sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Te Deum laudamus


Oração de agradecimento no final de 2021

Senhor, ao terminar mais este ano, aqui estamos para Te bendizer e louvar por todas as maravilhas que realizas entre nós e para Te agradecer de todo o coração!

Obrigado, Senhor, pelo dom da Vida. Apesar da Pandemia, aqui estamos ainda com mais fé e esperança. Obrigado pela saúde, pelas vacinas e por quantos nos ajudam nestes momentos de dificuldade.

Obrigado, Senhor, pelo trabalho que nos concedeste, para podermos ganhar o pão de cada dia que, alimentando o corpo, lhe dá vigor e forças para continuarmos a servir-Te de todo o Coração!

Obrigado, Senhor, pela Eucaristia, Pão do Céu e pelo Pão da Palavra, que alimentam as nossas vidas, para que assim fortalecidos possamos continuar esta caminhada de eternidade! Todos aqueles que participam na celebração dominical ou diária te agradecem esta força que vem do alto.

Obrigado, Senhor, pelo dom maravilhoso e extraordinário da Paz, interior e exterior: esta paz que nos dá a possibilidade de Te servir e louvar em liberdade, sem pressões motivadas pelo ódio ou pela guerra.

Senhor, aqui está a Comunidade Paroquial do Cabouco comunidade consagrada à Vossa e nossa Mãe, Nossa Senhora da Misericórdia, com todas as suas dificuldades e esperanças. Pedimos a Tua Ajuda e Proteção para todos os paroquianos, presentes ou ausentes, amigos e benfeitores, de modo particular por todos os que contribuem para o Culto, oferecem azeite para o Santíssimo, as hóstias e o vinho para a celebração, as flores para os altares e tantas outras dádivas. Nós Te agradecemos a graça de pertencermos à Igreja Universal, a bênção do Santo Padre, que nos deste como pastor segundo o teu coração, a nossa Diocese e todos os seus sacerdotes. Obrigado por este Ano dedicado a São José e pela Caminhada Sinodal que continua a mobilizar a nossa comunhão, participação e missão. Obrigado, Senhor, pelos que diariamente rezam o Terço nesta igreja ou nas suas casas e semanalmente fazem a adoração do Santíssimo Sacramento e mensalmente consagram as suas famílias ao Teu Sagrado Coração.

Todas as Mães e todos os Pais da nossa Comunidade Te agradecem a saúde, a alegria e o bem-estar dos seus lares; todas as crianças, as da nossa catequese, as da Creche e Jardim de Infância O Ninho ou das nossas escolas, Te agradecem o carinho que sempre lhes manifestas e pedem a Tua Bênção e proteção para os seus pais e irmãos.

Os nossos jovens, Guiados por Jesus, vêm dizer Obrigado pela força da sua juventude e pedem que sejas sempre o seu Caminho, na sua preparação para a próxima Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa. Os nossos idosos, aqueles que se encontram no ocaso da sua vida, agradecem a longa vida que lhes deste e que sejas sempre o seu amparo até à última hora.

Nós te agradecemos a dedicação do Conselho Pastoral, da Comissão de Festas e dos Assuntos Económicos. Te louvamos pelo empenho dos nossos Escuteiros, dos nossos irmãos Romeiros, dos Cursilhistas; pelo exercício da caridade do Núcleo Paroquial da Cáritas; pelo zelo dos Leitores, dos irmãos de O Caminho Neo-catecumenal, dos educadores, professores, catequistas e pelo serviço e dedicação do Grupo Missionário. Louvado sejas pelo serviço dos Acólitos, dos Ministros Extraordinários da Comunhão, dos que zelam, enfeitam e preparam esta nossa igreja.  Obrigado, Senhor pela Legião de Maria, pelos Impérios do Divino Espírito Santo, seus mordomos e colaboradores. Juntamente com os grupos corais Sénior e infanto-juvenil Pedrinhas de Sal, todos agradecem e cantam os Teus louvores.

Os nossos doentes, Senhor, agradecem a coragem que lhes concedeste para poderem abraçar e levar a sua cruz, aquela cruz da doença que os torna parecidos Contigo. Muitos deles desejariam estar aqui, neste momento de Ação de Graças, mas na impossibilidade de estarem presentes Te enviam, lá do seu leito de dor, o seu coração agradecido!

Agradecemos, Senhor, todos os dons e maravilhas que nos concedeste: os 14 batismos deste ano na nossa paróquia, os 4 casamentos, as 29 Primeiras Comunhões, as 31 Profissões de Fé e os 29 Crismados.

