quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Toda a cruz é uma ponte


Festa de Santo André, Apóstolo

 

Ele foi a ponte, o mediador ou o intermediário entre o seu irmão Simão e Jesus, entre o rapazinho dos 5 pães e Jesus e ainda entre os gregos que queriam ver o seu Mestre e Jesus.

Mas a sua verdadeira e derradeira ponte foi a sua cruz.

Toda a cruz é uma ponte.

Há quem diga que a cruz é uma escada que nos leva ao céu.

Ou então é o altar da nossa imolação.

Nesta festa de Santo André contemplamos a sua cruz como uma verdadeira ponte, pois ele morreu como sempre viveu – como ponte, unindo os homens a Deus e Deus aos homens.
A sua cruz foi assim a sua verdadeira ponte com a qual se uniu ao seu Mestre e Senhor, o homem a Deus, a terra ao céu.

Certa vez um homem sonhou que era visitado por um anjo do Senhor que lhe disse:

- Vim trazer a tua cruz para que possas carregá-la na tua jornada.

Ele pegou a cruz e seguiu.

Quando ele já estava bem adiante na sua jornada, encontrou um homem que lhe disse:

- Como vais, tudo bem? O que estás a fazer com esta cruz? Estás maluco? Ela deve ser muito pesada.

E o outro respondeu:

- Não estou maluco não, cada um deve carregar a sua cruz. Mas esta realmente é pesada.

- Então por que não cortas um pedaço do pé da cruz? Vai ficar mais leve.

- Eu não posso fazer isso, esta é a minha cruz, eu tenho que carregá-la.

- Que tolice! Corta só um pedacinho, ninguém vai saber. Assim vai ficar mais leve para carregares.

E o homem convenceu-o a cortar um pedaço.

- Viste, não ficou mais leve?

- Sim, tinhas razão, só um pouco não vai fazer mal.

E ele continuou seguindo sua jornada.

Um bocado mais à frente na sua longa caminhada eis que ele encontra novamente o mesmo homem.

- Como vais? Continuas carregando isso aí? Pensei que tinhas aprendido a aliviar o peso da cruz.

- Sim, continuo carregando a minha cruz.

- Mas ela deve estar muito pesada. Por que não cortas mais um pouco? Vai ficar mais leve. Experimenta.

- Sim, pode ser, ninguém deu por nada da outra vez.

- Vamos cortar. Só que vamos cortar um pouco mais do que na outra vez para ela ficar bem mais leve.

Assim fez e depois seguiu a sua jornada.

Muito tempo depois ele avistou a cidade maravilhosa, cheia de ouro, pedras preciosas, prata. Era a visão mais maravilhosa que ele já teve em toda a sua vida. Era tão iluminada que não precisava do sol. Brilhava tanto...

Quando sem esperar ele se depara com um abismo e ele não entendeu o porquê do abismo. E tamanho era o desespero que ele começou a gritar e gritar e gritar:

- Socorro, ajudem-me, quero atravessar, alguém por favor me ajude, quero entrar na cidade!!!

Cansado de tanto gritar, ele viu do outro lado do abismo o anjo, aquele que lhe entregara a cruz. E o anjo perguntou-lhe:

- O que estás a fazer aí desse lado? Por que ainda não atravessaste?

- Como? Não vês o abismo que nos separa?

- Sim vejo – respondeu o anjo.

- Então, como é que eu vou atravessar?

- Onde está a ponte que eu te entreguei?

- Que ponte? Tu me entregaste uma cruz e ela está aqui comigo.

E o anjo disse:

- Então coloca-a no meio do abismo, porque o tamanho dela é exato para que possas atravessar.

Ao ouvir isto o homem caiu de joelhos e começa a chorar.

E todos nós sabemos porquê.

E foi então que acordou do seu sonho.

 

Ver também:

Ser apóstolo é ser ponte

 

domingo, 27 de novembro de 2022

Ninguém espera sentado


Ano A – I domingo do advento

Toda a liturgia da palavra desta primeira etapa do novo ano litúrgico é um convite a caminhar ou a avançar ao semáforo verde:

- Subamos ao monte do Senhor, caminhando à luz do Senhor

- Vamos com alegria

- Esta é a hora de nos levantarmos do sono, andemos como em pleno dia

- Estai vós preparados para quando o vier o Filho do Homem.

 De facto, ninguém gosta de esperar sentado.

