terça-feira, 29 de junho de 2010

Pai de todos nós

O Pai Nosso de cada dia (24)


Pai de todos nós,
a quem vamos descobrindo
cada dia um pouco mais.

Deixai-nos chamar-te pelo teu nome
e também por teu apelido,
porque és Deus e nosso pai.

Queremos lutar por um mundo diferente
para construir o teu reino.

Queremos buscar e ver
no coração dos homens
o que esperas de nós.

Queremos saciar a nossa fome de ilusões,
partir e repartir o nosso pão com alegria.

Queremos perdoar de verdade,
para que também nos perdoes.

Queremos vencer a tentação
do poder, da fama e da rotina.

Queremos lutar contra a injustiça,
a que nos oprime a nós e aos outros
e a que se esconde no nosso próprio coração.

Duas Chaves

29 de Junho
Solenidade de São Pedro

É dia de contemplar não tanto o que Pedro disse a Jesus, mas sim de contemplar sobretudo o que Jesus disse a Pedro:
- Tu é Pedro... Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus...

- Porquê duas chaves?
- Uma para fechar a porta do inferno e outra para abrir a porta do céu.

Ainda hoje nós podemos ter nas nossas mãos estas mesmas duas chaves:
Quando alguém faz o bem e evita o mal, usa estas chaves.
Evitando o mal fechamos a porta do inferno e fazendo o bem abrimos a porta do céu.

Que São Pedro nos ajude a usar bem essas chaves para que um dia ele nos receba à porta do céu.




segunda-feira, 28 de junho de 2010

Fundação


28 DE JUNHO de 1878

"OS MEUS VOTOS.
A 28 de Junho era a festa do Coração de Jesus. Fiz os meus votos. Era o meu mais vivo desejo. O Bispo D. Thibaudier autorizou-mo. Ele sabia que me estava preparando havia mais de um ano. Delegou o Reverendo Arcipreste para recebê-los. A pequena cerimónia fez-se no oratório de S. João. O reverendo Rasset lá estava como postulante, com os dois Irmãos que não perseveraram. Assistiam também duas Irmãs.
Entreguei-me sem reservas ao Sagrado Coração de Jesus, e no meu pensamento esses votos eram já perpétuos. A minha emoção foi muito profunda. Sentia que tomava a cruz sobre os meus ombros ao dar-me a Nosso Senhor como sacerdote reparador e como fundador dum novo instituto.
(Ao mesmo tempo que fazia os três votos públicos, fazia também o voto privado de vítima segundo as indicações do Pe. Giraud)
Esta data de 28 de Junho de 1878 será sem dúvida considerada, na Congregação, como data da sua fundação."

Pe. Dehon in Notas sobre a História da Minha Vida - Vol VII

Pai de Cristo Nosso Pai

O Pai Nosso de cada dia (23)

O Pai-nosso é conhecido como sendo a oração do Senhor, não por ser a oração que Ele rezava, mas por ter sido ensinada por Ele. A relação entre Jesus e o Pai é diferente da nossa com o mesmo Pai. Rezar o Pai-nosso não é rezar a oração que o Senhor rezava, mas rezar segundo o seu estilo. É rezar segundo a nossa condição, mas à maneira de Jesus Cristo. Do princípio ao fim, o Pai-nosso resume-se numa só palavra – Cristo. Por isso, podemos dizer com todo o rigor que com o Pai-nosso rezamos por Cristo, com Cristo e em Cristo.

Pai Nosso:
Ninguém conhece o Pai senão o Filho
e aquele a quem o Filho o queira revelar.
Não há outra definição exaustiva possível de Deus,
mas esta é bastante exaustiva.
Como poderá caber numa concha toda a água do oceano,
o infinito num só número,
a definição de Deus num nome terreno?
O teu nome, ó Deus, é Pai.

Santificado seja o teu nome.
Pai, glorifica o teu nome,
glorifica o teu Filho.

Venha a nós o teu reino.
Que ele venha e isso nos basta.
Aquele que prometeu a vinda do reino
introduziu-o já neste mundo.
Depois, a mensagem de Cristo
converteu-se em mensagem sobre Cristo.
A sua vinda trará consigo
a consumação definitiva do reino.
Vem, Senhor Jesus.

Faça-se a tua vontade
assim na Terra como no Céu.
Isto é, em nós como no Céu;
isto é, como em Cristo.

O pão nosso eucarístico
de cada dia, nos dá hoje.
O pão servido no banquete nupcial do Filho.

Perdoa-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos.

Perdoa-nos as nossas ofensas,
pois nos reconciliaste com Cristo;
Pois Cristo é o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo.

Não nos deixes cair em tentação,
nem na primeira,
nem na segunda, nem na terceira.
Cristo, que as padeceu,
seja hoje a nossa força.
Ele seja o nosso escudo
contra os ataques do maligno.

Livre-nos de todo o mal,
aquele que é o nosso libertador.

domingo, 27 de junho de 2010

Pai de Amor

O Pai Nosso de cada dia (22)

Pai,
santificado seja o teu nome.
Meu pai, em nome de Jesus Cristo,
fazei com que todos os homens
vos glorifiquem o mais possível.

Venha o teu reino:
Que todos os homens vos amem
e vos sirvam à porfia,
como seu soberano bem-amado.

O pão nosso de cada dia nos dá hoje:
Que todos os homens conheçam
e adorem o verdadeiro pão,
a santa Eucaristia,
e que vosso corpo se torne para todos
o alimento quotidiano.

Perdoai-nos os nossos pecados
pois que também nós perdoamos
a quem nos tem ofendido:
Tende piedade de todos os homens,
perdoai-lhes todas as suas faltas,
Pai nosso, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.

E não nos deixeis cair em tentação.
Socorrei todos os homens, meu Deus,
contra as tentações,
a fim de vos não ofenderem.

(Cf. Charles de Foucauld, Cristo rezava assim, Edições Paulistas, Apelação- Sacavém, 1980, páginas 61-62)

sábado, 26 de junho de 2010

Pai das Virtudes


O Pai Nosso de cada dia (21)

Pai nosso que estais nos Céus.
Se chamamos Pai Nosso, é porque temos .

Santificado seja o vosso nome.
Se confessamos que ele está nos Céus e desejamos a santificação do seu nome, sinal é de Caridade.

Venha a nós o vosso reino.
Se demandamos que o seu reino venha até nós, decerto esta prece com a Esperança muito bem se concorda, porque esperando ter nele por sua Santa Graça alguma parte, demandamos cada dia que, se prouver ao Senhor, sejamos chamados para o seu reino, o qual sempre esperamos que será por sua mercê outorgado.

Seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu.
Estas palavras revelam grande Prudência, a maior que pode haver.
Por um lado conformamos a nossa vontade com a de Deus, por outro pedimos-lhe para, acima de tudo, cada um de nós seguir e cumprir essa vontade. Ora qual é a vontade de Deus a nosso respeito a não ser que encaminhemos para a salvação, amando-o, glorificando-o e servindo-o, a exemplo dos que já estão na glória? Está a nossa vontade unida à de Deus e esta não erra. Por conseguinte, prudentemente agimos.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje.
Quando a esta petição significa a grande Temperança aconselhada por Nosso Senhor aos que a seguem, não desejando nada de supérfluo mas contentando-nos boamente com o que precisamos em cada dia.

Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
O pedido de perdão na medida em que perdoamos ensina-nos o recto caminho da Justiça de Deus conforme as nossas obras. Teremos a medida de misericórdia que tivermos com os outros.

Não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal.
Bem vistas as coisas, temos aqui a virtude da Fortaleza pois a ela pertence que nos defendamos contra todo o mal e nos esforcemos por seguir o bem.

(Cf D. Duarte, Leal Conselheiro, Lisboa 1942, páginas 346-347)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Olhar para trás

Ano C - XIII Domingo Comum

Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o Reino de Deus, disse Jesus no Evangelho.
- Porquê? – Perguntei às crianças da catequese.
- É uma falta de educação olhar para trás. – Respondeu alguém - Jesus não nos quer mal-educados. De facto, olhar para trás é distrair-se, não prestar atenção...
- Eu acho é que nos faz doer o pescoço. Por isso não devemos olhar para trás senão Deus ter-nos-ia feito com um pescoço que desse uma volta completa. Nós fomos feitos para olhar em frente.
- É também perigoso para a estrada ou para aquilo que estivermos a fazer. – Acrescentou outro – Faz-nos tropeçar e já não conseguimos avançar.
Concluí então que não se deve olhar para trás por tudo isto e muito mais.
Olhar para trás quer dizer ficar agarrado ao passado. É preciso libertar-se de algo fixo para avançar sem saudades do que se deixou porque um valor mais alto se levantará à nossa frente.
É preciso pôr os olhos em Cristo porque ele vai à nossa frente e é preciso segui-lo.
Porque não é preciso medir o que já está feito mas sim olhar o que ainda está para fazer ou percorrer.
Cidadão do Reino de Deus é todo aquele que olha em frente e avança sem amarras do passado.
Não se pode perder tempo: É preciso apanhar Cristo.




