quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Mãe de Deus


Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus:

No Evangelho de hoje, quando os pastores se dirigiram apressadamente para Belém, quem encontraram ou quem viram primeiro?

Viram Maria e José, e só depois o Menino deitado na manjedoura.

Não foi apenas porque Ele era pequenino, mas isto aconteceu para nos recordar que nós vamos a Jesus por Maria. Ela é a mãe de Deus, e por isso chegamos por Maria a Jesus. Também chegamos a Jesus através da comunidade ou da família, pois os pastores primeiro viram Maria e José, que lhes apresentaram Jesus.

Desde o Concílio de Éfeso (431) a Igreja invoca Maria como Mãe de Deus. Na nossa oração nós dizemos: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores. Invocar Maria como Mãe de Deus, é lembrar-se de que somos pecadores.

Não nos cansemos de invocá-la assim nas ave-marias do Rosário.

 

Ver também:

Santa Mãe de Deus

Dei Genitrix

 


Do velho ao novo ano


Deus nos dê a sua bênção! Assim pedimos no início deste novo ano.

Lembro-me uma vez, numa bomba de gasolina, quando o condutor ficava dentro do carro e um funcionário atendia com toda a dedicação… No final do serviço, ao fazer o pagamento e ao dar uma gorjeta, eu disse com naturalidade:

- Obrigado e que Deus te abençoe!

O rapaz, um pouco surpreendido, respondeu:

- Eu não tenho religião, não acredito em Deus…

- Então – acrescentei – que Deus te amaldiçoe…

- Ó não! É melhor ficar com a sua bênção. Obrigado!

Ninguém gosta de se amaldiçoado, porque é melhor receber uma bênção.

Abençoar é bendizer, é dizer bem, enquanto amaldiçoar é dizer mal.

Neste primeiro dia do ano queremos todos ser abençoados, queremos que Deus nos bendiga, isto é, que nos diga bem e que nos faça bem. Quando Deus diz, Deus faz.

Já que o fazemos no início do ano, saibamos ser fiéis e voltar no início de cada semana a pedir a mesma bênção.

Se ao domingo eu não venho à missa, se não quero receber a bênção de Deus, como poderei viver abençoado?

Deus abençoa-nos sempre. Nós é que lhe viramos as costas, amaldiçoando-nos.

Que Deus nos dê a sua bênção hoje e sempre, no primeiro dia do ano, no primeiro dia de cada semana, ou no princípio de cada jornada. Ámen!

 

Ver também:

Ano novo

Te Deum

De joelhos

Memorando

Sua bênção

Fazer contas à vida

P– A – O

Aceno de mão

 

quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Servir a Deus na velhice


Oitava de Natal – 30 de dezembro

A viúva Ana começou também a louvar a Deus e a falar acerca do Menino a todos…

 

1º - Assim explicava Santo Ambrósio, século IV:

“Não só dá testemunho do Senhor os Anjos, os profetas e os pastores, mas também os anciãos e justos. Toda a idade e sexo testemunham os prodígios sucedidos. Engendra uma virgem, dá à luz uma estéril, fala um mudo, profetiza Isabel, adoram os Magos, salta de alegria o que ainda estava no seio, louva o Senhor uma viúva e recebe o justo o que esperava. Profetizou Simeão, profetizou também a casada, profetizou, convinha também que profetizasse a viúva, para que não faltasse nenhuma profissão, idade ou sexo.”

 

2º - Assim nos exprimimos nós, ainda hoje:

Ainda hoje as avós costumam falar dos seus netos a toda a gente.

Quando o coração está cheio tem de transbordar, através das palavras da língua, da alegria dos olhos e da felicidade do sorriso nos lábios, como também através da oração da alma, da dança dos pés e do aplauso das mãos.

Quando alguém ama realmente alguém, fala a todos, sempre e em toda a parte daquele a quem ama.

Perante Jesus ninguém pode ficar cego, mudo, surdo, coxo, triste ou indiferente. Tem de explodir.

Foi o que acontecer com a profetisa Ana.

Falava a todos de Deus – testemunhando.

Falava a Deus de todos – rezando.

 

Ver também:

Servindo Deus dia e noite

 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Nos braços de Deus


Oitava do Natal – 29 de dezembro


Simeão com o Deus Menino nos braços

ou Semião nos braços de Deus.

Simeão tomou o Menino nos braços

e bendisse a Deus dizendo:

A partir de agora que Deus me receba também nos seus braços

por toda a eternidade.