 

Deus vem quando menos se espera

                   Como menos se espera

                   Onde menos se espera

                   Por quem nos se espera

                   Para quê menos se espera

 

É preciso estar atento para o reconhecer

Estar preparado para o seguir

Estar pronto para avançar ao seu encontro

Luz verde, semáforo para avançar,

esperança para seguir,

vida para receber

 

Em geral quando estamos a esperar alguém, é o coração que mais se manifesta.

Mas esperamos sempre com todo o corpo, com a vida toda

Ficai atentos – Ouvidos prontos – para escutar a Palavra Divina

Ficai vigilantes – Olhos abertos – para reconhecer a presença de Deus

Ficai despertos – Coração liberto – para acolhermos com amor e solidariedade

Ficai ativos – Mãos cheias – de boas obras

Ficai preparados – Pés livres – para avançar com resistência e segurança

 

Ver também:

Esperando acordado

 

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

A árvore é boa professora


6ª feira – XXXIV semana comum

 

Aprendei da figueira e das outras árvores, disse o Senhor Jesus.

Quando vedes que já têm rebentos, sabeis que o Verão está próximo.

Sê como a árvore: muda as folhas, mas guarda as tuas raízes que são a Fé, a Família, a Fidelidade, a Felicidade e outros valores que terminam em dade, como por exemplo Esperança…. É por isso que a figueira todos os anos dá rebentos novos.

 

O sermão é como uma árvore

Uma árvore tem raízes, tem troncos, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos.

Assim há de ser o sermão: há de ter raízes fortes e sólidas, porque há de ter um só assunto e tratar uma só matéria.

Deste tronco hão de nascer diversos ramos, que são diversos discursos (explicações), mas nascidos da mesma matéria, e continuados nela.

Estes ramos não hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos hão de ser vestidos e ornados de palavras.

Hão de ter flores que são as sentenças.

E por remate de tudo, há de ter frutos, que é o fruto e o fim a que se há de ordenar o sermão.

De maneira que há de haver frutos, há de haver flores, há de haver varas, há-se haver folhas, há de haver ramos, mas tudo nascido e fundado em um só tronco que é uma só matéria.

Se tudo são troncos, não é sermão é madeira.

Se tudo são ramos, não é sermão, são maravilhas.

Se tudo são folhas, não é sermão são vergas.

Se tudo são varas, não é sermão é feixe.

Se tudo são flores, não é sermão é ramalhete.

Serem tudo frutos não pode ser, porque não há frutos sem árvore.

Assim que nesta árvore, a que podemos chamar árvore da vida, há de haver o proveitoso do fruto, o formoso das flores, o rigoroso das varas, o vestido das folhas, o estendido dos ramos, mas tudo nascido e formado de um só tronco, e esse não levantado no ar, senão fundado nas raízes do Evangelho.

(Pe. António Vieira, sermões, Séc. XVII)

 

Ver também:

Olhar para o que começa

 

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

O fim dos nossos medos


5ª feira – XXXIV semana comum

As leituras deste últimos dias do ano litúrgico chegam até nós não para nos lembrar o fim dos tempos ou o fim do mundo, mas o fim dos nossos medos e o início da eternidade.

Foi feito um inquérito para concluir quais os medos mais frequentes ou mais comuns na humanidade.

Encontraram 3:

- Ui ui ui

- Ai ai ai

- Blablabla

 

Ui – medo da morte.

Ai – medo das doenças e do sofrimento

Blablabla – Medo de falar em público

 

Todos estes medos têm a ver com o fim do mundo, ou o fim do nosso mundo.

O fim do mundo será então o fim do medo.

O fim do medo da morte quando passarmos por ela, manifestar-se-á como um momento de paz e serenidade eterna.

O fim do medo de sofrer, o medo do castigo no momento do julgamento.

O fim do medo de falar em público, de nos defendermos das acusações, porque Deus é misericordioso.

 

O que nos espera não é o fim do mundo, mas o fim do medo.

Não é o fim dos tempos, mas o início da eternidade.

Não é o fim da terra, mas o início do céu.

Não é o fim do combate, mas o início da vitória.

Não é o fim da dor, mas o início da glória.

Não é o fim de tudo, mas o início do louvor eterno.

 

Ver também:

O exemplo dos forcados

Memória de santo André Dung-Lac, presbítero

e companheiros, mártires do Vietname.