Padre-Nosso da PAZ

O Pai Nosso de cada dia (20)

Pai Nosso, que estais nos Céus, onde há PAZ
Santificado seja o vosso nome, na PAZ
Venha a nós o vosso reino de PAZ
Seja feita a vossa vontade, para que haja PAZ
assim na terra como no céu.

A PAZ de cada dia, Senhor, nos dai hoje…
Perdoai-nos as nossas ofensas à PAZ,
assim como nós perdoamos a quem nos tem tirado a PAZ.
E não nos deixeis cair na tentação de uma falsa PAZ
mas livrai-nos de todos os males que afectam a verdadeira PAZ!
Ámen.

Se Deus quiser

6ª Feira da XII Semana Comum

Do Evangelho de hoje:
Ao descer Jesus do monte, seguia-O uma grande multidão. Veio então prostrar-se diante d’Ele um leproso, que Lhe disse: «Senhor, se quiseres, podes curar-me». Jesus estendeu a mão e tocou-o, dizendo: «Eu quero: fica curado».

1º Faz-me lembrar a expressão: Para baixo todos os santos ajudam. De facto Jesus para subir ao monte convida só 3 ou 4 apóstolos (Pedro, Tiago e João por exemplo) mas para descer ou caminhar na planície segue-o uma grande multidão.
Para baixo todos os santos ajudam.
Em baixo todos ajudam os santos.
Para cima só os santos ajudam a todos.

2º Se quiseres podes curar-me, faz-me lembrar quando alguém se despede de mim e eu digo:
- então até amanhã.
E a outra pessoa conclui:
- Se Deus quiser!
- Então não havia de querer?
Deus quer sempre, nós é que muitas vezes não nos lembramos disso ou não deixamos que ele queira.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Piadosas (6)

Escolas no Céu

Foi hoje mesmo.
Um colega professor estava a apresentar a nossa escola a um grupo de visitantes, possíveis futuros alunos. Dizia ele com todo o realismo:
- A nossa escola nem é melhor nem pior do que as outras escolas. Esta escola é uma escola com qualidades e defeitos como outra escola. - E concluiu - Escolas perfeitas só no Céu, e no Céu não há escolas.
Aí tive de intervir:
- Desculpe lá colega, mas tenho de dizer que pelo menos deve haver uma escola no Céu porque sempre me ensinaram que lá no céu existe um MESTRE, e onde há Mestre há ESCOLA.

Piadosas (5)

AMIGO DO VINHO

Na festa de São João Baptista, qual santo popular, um homem andava aos tombos no adro da igreja.
O padre foi repreendê-lo:
- Parece impossível, um homem que se diz tão devoto de São João Baptista assim tão bêbedo que nem se segura de pé.
- Eu sou amigo do meu amigo, sim senhor - respondeu o homem - Eu gosto muito de São João que nunca bebeu vinho para deixar tudo para nós. Isso é que é um santo nosso amigo.

João Baptista

24 de Junho

1.
Hoje é o dia em que nasce a voz de Deus;
emudeçam as vozes dos homens.
Hoje é o dia em que se calam as línguas;
falem apenas os corações.
Hoje é o dia de visitar a Deus
porque Deus visitou e redimiu o seu povo.

2.
A mão de Deus estava com o menino João.
Desde a sua concepção foi agraciado por Deus:
Deus o consagrou ou foi consagrado a Deus?
Quem dedica a Deus apenas os últimos anos faz cristão o temor da morte.
Quem se consagra a Deus desde os primeiros anos, faz religioso o amor da vida.
Tal como São João nós baptizamos sempre:
ou baptizamos o temor da morte
ou baptizamos o amor da vida.
Há que escolher.

3.
João Baptista pregou e viveu a penitência.
A penitência honra sempre os pecadores.
Os inocentes honram sempre a penitência.
Nós identificámo-nos com a primeira situação.
João Baptista é identificado com a segunda situação.

Padre Nosso


O Pai Nosso de cada dia (19)

Comparando as duas versões do Pai-nosso, em São Mateus e São Lucas, deparamos com algumas variantes.
Não é contra a intenção de Jesus que as comunidades, cuja intenção é consignada em São Mateus, tenham ampliado a oração do Senhor com alguma frase explicativa, dando-lhe também um arredondamento litúrgico para torná-la mais apta para o uso comunitário. Também São Lucas introduziu nelas alguns esclarecimentos linguísticos, acomodando-a à situação da sua comunidade.
Ainda hoje a Igreja tem o poder de pôr em uso pequenas mudanças formais e ornamentais, segundo as exigências ou desejos das circunstâncias. Não obstante, a Igreja tem sido parca nessa liberdade, usando quase integralmente, desde os tempos apostólicos, a versão de São Mateus.
A versão tradicional portuguesa do Pai-nosso foi actualmente por determinação dos Bispos em 1941, fazendo-se as seguintes alterações: Pai nosso em vez de Padre nosso e perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido em vez de perdoai-nos nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
Rezemos hoje com as palavras que os nossos patrícios usavam até meados do século XX.

Padre Nosso
que estais nos ceos
santificado seja o vosso nome
venha a nós o vosso reino
seja feita a vossa vontade
assim na terra como no ceo
o pão nosso de cada dia nos dai hoje
e perdoai-nos nossas dívidas
assim como nós perdoamos
aos nossos devedores
e não nos deixeis cahir em tentação
mas livrai-nos do mal.
Ámen.


quarta-feira, 23 de junho de 2010

Padre Nosso que estás

O Pai Nosso de cada dia (18)

Padre nosso que estás
nos ceeos exalçado,
teu nome sancofocado
seja por sempre já mais,
por a gram gloria que as
e por quantos benefícios
sem méritos e serviços
aas creaturas daas

venha o teu regno sancto
e nos com paz e com graça,
que nos consolle e spaça
e nos livre de todo spanto,
que nosso vigor nom he tanto
que possamos a el ir
sem tua graça interviir
a nos com doce canto.

Faça sse tua vontade
em a terra bem obrando,
creendo e sperando
amamdo com caridade,
asi que a humanidade
faça como o ceo faz
que sempre serve e compraz
aa tua sancta magestade.

Nosso pam cotidiano
nos da oje por tua clemencia,
que sem tua providencia
que vai o trabalho humano?
Tu, Senhor, abres a mano
e enches todo animal
de tua bençom a qual
provee ao homem mundano.

E como nos perdoamos
a quem nos fere a baldoa,
asi tu, Senhor, perdoa
a nos outros quando erramos
a como nos condampnamos
aom esta suplicaçam,
auando nosa ofensam
cruelmente a vingamos.

Non tragas en temptaçom
Senhor a nosa fraqueza,
pois conheces a crueza
daquel rugente leon
que nosa condempnaçom
busca com rayva infernal,
mas livra nos u de mal
Jesu nosa redemçom. Amen.

(Cf. Mario Martins, Vida e Obra de Frei João Claro, Universidade Coimbra 1956, páginas 188-189)

terça-feira, 22 de junho de 2010

P de Pai

O Pai Nosso de cada dia (17)

Com P de Paraíso
Perfeição
Paz
Piedade
Partilha
Eu escrevo Pai nosso que estais nos Céus.

Com S de Salvação
Serviço
Sacrifício
Solidariedade
Sacerdócio
Eu escrevo Santificado seja o vosso nome.

Com R de Ressurreição
Resposta
Redenção
Reparação
Religião
Eu escrevo o Reino dos Céus venha até nós.

Com V de Verdade
Virtude
Vocação
Vitória
Vida
Eu escrevo a Vossa Vontade seja feita assim na terra como no céu.

Com D de Doação
Disponibilidade
Diálogo
Dignidade
Divino
Eu escrevo Dai-nos hoje o pão nosso de cada dia.

Com P de Penitência
Páscoa
Projecto
Prudência
Próximo
Eu escrevo Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.

Com T de Testemunho
Trindade
Teologia
Trabalho
Tolerância
Eu escrevo a Tentação não nos enrede.

Com L de Liberdade
Liturgia
Luz
Louvor
Libertação
Eu escrevo Livrai-nos de todo o mal.

Com A de Amor
Alegria
Adoração aliança
Aceitação
Eu escrevo Ámen! Assim seja.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Oração perfeitíssima

O Pai Nosso de cada dia (15)

O Pai-nosso é a Oração perfeitíssima, pois nela se encontram expressos os sentimentos de Jesus, dos apóstolos e de toda a Igreja.
Ela é a oração da Igreja de todos os tempos, de todos os filhos de Deus.

É a oração da eternidade, pois quem diz nos Céus quer dizer celeste e quem diz celeste quer dizer eternidade:
Pai-nosso que estais nos céus.

É a oração da santidade, porque somos o reflexo ou o espelho da santidade de Deus. Sede perfeitos como é perfeito o Vosso Pai do Céu:
Santificado seja o Vosso Nome.