 

Simeão recebeu o Menino Deus nos seus braços

para se recordar que era ele, o velho Simeão,

que estava nos braços de Deus.


Com o  seu gesto

Simeão tinha o Deus Menino nos seus braços.

Com as suas palavras 

Simeão punha-se nos braços de Deus Pai.

 

Não era ele quem segurava o Menino Deus,

era Deus quem o segurava para sempre.


Para recordar

Quem segura quem?

Na missa vespertina, depois de distribuir a Sagrada Comunhão, ao subir os degraus do altar, não sei como, tropecei, desequilibrei-me, fiz uns malabarismos, deixei cair umas Hóstias Consagradas, mas sempre me consegui manter de pé segurando bem a píxide. Todas as pessoas ficaram com a respiração suspensa. De facto, eu bem podia ter ficado estatelado no chão, mas ainda bem que tal não aconteceu... Apanhei as Hóstias e fui até ao altar, ainda a tremer.

- Viram isto? Julgava que era eu quem levava Nosso Senhor. mas era Ele quem me levava. Eu pensava que O segurava, mas foi Ele quem me segurou... Afinal, quem leva quem? Na comunhão somos nós que recebemos Cristo ou é Ele quem nos recebe? Nós é que O levamos ou é Ele quem nos carrega e nos segura? Se Ele não me tivesse segurado, eu estaria perdido...

Afinal, não é Simeão que toma nos seus braços o Deus Menino, mas é Simeão que é recebido nos braços de Deus.

 

À margem 

Podemos observar que o pequeno texto fala por 3 vezes do Espírito Santo.

- O Espírito Santo estava com Simeão.

- O espírito Santo revelara-lhe

- Impelido pelo Espírito Santo veio ao Templo.

O Espírito é a força estável, centrípeta e centrífuga – permanece, vem até nós, impele-nos.

Vemos também a presença da Trindade santíssima: O Espírito Santo a inspirar, o Deus Menino nos braços, Deus Pai a ser louvado e glorificado…

 

Ver também:

Espada que trespassa

Olhos da fé

Luz das nações

Espada de dor

 

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Todos os caminhos

 

Natal (74)

 


Todos os caminhos passam por Belém.

Caminhos estreitos ou largos,

caminhos planos ou íngremes

com altos e baixos,

com buracos ou lisos,

caminhos de longe ou de perto,

próximos ou afastados,

com pedras, lama ou poeira,

espinhos ou flores,

em terra batida ou alcatrão,

caminhos tortos ou retos,

assim são os nossos caminhos.

 

Cada um tem o seu caminho

e mais cedo ou mais tarde tem de passar por Belém.

Caminho que parte da nossa cidade,

do nosso castelo ou da nossa casa.

Onde quer que estejamos ou andemos

o nosso caminho tem de passar por Belém.

Caminho que parte da nossa comunidade,

da nossa igreja ou capelinha

tem de passar ou regressar a Belém.

 

Todos os caminhos passam por Belém,

caminhos individuais ou comunitários,

caminhos desertos ou povoados.

caminhos principais ou secundários,

caminhos urbanos, rurais ou de periferia,

veredas, autoestradas, ruas, avenidas, becos ou canadas,

todos estes caminhos passam por Belém.

Caminhos que vêm de todos os lados,

caminhos cruzados à volta da terra,

caminhos de chegada ou de partida,

são sempre caminhos que passam por Belém.

Até mesmo o caminho que vem do Céu passa por Belém.

É o caminho percorrido por anjos e até pelo próprio Deus,

caminho de esperança, de glória e de paz.

O caminho que liga o Céu à terra e a terra ao Céu

passa por Belém.

 

Todos os caminhos passam por Belém,

mas nenhum caminho fica em Belém.

Todos passam por Belém e têm de continuar para além.

Belém não é meta, é caminho.

Todos os caminhos passam por Belém,

porque Belém é caminho.

Tal como o caminho do Deus Menino passou por Belém,

e daí partiu a percorrer os caminhos do mundo,

como refugiado, perseguido, missionário, bom samaritano,

para se encontrar com todo o homem,

assim também o nosso caminho passa por Belém

e continuará nas estradas da vida

para nos levar até onde devemos estar,

ficando perto de quem está longe

sem ficar longe de quem está perto.

Todos os caminhos passam por Belém

mas têm de continuar por onde Cristo nos espera.