Agradecemos ainda o dom da vida dos nossos 15 irmãos que durante este ano partiram para a eternidade. Obrigado por eles rezarem connosco e por nós, na tua Paz, Senhor.

Aceita, Senhor, o agradecimento e o louvor de todos nós que aqui estamos e de todos aqueles que trazemos no nosso coração.

 

Estes são os nossos agradecimentos eclesiais, comunitários ou coletivos.

Agora cada um, em silêncio, no íntimo do seu coração, pode continuar a louvar a Deus, fazendo os seus agradecimentos a nível familiar, individual ou pessoal…

 

Por tudo isto te dizemos, TE DEUM, A Ti Ó DEUS, nós Te louvamos, nós te bendizemos e te agradecemos… cantando com alegria e gratidão!

 

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Não se afastava do Templo


Oitava de Natal – 30 de dezembro

A lição de hoje é-nos apresentada pela Profetiza Ana, viúva de 84 anos.

Diz o Evangelho que ela não se afastava do Templo.

Isto que quer dizer?

Que ela estava sempre dentro do Templo? Talvez.

Quer dizer sobretudo que o Templo estava sempre dentro dela, no seu coração.

Ela amava o Templo de modo que onde ela estivesse, estava o Templo presente no seu coração. Aliás, o Templo era o seu coração e o seu coração era templo.

 

Nós também nem sempre estamos na Igreja, mas que a Igreja esteja sempre no nosso coração. E o nosso coração vira Igreja, morada de Deus.

Não se afastar da Igreja é trazer a Igreja dentro do coração ou pôr o coração dentro da Igreja (eu estou aqui, mas o meu coração está na Igreja).

Na realidade a Igreja não tem que ser um templo cheio de gente. Tem de ser gente cheia de Deus.

 

Ver também:

Servir a Deus na velhice

Servindo a Deus dia e noite

 

Crónica de um santo (7)


Crónica de um santo na Madeira

 

7ª semana – O Imperador da Paz

Dado que o Imperador Carlos tentou constantemente realizar a paz durante o seu breve reinado, ele é, sem dúvida, um poderoso intercessor pela paz no mundo de hoje.

Anatole France, pôde escrever: “O Imperador Carlos é o único homem decente, durante a guerra, a ocupar um posto de direção, mas não foi escutado. Desejou sinceramente a paz, e por isso foi desprezado por todo o mundo; perdeu-se uma esplêndida oportunidade.”

Na homilia da beatificação de Carlos de Áustria, São João Paulo II assim pregou: “A tarefa decisiva do cristão consiste em buscar, reconhecer e seguir a vontade de Deus em tudo. O homem de Estado e cristão Carlos de Áustria enfrentava este desafio quotidianamente. Aos seus olhos a guerra manifestava-se como algo horrível. Durante os tumultos da primeira guerra mundial, ele procurou promover a iniciativa de paz de Bento XV.”

De facto, como Imperador compromete-se em “fazer tudo o que estiver ao meu alcance para banir, no mais curto período possível, os horrores e os sacrifícios da guerra, para proporcionar os benefícios da paz…”

31 de dezembro de 1921 – sábado

À meia noite os Imperadores assistiram ao espetáculo de fogo de artifício da passagem de ano, no Forte de São João Baptista.

A Sra. Maria Lackers, que estava com o seu marido no dia 31 de dezembro de 1921 na Madeira, conta como foi esta última passagem de ano na casa do Imperador quando verdadeiramente todo o mundo parecia desmoronar-se à sua volta:

À tarde, como devoção de encerramento do ano, houve na capela da casa uma solene bênção Eucarística. Estávamos apenas o Imperador, Imperatriz e nós. Também foi rezado o Te Deum. Atrás de nós, ficava um ano que tinha sido o mais duro da vida do Servo de Deus. Ele encontrava-se longe da pátria, no exílio; na mais drástica necessidade material; estava separado de seus filhos e não sabia o que o dia seguinte haveria de lhe trazer de mal. Durante o Te Deum nós, um após o outro, fomos nos silenciando, porque a dor nos fazia fugir a voz. Somente o Servo de Deus manteve-se firme até ao fim, acentuando cada palavra… Olhei-o com admiração. Percebia-se com toda a evidência que para ele, naquele momento, existia apenas Deus – ninguém mais – e que aquele Te Deum era um íntimo diálogo entre Deus e o seu mais fiel servidor. Na época, ele não sabia se tornaria a ver os seus filhos, não sabia o que o dia seguinte haveria de lhe trazer, e contudo, rezou com muito fervor aquela oração de ação de graças.”