É a oração ecuménica, pois, recitando-a, os cristãos sentem-se mais irmãos e as diferenças desaparecem:
Venha a nós o Vosso Reino.

É a oração da unidade, em que todos se comprometem a fazer a mesma vontade:
Seja feita a Vossa Vontade
assim na terra como no céu.

É a oração da comunidade, que se reúne ao repartir o pão da Eucaristia, o qual leva a partilhar também o pão do sustento terreno:
O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

É a oração do perdão universal, pois quando pedimos o perdão a Deus, oferecemos o perdão a todos os homens sem distinção:
Perdoai as nossas ofensas
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido.


É a oração do peregrino, que vai na sua caminhada do deserto para a Pátria do Céu e que precisa de apoio e de auxílio:
Não nos deixeis cair em tentação
mas livrai-nos do mal.

domingo, 20 de junho de 2010

Oração da libertação integral

O Pai Nosso de cada dia (15)

Pai,
não sois primeiro nosso juiz e Senhor,
mas nosso Pai,
porque ouvis o clamor dos Vossos filhos oprimidos.

Que estais nos Céus,
para onde se dirige o nosso olhar nesta luta.

Santificado
seja Vosso agir libertador
contra os que oprimem em Vosso nome.

Venha a nós
a Vossa Justiça,
a começar pelos empobrecidos.

Seja feita
a Vossa libertação, que principia na Terra
e termina no Céu.

O pão de cada dia
que juntos produzimos,
dai-nos juntos comê-lo.

Perdoai-nos
o nosso egoísmo,
na medida em que combatemos o egoísmo colectivo.

E não os deixeis cair na tentação
de explorar e de acumular.

Mas livrai-nos
da vingança e do ódio
contra o mau que oprime e reprime.

Ámen.

(Cf. Leonardo Boff, O Pai-nosso, Ed. Vozes, Petrópolis, 1980)

sábado, 19 de junho de 2010

Oração ao Pai Nosso


O Pai Nosso de cada dia (14)

Invocação
Oremos: Pai-nosso que estás nos Céus, tu que glorificaste o teu Filho, sentando-O à tua direita, e nos chamaste a participar da tua glória, digna-te abençoar este pão e admitir-nos no banquete do Céu.

Primeira Petição
Oremos: Senhor, nosso Deus, que por meio do teu Filho santificaste o teu nome, revelando-o aos que o não conheciam, digna-te abençoar este pão e revelar-nos um dia o teu rosto.

Segunda Petição
Oremos: Senhor, tu que conduzes o teu Reino à consumação por meio de Jesus Cristo, teu Filho, aquele que é, era e será, digna-te abençoar este pão e não nos abandones.

Terceira petição
Oremos: Senhor Deus, que nos manifestaste a tua Lei pela boca do teu Filho, cujo alimento era fazer a tua vontade, digna-te abençoar este pão e que os teus santos desígnios se cumpram assim na Terra como no Céu.

Quarta petição
Oremos: Senhor Deus, que enviaste o teu Filho à Terra, pão vivo descido do Céu, e por meio dos teus mensageiros anuncias ao mundo que o banquete já está preparado, digna-te abençoar este pão e dá-lo cada dia como prenda do maná celestial.

Quinta petição
Oremos: Senhor, nosso Deus, que pelo sangue de Jesus Cristo reconciliaste o Céu com a Terra e os homens entre si, digna-te abençoar este pão que nos reúne em teu nome e fazer dele um sinal de perdão e da paz que devem reinar entre nós.

Sexta petição
Oremos: Omnipotente e misericordioso Senhor, que por meio do teu Filho livraste o teu povo da escravidão para fazê-lo saborear o pão da liberdade, o sal da sabedoria e o vinho novo, digna-te abençoar este pão e não permitas que sucumbamos às tentações do deserto.

Sétima petição
Oremos: Senhor, nosso Pai, que pela morte do teu Filho destruíste a morte e pela sua ressurreição desta vida à humanidade, digna-te abençoar este pão e livra-nos do mal.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Olhar o Pai Nosso

O Pai Nosso de cada dia (13)

Segundo S. Clemente de Alexandria, a criação do mundo nos seis dias resulta dos seis olhares de Deus, das seis maneiras eficazes de olhar: para a frente, para trás, para cima, para baixo, para a direita e para a esquerda.
Também no Pai-nosso somos convidados a olhar nas mesmas condições, como agentes de uma nova criação.

Os Céus estão onde está Deus.
Olhemos para o ALTO e digamos:
Pai Nosso que estais nos Céus,
santificado seja o vosso nome.


Construir o Reino é olhar para o que vem,
Para o já e ainda não.
Olhemos para a FRENTE e digamos:
Venha a nós o vosso Reino.

Abandonar-se nas mãos de Deus
É ver as coisas como Deus as vê.
Fechemos os olhos e digamos:
Seja feita a vossa vontade
assim na terra como no Céu.


O pão de cada dia supõe a oração de cada dia;
Supõe viver sempre o tempo presente, o eterno hoje.
Olhemos para BAIXO e digamos:
O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Pecar é voltar as costas ao amor de Deus.
Adão foi aquele que não quis ser homem.
Olhemos para TRÁS e digamos:
Perdoai as nossas ofensas
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido.


A mão direita á a mão da acção.
Olhemos para a DIIREITA e digamos:
Não nos deixeis cair em tentação.

A mão esquerda é a mão do sentimento.
Olhemos para a ESQUERDA e digamos:
Mas livrai-nos do mal.



Tesouros da Terra

6ª Feira - XI Semana Comum

Do Evangelho de Hoje
“Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar.
Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam…”



A reflexão é da autoria do saudoso madeirense Pe. Alfredo Vieira:
O Dinheiro é um bem deste mundo.
Antes de ser dinheiro era terra e da melhor qualidade.
Terra da melhor qualidade chama-se adubo.
O dinheiro (ou as riquezas) e o adubo têm no mundo uma função semelhante:
um monte de adubo não serve para nada, mas quanto mais espalhado mais fecunda a terra. Assim também o dinheiro ou quqlquer riqueza, quanto mais disperso mais útil e fecundo se torna para a sociedade.
O dinheiro não é um fim mas um meio, tal como o adubo.


Já que estamos ANO EUROPEU de Luta contra a Pobreza e a Exclusão Social - 2010

Oração pela Europa

Senhor, tornámo-nos pobres na Europa.

Julgávamo-nos ricos,
mas descobrimos sempre mais a nossa pobreza.

Somos pobres,
porque já não temos sede de Deus.

Somos pobres,
porque já não temos fome de justiça.

Somos pobres,
porque não vemos o nosso coração ferido.

Somos pobres,
porque estamos tão saciados.

Senhor, tornais-Vos pobre, livremente,
servo, obediente até à morte.

Deixais ferir o Vosso coração,
e ferido, torna-se fonte da salvação.

Senhor, com o Padre Dehon Vos suplicamos:
nas Vossas chagas, escondei-nos;
com o Vosso sangue, inebriai-nos.

Abençoai-nos com o Vosso Espírito
e uni-nos com o Pai.

Quem é quem


Ano C - XII Domingo Comum

Há dois mil anos, Jesus parece ter usado as sondagens de opinião. Ele não se mostra preocupado com o que se chama popularidade, como acontece com as gentes importantes da sociedade, artistas ou políticos. Está preocupado com o êxito ou o fracasso da sua missão: será que os homens entendem mesmo o que Ele veio fazer? Terão eles descoberto a sua verdadeira identidade?
E vós quem dizeis que eu sou? Esta pergunta de Jesus ainda hoje se põe. É preciso responder de uma maneira pessoal, sem socorrer-se a manuais, dicionários ou frases-feitas, mas ocas de vivência comprometida. Todas as respostas possíveis podem ser equacionadas em dois níveis: a resposta dos que crêem em Jesus filho de Deus como alguém do passado; ou a resposta dos que crêem em Jesus filho de Deus como homem do presente.
Eis a minha resposta:
- Confesso, ó Jesus, que no meu íntimo eu preferia que fosses um profeta do passado. Preferia que tivesses desertado da terra e fugido para o céu; tudo seria mais fácil. Creio, porém, que estás entre nós distribuindo no tempo o teu mistério infinito. É por isso que quero ser teu discípulo. Quero estar contigo, trabalhar contigo e com todos os homens de boa vontade. Quero que sejas alguém sempre presente, um amigo de todas as horas, o caminho que nos conduz mais além.
Para terminar, quero inverter os papéis neste diálogo evangélico:
- Responde-nos, ó Cristo, que dizem de nós cristãos os outros homens?
Ele poderá responder:
- Uns dizem que sois uns beatos, outros que sois alienados e outros que sois gente apenas de boas intenções.
- E tu, ó Cristo, que dizes de nós cristãos?
Ele poderá responder:
- Vós sois os meus escolhidos, os meus colaboradores e a minha imagem na terra. Eu não preciso de cépticos, mas de artistas. O que importa em plena crise da poesia não é denunciar os maus poetas ou afastá-los, mas sim escrever belos versos, reabrir as fontes sagradas. Eu, Jesus, conto convosco, como meus discípulos para continuar vivo como força no coração da humanidade.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Mandamentos do Pai Nosso


O Pai Nosso de cada dia (12)

Rezar o Pai-nosso é comprometer-se diante de Deus e dos irmãos a respeitar e amar os Seus Mandamentos.
Deus não impõe; Ele apenas propõe.
O Pai-nosso mostra que não somos obrigados a observar os Mandamentos da Lei de Deus, mas que, por nossa vontade, nos comprometemos a tal.

