Memória litúrgica do beato Carlos de Áustria
A)
O livro que o Santo Imperador não escreveu
Sabemos
que Carlos de Habsburgo queria escrever um livro de impressões colhidas na
Madeira e das suas gentes. (168)
Parece
que o seu sonho não se concretizou por causa da sua morte prematura.
Este
sonho não se realizou porque um “sonho mais alto se levantou”.
Não
foi o imperador Carlos a escrever um livro sobre o povo da Madeira, mas sim o
povo da Madeira é que escreveu e continua a escrever sobre as impressões
colhidas do imperador na Madeira.
É
um livro feito de gestos e palavras, de paz, humildade e confiança em Deus.
O
povo continua a escrever esse livro através da devoção, testemunho e
intercessão do Beato Carlos de Áustria.
B)
O livro que o santo Imperador escreveu
Pensando
melhor, afinal o Beato Carlos escreveu um livro cuja edição transcende esta
terra, pois é lido também no céu. É o livro da sua vida de santidade.
Entre tantas, assinalamos apenas duas realidades que podemos ler no livro que o Imperador nos deixou, que é a sua vida e santidade:
-
Nenhuma missão tem concorrido tão eficazmente para reavivar a Fé na minha
diocese como o exemplo da paciência heroica e da morte santa do ‘seu imperador’.
É um livro de espiritualidade e de santidade.
-
Referindo-Se à régia personalidade, o ex-imperial exilado da Madeira, Carlos da
Áustria-Hungria, que nenhuma propaganda podia dar melhor resultado do que a sua
permanência aqui. Nem com três mil contos tanto se poderia conseguir. (83) É um livro de promoção a todos os níveis.
C)
O livro que o Imperador queria escrever
Se
alguém quiser assumir o desafio de completar o Livro que o imperador Carlos não
chegou a escrever, aqui vão algumas impressões que ficaram registadas e
que deverão integrar esse tal livro:
-
Na sua vinda para o Funchal como exilado, ao dobrar a Ponta do Garajau, olhou
para a montanha e viu a Igreja e as torres de Nossa Senhora do Monte que de
longe se assimilavam às Igrejas do Tirol Austríaco. Logo prometeu à sua
esposa que ali viriam como peregrinos.
-
Estamos encantados com a Ilha da Madeira e mais ainda com a forma
carinhosa como o povo nos saudou à nossa passagem. É um povo deveras hospitaleiro.
(33)
-
Sabemos
que os ex-imperadores de Áustria se encontram altamente penhorados pela
maneira como foram tratados a bordo do cruzador inglês estando também muito
satisfeitos por ser a Madeira a terra escolhida para o seu exílio.
(38)
-
Sabemos, por informação segura, que Carlos de Habsburgo e Zita de Bourbon, os
ex-soberanos da Hungria, que se encontram exilados nesta ilha, continuam
manifestando o seu agrado pela nossa terra. (56)
- O Século publicou os seguintes telegramas: O ex-imperador Carlos e a ex-imperatriz Zita mostram-se satisfeitos pelo acolhimento e atenções que lhes têm sido dispensadas pelos madeirenses e estão encantados com o panorama da ilha. (61)
- O Diário de Notícias da capital publicou o seguinte telegrama: O Ex-imperador Carlos recebeu em audiência particular o Sr. António Vieira Castro. Mostrou-se muito satisfeito com a escolha do lugar de exílio e fez votos pela felicidade de Portugal.
-
S.S.M.M. saíram anteontem do seu aprazível chalet Vitória pela uma hora da
tarde, em automóvel até à Ribeira Brava, mostrando-se em todo o percurso bastante
admirados com os acidentes naturais
-
Carlos de Habsburgo ficou agradavelmente impressionado, tanto pela
hospedagem que lhe foi oferecida pelo proprietário sr. Augusto de Gouveia, como
pela forma agradável como foi recebido pelas populações rurais.
(90)
-
Os ex-imperadores d’Áustria estiveram na fortaleza de S. João Baptista (Pico)
na noite do dia 31, admirando os lindos fogos de artifício que se
queimaram nesta cidade e arredores, para solenizar a passagem do ano velho para
o ano novo.
- Consta-nos
que Suas Majestades ficaram muito agradavelmente impressionados com os
belos espetáculos que se desenrolam aos seus olhos. (93)
-
Sua Majestade voltou encantado com estas serras, que são deslumbrantes,
na verdade. (93)
-
Os madeirenses consagram aos seus reais
hóspedes, um interesse profundo, feito de respeito admirativo por suas
grandes virtudes e ilustração invulgar, e de carinho amoroso para com as
suas augustas pessoas (121)
-
A imperatriz recebeu várias pessoas manifestando o seu reconhecimento pelo
carinhoso acolhimento que lhe tem sido dispensado pelos madeirenses. Espera
que o Arquiduque Roberto parta muito em breve para a Madeira, a fim de
completar a sua convalescença no maravilhoso clima dessa ilha. (128)
…/…
D)
Título para o Livro do Imperador
Já
que o Imperador Carlos queria pôr em livro as impressões colhidas na Madeira, e
tendo em conta o seu testemunho divulgado pelos jornais, proponho que o livro
tenha por título: GRATIDÃO E RECONHECIMENTO.
De
facto, gratidão e reconhecimento, são virtudes próprias dos santos.
Que
não nos faltem ainda hoje os mesmos sentimentos de gratidão e de reconhecimento.
E)
A vida é como um livro
A
vida é como um livro e o livro é como a vida.
Cada
dia uma página nova.
Cada
hora uma vírgula.
Mas
nem o lápis pode escrever o futuro nem a borracha apagar o passado.
E
chega um momento em que Deus nos tira o lápis e escreve FIM.
É
este o livro que cada um deve escrever.
(Advertência
– por uma questão prática as citações apresentadas neste texto foram abreviadas,
constando apenas o número da página. São todas do livro de Duarte Mendonça: Carlos
e Zita de Habsburgo, crónica de um exílio imperial na cidade do Funchal,
antologia anotada de textos da imprensa regional, Município do Funchal, setembro
2013).
A
fotografia é da autoria da Maria da Paz Mendonça, Monte 3 de outubro de 2024.)
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