 

Todos os caminhos devem passar por Belém

para que possamos seguir o caminho de Jesus.

Todos os caminhos devem passar por Belém

porque Jesus passou por lá.

É por isso que Ele nos convida a segui-lo.

Ele fez do nosso caminho o seu caminho

para que possamos fazer do seu o nosso caminho,

Caminho de paz e comunhão,

de solidariedade e misericórdia,

de comunicação, harmonia e amor.

 

Todos os caminhos passam por Belém

porque Belém é Natal.

Todos os caminhos passam por Belém

porque Belém é Caminho, Verdade e Vida.

Todos os caminhos passam por Belém

Porque Belém é Jesus

e o nosso caminho passa por Jesus

e Jesus passa pelo nosso caminho.

 

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Pôs-se a caminho


Novena de advento – 21 de dezembro

Nem Maria nem a sua prima Isabel sabiam, por outros meios, da gravidez de cada uma.

Maria sabia desde a Anunciação, pois o anjo lhe disse que a sua parenta Isabel tinha concebido na sua velhice…

Isabel soube desde a Visitação, sem Maria lhe ter dito, mas por inspiração do espírito Santo. De facto, cheia do Espírito Santo exclamou: Donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?

 

A explicação vem nas palavras finais de Isabel:

Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto foi dito da parte do Senhor.

Maria acreditou no que ouvira do Anjo e pôs-se a caminho.

 

Quem acredita, põe-se a caminho.

Quem se põe a caminho acredita.

 

Ver também:

O anjo retirou-se

Minisermão

 

Os animais no presépio


Natal (73)


Ouvi, ó céus, e escuta, ó terra, porque é o Senhor quem te fala:

Criei filhos e fi-los crescer, mas eles revoltaram-se contra mim. O boi reconhece o seu dono, e o jumento o estábulo do seu possuidor, mas Israel nada conhece, o meu povo nada compreende. (Is 1,2)

No presépio 

nasce Cristo humilde entre dous animais,

porque vinha a fazer de animais homens.


(Sermão do Padre António Vieira, Século XVII)

 

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

250 anos de Beethoven


Ludwig van Beethoven nasceu a 17 dezembro de 1770 (há 250 anos)

O Hino Europeu, adotado pelo Conselho da Europa em 1972, é um extrato do prelúdio do “Hino à Alegria” da 9ª Sinfonia de Beethoven concluída em 1824. O hino europeu, que não tem letra, utiliza a linguagem universal da música para exaltar os ideais da liberdade, paz, solidariedade e alegria. Este hino não se destina a substituir os hinos nacionais dos países da União Europeia, mas antes a celebrar os valores que estes partilham.

Na 9ª sinfonia a letra do Hino da Alegria é o poema de Friedrich Schiller escrito em 1785 com o título Ode à Alegria:

“Da alegria bebem todos os seres

No seio da natureza.

Todos os bons, todos os maus,

Seguem o seu rasto de rosas.

Dá força para viver os mais humildes

E ao querubim que se ergue perante Deus.”

 

Outras curiosidades de Beethoven:

 

1 – Quando criou a 9ª Sinfonia, entre 1822 e 1824, Beethoven já estava surdo, mas foi ele quem dirigiu a orquestra na sua estreia, a 7 de maio de 1824, quando tinha 53 anos.

 

2 – O suicídio foi um pensamento recorrente em Beethoven. O que o fez resistir a essa tentação foi a arte, conforme o mesmo confessava: “Foi a arte, e apenas ela, que me deteve. Parecia-me impossível deixar o mundo antes de ter dado tudo o que ainda germinava em mim…”

Não conseguiu vencer à doença morrendo, completamente surdo, a 26 de março de 1827.

 

3 – Desde jovem apresentava-se mal, desalinhado e descuidado. E dizia: Quando eu for um génio ninguém reparará na minha falta de cuidado.

 

4 – Aos 17 anos Beethoven encontrou-se com Mozart que tinha 31 anos. Mozart pediu ao jovem que tocasse algo no piano, mas não se fixou muito porque pensou que como qualquer outro candidato, vinha com uma improvisação bem preparada e aprendida de memória. Então Beethoven pediu-lhe que lhe desse algum tema para improvisar ali mesmo. Começou então a sua improvisação e Mozart ficou deveras surpreendido, mas nunca mais voltaram a encontrar-se.