I – Adorar a Deus e amá-l’O sobre todas as coisas:
Pai Nosso que estais nos Céus.

II – Não invocar o santo nome de Deus em vão:
Santificado seja o vosso nome.

III – Santificar os Domingos e festas de guarda:
Venha a nós o vosso reino.

IV – Honrar pai e mãe e os outros legítimos superiores.
V – Não matar, nem causar dano…
Seja feita a vossa vontade
assim na terra como no céu.

VII – Não furtar…
O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

VIII – Não levantar falsos testemunhos:
Perdoai as nossas ofensas
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido.

VI – Guardar castidade nas palavras e nas obras.
IX – Guardar castidade nos pensamentos e nos desejos:
E não nos deixeis cair em tentação.

X – Não cobiçar as coisas alheias:
Mas livrai-nos do mal.

(Cf. José F. Oliveira, O incómodo e magnífico Jesus de Nazaré, Ed Paulistas, Lisboa 1986).

Carro e condutor

4ª Feira - XI Semana Comum

Da 1ª Leitura:
Eliseu chamou por Elias: Meu pai, carro e condutor de Israel...
Qualquer vocacionado, mensageiro, ministro de Deus ou enviado é ao mesmo tempo CARRO E CONDUTOR- não basta guiar, orientar ou conduzir; é preciso carregar, levar, deslocar, transportar. E não saberemos onde começa o condutor e onde termina o carro.


Do Evangelho de hoje:
Quando fizeres o bem não esperes aplausos ou elogios...
Faz o bem por si mesmo, sê simples e humilde, sempre igual a ti mesmo. Não és maior ou mais importante se te elogiam, mas também não serás mais pequeno se te desprezarem. Sê tu mesmo.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Lição sobre o Pai Nosso


O Pai Nosso de cada dia (11)


Porque chamais à oração do Pai-nosso a oração do Senhor?
- Porque é a oração que o Senhor nos ensinou.

Explicai todas as suas cláusulas, principiando pela invocação. Dizei porque invocamos a Deus com o título de Pai?
- Porque Jesus Cristo quer que oremos a Deus com confiança e com amor e, por isso, não é tão próprio o título de Deus ou de Senhor, como o é a invocação de Pai.

E porque dizemos a Deus Pai nosso e não Pai meu?
- Porque quer Jesus Cristo que oremos como irmãos e como membros da Igreja, pertencentes à mesma família do Pai celeste.

Porque acrescentamos ao título de Pai o estar nos Céus?
- Porque convém exercitar a nossa Fé crendo que esse Deus, que desde os Céus tudo governam esse mesmo é o nosso Pai que nos há-de ouvir.

Que quer dizer santificado seja o vosso nome?
- Quer dizer que o primeiro cuidado que deve ter um cristão é dar glória a seu Deus.
E que devemos nós fazer para concordar com essa petição?
- Santificar, da nossa parte, o nome de Deus, obedecendo ao que Ele nos manda.

Que significa a segunda petição venha a nós o vosso Reino?
- Significa que o cristão não deve cuidar depois da glória de Deus senão em trabalhar para a sua salvação.
E que devemos nós fazer para concordarem as nossas obras com essas palavras?
- Cuidar em conservar a nossa alma na graça de Deus, que e o seu Reino neste mundo, a qual nos dá o direito ao seu Reino no outro.

Que pedimos ao rezar seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu?
- Que, assim como no Céu ninguém resiste à vontade do Senhor, também na Terra ninguém lhe resista.
Que afectos supõe no coração do cristão estas palavras?
- Supõe uma inteira confiança na Providência do Senhor e amor à sua divina vontade.

Ao dizer o pão nosso de cada dia nos dai hoje, que pedimos?
- Pedimos o sustento corporal e também o espiritual.
Porque dizemos o pão de cada dia?
- Porque devemos descansar na Providência ara o futuro.
Com que espírito devemos fazer essa petição?
- Com humildade e confiança.

Que pedimos nós ao rezar perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido?
- Que nos perdoe do mesmo modo que nos perdoamos mutuamente.
E, se quem nos agravou o fez publicamente, devemos também perdoar-lhes?
- De igual modo devemos perdoar-lhe publicamente.
Não basta não desejar-lhe mal?
- Não basta. È preciso desejar-lhe bem e amá-lo.

Na sexta petição não nos deixeis cair em tentação, que pedimos nós?
- Que nos acuda quando formos tentados.
Não seria melhor pedir-lhe que não nos deixe vir as tentações?
- Não, porque as tentações, se não consentimos nelas, são úteis.
Porquê?
- Porque nos fazem ser humildes, recorrer a Deus e trabalhar pela nossa salvação.
Visto isso, podemos nós meter-nos nas tentações com intento de lhes resistir?
- De modo nenhum, que isso seria tentar a Deus.
E, se formos vencidos pela tentação, que havemos de fazer?
- Ir-nos confessar sem demora, para que o pecado não faça chaga profunda na alma.

Que significa pedir a Deus que nos livre do mal?
- Que nos livre dos males espirituais e temporais.
Quais são os males espirituais?
- São os pecados e são paixões que nos impelem para o mal?
- São três: o amor sensual, o interesse material e o ódio rival.

Porque reatamos as sete petições com a palavra Ámen, que quer dizer Assim seja?
- Porque mostramos a Deus o desejo de que nos despache naquelas petições.
Quem foi o autor desta oração?
- Nosso Senhor Jesus Cristo a compôs e no-la ensinou.

(Cf. Cathecismo da Doutrina Cristã, Lisboa 1792, página 229-239).

Perfeito como o Pai Celeste

3ª Feira - XI Semana Comum


Mt - Sede Perfeitos como é Perfeito é o vosso Pai Celeste...
LC - Sede Misericordioso como o Vosso Pai Celeste é Misericordioso...
Lev - Sede Santos porque Eu Sou Santo, diz Javé...

Em que ficamos?
Deus é preciso ser Perfeito, Misericordioso ou Santo?
Quem é Santo será perfeito e Misericordioso;
Quem for misericordioso será santo e perfeito;
Quem quer ser perfeito terá de ser santo e misericordioso.

Tudo isto para lembrar:
Gn - Deus fez o homem à sua imagem e semelhança...

Portanto Deus santo fez o homem santo;
Deus rico em misericórdia fez o homem misericordioso;
Deus a plenitude da perfeição fez o homem perfeito
porque à Sua imagem e semelhança.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Glória ao Pai Nosso


O Pai Nosso de cada dia (10)

O Pai-nosso não é uma oração trinitária propriamente dita, pois ela é dirigida à primeira Pessoa da divindade una e trina.
A Trindade são três relações que Deus tem dentro de si e com que chega até nós e com que nos ama: como Pai, como Irmão e como Espírito santificador.
A Trindade é como que um único manto que nos envolve, podendo-se distinguir em nós três voltas distintas, mas da mesma peça. Ao rezar o Pai-nosso, podemos também ver essas três tiras de um único tecido.

Glória ao Pai-nosso
que está nos céus.
Santificado seja o seu nome.
Venha a nós o seu Reino.
Faça-se a sua vontade,
assim na Terra como no Céu.

Glória ao Filho Jesus Cristo
que se nos dá
como pão eucarístico de cada dia.

Glória ao Espírito Santo
que nos auxilia no perdão das nossas ofensas,
fazendo-nos perdoar e ser perdoados.
E nos dá a força contra a tentação,
livrando-nos de todo o mal,
agora e sempre.
Ámen.

Sem medida

2ª Feira da XI Semana Comum

Do Evangelho de hoje:
Se alguém quiser litigar contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa.
E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas.
Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado.


Não se pode pôr limites ao amor, à caridade ou à generosidade.
Não há limites, nem medida nem prazo.

Para amar não há prazos porque é preciso amar sempre.
Também para partilhar não há medida, pois a única medida do amor é amar sem medida.

domingo, 13 de junho de 2010

Feliz quem reza assim

O Pai Nosso de cada dia (9)

Felizes os que se sentem teus filhos e te rogam:
Pai nosso que estás nos Céus.

Felizes os que te conhecem
e santificam o teu nome.

Felizes os que constroem o teu Reino
e esperam a tua vinda.

Felizes os que procuram a tua vontade
e se esforçam por torná-la realidade.

Felizes os que merecem cada dia
o pão
que tu lhes dás.

Felizes os que acolhem o teu perdão
e perdoam aos seus irmãos.