 

01 de janeiro de 1922 – domingo

 

02 de janeiro de 1922 – segunda-feira

 

03 de janeiro de 1922 – terça-feira

Era o 8º aniversário de nascimento da sua filha Adelaide.

 

04 de janeiro de 1922 – quarta-feira

A Imperatriz Zita partiu rumo à Suíça, via Lisboa, a bordo do San Miguel, para assistir à operação do Arquiduque Roberto e trazer os seus filhos para a Madeira.

 

05 de janeiro de 1922 – quinta-feira

 

06 de janeiro de 1922– sexta-feira

Epifania do Senhor ou dia de Reis.

Primeira Sexta-feira do mês

 

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Essa Luz é Jesus


Oitava de Natal – 29 de dezembro

O Evangelho de hoje realça um dos aspetos do mistério do natal do Senhor, através da intervenção de um ancião, chamado Simeão.

Ele responde à pergunta porque é que Jesus nasceu à noite e não de manhã, ao meio-dia ou à tarde?

Ele bem podia ter nascido logo de manhã, como início de um novo tempo.

Ou poderia ter nascido ao meio-dia, porque ele está no centro do dia e da história.

Ou então ter nascido à tarde, como fim dos tempos esperados.

Mas não.

Ele nasceu no meio da noite para se apresentar a todos como LUZ verdadeira que devia vir a este mundo, luz para se revelar às nações.

É por isso que nunca vi nenhum presépio sem luz, nenhuma festa de natal sem iluminação.

 

Oração da colecta:

Deus omnipotente e invisível,

que iluminastes as trevas do mundo

com a luz da vossa vinda,

lançai sobre nós um olhar de paz

para podermos louvar dignamente

o glorioso nascimento do vosso filho Unigénito

que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Canção:

Sol e farol

e luz sem fim

és tu Jesus

dentro de mim.

 

Compromisso:

Acolher a Luz

pois se virarmos as costas à LUZ

não veremos mais do que a nossa própria sombra.

 

Para ouvir

Luz divina, de Roberto Carlos

Essa Luz é claro que é Jesus!

Essa Luz só pode ser Jesus!

 

Ver também:

Nos braços de Deus

A espada que trespassa

Olhos da fé

Luz das nações

Espada de dor

 

Primeira Missa em Lisboa

Na manhã do dia 29 de janeiro, alguns Padres Missionários e o Pe. Canova vieram ao cais de Alcântara e ajudaram-me no despacho das bagagens e nos contactos com a polícia. Finalmente, saímos do Cais e dirigimo-nos ao Capo Grande, onde o Pe. Canova já tinha combinado o nosso alijamento no Colégio das Irmãs Doroteias.

Lá celebrei a minha primeira Missa em Terras Lusíadas, solenizada pelo canto das Irmãs. Seguiu-se um pequeno almoço de estilo natalício. Aquelas boas Irmãs procuravam fazer-nos esquecer as amarguras da viagem e alegrar-nos com os doces de Natal.

E não ficaram por aí. Deram-nos alojamento na casa dos pensionistas, que então estavam em férias, e serviam-nos a comido na hospedaria do edifício central. E quando as alunas voltaram de férias procuraram-nos hospedagem na casa da Senhora D. Leitão, da família do ourives Leitão, cujo estabelecimento estava junto da igreja do Loreto, no Chiado. Não se limitaram a isso!

Estas boas Irmãs tinham recebido cartas da Itália (Bolonha) a recomendar os dois Padrezinhos que estavam a chegar e estariam em Lisboa apenas o tempo necessário para tomar o barco para a Madeira. Mereciam ser ajudados, pois os Padres dehonianos de Bolonha tinham ajudado as Irmãs Doroteias durante os bombardeamentos daquela cidade. Tinham uma dívida a pagar! (CF. Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Outra chegada a Lisboa

No dia 28 de janeiro, aí pelo meio dia, passámos por umas rochas altas e negras. Depois, à direita lá estava o Cabo de Sagres que anunciava estar próximo o fim daquela viagem.

Pelas 16H00, contemplava-se a costa alta portuguesa. Ouve-se dizer que que pelas 18H00 perderíamos estar em Lisboa. Ao longe avistaram-se alguns navios. Passámos perto de um de pequena tonelagem.

- Que baloiço! Se aqui sentimos o que sentimos, o que não será acolá dentro? – comentei.