 

5 – Beethoven nunca teve muito dinheiro. Uma vez em que não tinha como pagar o aluguer da casa, fechou-se no quarto, escreveu à pressa um tema com variações e deu a um amigo para que o vendesse e trouxesse o dinheiro para pagar a renda. Em vez de vender o amigo deu ao caseiro que no princípio não queria, mas depois aceitou. No dia seguinte mandou dizer ao compositor que podia pagar cada mês com papéis como aqueles. Para evitar queixas, Beethoven mudava constantemente de casa em Viena, sempre acarretando todos os seus móveis e três pianos. Foi então para Heiligenstat e ali manteve-se por bastante tempo. Estava perto da igreja e foi ali que tomou consciência de que cada vez ouvia menos o repicar dos sinos da torre da igreja. Estava a ficar surdo.

 

6 – O que mais incomodava a Beethoven não era ser surdo, isto é, não ouvir nada do exterior, mas sim o barulho infernal que ouvia dentro da sua cabeça.

 

7 – Sempre teve problemas com as empregadas e não foram apenas por questões culinárias. Quando estava a compor a Missa Solene e tinha terminado já o Kyrie, quis corrigir algumas passagens como sempre costumava fazer, mas não encontrava a partitura em nenhum sítio. Estava desesperado pensando que tinha perdido a música, quando a encontrou, por acaso, na cozinha, envolvendo cuidadosamente metade de um queijo. Ainda faltavam outros papéis. Estavam a forrar as estantes do armário. Conclusão: cozinheira despedida.

 

8 – O pescado que comia vinha do rio que estava contaminado com o chumbo que as fábricas para lá despejavam. Uma análise recente de um cabelo de Beethoven confirmou que ele foi pouco a pouco envenenado pelo chumbo que por fim o matou. Pagou bem caro pelo seu prato preferido. E assim, por causa do chumbo perdemos uma décima sinfonia.

 

9 – Na Madeira nós dizemos ter a fruta preferida de Beethoven. Sabem qual é? É anona, à qual ele até compôs uma sinfonia – Anona sinfonia de Beethoven.

 

10 – Sabem porque é que Deus permitiu que Beethoven ficasse surdo, Homero nascesse cego e Moisés fosse gago? Foi para nos ensinar como vencer obstáculos.

 

Para recordar:

A discussão sobre a despenalização do aborto, ou, por palavras mais disfarçadas, da interrupção voluntária da gravidez reacendeu-se. E por ironia do destino nestas vésperas do Natal, quando todos entoam unânimes loas à vida e ao amor gratuito. A este propósito não consigo esquecer uma aula de moral na faculdade de teologia. O professor, para provocar a discussão académica, propôs-nos a seguinte catividade: “Que conselho darias? Baseado nas circunstâncias abaixo enumeradas, que aconselharias a uma mãe, grávida do quinto filho? O seu marido sofre de sífilis e ela de tuberculose. O Primeiro filho deste casal nasceu cego, o segundo morreu logo ao nascer. O terceiro filho é surdo de nascença e o quarto é tuberculoso. Grávida pela quinta vez, a senhora está a pensar seriamente em abortar. Que solução sugeres? Sim ou não a esta interrupção da gravidez.”

Toda a turma começava a tomar posição e a procurar argumentos. Alguns mostravam-se reservados, dizendo não concordar com o aborto, mas neste caso não havia solução. Outros achavam que era um gesto de caridade privar o bebé de uma vida que se adivinhava deficiente. Havia quem realçava a falta de condições dos pais para pôr uma nova criança no mundo, não podendo assegurar-lhe um futuro digno. Por fim o professor propôs uma votação:

- Quem é a favor do aborto neste caso, que levante o braço.

A maior parte dos presentes pronunciou-se afirmativamente. Então o professor, com um ar grave, concluiu:

- Os que disseram sim à ideia do aborto, saibam que acabaram de matar o grande compositor Ludwig van Beethoven. Disseram adeus a um génio, silenciaram as suas sinfonias, calaram a ode da alegria...

Um silêncio ressentido permaneceu por breves momentos naquela aula.

Grandes projetos, excelentes ideias, obras geniais são às vezes abortados quando as pessoas envolvidas se veem diante de situações difíceis. Tudo leva tempo e exige perseverança, tenacidade, entusiasmo e muita fé.

Que o mistério do Natal seja a nossa resposta à questão do aborto: ninguém se deixe levar pelas circunstâncias. É preciso crer na vida!