Felizes os que resistem à tentação
e lutam contra o mal.

Felizes os que fazem da vida oração
e te rezam: Ámen! Assim seja!

sábado, 12 de junho de 2010

Aproximar-se


Ano C - XI Domingo Comum

Uma voluntária da Acção Social contou-me uma sua experiência:
Um dia, era preciso dar assistência a um grupo de mendigos da cidade. Foram poucas as mãos que se levantaram para oferecer-se mas ela, sem saber o que a esperava, sentiu-se na obrigação de se prontificar para esse serviço.
Quando chegou ao abrigo sentiu logo um mau cheiro, tão forte e insuportável mas, por vergonha não usou a máscara que levava no estojo. De repente aproximou-se de um rapaz que estava mais afastado do grupo. E o mau cheiro fez-se sentir ainda mais. Sem respirar, começou a lavar-lhe os seus pés e foi então que, aflita, ergueu os olhos e viu um sorriso resplandecente. Foi como se tivesse uma visão da cena evangélica da mulher pecadora a lavar os pés de Jesus com o seu cabelo. De facto, ao ver aquele sorriso, começou a chorar e a lavar com os seus cabelos limpos aqueles pés mal tratados. E o extraordinário aconteceu: sentiu então um delicioso odor que não sabia como explicar. Foi tanta a emoção que não parava de chorar. Por fim, não resistiu em dar um beijo naqueles pés, lavados pelas suas lágrimas e perfumados pela lembrança de Deus. E nunca se sentiu tão feliz como nesse dia.
Assim é a nossa vida. Deus encontra-se sempre perto de nós mas nem sempre nos aproximamos dele. Tanta gente à volta de Jesus na casa do fariseu mas só a pecadora se aproximou.






quarta-feira, 9 de junho de 2010

A devoção ao Coração de Jesus (2)

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O Coração de Jesus é o dom para o nosso tempo.
Consideremos, meus irmãos, a acção do Pontífice divino na Igreja. É múltipla, variada, sempre fecunda, inesgotável. Dizer tudo o que tem feito desde há dezoito séculos para manter o fogo sagrado do amor divino sobre a terra, não teria limite. A sua intervenção é quotidiana. Ele não dorme, vela, age. Tem auxiliares: a sua santa Mãe, os anjos, os santos do céu e os da terra. Mas nesta múltipla acção, há uma harmonia oculta, uma ordem divina, uma unidade misteriosa na variedade, um desígnio sobrenatural. O Pontífice divino atribui a cada período da vida da Igreja uma graça dominante que se manifesta por uma devoção principal, e acontece que distribui assim, conforme Lhe apraz, através dos séculos, as diversas graças que nos mereceu e preparou. Procuremos, meus irmãos, compreender esta sublime acção de CRISTO. Interroguemos as grandes tradições da piedade na Igreja. Qual foi primeiro o atractivo vencedor das almas durante o primeiro período, que vai do tempo apostólico até à paz da Igreja? Sob que aspecto NOSSO SENHOR se apresentava às almas para as conquistar? Que graça especial Lhes aplicou primeiro? Interroguemos a história, os monumentos. Só encontro neste período uma devoção viva, um aspecto saliente da vida mística de NOSSO SENHOR. Se procuro os traços da vida cristã nas catacumbas, e nas mil recordações dos museus cristãos de Roma, fico surpreendido com um facto que se manifesta, fulgurante; a devoção dominante nos primeiros séculos era a devoção ao Bom Pastor. É sob este aspecto que NOSSO SENHOR atrai as almas. A ideia que tocava os corações, era a de DEUS que veio à terra para procurar as suas ovelhas perdidas, e para fazer de dois povos, judeu e pagão, um só rebanho sob a condução do Pastor divino. Este símbolo era para os fiéis daquele tempo o memorial da Encarnação. Foi sob esta graciosa figura que os apóstolos apresentaram o Salvador: “mas agora voltastes ao pastor e guarda das vossas almas.” Foi assim que o próprio CRISTO Se lhes apresentou: “Eu tenho ainda, tinha dito aos seus discípulos, ovelhas que não são deste rebanho; é preciso que entrem no redil.” O facto é geral, é incontestável.

A figura do Bom Pastor é o tema favorito da arte e do simbolismo cristão dos primeiros séculos.
Aparece em lugar de honra sobre as muralhas e sobre as abóbadas das capelas cristãs das catacumbas. Não se pode visitar nenhuma parte das catacumbas, nem folhear nenhuma colecção de desenhos desde os monumentos cristãos primitivos, sem a encontrar a cada passo. Sabemos por Tertuliano que ela estava frequentemente gravada nos cálices. Encontramo-la pintada a fresco nas câmaras sepulcrais, rusticamente desenhada sobre os ‘loculi’, mais artisticamente esculpida nos lados dos sarcófagos.
Era representada em ouro no fundo dos copos de vidro, modelada sobre a argila das lamparinas, gravada nos anéis, cinzelada nas medalhas, representada, em suma, em toda a espécie de monumento pertencente à primeira época cristã.
As medalhas de devoção dos primeiros cristãos não apresentavam senão a figura do Bom Pastor, e numa dezena de monumentos que nos restam da estatuária cristã dos quatro primeiros séculos, oito representam o mesmo símbolo. Não há margem para dúvidas: Era a devoção, era a graça dos primeiros séculos. Esta imagem apresentava vários aspectos. Frequentemente o Bom Pastor é representado sozinho no meio das suas ovelhas; outras vezes está rodeado pelos seus apóstolos, junto dos quais as ovelhas se concentram. Tanto se apresenta no meio do seu rebanho, como acaricia uma ovelha isolada; mais frequentemente leva aos ombros a ovelha reencontrada, que figura principalmente os pagãos. Possui diversos atributos: o bastão, o vaso de leite; as suas ovelhas tomam atitudes diferentes: olham para ele, escutam o pastor, recebem o seu ensino e as suas graças simbolizadas por uma chuva fecundante, no meio de riachos abundantes. Que peregrino de Roma pode recordar sem uma piedosa emoção as suaves pinturas do cemitério de Calisto e da Cripta de Lucina?
O significado deste símbolo não oferece dúvidas. O Filho de Deus, ao fazer-Se homem e chefe da Igreja, assumiu pessoalmente o papel de pastor das almas, no qual será assistido pelos seus apóstolos.
Deixando o seu trono celeste, desceu aos desertos deste mundo, para aí procurar os filhos perdidos do género humano. É a devoção da gratidão para com Deus encarnado.
Jesus manifestava-se sob este símbolo tão doce e tão animador aos primeiros cristãos, que tinham tanto que sofrer perseguições, e a força misteriosa desta doce imagem arrebatava o coração dos cristãos e despertava o seu amor e a sua devoção, que não tinha outro limite a não ser a morte.

Mas, depois da paz da Igreja, a corrente da graça muda de improviso.
Jesus hasteia outro símbolo. Já não é a doce imagem do Pastor, é a cruz. A sua intenção é evidente; ergue este estandarte real no oriente e no ocidente, faz brilhar o Labarum na margem do Tibre, e faz surgir da terra, em Jerusalém, o madeiro miraculoso da cruz. Está criada a corrente, a arte revelou-a. A cruz quase não apareceu nas catacumbas; já não se verá senão ela desde o pavimento dos santuários, cujo plano assinala, até aos mosaicos das ábsides; sobre todos os altares, nas alfaias sagradas, na coroa dos reis, nas portas das cidades, nas encruzilhadas dos caminhos, nas moedas, nas bandeiras. Estará em toda a parte, até ao dia em que o mundo cristão inteiro, reis e povos, padres e guerreiros, ela os marcará a todos com o sinal sagrado, lhes dará o seu nome fazendo cruzadas, e os conduzirá até à conquista do rochedo onde foi erguida.
A cruz precisava deste período. Sem as grandes lições da cruz a sociedade cristã de Roma tinha-se debilitado na paz. Os povos bárbaros não teriam sido atraídos com tanta força pela lembrança da Incarnação, se o drama do Calvário não tivesse sido colocado sob o seu olhar.
Mas assim que a devoção da cruz atingiu o seu apogeu, São Luís fez da Santa Capela o relicário da verdadeira Cruz, e distribuiu fragmentos que algumas igrejas privilegiadas receberam, como acontece com esta basílica, até que outra devoção surgisse para reinar como lição durante vários séculos.
A devoção à cruz manter-se-á, como a devoção ao Bom Pastor se manteve, mas uma outra lhes passará à frente e apaixonará mais fortemente os corações, a devoção à Eucaristia.
Ou antes, sempre existiram as três em algum grau, mas alternaram, segundo a economia divina, um poder sedutor sobre os corações.
Jesus falou a uma humilde Virgem, santa Juliana. E o papa Urbano IV responde ao desejo divino. Institui a festa do Santíssimo Sacramento. Jesus queria acrescentar este novo alimento ao fogo do amor dos corações cristãos. “Não vim à terra, dizia-lhes Ele, apenas como um pastor para o meio do seu rebanho; não somente dei a minha vida por aqueles que Eu amava, mais ainda quis morar convosco para ser a vossa vítima quotidiana, o vosso companheiro e o vosso pão da vida.”
Os povos responderam dignamente a esta nova manifestação de amor do Pontífice divino; oferecem à hóstia divina todas as obras-primas da arte, e em particular estes templos que não parecem ser da terra, tão belos eles são, essas esplêndidas igrejas dos séculos doze, treze e catorze.
Poderá haver palácios demasiado magníficos para o DEUS do amor que habita entre nós? Havia necessidade desses tempos, ricos, amantes, artísticos, místicos.
Esta devoção exerceu influência em toda a vida da Igreja. Muito mais do que somos capazes de explicar. Conquistou todos os corações; inclinou toda a criação perante o Deus de amor triunfante. Saiu dos seus templos, como para percorrer a terra apaixonada por Ele. Conquistou tudo. Que triunfo! Os seus pontífices e os seus sacerdotes avançam cobertos de ouro e de seda. Pisam tapetes e flores. As cidades ornam-se com todas as suas riquezas em sua honra. Os estandartes, as imagens dos santos precedem-na. Já não há senão tronos, altares e arcos de triunfo. Tudo o que a terra tem de belo está lá: a arte, as flores, os perfumes, a harmonia, as crianças, as virgens, os sacerdotes, o povo e os grandes, os magistrados, os guerreiros e os reis.
Haverá ainda lugar para outra devoção que possa aspirar mais alto?
Sim, há uma que resumirá todas as outras, e recordará ao mesmo tempo todo o amor do Verbo incarnado, do Redentor e da Eucaristia.