- Olha – alguém me respondeu – os dois italianos que estão destinados à Madeira! O barco que vai para a Madeira é mais ou menos como aquela coisita!

- Deus me proteja! – disse eu – E com o enjoo, como se faz?

- É preciso comer… comer é preciso. Mas comer enxuto: pão, queijo, salame, carne e, coisas assim. Nada de beber!

- Nada de beber? E como se resiste?

- Paciência, paciência e nada de medo! As enxovas afastam a saliva e a comida enxuta restringe o estômago que, assim cimentado, fica firme e não baila mais.

Antes de chegarmos a Lisboa tocou para o jantar. Deixo a sopa e outros líquidos e engulo o resto com pão. Depois, para não perder a vista da paisagem. Tomo um pão, ponho nele carne e queijo e subo para sentar-me ao ar livre, roendo e resistindo à vontade de beber.

Depois de muito tempo de espera, lá apareceram no cais os Padres Comi e Pezzotta. Desço do navio: abraços e saudações.

- O Padre Canova chegou? E os outros onde estão?

- Estão todos nos Salesianos.

O Pe. Canova tinha chegado no dia 27 e nesta manhã tinha vindo ao porto, mas inutilmente, visto que o Cabo de Hornos se tinha atrasado muito. Voltou para casa.

- E agora que fazemos? – Perguntei eu – Já é tarde, eu não vou para a cidade. Também porque a bagagem só pode ser retirada amanhã.

Separámo-nos e eu subi para o navio para gozar o último, mas tranquilo, descanso no Cabo de Hornos.

(CF Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

O último Evangelista


Festa de São João, Apóstolo e Evangelista

Amai-vos uns aos outros:

São Jerónimo deixou escrito que, quando o Evangelista João era muito ancião e já não podia caminhar, os discípulos de Éfeso acudiam a sua casa para escutar a sua pregação, que sempre terminava da mesma maneira:

- Meus filhinhos, amai-vos uns aos outros.

Quando lhe perguntaram porque repetia sempre o mesmo, respondeu:

- Porque este é o mandamento que nos deu o Senhor Jesus quando se despediu de nós. E eu quero despedir-me de vós recordando as mesmas palavas do Meu Mestre e Senhor.

Outros, porém, vão mais longe e referem que ele não dizia outra coisa ao longo de toda a sua pregação. Do princípio ao fim só repetia a mesma exortação. E não era por causa da idade, mas devido à sua fé e convicção. 

 

O Apóstolo não mártir:

A festa de hoje é a única que não tem paramentos vermelhos, mas brancos. De facto, São João Apóstolo foi o único apóstolo que não morreu martirizado.

Porquê?

Porque o seu martírio foi a virgindade, dizem uns.

Porque foi esgotando a sua vida, como uma vela a ser consumida, dizem outros.

Porque ele já sofreu o suficiente vendo Cristo a sofrer na cruz, desde o princípio até ao fim, digo eu. De facto, o seu martírio foi ver e sofrer com Jesus no Calvário. Foi o único apóstolo a estar presente.

O dia de abençoar o vinho:

Conta a história que ele foi vítima de uma tentativa de morte com vinho envenenado. Ele antes de beber, mesmo sem saber o que ali estava, abençoou a taça que lhe apresentaram e o veneno do vinho saltou fora sob a forma de uma cobra. É por isso que São João é frequentemente apresentado não apenas com uma águia, mas também com um cálice donde sai uma cobra. Para pedir a mesma proteção é costume abençoar o vinho neste dia.

 

Oração para a bênção do vinho:

Senhor Jesus Cristo, que vos apresentastes como a videira verdadeira e os vossos apóstolos como seus ramos, abençoai + este vinho e fortalecei-o com vossa bênção, para que todos os que dele beberem, pela intercessão do vosso amado discípulo João, possam ser poupados de toda a aflição e gozar do bem-estar físico e espiritual. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.

 

Ver também:

Apóstolo preferido

O Predileto

Apóstolo São João

Consumir-se

Lição de São João Evangelista

João Apóstolo e Evangelista

 

Chegando a Portugal


"Cheguei a Lisboa pelas 10 horas do dia 27 de dezembro de 1946. Fui alojar-me nas Oficinas de S. José, dos Salesianos, nos Prazeres e aí estive até à chegada do Pe. Colombo (dois dias depois).