(Este texto foi publicado por David Quintal no semanário Areópago, a 20 de dezembro de 2003 no Funchal, na sua coluna semanal intitulada Sem Títulos)

 

Para cantar:


Canção da alegria - Música da 9ª sinfonia de Beethoven

 

Escuta, irmão, esta canção de alegria

o canto alegre de quem espera um novo dia

 

         Vem, canta, sonha cantando,

         vive sonhando um novo sol,

         em que os homens voltarão

         a ser irmãos.

 

Se em teu caminho só existe tristeza

O canto amargo duma solidão completa.

 

Com Cristo cada um de nós terá valor

Para difundir em cada irmão o amor.

 

Tanta alegria, em nossos corações em festa

É chama que ao mundo a verdade manifesta.

 

Serás no mundo mensageiro de amor

Levando aos homens o Evangelho do Senhor.

 

Se tens de Deus a paz, que enche o coração

hás-de levá-la a cada homem, teu irmão.

 

 

A caminho de Belém


Novena de Advento – 17 de dezembro

A caminho de Belém

 

Segundo a tradição foi neste dia 17 de dezembro que José e Maria saíram de Nazaré para viajar até Belém antes do Natal de Jesus.

A viagem durou 9 dias, evocando os 9 meses de gestação, pernoitando sucessivamente em lugares diferentes.

O percurso completo, de norte a sul, foi de 145 quilómetros – 135 de Nazaré a Jerusalém e mais 10 quilómetros de Jerusalém a Belém.

 

1º dia – Preparação e início da viagem – 17 de dezembro

Preparar-se para uma viagem já faz parte da própria viagem. Maria sentiu saudades ao deixar Nazaré. Aí conhecera José, aí conhecera os desígnios de Deus. A partir daí seria conhecida por todas as gerações como Maria de Nazaré, esposa de José, o carpinteiro e pai de Jesus o Nazareno. Mas tinha de partir para cumprir as determinações do imperador para o recenseamento e os desígnios de Deus desde toda a eternidade.

E isto deu-lhes ânimo, a ela e a José, para começarem um longo caminho, porque sabiam que não viajavam sozinhos.

Ó Sabedoria do Altíssimo,

que tudo governais com firmeza e suavidade:

vinde ensinar-nos o caminho da salvação.

 

2º dia – Até ao Monte Tabor – 18 de dezembro

Ao contornar o Monte Tabor, o seio de Maria estremeceu. Não foi pelo facto de estar apenas a adaptar-se à longa estrada, mas por contemplar o cimo do monte. Lá o seu Filho iria iniciar uma outra caminhada até Jerusalém para, passando pelas dores, renascer.

E isto deu-lhe ânimo para aguentar as dificuldades da caminhada, porque experimentava o que mais tarde o seu filho haveria de experimentar sozinho.

Ó Chefe da casa de Israel,

que no Sinai destes a Lei de Moisés:

vinde resgatar-nos com o poder do vosso braço.

 

3º dia – Do Tabor à cidade de Naim – 19 de dezembro

Ao pernoitar em Naim conheceram uma jovem mulher que acabara de perder o seu marido e estava também prestes a dar à luz o seu filho. A partir desse momento Maria, identificando-se com aquela mulher, nunca deixaria de rezar para que Deus tivesse sempre compaixão dela e da sua criança. Os dois filhos voltariam a encontrar-se novamente…

E isto renovou as forças de Maria para prosseguir com as dores da maternidade sabendo que Deus está sempre ao lado de quem sofre.

Ó Rebento da raiz de Jessé,

sinal erguido diante dos povos:

vinde libertar-nos, não tardeis mais.

 

4º dia – De Naim aos campos da Samaria – 20 dezembro

Ao atravessar os campos da Samaria, Maria pressentiu que o seu filho havia de percorrê-los anunciando a salvação de Deus e que seria desprezado e perseguido. Ao passar por entre os extensos pomares, adivinhava que também atirariam pedras ao seu Filho, como atiravam às árvores que tinham melhor fruto.

E isto fez com que Maria resistisse aos obstáculos da estrada e sentisse desde então o antegozo e a alegria de ver nascer o seu Bendito fruto.

Ó Chave da casa de David,

que abris e ninguém pode fechar,

fechais e ninguém pode abrir:

vinde libertar os que vivem no cativeiro das trevas

e nas sombras da morte.