Jesus revelou-a também a uma virgem de clausura. Trata-se da devoção ao seu Coração adorável.
Ele disse-lhe: “É o último esforço do seu amor pelos homens”. O seu objectivo é recordar-nos sem cessar o seu imenso amor a fim de provocar o nosso.
Este amor divino é o próprio objecto desta devoção com o coração de carne que é a sua sede. O símbolo ou a imagem do Coração de Jesus é o meio adequado para nos recordar este amor infinito, que se manifestou sobretudo nos grandes mistérios da Encarnação, da Redenção e da Eucaristia.
A prática desta salutar devoção resume tudo o que há de mais afectuoso e de mais generoso na nossa santa religião; é o amor agradecido e fiel para com NOSSO SENHOR, é a compaixão e a reparação pelas ofensas que Ele recebe, é o zelo pela sua glória, é o abandono sem reservas à sua divina vontade.
Os frutos que NOSSO SENHOR lhe prometeu são maravilhosos: é para os pecadores um oceano de misericórdia; para as almas tíbias uma fonte de fervor; para as almas piedosas progressos rápidos na perfeição; uma bênção para as casas e as famílias onde a imagem sagrada for honrada; a cessação dos flagelos públicos, e, para aqueles que propagarem esta devoção, a promessa de que os seus nomes seriam gravados no divino Coração.
Esta devoção ergue-se como um sol de verão pronto para fecundar a terra e amadurecer os seus frutos.
É assim que NOSSO SENHOR anunciava e que a Bem-aventurada Margarida Maria a dava a conhecer.
Cedo apaixonou as almas generosas, depois tornou-se popular. O movimento cresceu, nada mais podia pará-lo. É como o fermento da parábola.
Cedo o Coração de Jesus estará em toda a parte, Todo o cristão dirá dele o que são Bernardo dizia do nome de Jesus: “Tudo me é insípido se não encontro aí o Coração de Jesus.”
Queremos ver o Coração de Jesus em toda a parte. Os santos têm a sua própria característica determinada pela tradição e pelos traços salientes da sua vida.
Jesus escolheu a sua, o seu Sagrado Coração. Queremos vê-lo assinalado em toda a parte. Todas as almas estão seduzidas pela sua influência vitoriosa.
Jesus disse a Margarida Maria: “O meu Coração reinará, apesar dos seus inimigos.”
Estende cada dia o seu reino; Roma, Viena, Paris, têm a sua igreja votiva do Coração de Jesus. Todas as igrejas da terra vão ser conquistadas por este sinal sagrado. A arte está ao seu serviço. Recebeu os mais belos testemunhos da eloquência. Quer ganhar ainda os povos e seus chefes, e fá-lo-á. Já vimos um dos povos da América, tão humilde diante de Deus como orgulhosa da sua liberdade, consagrar-se a esta devoção sublime. Reina misteriosamente, mais do que parece, no mundo das almas. Todas as obras novas de oração, de reparação e de caridade do nosso tempo, despontaram sob os raios deste sol de amor. As obras antigas são por ele revitalizadas. A oração e a reparação levam de vencida o próprio Deus; a caridade, é a vitória sobre as almas.
O Coração de Jesus conduz a Igreja a um triunfo maior do que o que coroou os períodos consagrados às outras grandes devoções, no século IV no XV e no XVII.
Espero, e parece-me que a Igreja também tem esta confiança que se manifesta nos esforços constantes que ela faz para responder aos desejos do Coração de Jesus. Não assistimos, nestes últimos anos, à beatificação de Margarida Maria por Pio IX, à extensão a toda a Igreja da festa do Coração de Jesus, à consagração ao Coração de Jesus proposta a todos os fiéis por Pio IX, à devoção de Leão XIII ao Coração de Jesus, e à erecção em Roma de uma igreja votiva?
A Igreja fará ainda mais. Não nos compete prever o que fará, mas tirará as últimas consequências destas palavras tão conhecidas de Pio IX: “A Igreja e a sociedade só têm esperança no Coração de Jesus; Ele é que curará todos os nossos males. Pregai por toda a parte esta devoção, ela deve ser a salvação do mundo.”; e as palavras de Leão XIII: “Nós desejamos com todo o ardor da nossa alma que a devoção ao Coração de Jesus se propague e se expanda sobre toda a terra. Alimentamos a doce e a firme esperança de que não deixarão de emanar grandes benefícios deste divino Coração, e que eles serão o remédio eficaz dos males que afligem o mundo.” (Aos delegados da Liga do Coração de Jesus, Anais de São Paulo).
Estas palavras são presságios de novas acções e de novos estímulos. O Sumo-Pontífice Pio IX, solicitado por milhões de assinaturas, apresentadas pelos bispos no concílio e posteriormente renovadas, propôs em 1875 uma consagração geral que se fez em todas as paróquias do mundo, bem recordais com que entusiasmo. – Aquelas humildes solicitações pediam mais. Pediam a consagração oficial da Igreja ao divino Coração e a elevação da sua festa ao rito mais elevado. Mantenha a esperança de ver esta nova graça. É preciso que este século seja especialmente abençoado por Deus, e se torne o século do Coração de Jesus.
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Deus Pai ou Mãe

O Pai Nosso de cada dia (8)

Deus não é masculino nem é contraposto à mãe (Is 66, 12-13). Na sua natureza, Ele reúne quanto há de bom, ditoso e benéfico no homem e na mulher. Deus configura-se com o ser humano. Se Deus deixa que se Lhe atribua aspectos antropológicos, é para nos fazer crer que está presente em cada ser humano.

Deus, nosso pai ou nossa mãe,
santificado seja a Vossa presença.
Venha a nós o Vosso Amor.
Seja feita a Vossa Vontade
de vivermos numa só família,
aqui na Terra como no Céu.
Dai-nos o nosso pão de cada dia,
o pão que o pai nos dá
e que a mãe para nos reparte.
Perdoai as nossas divergências
e nós seremos mais irmãos.
Não nos deixeis órfãos,
mas livrai-nos do abandono.

O Céu é para todos

4ª Feira - X Semana Comum

Do Evangelho de hoje:
"Se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu."

Tanto quem pratica os mandamentos como quem os viola têm assento no reino dos céus.
Quem violar os preceitos será o menor no reino, mas lá estará.
Obrigado, Senhor, teres escancarado a porta para todos os teus filhos, quer eles sejam bons ou menos bons!
Obrigado, Senhor porque não há pecador sem futuro, nem santo sem passado!

terça-feira, 8 de junho de 2010

A devoção ao Coração de Jesus (1)


8º Discurso “A devoção ao Coração de Jesus”, in “A Educação e o Ensino Segundo o Ideal Cristão”, pp. 379-394 do IV Volume das Obras Sociais do Pe. Leão Dehon, Edizione CEDAS (Centro Dehoniano Apostolato Stampa) – Andria, 1985.
Discurso pronunciado em São Quintino, a 12 de Junho de 1885, V. “A Semana Religiosa da Diocese de Soissons e Laon”, 12º Ano, 1885, p. 377, São Quintino. A primeira Comunhão. A festa do Coração de Jesus. Foi publicado na edição especial: A Devoção ao Coração de Jesus. Dom do nosso tempo e graça especial da França, Paris, Retaux-Bray, 1887, pp. 32.