Em Lisboa encontravam-se já os quatro primeiros missionários destinados à fundação da nossa Missão em Moçambique. Eram eles: Pe. Pedro Comi, Pe. Celestino Pizzi, Pe. Joaquim de Ruschi e Pe. Luís Pezzotta. Os padres Comi, Pizzi e Pezzotta tinham saído de Roma no dia 29 de outubro de 1946, de avião com breve escala em Madrid. O Pe. De Ruschi saíra de Génova, no dia 5 de novembro no navio Ciudad de Valencia, com uma parte das bagagens. As dificuldades encontradas com estas bagagens em Barcelona foram a causa da nossa partida no navio Cabo de Hornos, naquela estranha data. Para evitarmos semelhantes complicações, tínhamos que levar o resto das malas dos missionários diretamente para Lisboa, sem passar pela Espanha. Os quatro missionários permaneceram em Lisboa até ao dia 12 de fevereiro de 1947." (Memórias do Pe. Gastão Canova).

 

O Pe. Colombo continuava em viagem marítima:

“Como bem me soube a paragem do navio no porto de Cádis! Como respirei e descansei em terra firme, num assento que não baloiçava, contemplando a solidez dos bastiões e das muralhas de defesa do porto, que não se mexiam nem um centímetro para qualquer lado! Também a visita à cidade confortou o meu espírito.

Pela noite dentro do dia 27, sem que me tivesse apercebido, o navio zarpou de Cádis. Dormi toda a noite e acordei bastante tarde.” (CF. Memórias do Pe. Ângelo Colombo)

 

domingo, 26 de dezembro de 2021

No Lusitânia Expresso

No dia 26 de dezembro, de manhã, estava eu à porta do afamado Banco para fazer o meu pedido: trocar liras por dólares. O meu espanhol era o que era! Fiquei admirado porque logo que fiz o meu pedido, abriram-se todas as portas com uma gentileza fora do comum. Passei de uma sala para outra, uma mais ornamentada do que a outra, com tapetes cada vez mais grossos. No fim encontrei-me diante de quem tratavam como senhor diretor. Com toda a atenção dispôs-se a ouvir o meu pedido. Eu estava interessado em dar liras italianas e receber dólares. A cara do homem mudou logo de aspeto e disse-me que não podia ser. E eu tive de voltar, passando pelas salas com tapetes cada vez mais pobres até à rua. Então percebi o engano. Julgavam que eu lhes trazia dólares à fartura em troca de liras italiana. O meu pobre espanhol tinha-os enganado.

À noite saí de Madrid, no Lusitânia Expresso, em direção a Lisboa. (CF. Memórias do Pe. Gastão Canova)

 

Por seu lado, o Pe. Colombo ia adaptando-se à vida do mar, pois ainda tinha mais três dias de viagem à sua frente.

“Ondas alterosas, batendo na amurada do navio e provocando um movimento de baloiço da proa à popa alto e rápido. Procurei resistir respirando fundo, fechando os olhos para não ver aquele baloiçar, agarrando-me a tudo… mas, por fim, tive de entregar às ondas o almoço, que andava cá dentro aos trambolhões… Envergonhei-me e fugi para o beliche!”

 

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O Coração do Natal

 

O Natal do Coração

O Coração do Natal

 

Natal é o dia em que o nosso coração 

se torna maior.

Porque Deus ao fazer-se homem concentra todo o seu amor num coração humano. De facto, o Natal engrandece o coração humano porque o torna igual ao coração de Deus.

Porque se Cristo, que é grande, quer nascer dentro de nós, então o nosso coração é pelo menos tão grande quanto o mesmo Cristo. É por isso que Deus se faz tão pequenino para caber no nosso coração e torná-lo maior.


Crónica de um santo (6)


Crónica de um santo na Madeira

 

6ª semana – Do Menino dos meninos ao Rei dos reis

Todos os reis da terra Vos hão de louvar, Senhor, quando ouvirem as palavras da vossa boca. Celebrarão os caminhos do Senhor, porque é grande a glória do Senhor.” (Sl 137, 4-5)

Jo 1, 14 resume numa frase o mistério do Natal – “O verbo fez-se carne e habitou entre nós.”

Jesus nasceu para que todos pudessem ouvir a voz de Deus e seguir os seus caminhos. Ser santo é cumprir isso mesmo.

