

 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Os nossos hinos de Natal


O Natal dos Poetas (4)

Poetas que rezamos nos hinos do tempo de Natal na Liturgia das Horas ou Breviário

De Gil Vicente (1465-1536)

 

Vésperas II

 

Esta noite é de alegria

Ninguém está sonolento,

É noite do Nascimento

Em que Deus mostrou seu dia.

 

É noite de grã memória,

Noite em dia convertida,

Escuridão consumida

Com grão resplendor de glória.

 

No meio mais luminosa

Que no mundo nunca viste

E de escura, fria e triste

A mais doce e gloriosa.

 

Oh noite favorecida

De memorável coroa,

Vista de Deus em pessoa

Começando humana vida!

 

Dos Anjos toda cercada,

Dos elementos servida,

Do Pai e Filho escolhida,

Do Espírito Santo espirada!

 

Hora Intermédia III

 

Branca estais colorada,

Virgem sagrada.

 

Em Belém, vila do amor

Da Rosa nasceu a Flor:

Virgem sagrada.

 

Em Belém, vila do amor,

Nasceu a Rosa do Rosal:

Virgem sagrada.

 

Da Rosa nasceu a Flor,

Para nosso Salvador:

Virgem sagrada.

 

Nasceu a Rosa do Rosal,

Deus e homem natural:

Virgem sagrada.

De Frei Agostinho da Cruz (1540-1619)

 

Laudes II

 

Pasmem de alegria

Na terra e nos céus,

Vendo a noite – dia,

Vendo o homem – Deus.

 

Comércio admirável

Que o amor descobriu

Mistério inefável,

Que o Céu nos abriu!

 

Milagre inventado

Do divino Espírito:

Que do limitado

Saia o Infinito!

 

Na Virgem caber

Quem nos Céus não cabe,

Como pode ser?

Quem o fez o sabe.

 

Nova maravilha

Do divino amor:

Mãe, Esposa e Filha

Do mesmo Senhor!

 

Deu a flor suave

O fruto esperado:

Já vimos a chave

Do jardim cerrado.

 

É Lume do Lume

Que Ele só faz ver,

No qual se resume

Tudo o que tem ser.

 

Triunfo e luzerna

Da Cidade santa,

Que com glória eterna

Se adora e se canta.

 

Laudes III

 

Hoje os homens veem

O Verbo Encarnado,

Poe quem, para quem

Tudo foi criado.

 

Quando a Virgem viu

Da glória o penhor,

Tudo se cobriu

Do seu resplendor.

 

Em tal claridade

A sua alma ardia

Que toda a Trindade

Nela se revia.

 

A mão soberana

Seu poder mostrou

Na trindade humana

Que aqui ajuntou.

 

Anjos, reis, pastores,

Por divina traça,

São anunciadores

Do Autor da graça.

 

Pelo Deus visível,

Que já conhecemos

No amor do invisível

Nos arrebatemos.

 

Hora intermédia I

 

Anjos e pastores,

Com muita alegria

Louvemos o Filho

Da Virgem Maria.

 

Menino tão rico,

Que pobre que estais,

Deitado no feno

E entre animais.

 

Os filhos dos homens

Em berço doirado,

E Vós, meu Menino

Em palhas deitado!

 

Em palhas deitado,

Tão pobre, esquecido,

Filho duma Rosa,

Dum Cravo nascido.

 

Lapa gloriosa,

Dos Céus invejada,

Que eles mais formosa,

Mais alumiada.

 

Nela nasce Deus,

Nela hoje Se encerra

O melhor dos Céus,

O melhor da terra.

De António Moreira das Neves (XX)

 

Ofício de Leitura I

 

Cristo Jesus, ó Sol da Redenção,

À vossa luz se extingue todo o erro:

Acaba-se no mundo a solidão

Das almas em desterro.

 

Os Anjos cantam a Jesus nascido,

Adormecem na selva as feras más:

O universo repousa agradecido

Na alegria da paz.

 

Senhor do mundo, Vós sois o Menino

Da Virgem pura, Mãe imaculada:

Cai das alturas um luar divino

Sobre a terra admirada.

 

Nossa Senhor Vos embala e canta,

No coração guardando quanto escuta:

O mistério daquela noite santa

No silêncio da gruta.

 

Louve o Senhor a natureza humana

Que no mundo jamais subir tanto:

Glória ao Pai, glória ao Filho, glória, hossana

Ao Espírito Santo.

De Manuel Simões (1924-1995)

 

Hora Intermédia II

 

Desde o nascer do sol

Até ao fim do dia,

Cantemos o Senhor

Da Virgem Mãe nascido.

 

Hoje o Autor do mundo

Veio em carne mortal

Para salvar o homem,

Obra das suas mãos.