O fogo arderá sempre sobre o altar
e o sacerdote mantê-lo-á aceso. (Lev 6, 2)

Monsenhor, meus irmãos,

Uma lembrança da antiga lei servir-me-á para fixar a vossa imaginação e fornecer-me-á o tema ou o enredo deste discurso.
Todos os ritos do templo de Jerusalém eram figurativos e simbólicos. Um dos mais significativos destes ritos, era aquele fogo sagrado pedido por DEUS a Moisés, aceso e mantido pelos sacerdotes e a arder perpetuamente sobre o altar.
Aquele fogo material não interessava a DEUS mais do que o sangue das vítimas; o que Lhe importava, era o culto perpétuo de amor que representava aquele fogo e que devia elevar-se da terra ao céu, já sob a antiga lei, mas melhor ainda sob a lei do Evangelho.
O significado do símbolo aqui não oferece dúvidas, os intérpretes sagrados são unânimes.
Todo o culto prestado a DEUS pela terra tem o seu vértice em Jesus, que é o pontífice por excelência, e ao mesmo tempo o altar principal e a vítima perfeita.
O fogo sagrado do templo representava principalmente o culto de amor prestado por Jesus a seu Pai, o fogo do Coração de Jesus, mas representava também o amor e a imolação dos nossos corações, o culto de amor da nova Lei, na qual DEUS quer ser adorado em espírito e verdade. Este fogo espiritual de amor e de imolação que deve arder sem interrupções sobre o altar dos nossos corações, deve ser mantido pelo sacerdócio da nova Lei, mas este sacerdócio tem por chefe o próprio Jesus.
Quem poderá dizer o zelo do Pontífice supremo para manter este fogo sagrado que brilha no seu próprio Coração?
Ele encontrou quase extinto à superfície da terra esse fogo da caridade que o seu Pai tinha acendido por meio do benefício da criação e de todas as intervenções divinas da antiga Lei. Esse fogo, como o do templo na época da escravidão, tinha-se transformado numa água barrosa pela corrupção dos nossos corações. Ele voltou a reacendê-lo por meio do dom de Si mesmo, pelas graças inefáveis da Encarnação, da Redenção e da Eucaristia.
Deixou aos continuadores do seu sacerdócio, aos pontífices e aos padres da sua santa Igreja, os meios ordinários para manter este fogo, a graça, os sacramentos, a palavra divina.
Quando é necessário, Ele intervém por algum meio extraordinário, especialmente suscitando, quer pela acção do Espírito Santo, quer por circunstâncias providenciais, ou por uma manifestação miraculosa, ou alguma devoção poderosa que mova, ganhe e arraste os corações.
Foi o que fez nestes últimos séculos por meio da devoção do Coração de Jesus, e não tenho outro objectivo, meus irmãos, senão recordar-vos neste discurso como a devoção do Coração de Jesus é o dom do nosso tempo, dom precioso, ao qual não podemos ficar indiferentes. Lembrar-vos-ei, em segundo lugar, como é mais particularmente o dom para a França. Enfim esforçar-me-ei por mostrar que esta devoção preciosa não é somente uma necessidade especial, mas é também um dom muito particular para esta bela diocese de Soissons e Laon, e para esta cidade de São Quintino, dom que nos impõe deveres ao mesmo tempo que nos oferece esperanças.
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Descobrindo o Pai

O Pai Nosso de cada dia (7)

Pai-nosso que estás nos Céus:
Antes de descobrir o Pai em Deus,
faz-me ver Deus no Pai.

Santificado seja o teu nome:
Que eu te conheça a ti
como tu me conheces a mim.

Venha a nós o teu Reino:
Venha a nós Cristo,
porque Cristo é o Reino.

Seja feita a tua vontade
assim na Terra como no Céu:

A obediência não é só submissão,
mas também iniciativa.

O pão de cada dia dá-nos hoje:
O espírito de pobreza
a viver com alegria o dia de hoje.

Perdoa as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido:
Se não houvesse Inferno nem pecado,
o Céu seria um campo de concentração.

E não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal:

Livra-nos do pecado que é a causa dos males
e livra-nos dos males que são o efeito do pecado.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Como Cristo rezava

O Pai Nosso de cada dia (6)

Senhor, ensina-nos a rezar,
como tu rezavas a nosso Pai que está nos Céus.

Ensina-nos a rezar,
santificando o Seu nome!

Ensina-nos a rezar,
preparando a vinda do Seu reino de amor e de paz.

Ensina-nos a rezar,
fazendo a Sua vontade, hoje e sempre.

Ensina-nos a rezar,
acolhendo e partilhando o pão de cada dia.

Ensina-nos a rezar,
resistindo a qualquer tipo de tentação.

Ensina-nos a rezar
e livra-nos do mal
de deixarmos de dizer Pai-nosso.

domingo, 6 de junho de 2010

Como Cristo o pronunciou

O Pai Nosso de cada dia (5)

Mesmo não tendo familiaridade alguma com os idiomas semitas, podemos reconhecer, nesta tentativa de retradução, os traços característicos da linguagem solene do Pai-nosso, como Cristo o teria pronunciado:

‘Abbá’
yitqaddash shemák / teté malkuták
lahmán delimhár / hab lán yoma dén
usheboq lán hobain / kedishebáqnan
lehajjabáin
wela ta elínnan lenisyón.

Pai querido,
que teu nome seja santificado.
Que venha o teu Reino.
Dá-nos hoje o nosso pão de amanhã.
E perdoa-nos as nossas dívidas
como nós também, ao dizermos estas palavras,
estamos perdoando aos nossos devedores.
E não nos deixes sucumbir à tentação.

(este texto será provavelmente o mais antigo: redacção curta, como em Lucas, mas a formulação das pequenas variantes é de acordo com Mateus. Cf. J. Jeremias, O Pai-nosso a oração do Senhor, Ed. Paulinas, S. Paulo 1981, página 29-33).

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Canto de Libertação


O Pai Nosso de cada dia (4)

Deus não é mais o símbolo do poder do homem, mas a expressão da sua força libertadora. É aquele que crê no homem, ao ouvi-lo. Aquele que lhe manifesta amor na solidariedade. É justamente esta relação com Deus que leva o homem a rezar:

Pai nosso:
Amigo para amigo,
assim é o nosso Deus.

Que estais nos Céus:
Na grandeza e na compaixão
da sua presença.

Santificado seja o Vosso nome:
Bendito seja aquele que nos abençoa:
Javé, Vós sois o meu Deus.
Para sempre vos louvarei.

Venha a nós o Vosso reino:
Ansiamos pela realização da Vossa promessa,
por uma sociedade de amor e de justiça.

Seja feira a Vossa vontade
assim na Terra como no Céu:
Seja visível entre nós
a Vossa libertadora proximidade de vida.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje:
Na esperança de recebermos hoje
de vossos amigos o que comer.

Perdoai as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido:

O Vosso perdão
é a fonte da nossa reconciliação mútua.

E não nos deixeis cair em tentação:
fazei de todos nós cristãos integrais.

Mas livrai-nos do mal:
Libertai-nos do poder e da violência
incluindo a do nosso próprio coração.

Pois Vosso é o reino, o poder e a glória.
Ámen.
Pois Vós mesmo sois a minha força
E o meu libertador em quem confio.

(Cf. AA. VV., Deus Pai, in Concilium, 163 (1981) página 107, 463)

Ouvir com prazer

6ª Feira da IX Semana Comum

Do Evangelho de hoje:
"E toda a gente ouvia Jesus com prazer."

Não basta ouvir o que Jesus diz, é preciso ouvir com gosto e com alegria.
Não basta rezar, é preciso fazê-lo com alegria, com gosto ou com prazer.


Da 1ª Leitura:
"Que perseguições tive de suportar!... Todos os que quiserem viver a fé em Cristo Jesus serão perseguidos..."
E terão de lutar muito.

Os que lutam apenas um dia, são simplesmente normais...
Os que lutam um mês inteiro, são razoáveis...
Os que lutam durante um ano, são bons.
Os homens que lutam ao longo de vários anos, são muito bons, são especiais.
Os homens que lutam toda a vida, são os melhores, são os santos, são os perfeitos.

É que toda a nossa vida deve ser uma luta.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Assim como nós perdoamos

O Pai Nosso de cada dia (3)

Pai-nosso dos céus,
te chamam os homens,
todos os que nos sentimos
irmãos de Teu Filho
que está no céu e em toda a parte,
mas sobretudo no nosso íntimo.

Tu és santo,
e queres que também nós o sejamos,
para que nos possamos chamar teus filhos.

Que chegue depressa o teu reino,
um reino de paz e de justiça, verdade e vida
amor e liberdade,
onde todos nos amemos e sejamos iguais.

Faça-se a tua vontade
assim na terra como no céu,

tu és o mais forte, mas fizeste-nos livres.
Queremos cumprir livremente a tua palavra.
Que a tua verdade seja uma força em nós.