Entre os reis que se distinguiram por terem louvado e glorificado o Senhor com toda a dignidade de vida e santidade de obras, está incluído, sem dúvida, o Beato Carlos de Áustria. De facto, consciente da origem divina de toda a autoridade humana, ele não se aproveitou da própria posição de soberano para obter vantagens pessoais e sempre agiu segundo a justiça, para bem do seu povo, para o crescimento do Reino de Deus e a liberdade da Igreja. Com ele, reconheçamos neste Natal que o Menino dos meninos é o Rei dos reis e que o Rei dos reis é o Menino dos meninos, ou seja, a grandeza da humildade e a humildade da grandeza.

24 de dezembro de 1921 – sábado

 

25 de dezembro de 1921 – domingo

Natal do Senhor.

 

26 de dezembro de 1921 – segunda-feira

O conde de Hunyady e mulher regressaram à Europa, também por falta de meios.

 

27 de dezembro de 1921 – terça-feira

Os Imperadores partiram para a Fajã da Ovelha e Ponta do Pargo, via Ribeira Brava e Paul do Mar, para participarem numa caçada juntamente com António Vieira de Castro e Gabriel Lomelino Bianchi.

 

28 de dezembro de 1921 – quarta-feira

Em caçada nas serras da Fajã da Ovelha e Ponta do Pargo.

 

29 de dezembro de 1921 – quinta-feira

Em caçada nas serras da Fajã da Ovelha e Ponta do Pargo.

30 de dezembro de 1921 – sexta-feira

Carlos e Zita regressaram ao Funchal, depois da caçada.

Era o 5º aniversário da coroação de Carlos como rei Apostólico da Hungria, em Budapeste. A Imperatriz assim descrevia o evento: “Para ele, a coroação teve um significado extraordinariamente grande; considerava a investidura que a Igreja lhe concedia em nome de Deus. Todos os deveres que naquela solene cerimónia jurou cumprir, ele os assumiu com a mais profunda fé e fez deles o programa da sua vida futura. Na coroação, todo o povo é confiado por Deus ao soberano e, a partir de então, ele deve viver para os seus súbitos; cuidar, rezar, sofrer por eles e santificar-se para conduzi-los a Deus.”

O dia da coroação foi um grande momento da vida do Beato Carlos que, desde aquele acontecimento, andou ainda mais decidido rumo a Deus.


O Natal em viagem


No dia 24 de dezembro, depois de celebrarmos a missa, fomos buscar as coisas necessárias para o Pe. Canova e corremos à Estação de Caminho de Ferro, justamente a tempo de apanhar o ‘rápido’ das 11 horas para Madrid.

Eu voltei ao Seminário, onde agradeci ao Mons. Reitor as atenções recebidas.

Parti apressadamente para o porto, pois estava determinado que se deveria estar a bordo pelas 12H00…

Uma vez a bordo, procurei reunir alguns italianos para fazer uma certa preparação para a Missa de Natal. Pelo menos cantar ‘Tu scendi dalle stelle’. Mas, pela intervenção do capelão de bordo que só então apareceu, o meu programa foi posto de lado.

Na manhã do dia de Natal, reuniram-se na sala nobre o clero, algumas irmãzinhas e muitos fiéis. Foi celebrada Missa solene com os cantos em perfeito gregoriano…” (CF. Memórias do Pe. Ângelo Colombo).

“Imaginem o fradinho Canova, no comboio para Madrid, com uma família catalã à sua frente, que nem espanhol falava, e a mulher de vez em quando a repetir: Parece impossível que não tenha aprendido catalão… Nós ensinamos logo as crianças a falar catalão.

Entretanto o comboio ia andando com a lentidão daqueles tempos, já tínhamos passado por Saragoça, e estávamos a aproximar-nos da meia noite.

Eu levava comigo um pequeno Menino Jesus deitado numas palhinhas, resto do meu presépio de criança. Peguei na imagem e comecei a rezar o terço. Às Ave-marias todos respondiam com devoção: eu em italiano, a tal família em catalão e os outros em castelhano. Estávamos todos tão comovidos que nem percebíamos a diferença de línguas.

Assim passei a noite de Natal de 1946.

Cheguei a Madrid pelas duas horas da madrugada. Um ‘sereno’ indicou-me uma pensão ali perto onde fui descansar o resto da noite. No dia seguinte fui almoçar na casa de asilo dos Padres de Madrid. Passei o Dia de Natal no ‘metro’, de um lado para o outro, a ver se dava com o Banco de Espanha, para lá me dirigir no dia seguinte.” (CF. Memórias do Pe. Gastão Canova)

 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Escala em Barcelona

Chegámos a Barcelona ao nascer do sol do dia 23 de dezembro de 1946. Celebrámos, tomámos o pequeno almoço no barco e saímos, não sem passar pelo controlo da polícia, à qual cheios de escrúpulos, declarámos o dinheiro que trazíamos: ‘entra con ciento dos dólares, diez chelinos y milciento vente escudos’, escreveram no passaporte.