 

5º dia – Até o poço de Siquém – 21 de dezembro

Aí pôde saciar a sede e refrescar a sua esperança, tal como mais tarde uma mulher samaritana haveria de pedir e receber água viva. Maria descansou na berma do poço como mais tarde o seu Filho havia de descansar e prometer alívio a todos os que se afadigassem, porque o seu jugo seria suave e a sua carga leve.

E isto fez com que Maria se alegrasse pelas maravilhas que Deus continuaria a fazer. E não lhe faltaram forças para continuar em frente sem se queixar ou lamentar.

Ó Sol nascente, esplendor da luz eterna e sol de justiça:

vinde iluminar os que vivem nas trevas e na sombra da morte.

 

6º dia – Até à cidade de Necma (hoje Nablus) – 22 de dezembro

Foi uma jornada através do deserto e descampado onde os perigos espreitavam. Maria pressentia que o seu filho seria conduzido ao deserto e ser tentado a desistir do plano de Deus. Pressentia também que aquela estrada o inspiraria à compaixão e à bondade de um bom samaritano para usar de misericórdia para com o seu próximo.

E estes pensamentos encheram de coragem e ternura o coração de Maria e assim continuou a sua subida para Jerusalém a caminho de Belém.

Ó Rei das nações e Pedra angular da Igreja:

vinde salvar o homem que formastes do pó da terra.

 

7º dia – Até onde mais tarde voltariam para Jerusalém à procura do Menino depois de um dia de viagem – 23 de dezembro

Aqui Maria sentiu como que uma espada a trespassar o seu coração. Só o coração de mãe pode saber o que é a angústia de perder o seu Filho. A partir daquele lugar subirá para Jerusalém sempre com o mesmo objetivo: procurar o único bem, Aquele e só Aquele que vale a pena encontrar.

E isto deu-lhe alento para não olhar para trás, mas olhar sempre em frente, porque para a frente é que é o caminho.

Ó Emanuel, nosso rei e legislador,

esperança das nações e salvado do mundo:

vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus.

 

8º dia – Até Jerusalém – 24 de dezembro

Foi a etapa mais dolorosa esta subida para alcançar Jerusalém. Apesar disso, Maria, com o seu filho a bater o ritmo no seu seio, cantava o salmo: Que alegria quando me disseram vamos para a casa do Senhor… Detiveram-se os nossos passos às tuas portas Jerusalém. Quantas vezes teriam a felicidade de subir juntos a Jerusalém! Sentiu um misto de dor e de alegria. Dor por antever ali a paixão e morte do seu Filho e alegria por partilhar a sua glória e ressurreição.

Estas premeditações entusiasmaram ainda mais a alma de Maria de modo que nem sentia o incómodo e a dureza da viagem nem o aproximar-se da hora de dar à luz, glorificando a Deus por tudo o que sofria.

Hoje sabereis que o Senhor vem salvar-nos.

Amanhã vereis a sua glória.

 

9º dia – Até Belém onde chegaram ao início do dia 25 que começa com o pôr do sol – 25 de dezembro

Quantas vezes Maria e José fizeram esta estrada para o sul de Jerusalém, para visitar familiares, regressando às suas origens. Desta vez Maria não pensava tanto no passado, mas sobretudo no futuro, no Filho que estava prestes a nascer. Desta vez viu muitas portas a fechar-se, algumas desculpas, muitas recusas na cidade de David que até então lhes era tão familiar e acolhedora. Maria não quis afligir-se para não perturbar o coração do seu Filho. Ela encontraria um lugar para se encostar e dar à luz. O pior é que mais tarde o seu Filho não encontraria nem uma pedra onde reclinar a cabeça.

E isto foi o suficiente para esquecer as dores da maternidade e sentir a alegria de dar à luz o Filho a quem pôs o nome de Jesus.

Quando o sol aparecer no horizonte,

vereis o Rei dos reis, que procede do Pai,

como esposo que sai do seu tálamo.

 

Nota final

Parece que a viagem tinha chegado ao fim, mas não. Até ali tinha sido Maria a levar Jesus, mas a partir de então será ela a acompanhar o seu Filho por onde quer que Ele vá. Novas viagens surgiram: do céu vieram Anjos, da vizinhança acorreram pastores, do oriente chegaram reis…  

E como sempre todas estas viagens nos dizem respeito…

A exemplo de Maria

façamos da nossa vida uma viagem

e do nosso caminho

verdade e vida.