domingo, 13 de julho de 2025

O samaritano das neves


Ano C – XV domingo comum

Versão do bom samaritano nas neves

 

Durante as férias de inverno um grupo de turistas procurou alcançar o cimo de um alto monte, de neves perpétuas. Foi grande a alegria de ter alcançado o objetivo, mas essa alegria deu depressa lugar à inquietação, pois aproximava-se uma grande tempestade de neve. A descida devia ser rápida e no meio do turbilhão de vento e neve. Cada um devia descer com precaução e segurança, sem perder de visto os restantes elementos do grupo.

Logo nos primeiros metros, por nervosismo, pressão ou ansiedade, um deles torceu o pé e não podia caminhar. Com o pé inchado e ferido, precisava de ajuda, mas não havia tempo para isso. Deixá-lo para trás sozinho não seria uma boa solução. Aguardar socorro de fora estava fora questão pois ninguém resistiria. Só havia uma solução – alguém carregá-lo às costas. Mas logo um descartou-se dizendo que não tinha forças para tal, outro disse precisar mais de ajuda do que de ajudar, outro disse que não iria longe e mais valia perder um do que perderem-se dois ou mais.

O chefe da expedição só pensou no ferido – E se eu estivesse no seu lugar? O que gostaria que fizessem?

E sem dizer nada, carregou às costas o necessitado.

O frio era intenso, a tempestade cada vez mais agreste e o esforço cada vez mais esgotante…A determinada altura deixou de sentir frio. Pensou que o corpo do ferido que carregava o estava a aquecer e as suas forças animaram-se. O carregado às costas também começou a aquecer, pensando que era da transpiração de quem o carregava. E cada um agradeceu a Deus.

Pelo caminho encontraram vários corpos presos pela neve…

Depois de uma longa caminhada chegaram a um abrigo seguro onde foram recebidos pela equipa de socorro.

- E os outros já chegaram? - perguntou o chefe da expedição.

- Sois os primeiros.

E não chegou mais ninguém.

- Tu salvaste a minha vida – disse o ferido.

- Não, tu é que salvaste a minha vida. Se eu não te carregasse, não teria o calor suficiente para aguentar, tal como aconteceu com todos os outros que vieram sozinhos...

- É o calor do coração de sempre nos salva – concluíram todos.

De facto, quem ajuda é ajudado.

O bom samaritano das neves salvou e foi salvo.

 

À margem 1

Os primeiros personagens a passar junto do homem assaltado pensaram:

- Se eu parar e ajudar aquele homem, o que me pode acontecer?

Ficarei sujo, chegarei tarde aos meus compromissos, meto-me em trabalhos e preocupações, poderei também ser roubado e atacado.

O samaritano ao aproximar-se do homem assaltado pensou:

- Se eu não parar e ajudar este homem, o que lhe poderá acontecer?

Ficará sozinho a sofrer, não prestará para mais nada, talvez vá morrer sem assistência.

 

Um pensou em si – e prosseguiu sozinho – e o ferido continuou parado e só e a sua dor não acabou.

O samaritano pensou no outro – e juntos seguiram mais seguros e cearam os dois – e foram nós.

 

O bom samaritano é como Deus

Deus é como o bom samaritano

 

Se eu penso em mim, tu ficas sós

Se eu penso em ti, seremos nós

A tua dor vai acabar

E eu mais seguro vou caminhar

 

À margem 2

Quem é quem na parábola do Samaritano?

Hipótese A:

Jesus é o samaritano que desceu até à Terra e socorre a humanidade e a sua igreja ferida.

Esta identificação deve despertar em nós o sentimento de Gratidão.

Agradeçamos Jesus, nosso bom samaritano, por pensar em nós, por cuidar de nós e por nos curar e salvar.

Hipótese B:

Cada um de nós é o bom samaritano que deve pensar no outro que precisa da sua assistência e cuidado – daí o desafio final: Vai e faz o mesmo.

Esta identificação deve despertar em nós o sentimento de serviço e de ajuda ao próximo.

Peçamos a graça de fazer aos nossos irmãos o mesmo que Jesus fez por cada um de nós.

 

À margem 3

Alguém sabe o nome do homem assaltado e ferido nesta parábola?

Alguém sabe o nome dos ladrões que o assaltaram?

Alguém sabe o nome dos dois homens que passaram ao lado ignorando o homem ferido?

Alguém sabe o nome do samaritano que lhe prestou assistência?

Ninguém sabe o seu nome e eu também não.

Porque é que não ficou registado nenhum desses nomes?

Porque podes ser tu, posso ser eu. Posso ser o homem assaltado, mas também o homem que assaltou, que passou ao lado ou que prestou assistência.

O seu nome pode ser o seu nome.

 

Ver também:

Sem amor não há unidade

O nome do bom samaritano

O coração do samaritano

Jesus samaritano

Um samaritano

Versão alegórica

Versão alternativa

Ver com o coração

Quem é o meu próximo

Fazer o mesmo

Encontro

Bom samaritano

Vai e faz o mesmo

 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

A Regra de São Bento


Festa de São Bento, Abade, Padroeiro da Europa

A Regra de São Bento, composta a partir do ano 529 para a nascente comunidade monástica de Monte Cassino, contém as normas que governam todos os aspetos da vida espiritual e material do monge e de toda a comunidade para chegar à perfeita união com Deus. É uma Regra equilibrada e completa, humana e espiritualmente porque apresenta um tempo para tudo:

 

1 – Tempo para o corpo – Labora – Manter-se em atividade física através do trabalho e da ação sem espaço para o ócio.