Fomos pela cidade pedindo informações de quatro em quatro passos e chegámos a um edifício grande e antigo: era o Seminário Maior Diocesano. O Reitor, ao qual nos dirigimos, confiou-nos a um estudante de Teologia – ex-falangista – que nos ajudou imenso nas práticas da Alfândega, necessárias para a viagem do Pe. Canova para Madrid e Lisboa. Até nos levou a admirar um pouco de Barcelona. Entre outras coisas, vimos a célebre igreja da Sagrada Família de estilo gótico fantasioso. Dormimos nessa noite no Seminário. (CF. Memórias do Padre Ângelo Colombo)

 

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Partida e viagem


“Manhã cedo do dia 22 de dezembro, domingo, nós, Pe. Colombo e Pe. Canova, acordámos e celebrámos Missa. 

Mal estava eu a concluir a missa, o barco Cabo de Hornos afastou-se do cais e saiu do porto de Génova. 

Apoiados à amurada, comtemplámos as terras de Itália a se afastarem aos poucos e finalmente a desaparecerem. 

Saudades? Não muitas! 

Éramos novos e íamos ao encontro do nosso ideal de apostolado.

O dia estava claro e o mar calmo. Tudo corria bem! No entanto, pela tardinha, experimentámos um certo mal-estar de estômago e de cabeça. Nada de preocupações – explicaram-nos. É um pouco de agitação do mar no Golfo do Leão, ali mesmo em frente de Marselha e da foz do Ródão. Passámos calmamente o resto da tarde e a noite seguinte.” (CF. Memórias do Padre Ângelo Colombo)


Àcerca do barco Cabo de Hornos
“Tras la guerra civil española, la falta de buques de pasaje, sobre todo para atender el enorme tráfico a Sudamérica proveniente de la emigración, hizo que las navieras españolas comprasen de segunda mano, buques que ya otras naciones tenían de más.
Es el caso del Cabo de Hornos, comprado a la naviera President Lines de USA, botado en 1920 con el nombre EMPIRE STATE, de 163 metros de eslora, fue asignado a la ruta de San Francisco a Asia, Hawái y New York. En 1922 pasó a llamarse PRESIDENT WILSON, comprado en 1940 por la naviera YBARRA, se le puso el nombre de CABO DE HORNOS.
Pasó a ser el trasatlántico de más porte de la marina mercante española, asignado a la línea de Sudamérica, amplía sus puertos de embarque mas tarde a Génova.
En 1959 realiza sus últimos servicios, y en febrero de ese año marcha para Avilés donde es desguazado, señalar que Vigo fue su primer puerto de llegada cuando fue comprado, salió de USA con el nombre de MARIA PIPA, y sobre la marcha se lo cambiaron a CABO DE HORNOS.”

 

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Despedida e embarque

Génova e o seu porto

Na tarde de 21 de dezembro de 1946 os Padres Colombo e Canova embarcaram no navio espanhol, Cabo de Hornos, no porto de Génova, rumo a Portugal onde iniciariam a presença dos Dehonianos.

“Lembro-me que no momento do embarque eu tremia muito. Não sei se pelo vento de nortada que soprava, se pelas saudades, se pelo medo que fosse notado o excesso de peso da bagarem e os controladores mandassem parar. Efetivamente, o fiscal da alfândega não queria deixar passar a máquina de escrever, pois dizia que era nova… Depois exigiu a garantia da ‘Banca d’Italia’ para a exportação do duplicador… depois, finalmente, deu ordem para marcar as bagagens todas com o hierógrafo de passagem… Respirámos!

Recebida a bênção do Padre Provincial (que deveria tomar o comboio para Bolonha às 19 horas) subimos para bordo e, feitos os acenos de mão para as últimas saudações, refugiamo-nos na nossa cabine. Sabia bem o tepor lá de dentro. Uma vez jantados, deitámo-nos e dormimos saborosamente, apesar da gritaria e dos barulhos de bordo, onde continuaram a carregar durante toda a noite.” (CF. Memórias do Padre Ângelo Colombo)

 

domingo, 19 de dezembro de 2021

Esperar bem acompanhado


Ano C – IV domingo do advento

Continuamos a aprender a esperar.