Dá-nos o pão de cada dia
dá-nos sobretudo o amor,
para sabermos partilhar o que temos.
Dá-nos o Pão do teu Filho,
para que nos mantenhamos unidos.

Perdoa-nos, assim como nós perdoamos,
embora por vezes nos custe esquecer,
embora às vezes não consigamos
resistir à vingança,
perdoa-nos, para que aprendamos a perdoar.

E não nos deixes cair na tentação
sobretudo não permitas que nos cansemos
de nos levantar depôs das quedas.

Mas livra-nos do mal.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

A Oração feita oração

O Pai Nosso de cada dia (2)

Grande é a autoridade do Pai-nosso, pois vem de Jesus Cristo. Nele pedimos o que precisamos para este mundo e para o outro, quer dizer a bem-aventurança presente e a futura. Breve é esta oração, por sete razões. Primeiro, aprende-se mais depressa, retém-se melhor na memória e ninguém poderá desculpar-se por a não saber. Além disso, por ser curta podemos rezá-la mais vezes, homem nenhum se enfadará ao rezá-la e, como é breve, mais depressa pede aquilo que ele deseja e procura. Enfim, quis o Senhor mostrar-nos, na pequenez desta prece, que não está a virtude da oração em multiplicar as palavras, mas, sim, em rezá-la com devota vontade.
Nela, chamamos Pai a Deus. E porquê? Porque o é pela natureza, pela graça e pela glória que nos dá. Diz Santo Agostinho que, no Testamento Velho, não se chama Pai a Deus. Fixemos bem: Pai! Lembrem-se disto os ricos e os de nobre linhagem, quanto ao mundo, para não se ensoberbecerem contra os ‘pobres homens e de pequena geração’, pois todos dizemos pai-nosso. Por consequência, somos todos irmãos. Não nos ensinou Cristo a dizer meu mas, sim, pai-nosso, a fim de rezar-lhe ‘por todo o corpo’ sem excepção. E não procures só o teu proveito, mas o de todos. Desta forma, expulsa Deus a desigualdade ‘das coisas’, pois em serem filhos de Deus consiste a honra do rei e do ‘homem pobre’. Nisto consiste a nossa fidalguia e nobreza!
Está o nosso Pai nos Céus. Aborreçamos, pois, esta vida presente, consideremo-nos peregrinos e alongados do nosso Pai.
E que o seu nome seja glorificado, quando olhamos para as estrelas ou contemplamos as virtudes dos outros.
Venha o seu reino para os que o ignoram e que a luz da fé os ilumine. Venha a nós o reino da graça, contra o mundo, o diabo e a carne. E venha também a nós o reino da glória. Não nos apeguemos demais às coisas presentes, nem julguemos que são grandes. As do outro mundo, sim.
Seja feita a sua vontade, mesmo dura, e apeguemo-nos à cruz.
E que Deus nos dê o pão de cada dia, quer dizer, o mantimento de que precisamos, todo o necessário para viver. Nada de coisas supérfluas! Pão nosso, diz o Senhor, e não meu, para não pensarmos que são as coisas deste mundo só para nós. Quem nega o pão dos pobres, está a comer o seu pão e o dos outros. Comamos como se por Deus mesmo nos fosse dada a comida e estivesse ele presente. O pão de hoje! E que nos baste este cuidado. Por outro lado, pode entender-se, aqui, o pão ‘sacramental e o vinho’ da eucaristia, pão sobressubstancial, acima de todas as criaturas e destinado à alma. Dele ‘havemos cada dia mester para nos esforçar’. E pão quotidiano, porquê? Porque os sacerdotes recebem este sacramento por si e ‘por toda a comunidade’. Há também o pão da doutrina, o pão das lágrimas e o pão celestial ou da glória eterna.
E perdoemos! Como diz Séneca, deves perdoar sempre aos outros e nunca a ti mesmo.
Quanto à tentação, não a pedimos a Deus mas, sim, que nos livre de cair nela.
Ámen é a palavra que deriva do hebraico, diz ainda a Vita Christi, e não ‘ousou de a interpretar e declarar algum interpretador grego nem latino, por reverência do Salvador’.

(Cf. Ludolfo d Saxónia, Vita Christi, Lisboa, 1495)

terça-feira, 1 de junho de 2010

A Excelência do Pai-nosso

Durante este mês, dedicado ao Coração de Jesus, procurarei partilhar algumas páginas com versões da oração do Pai-nosso. A apresentação seguirá uma ordem alfabética do seu título.

Foi num retiro de jovens da Madeira, que partilhei pela primeira vez uma colectânea de Pai-nossos.
As Edições Paulinas publicaram em 1990, com o título O PAI NOSSO DE CADA DIA, integrada na Colecção Celebrar essas variadas glosas ao Pai-nosso. Algumas delas foram adaptadas ou livremente inspiradas em diversos autores. A ordem dos textos foi ditada alfabeticamente pelos títulos.
Ao longo dos séculos os cristãos têm descoberto no Pai-nosso, tudo o que sonharam rezar a Deus e nunca se cansaram de aprofundá-lo cada vez mais, qual tesouro inesgotável. Esta foi a primeira oração que aprendemos e aquela que mais vezes é recitada, pessoal e comunitariamente. Podemos, no entanto, rezá-la sempre com toda a novidade. Só aquele que permite que a sua vida fique condicionada pelas palavras de Jesus poderá compreender a sua oração.
O Pai-nosso é um guia de oração. Não só quer dar directivas quanto ao conteúdo, mas também uma introdução formal e uma ajuda. Salvaguardando as leis da sua forma e do seu conteúdo, pode variar e ser construído desta ou daquela maneira. Então toda a oração deve brotar do Pai-nosso.


O PAI NOSSO DE CADA DIA (1)

As primeiras quatro palavras, Pai-nosso que estais nos Céus, nos ensinam que, na oração, estão implícitas quatro coisas, a saber, fé, esperança, caridade e humildade.
Vem a caridade significada logo nas primeiras palavras, porque, por natureza, qualquer criatura ama o seu pai carnal, de quem somente recebeu o corpo. Ora, muito mais deves tu amar a Deus Pai que te deu o ser do corpo e da alma, te remiu estando tu perdido, te suporta quando pecas e te perdoa quando a ele tornas, prometendo-te a glória e dando-te, neste mundo, todas as coisas necessárias. Por isso o tens de amar acima de todas as coisas. Mostra-nos Deus esperança, por aquela parte que diz: nosso. Se é nosso pai, com razão devemos dele esperar todo o bem, deste mundo e do outro, fazendo nós a sua vontade. Mostra-nos também a firme crença que devemos ter, pois ao dizermos que estais, cremos que Deus existe e tal fé muito lhe apraz, pois sem ela não poderia Deus ser conhecido nem honrado. Mostra ainda a verdadeira humildade que devemos ter, perante ele, através as palavras nos Céus, porque, quando pensamos estar ele nos altos Céus e nós aqui em baixo, na Terra, então nos humilhamos, conhecendo que è Nosso Senhor poderoso e infinito e nós seus servos inúteis, fracos e pequenos.
Obtidas estas quatro coisas (a saber, fé, esperança, caridade e humildade), então podemos confiadamente rogar e dizer com toda a afeição: Santificado seja o vosso nome. Senhor e Pai, que o vosso nome de tal forma seja confirmado em nós, vossos filhos, que façamos a vossa vontade e contra ela nada obremos.
E por não podermos fazer isto perfeitamente neste mundo, dizemos: Venha a nós o vosso reino. Isto é, que estejamos em vós, ó Pai, neste mundo pela graça e, no outro, pela glória.
A não ser que, Senhor, seja do vosso serviço e prazer continuar nesta vida e, por isso, dizemos: Seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu. Quer dizer, rogamos-te, ó Pai, que nos guieis de tal modo que, na Terra, façamos o que mandais e evitemos o que proibis, tudo isto com a perfeição dos anjos e santos no Céu.
Porém, não podendo nós viver sem os bens deste mundo, por isso dizemos: O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Isto é, nós te pedimos, Pai, o pão necessário para cada dia (e não o sobejo). A fim de conseguirmos a vida eterna, pois sem a tua providência nada aproveita o trabalho, dá-nos também hoje o pão espiritual da alma, quer dizer, o teu corpo sagrado e a tua santa doutrina.
E porque, nesta vida, nunca estamos sem pecado, por isso dizemos: Perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores.
Assim perdoados, por sermos fracos e temermos o mal que nos pode vir, exclamamos: E não nos deixeis cair em tentação. Quer dizer, pedimos para dela não sermos vencidos.
Finalmente, vivendo nós cercados, nesta vida, por muitos males, por isso pedimos: Mas livrai-nos do mal. Do mal presente, na medida em que nos pode induzir a pecar, disso nos livrai. Contudo, não pedimos para não padecermos adversidade, com a condição de elas não nos causarem dano.
Ámen.

(Cf. Inéditos de Alcobaça, T. 1, Coimbra, 1829, paginas 215-218, ed. Por Frei Fortunato de S. Boaventura).