 

Durante a perseguição de 1843 escreviam da prisão:

O cárcere é verdadeiramente uma imagem do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo o género, como grilhões, algemas e ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões, acusações, maldades, falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza. Mas Deus, como como outrora libertou-nos dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a sua misericórdia é eterna.

 

De facto, o que mais nos faz sofrer não é tanto a dor física ou os atentados corporais, mas as provocações morais, os insultos, a zombaria e a nossa exposição ao ridículo.

Como é que Deus nos livre desses males?

Deus liberta-nos desse sofrimento, não afastando isso de nós, mas dando-nos força, coragem e perseverança. Assim continuam a fazer-nos sofrer, mas a ajuda de Deus torna o sofrimento mais suave e fonte de alegria e de abandono nas suas mãos. Perante a perseguição só Deus conta.

A união com Deus suaviza o nosso sofrimento e martírio.

Outra maneira de minimizar a nossa própria dor é ajudar os que sofrem à nossa volta. Jesus fez isso.

 

Ver ainda:

Cristãos sem provas

 

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Florescer e frutificar


3ª feira – XXXIV semana comum

 

Da 1ª leitura:

Chegou a hora de ceifar porque a seara da terra está madura…

Vindima os cachos da vinha da Terra porque as uvas estão maduras…

A laranjeira dá ao mesmo 

tempo flores e frutos

Deus plantou-nos aqui na Terra para florescermos e para darmos frutos.

É preciso florescer onde Deus nos plantou.

É preciso dar fruto de boas obras.

Florescer é viver na alegria.

Dar fruto é ter caridade.

Assim mostraremos que crescemos, demos flor e fruto e que não ficámos pecos, mas amadurecidos.

 

Ver também:

Sem alarmes

 

Memória de Santa Cecília,

Virgem e Mártir, Padroeira da música

A estátua de mármore de santa Cecília, feita por Stefano Maderno em 1599, representa o corpo de uma jovem, em tamanho natural, deitada sobre o seu lado direito, com as pernas dobradas, como se estivesse na cama a dormir, com uma roupagem de traços suaves e simples e com um profundo golpe no pescoço, muito real. Maderno tentou reproduzir fielmente as dimensões e a posição do corpo como foi encontrado a santa durante as escavações de restauro da igreja e quis também realçar a posição dos seus dedos: Três abertos na mão direita e um esticado na mão esquerda. Segundo a tradição cristã, a santa ao morrer quis indicar a sua fé na Unidade e na Trindade de Deus. Mesmo depois da morte continua assim a dar testemunho da sua fé no Deus Único, Pai, Filho e Espírito Santo.

Ver ainda:

Cantar, louvar, adorar

 

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

As moedas da pobre viúva


2ª feira – XXXIV semana comum

Uma pobre viúva deitou no tesouro do Templo duas pequenas moedas. Era tudo o que tinha.

Foram duas. Porquê e qual o seu significado?

Há quem diga que ilustram a primeira bem-aventurança:

- Uma significa ser pobre de espírito

- A outra significa ser pobre de facto.

 

Alguns dizem que representam a totalidade do amor:

- Uma é por amor a Deus

- A outra é por amor ao próximo.

 

Uns dizem que querem significar toda a riqueza de alguém:

- Tudo o que era para si própria

- Tudo o que era para os outros.

 

Outros dizem que ilustram a nossa condição humana:

- Aquilo que nos é dado como graça

- Aquilo que alcançamos pelo trabalho e esforço.

 

Eu digo simplesmente que manifestam as duas virtudes desta pobre viúva:

- Uma é a humildade

- Outra é a generosidade.

De facto, sem humildade não pode haver verdadeira generosidade.

E sem generosidade não há sincera humildade.

 

Ver também:

A felicidade de dar tudo

Memória da Apresentação 

da Virgem Santa Maria

Apresentação rima com vocação e consagração.

Na verdade, a Apresentação de Maria é a sua Consagração e a Consagração é a sua Apresentação.

Nós vivemos o mesmo mistério através da nossa Consagração e Vocação.

 

Ver ainda:

Templo de Deus

 

domingo, 20 de novembro de 2022

Um Rei com cetro de cana


Ano C – Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

Os soldados zombavam de Jesus. Envolveram-no com um manto escarlate. Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e uma cana na mão direita. Dobrando o joelho diante dele, escarneciam-no, dizendo – Salve! Rei dos Judeus!