 

Nascido de Maria,

Templo vivo de Deus,

Vem cumprir a promessa

De salvar o seu povo.

 

Bendito seja Deus,

Criador do universo;

Bendito seja Deus,

Feito por nós menino.

 

Vamos com os pastores,

Com os Anjos cantando:

Glória a Deus nas alturas

Paz aos homens na terra.

De Fernando Melro (+2014)

 

Vésperas I

 

Oh admirável noite em que nasceu

Do seio de Maria o Redentor!

Em humildade extrema apareceu

Quem é d Pai celeste resplendor.

 

Rejubilou a terra de alegria

No santo nascimento de Jesus:

Do seio imaculado de Maria

Surgiu em noite escura a eterna Luz.

 

Aquele que deu vida às criaturas

Hoje aparece como nosso irmão:

Quem acendeu os astros nas alturas

Desceu à nossa humana condição.

 

Nações do mundo inteiro, bendizei,

Louvai o Deus Menino e sua Mãe;

Louvai com alegria o vosso Rei,

Nascido na pobreza de Belém.

 

Exultemos de alegria,

Adoremos o Senhor:

Da Virgem Santa Maria

Nasceu Cristo, o Redentor.

De Heitor Morais (1923-2016)

 

Vésperas III

 

De Jessé, raiz fecunda,

Cumprindo-se a profecia,

Cheio de graça e perdão

Nasce Jesus de Maria.

 

Um Menino nos foi dado

E um Filho nos nasceu,

Glória a Deus e paz na terra

Cantam os Anjos no Céu.

 

A lua, o sol, as estrelas

E tudo quanto o Céu cobre

Cantem ao Rei do Universo

Que quis nascer como pobre.

 

É o Príncipe da paz,

Admirável Conselheiro.

Traz o império sobre os ombros,

Salvador do mundo inteiro.

 

Anjos no céu aparecem,

Cantando glória e louvor,

E os pastores reconhecem

O Cordeiro do Senhor.

 

Glória seja dada ao Pai

E ao Espírito também,

Glória seja dada ao Filho

Nos braços da Virgem Mãe.

 

Ofício de Leitura II

 

No princípio era o Verbo

E o Verbo era Deus.

Tudo por Ele foi criado

Na terra como nos céus.

 

Luz eterna e verdadeira,

Mistério de Deus profundo,

Que ilumina todo o homem

Que nasce para este mundo.

 

O mundo por Ele foi feito,

Mas não O reconheceu;

E não O quis receber,

Quando veio ao que era seu.

 

Mas o Verbo Se fez homem

E habitou entre nós,

E vimos a sua glória,

Ouvimos a sua voz.

 

Cheio de graça e verdade

No meio de nos O vemos:

É da dua plenitude

Que todos nós recebemos.

 

Glória ao Pai e glória ao Filho,

Que nasceu da Virgem Mãe,

Glória ao Espírito Santo,

Pelos séculos. Ámen.

 

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Pequenos grandes mártires


Festa dos Santos Inocentes

No Presépio podemos contemplar todos os mistérios, os gozosos e os dolorosos, alegria e dor, sorrisos e lágrimas, porque o presépio é o reflexo da nossa vida ou a nossa vida é a imagem do presépio.

Hoje a lição vem de quem ainda não fala, mas sente-se envolvido no testemunho de vida.

Ainda hoje há milhões de crianças que são vítimas dos horrores da guerra, não só no conflito Israel e Palestina ou Rússia e Ucrânia. Há tantas vítimas inocentes que levam por tabela e sucumbem à violência, exploração ou outros cenários afins.

Rezemos hoje de modo especial para que o coração dos homens possa promover a vida e não a morte, a concórdia e não a vingança.

Ao contemplar o presépio podemos perguntar:

- Qual é a figura maior do presépio?

- É a imagem do Menino Jesus.

E isto por 3 motivos:

Primeiro porque proporcionalmente a sua imagem é maior do que todas as outras que a circundam. Reparemos, por exemplo, no seu rosto. Não há personagem no presépio que tenha uma cara tão grande, apesar de ter acabado de nascer. Isto acontece para poder ser visto, porque se fosse apresentado de maneira proporcional, praticamente não aparecia.

Segundo motivo é para chamar a atenção de que de facto é ele o mais importante do Natal. Ele é o maior, o todo-poderoso. Apesar de se apresentar na sua pequenez, Ele é grande. Sem Cristo não há Natal.

Terceiro, porque diante de Jesus, qualquer ser ou criatura parece pequeno. Não é Jesus que deve parecer grande, somos nós que somos pequenos. Diante de Jesus somos todos pequeninos, humildes e necessitados.