O Evangelho de hoje sugere-nos que para saber esperar é preciso anunciar, comunicar, contagiar os outros para que a espera seja bem acompanhada.

Ninguém espera sozinho.

Quando esperamos a chegada de um amigo, se estivermos sozinhos os minutos parecem horas, as horas parecem dias, os dias, aprecem meses e os meses parecem anos.

Quando esperamos por algo ou por alguém, mas estamos bem acompanhados tudo se torna mais fácil. Assim nos ajudamos uns aos outros a esperar.

Por isso a Virgem Maria foi associar-se à sua Prima Isabel para juntas esperarem a realização das promessas de Deus.

Saibamos então esperar a Vinda do Messias em comunidade, unidos uns aos outros, porque unidos aos nossos irmãos aprenderemos a estar unidos a Cristo Jesus.

 

Conclusão:

Todo o Advento nos ensina a esperar com a letra A:

- A de Acordados, despertos e vigilantes

- A de Ativos, preparados e prevenidos

- A de Alegres, celebrando a felicidade

- A de Acompanhados, anunciando e abraçando os outros

- A de Acolhedores, aceitando o próprio Jesus na nossa vida.

 

À margem:

Fico a pensar no diálogo entre as duas mulheres no Evangelho de hoje.

Para quem ama, basta uma pequena saudação para encher de vida o coração e elevar-se no louvor a Deus. O amor não necessita de discursos, mas alimenta-se de relação. Amor é comunicação, é encontro.

 

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Crónica de um santo (5)


Crónica de um santo na Madeira

5ª semana – Não se cansava de fazer o bem

Quem faz o bem, fá-lo para os outros. Quem faz o bem, fá-lo para sempre, pois o bem para ser bem não pode acabar.

Um milagre é algo que parece impossível aos nossos olhos, mas não aos olhos de Deus.

Ao contemplar um milagre, podemos concluir que não há limites para quem faz o bem.

Ser santo é isto, é não se cansar de fazer o bem e fazer bem tudo o que faz.

O Beato Carlos tudo o que fazia fazia-o bem e nunca se cansou de fazer o bem, quer aqui na terra como agora no céu.

 

17 de dezembro de 1921 – sábado

 

18 de dezembro de 1921 – domingo

Quarto Domingo do Advento.

O Imperador participava na Missa com uma devoção verdadeiramente impressionante. Recebia todos os dias a Santa Comunhão, edificando todos os circunstantes pela sua eminente piedade e fé, manifestada até aos mais simples movimentos.

 

19 de dezembro de 1921 – segunda-feira

 

20 de dezembro de 1921 – terça-feira

 

21 de dezembro de 1921 – quarta-feira

Foi neste dia, mas 82 anos mais tarde, ou seja, a 21 de dezembro de 2003 que foi aprovado um milagre atribuído ao então Venerável Carlos Imperador pelo Papa João Paulo II, abrindo o caminho para a beatificação que se realizou a 03 de outubro de 2004. O milagre está relacionado com uma Irmã polaca encarregada de um grande hospital no Brasil. Na década de 60 ela teve sérios problemas com as pernas e ficou acamada sem poder andar. Foi submetida a várias operações, mas sem sucesso. Quando outra Irmã lhe sugeriu para rezar através do Imperador Carlos, ela recusou preferindo um santo mais familiar e popular. Como as dores e a infeção aumentavam e surgiu a hipótese de uma amputação, desesperada a doente pediu a cura através do Imperador Carlos. No dia seguinte estava completamente curada, em virtude do trabalho exercido pela Irmã e das numerosas operações, o seu caso foi bem documentado por vários médicos e enfermeiros.


22 de dezembro de 1921 – quinta-feira

Chegou à Madeira D. João de Almeida, juntamente com a sua esposa D. Constança Telles da Gama, para voluntariamente apoiar os Imperadores exilados, de quem era muito amigo. De facto, aos doze anos D. João tinha ido viver para a Áustria, enviado por seu pai, para acompanhar os filhos do Rei D. Miguel I que aí viviam exilados, entre os quais se contava a Infanta Maria Antónia de Bragança, mãe de Zita. Desde então ficou muito amigo da família imperial, tendo sido um dos convidados para o casamento de Carlos e de Zita. Além disso serviu também na Armada Austro-húngara. Tudo isto eram razões mais que suficientes para percebermos porque é que D. João se juntou à família imperial na Madeira. Ele tratava das relações do Imperador com os outros países e D. Constança ajudava a cuidar dos sete filhos do casal.

 

23 de dezembro de 1921 – sexta-feira