E, cuspindo-lhe no rosto, agarraram na cana e batiam-lhe na cabeça- Depois de o terem escarnecido tiraram-lhe o manto, vestiram-lhe as suas roupas e levaram-no para ser crucificado.

 

Já refletimos noutras ocasiões sobre a coroa de espinhos, sobre o manto vermelho, sobre o trono de Cristo Rei que é a cruz.

Hoje vamos refletir sobre a cana que puseram nas mãos de Jesus.

Os soldados pensavam que ao fazer isso estavam a zombar, a ridicularizar e a humilhar Jesus. Mas afinal ao pôr uma cana na mão direita de Jesus estavam a apontar para uma grande verdade. Sem querer, estavam a dar grandes lições sobre Jesus.

- Cana verde, sinal de esperança e de integridade. Jesus lembrava que se faziam isso a Jesus, cana verde viçosa e cheia de vida, o que não haviam de fazer às canas secas, vazias e sem vida.

- Na mão direita. É a mão do bem, a mão que abençoa. A cana está na mão direita de Jesus porque com ela ele fará o bem.

 

Funções da cana:

- Cajado do bom pastor – Os soldados sem querer estavam a testemunhar que Jesus é o bom pastor. É preciso deixar-se conduzir e defender por Cristo rei e pastor.

- Cetro real – Os soldados indicavam assim que Jesus era rei humilde, que tinha vindo para servir e não para ser servido. Deixemo-nos governar e ser servidos por Ele para aprendermos como servir nós também.

- Vara de correção – Reconheciam que era preciso corrigir as más ações. Tomemos consciências dos nossos atos insensatos, deixemo-nos corrigir, emendando e convertendo a nossa vida.

- Ponteiro – Os soldados estavam a mostrar que Jesus veio até nós como ponteiro para nos mostrar o caminho que leva ao Pai. Sigamos as suas indicações e sigamos os seus ensinamentos, porque ele nos aponta o bem, a felicidade, a salvação.

- Bengala de apoio – Os soldados ao colocarem uma vara na mão direita de Jesus estavam a dizer que não era Jesus quem precisava de apoio e de proteção, mas eles próprios é que se deviam apoiar em Jesus. Que Ele seja a nossa bengala, o nosso apoio firme nos momentos mais turbulentos da nossa vida.

 

Perguntemos então: O que é que eu mais preciso deste Rei e senhor que é Jesus?

- Do seu cajado para me conduzir, do seu cetro real para me governar, da sua vara para me corrigir, do seu ponteiro para me orientar ou da sua bengala para me apoiar?

Agradeçamos aos soldados todas estas lembradas que tiveram ao entregarem a Jesus uma simples cana e agradeçamos a Jesus aquilo que ele pode fazer em nós através desse instrumento de salvação.

 

Ver também:

O Rei num trono da cruz

 

 

sábado, 19 de novembro de 2022

Peanha do Santo Imperador

A Ilha da Madeira foi o pequeno espaço escolhido por Deus para servir de peanha ou pedestal do Santo Imperador, Carlos de Áustria. Parece não haver terra mais grandiosa, escada mais alta, viagem mais longínqua.

Carlos de Áustria tendo viajado pelo seu império e por toda a Europa, chegou à Madeira para aí iniciar a sua viagem mais transcendente.

A Madeira, desde 19 de novembro de 1921 foi-se transformando e elevando pouco a pouco a sua vocação de sacrário de santidade.

Começou por ser nomeado como um simples lugar de internamento, de residência de exílio ou permanência forçada.

Depois foi-se afirmando como local privilegiado de acolhimento, de habitação familiar e corte imperial.

Passou ainda por espaço de purificação e de ascese como subida ao monte Calvário.

Finalmente a ilha tornou-se antecâmara do paraíso, porta do céu e lugar de repouso eterno.

Agora na Madeira, o Monte tornou-se em altar onde é venerado o santo Imperador, a peanha da sua imagem, o pedestal da sua figura de santidade. Partilha com a Senhora do Monte o mesmo santuário, a mesma peanha ou pedestal. E nós podemos também partilhar com e como eles o mesmo altar e o mesmo destino de eternidade.

Por causa do Santo Imperador a Madeira ficou mais parecida com o Paraíso e o Céu ainda mais perto da nossa terra.

 

Lição a guardar:

Façamos do lugar onde estamos, quer de passagem quer permanente, quer desterrados ou acolhidos, quer na saúde ou na doença, quer na alegria ou na tristeza, quer na esperança ou na angústia, quer na vida ou na morte, uma peanha de santidade e um pedestal de eternidade, a exemplo do Beato Carlos de Áustria.