Ver também:

Não vale lutar contra Deus



quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Natal somos nós

 

Natal (75)


Natal é Festa

Natal é Paz

Natal é Jesus

Natal é Família

Natal és Tu, sou Eu

Natal somos Nós

 

 

História do Menino Jesus


O Natal dos Poetas (3)

 

Vi Jesus descer à terra

De Fernando Pessoa (1888-1935)

in O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro

Num meio-dia de fim de primavera

Tive um sonho como uma fotografia.

Vi Jesus Cristo descer à terra.

 

Veio pela encosta de um monte

Tornado outra vez menino,

A correr e a rolar-se pela erva

E a arrancar flores para as deitar fora

E a rir de modo a ouvir-se de longe.

 

Tinha fugido do céu.

Era nosso demais para fingir

De segunda pessoa da Trindade.

 

Um dia em que Deus estava a dormir

E o Espírito Santo andava a voar,

Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.

Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.

Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.

Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz

E deixou-o pregado na cruz que há no céu

E serve de modelo às outras.

Depois fugiu para o sol

E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

 

Hoje vive na minha aldeia comigo.

É uma criança bonita de riso natural.

Limpa o nariz ao braço direito,

Chapinha nas poças de água,

Colhe flores e gosta delas e esquece-as.

Atira pedras aos burros,

Rouba a fruta dos pomares

E foge a chorar e a gritar dos cães.

E, porque sabe que elas não gostam

E que toda a gente acha graça,

Corre atrás das raparigas

Que vão aos ranchos pelas estradas

Com as bilhas às cabeças

E levanta-lhes as saias.

 

A mim ensinou-me tudo.

Ensinou-me a olhar para as coisas.

Aponta-me todas as coisas que há nas flores.

Mostra-me como as pedras são engraçadas

Quando a gente as tem na mão

E olha devagar para elas.

 

O meu menino Jesus adormece nos meus braços

E eu levo-o ao colo para casa.

 

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.

Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.

Ele é o humano que é natural,

Ele é o divino que sorri e que brinca.

E por isso é que eu sei com toda a certeza

Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

 

E a criança tão humana que é divina

É esta minha quotidiana vida de poeta,

E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,

E que o meu mínimo olhar

Me enche de sensação,

E o mais pequeno som, seja do que for,

Parece falar comigo.

 

A Criança Nova que habita onde vivo

Dá-me uma mão a mim

E a outra a tudo que existe

E assim vamos os três pelo caminho que houver,

Saltando e cantando e rindo

E gozando o nosso segredo comum

Que é o de saber por toda a parte

Que não há mistério no mundo

E que tudo vale a pena.

 

A Criança Eterna acompanha-me sempre.

A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.

O meu ouvido atento alegremente a todos os sons

São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

 

Damo-nos tão bem um com o outro

Na companhia de tudo

Que nunca pensamos um no outro,

Mas vivemos juntos os dois

Com um acordo íntimo

Como a mão direita e a esquerda.

 

Ao anoitecer brincamos às cinco pedrinhas

No degrau da porta de casa,

Graves como convém a um deus e a um poeta,

E como se cada pedra

Fosse todo o universo

E fosse por isso um grande perigo para ela

Deixá-la cair no chão.

 

Depois eu conto-lhe histórias das coisas só dos homens

E ele sorri, porque tudo é incrível.

Ri dos reis e dos que não são reis,

E tem pena de ouvir falar das guerras,

E dos comércios, e dos navios

Que ficam fumo no ar dos altos mares.

Porque ele sabe tudo isso falta àquela verdade

Que uma flor tem ao florescer

E que anda com a luz do sol

A variar os montes e os vales

E a fazer doer aos olhos os muros caiados.

 

Depois ele adormece e eu deito-o.

Levo-o ao colo para dentro de casa

E deito-o, despindo-o lentamente

E como seguindo um ritual muito limpo

E todo materno até ele estar nu.

 

Ele dorme dentro da minha alma

E às vezes acorda de noite

E brinca com os meus sonhos.

Vira uns de pernas para o ar,

Põe uns em cima dos outros

E bate as palmas sozinho

Sorrindo para o meu sono.

 

Quando eu morrer, filhinho,

Seja eu a criança, o mais pequeno.

Pega-me tu ao colo

E leva-me para dentro da tua casa.

Despe o meu ser cansado e humano

E deita-me na tua cama.

E conta-me histórias, caso eu acorde,

E para eu tornar a adormecer.

E dá-me sonhos teus para eu brincar

Até que nasça qualquer dia

Que tu sabes qual é.

 

Esta é a história do meu Menino Jesus.

Por que razão que se perceba

Não há de ser ela mais verdadeira

Que tudo quanto os filósofos pensam

E tudo quanto as religiões ensinam?