segunda-feira, 21 de outubro de 2024

Carlos de Áustria escritor


Memória litúrgica do beato Carlos de Áustria

A) O livro que o Santo Imperador não escreveu

Sabemos que Carlos de Habsburgo queria escrever um livro de impressões colhidas na Madeira e das suas gentes. (168)

Parece que o seu sonho não se concretizou por causa da sua morte prematura.

Este sonho não se realizou porque um “sonho mais alto se levantou”.

Não foi o imperador Carlos a escrever um livro sobre o povo da Madeira, mas sim o povo da Madeira é que escreveu e continua a escrever sobre as impressões colhidas do imperador na Madeira.

É um livro feito de gestos e palavras, de paz, humildade e confiança em Deus.

O povo continua a escrever esse livro através da devoção, testemunho e intercessão do Beato Carlos de Áustria.

 

B) O livro que o santo Imperador escreveu

Pensando melhor, afinal o Beato Carlos escreveu um livro cuja edição transcende esta terra, pois é lido também no céu. É o livro da sua vida de santidade.

Entre tantas, assinalamos apenas duas realidades que podemos ler no livro que o Imperador nos deixou, que é a sua vida e santidade:

- Nenhuma missão tem concorrido tão eficazmente para reavivar a Fé na minha diocese como o exemplo da paciência heroica e da morte santa do ‘seu imperador’. É um livro de espiritualidade e de santidade.

- Referindo-Se à régia personalidade, o ex-imperial exilado da Madeira, Carlos da Áustria-Hungria, que nenhuma propaganda podia dar melhor resultado do que a sua permanência aqui. Nem com três mil contos tanto se poderia conseguir. (83) É um livro de promoção a todos os níveis.

 

C) O livro que o Imperador queria escrever

Se alguém quiser assumir o desafio de completar o Livro que o imperador Carlos não chegou a escrever, aqui vão algumas impressões que ficaram registadas e que deverão integrar esse tal livro:

- Na sua vinda para o Funchal como exilado, ao dobrar a Ponta do Garajau, olhou para a montanha e viu a Igreja e as torres de Nossa Senhora do Monte que de longe se assimilavam às Igrejas do Tirol Austríaco. Logo prometeu à sua esposa que ali viriam como peregrinos.

- Estamos encantados com a Ilha da Madeira e mais ainda com a forma carinhosa como o povo nos saudou à nossa passagem. É um povo deveras hospitaleiro. (33)

- Sabemos que os ex-imperadores de Áustria se encontram altamente penhorados pela maneira como foram tratados a bordo do cruzador inglês estando também muito satisfeitos por ser a Madeira a terra escolhida para o seu exílio. (38)

- Sabemos, por informação segura, que Carlos de Habsburgo e Zita de Bourbon, os ex-soberanos da Hungria, que se encontram exilados nesta ilha, continuam manifestando o seu agrado pela nossa terra. (56)

- O Século publicou os seguintes telegramas: O ex-imperador Carlos e a ex-imperatriz Zita mostram-se satisfeitos pelo acolhimento e atenções que lhes têm sido dispensadas pelos madeirenses e estão encantados com o panorama da ilha. (61)

- O Diário de Notícias da capital publicou o seguinte telegrama: O Ex-imperador Carlos recebeu em audiência particular o Sr. António Vieira Castro. Mostrou-se muito satisfeito com a escolha do lugar de exílio e fez votos pela felicidade de Portugal.

- S.S.M.M. saíram anteontem do seu aprazível chalet Vitória pela uma hora da tarde, em automóvel até à Ribeira Brava, mostrando-se em todo o percurso bastante admirados com os acidentes naturais

- Carlos de Habsburgo ficou agradavelmente impressionado, tanto pela hospedagem que lhe foi oferecida pelo proprietário sr. Augusto de Gouveia, como pela forma agradável como foi recebido pelas populações rurais. (90)

- Os ex-imperadores d’Áustria estiveram na fortaleza de S. João Baptista (Pico) na noite do dia 31, admirando os lindos fogos de artifício que se queimaram nesta cidade e arredores, para solenizar a passagem do ano velho para o ano novo.

- Consta-nos que Suas Majestades ficaram muito agradavelmente impressionados com os belos espetáculos que se desenrolam aos seus olhos. (93)

- Sua Majestade voltou encantado com estas serras, que são deslumbrantes, na verdade. (93)

-  Os madeirenses consagram aos seus reais hóspedes, um interesse profundo, feito de respeito admirativo por suas grandes virtudes e ilustração invulgar, e de carinho amoroso para com as suas augustas pessoas (121)

- A imperatriz recebeu várias pessoas manifestando o seu reconhecimento pelo carinhoso acolhimento que lhe tem sido dispensado pelos madeirenses. Espera que o Arquiduque Roberto parta muito em breve para a Madeira, a fim de completar a sua convalescença no maravilhoso clima dessa ilha. (128)

…/…

 

D) Título para o Livro do Imperador

Já que o Imperador Carlos queria pôr em livro as impressões colhidas na Madeira, e tendo em conta o seu testemunho divulgado pelos jornais, proponho que o livro tenha por título: GRATIDÃO E RECONHECIMENTO.

De facto, gratidão e reconhecimento, são virtudes próprias dos santos.

Que não nos faltem ainda hoje os mesmos sentimentos de gratidão e de reconhecimento.

 

E) A vida é como um livro

A vida é como um livro e o livro é como a vida.

Cada dia uma página nova.

Cada hora uma vírgula.

Mas nem o lápis pode escrever o futuro nem a borracha apagar o passado.

E chega um momento em que Deus nos tira o lápis e escreve FIM.

É este o livro que cada um deve escrever.

 

(Advertência – por uma questão prática as citações apresentadas neste texto foram abreviadas, constando apenas o número da página. São todas do livro de Duarte Mendonça: Carlos e Zita de Habsburgo, crónica de um exílio imperial na cidade do Funchal, antologia anotada de textos da imprensa regional, Município do Funchal, setembro 2013).

A fotografia é da autoria da Maria da Paz Mendonça, Monte 3 de outubro de 2024.)

 

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