Acompanhemos o percurso do Imperador Carlos da Madeira para a eternidade, da terra ao céu:

 

INTERNAMENTO

01 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

A Inglaterra propôs às nações aliadas que seja internado na ilha da Madeira o imperador Carlos da Áustria.

 

RESIDÊNCIA

04 de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira

Foi concedido autorização aos imperadores de Áustria para residirem na ilha da Madeira.

 

EXÍLIO

05 de novembro de 1921 in Diário de Notícias

O governo português aceitou a proposta dos Aliados para ser exilado na ilha da Madeira o ex-imperador Carlos da Áustria.

 

HÓSPEDAGEM

09 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

Os ex-imperadores da Áustria serão considerados pelo governo português como hóspedes, sendo-lhes dispensadas todas as deferências e atenções

 

HABITAÇÃO

11 de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira

Está definitivamente assente o ex-imperador Carlos de Habsburgo e sua esposa habitarem a Villa Vitória anexa ao Reid’s Palace Hotel.

 

PRISÃO DE ELEVADA CATEGORIA

12 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

Segundo nos informou o sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros o ex-imperador da Áustria, Carlos de Habsburgo e sua família, que muito em breve virão residir na ilha da Madeira serão considerados não como prisioneiros, mas como hóspedes do nosso governo que terá para eles todas as atenções e deferências que competem à sua elevada categoria social

 

PERMANÊNCIA FORÇADA

18 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

A conferência dos embaixadores, reunida em Londres, ficou o subsídio e o quantitativo das restantes despesas com a permanência forçada na Madeira dos ex-soberanos austríacos.

 

POVO HOSPITALEIRO

20 de novembro de 1921 in O Comércio da Madeira

O cruzador inglês Cardiff fundeou, ontem às 11 horas na baía do Funchal, trazendo os ex-imperadores Carlos e Zita. O desembarque foi marcado para as 15 horas o que aconteceu. O povo, à passagem dos ex-soberanos, descobria-se respeitosamente, a que eles correspondiam sorridentes e com a maior cordialidade.

“Estamos encantados com a beleza da Ilha da Madeira e com a forma carinhosa como o povo nos saudou à nossa passagem. É um povo deveras hospitaleiro” – disse ao Comércio da Madeira S.M. Carlos de Habsburgo.

 

ESTADIA EM HOTEL

20 de novembro de 1921 in Diário de Notícias

Os ex-reis da Hungria são desde ontem nossos hóspedes. Desembarcados seguiram para a Vila Vitória anexa ao Reid’s Palace Hotel onde ficam residindo. É a primeira vez que a hospitaleira ilha serve de residência a soberanos exilados.

 

NOVA CORTE IMPERIAL

22 de novembro de 1921 in Diário da Madeira

Na sé, à entrada e à saída dos ex-imperadores, alguns membros do clero e bem assim algumas pessoas do povo beijavam a mão de Carlos de Habsburgo em sinal de cortesia devida aos soberanos.

 

RESIDÊNCIA DE VERÃO

26 de novembro de 1921 in Diário de Notícias

Os ex-imperadores da Hungria foram ontem ao Monte, pelas 2 horas da tarde, no automóvel do sr. António Vieira de Castro, visitando a Quinta Rocha Machado, que será a sua residência de verão.

 

SEM GUARDA NEM VIGILÂNCIA

01 de dezembro de 1921 in Diário de Notícias

O Ministro dos Estrangeiros em entrevista à Capital disse – o imperador Carlos e sua esposa foram residir para a Madeira não como prisioneiros, mas como soberanos exilados. O governo português não tem responsabilidade alguma, perante as potências, pela sua guarda. Nós não fomos chamados a exercer nenhuma vigilância. O imperador habita no Funchal como qualquer soberano exilado e não guardado pelo governo português.

 

SOBERANO EM TODO O LUGAR

23 de março de 1921 in Diário de Lisboa

Quando foram, pela primeira vez ouvir missa à Sé do Funchal, um desconhecido, que se achava no meio da multidão, exclamou em húngaro: Viva o rei Carlos!

Trataram se se informar da sua identidade e souberam que era um comerciante de Budapeste que tendo de ir para o México, se dirigira primeiro ao Funchal, para ver os seus antigos soberanos. Esta prova de dedicação enterneceu-os profundamente. A soberania era agora exercida no Funchal.

 

ENFERMARIA

27 de março de 1921 in Diário de Lisboa

Encontra-se gravemente enfermo, na Ilha da Madeira o ex-imperador Carlos.

A desgraça não o deixa repousar pois até no exílio o persegue. Aliada a uma terrível depressão nervosa, a doença (dupla pneumonia) debilita-lhe agora a sua resistência.

 

ANTECÂMARA DO PARAÍSO E VIÁTICO

02 de abril de 1921 in Correio da Madeira

O defunto exilado recebia todos os dias o S.S. Sacramento e só como Sagrado Viático o recebeu na 2ª feira, tendo-lhe nesse dia sido ministrada a Extrema Unção, a seu pedido.

 

ESPELHO DA SUA PÁTRIA

02 de abril de 1921 in Correio da Madeira

D. Carlos de Habsburgo estava escrevendo um livro, de impressões colhidas na Madeira. Ele comparava trechos da nossa ilha a pedaços da sua pátria… O ex-imperador falava da sua pátria, que muito amava, com uma saudade pungente do seu povo, que ele considerava como filhos, e pensava nos seus destinos como um verdadeiro pai.

Os correspondentes dos jornais da capital e do estrangeiro telegrafaram ontem comunicando o desenlace fatal.

 

LEITO DE MORTE

02 de abril de 1921 in Correio da Madeira

Às 12 hora do dia de ontem, na Quinta do Monte, para onde fora residir com sua família e comitiva imperial, faleceu, confortado com os sacramentos da Santa Madre Igreja, Sua Majestade Imperial Apostólica Calos V de Habsburgo… Quando se avizinhava a morte, disse o ex-imperador: Ofereço a minha vida ao meu bom Povo.

 

CÂMARA ARDENTE

04 de abril de 1921 in Correio da Madeira

O quarto, onde a doença prostrara o ex-imperador, é o mesmo que serve de câmara ardente. O ex-imperador ‘dorme’ sobre o leito com a farda de marechal de campo.

A ex-imperatriz Zita olhando para os seus filhos, disse-lhes: O vosso pai não dorme; está acordado e vive junto de Deus.

 

CAPELA TUMULAR

04 de abril de 1921 in Diário da Madeira

Realizam-se amanhã à tarde os funerais, saindo da Quinta do Monte para a Igreja paroquial, onde está sendo levantado um mausoléu.

 

O MELHOR TESOURO

01 de junho de 1922 in A Esperança

No final de maio ancorava no Funchal o moderno transatlântico barcelonense Infanta Isabel de Bourdon que vinha expressamente pela Madeira para transportar a Cádis a Imperatriz viúva Zita e seus filhos. Ao despedir-se do Revmo. Pe. José Marques Jardim, Pároco do Monte, a Imperatriz disse: Deixo-vos o meu melhor tesouro. Deixo o meu coração nesta ilha. Parto com saudade da Madeira e do seu bom povo, mas vou satisfeita por deixar o cadáver do Imperador confiado à guarda duma população generosa… Custa-me deixar o melhor do meu ser, nesta terra, mas deixo-o no meio de corações amigos. O meu coração também fica nesta ilha.

 

NOVA CAPELA FUNERÁRIA

12 de janeiro de 1968 in Jornal da Madeira

A Imperatriz Zita e seus filhos assistiram à santa missa no Monte e à inauguração da nova capela mortuária do Imperador Carlos de Áustria.

 

PEANHA OU PEDESTAL DO SANTO IMPERADOR

16 de outubro de 2004 in Jornal da Madeira

A 3 de outubro de 2004 foi proclamado Beato o Bem-aventurado Carlos de Áustria, por sua santidade o Papa João Paulo II, na praça de São Pedro em Roma. Beatificado na presença de uma representação madeirense presidida pelo Bispo do Funchal D. Teodoro de Faria (que formulou o pedido de beatificação ao Papa João Paulo II por ser o bispo da Diocese onde se encontram os restos mortais do Beato), Presidente do Governo Regional da Madeira, Secretário Regional do Turismo e Cultura, Presidente da Câmara Municipal do Funchal, Pároco do Monte com um grupo de paroquianos e outros devotos. … Estavam presentes de vários filhos e familiares do novo Beato, nomeadamente o seu filho primogénito Otto de Habsburgo.