2 – Tempo para a mente – Ler e escrever, estudar e argumentar, numa espécie de ginástica mental.

3 – Tempo para a alma – Ora – rezar, meditar, pregar, adorar, celebrar a liturgia comunitária com devoção e dignidade.

4 – Tempo para a comunidade e para os irmãos – Vede como eles se amam para amar como eles se olham ou se veem. Todos os hóspedes que chegarem serão recebidos como o próprio Cristo.

5 – Tempo com a natureza – cuidar da criação, mas também unir-se em louvor juntamente com todas as criaturas para recuperar o paraíso inicial, sem esquecer a dimensão lúdica.

 

À margem 1:

São Bento, o Pai dos Monges, faleceu aos 67 anos, em 547, mas a sua Regra continua a inspirar a vida e a santidade de muitos discípulos. Os frutos do seu trabalho são históricos e contabilizados. Dos mosteiros beneditinos até hoje saíram 23 papas, 5 mil bispos e 3 mil santos canonizados.

 

À margem 2:

São Bento apresenta a ligação de trabalho e oração (Ora et Labora). A oração permanente é assegurada pelo monge também durante o trabalho. No meio do trabalho, a oração interior continua. O monge não está sempre a pensar em Deus, mas no fundo da sua alma, está ancorado em Deus. Interiormente reconhece a presença de Deus. Da mesma forma que gostamos mais de trabalhar num dia de sol do que num dia de chuva, sem estarmos sempre a pensar no sol, assim também a presença purificadora e salvadora de Deus é um prazer para quem a tem. A presença de Deus é o espaço em que trabalhamos. Ela influencia o nosso trabalho. A oração interior lembra-nos sempre da presença do amor de Deus.

 

À Margem 3:

No refeitório, depois da oração inicial, a distribuição dos alimentos ocorre ao sinal do abade; no mesmo momento, o “lector hebdomadarius” inicia a leitura espiritual em alta voz, enquanto que os monges escutam no mais absoluto silêncio. À mesa leem-se alguns versículos da Bíblia, seguidos de excertos de obras espirituais, históricas e edificantes, de modo que enquanto se alimenta o corpo, se possa também nutrir o espírito.

 

À margem 4:

Corre enquanto tens a luz da vida, para que as trevas da morte não te alcancem. (Prólogo da Regra de São Bento, referindo-se a Jo 12,35).

 

À margem 5:

Na Regra de São Bento não se fala ainda de votos. Tirando o texto dobre a obediência ao abade, a Regra não fala explicitamente dos três votos religiosos ou conselhos evangélicos (Pobreza, Castidade e Obediência). São Bento prefere falar da CONVERTIO MORUM, a conversão da nossa maneira de viver. Esta conversão será sempre uma conversão para Cristo e o seu Evangelho.

 

Ver também:

A atualidade de São Bento

A cruz, o livro e a charrua

O trabalho é oração e vice-versa

As 3 brechas

Oração e ação

Oração de São Bento

São Bento de Núrcia

Ora et labora

 

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Cada Apóstolo é como Maria


5ª feira – XIV semana comum

Não é Maria que é parecida com os apóstolos.

Os apóstolos é que são parecidos com Maria.

 

Maria é exemplo vivo do perfil destes mensageiros do evangelho:

- Proclama que o Reino está perto – Donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor.

- Atende os necessitados (curai os enfermos, sarai os leprosos...) – Não têm vinho.

- Recebeu de graça, deu de graça – Ave Cheia de graça.

- Não leva duas túnicas, nem ouro nem prata – Mala vazia, mas o coração cheio.

- Trabalhadora que merece o seu salário – Eis a serva do Senhor.

- Deixa a paz – ao ouvir a tua saudação, o menino exultou no meu seio.

- Fica nessa casa até partir – Maria ficou cerca de três meses, depois regressou a sua casa.

 

É por isso que Maria é a mãe dos Apóstolos e o modelo da sua missão evangélica.

De facto, Jesus ao apresentar estas condições aos seus apóstolos, estava a pensar no modelo de sua Mãe, a primeira missionária.

 

Ver também:

Mala vazia, coração cheio

Evangelizar é viver

Missão de paz

Tanto verbo

Uma túnica só

Não levar duas túnicas

 

quarta-feira, 9 de julho de 2025

É Jesus quem chama e envia


4ª feira – XIV semana comum

Jesus chamou a si os seus doze discípulos…

Chamar, aqui, tem três significados:

1º - Chamar é congregar, é juntar, reunir em assembleia, convocar em igreja. A palavra chamar tem a mesma raiz que a palavra igreja (ecclesia).

2º - Chamar é designar, é dizer o seu nome próprio, é identificar, é conhecer – São estes os nomes dos doze.

3º - Chamar é dar uma nova identidade – chamou-os apóstolos – definiu-os como enviados, de facto Jesus enviou estes doze.

 

Ver também:

Os companheiros de Jesus

Cada apóstolo a sua missão

Ide a José e fazei

Jesus é o protagonista

Corresponsabilidade

Apóstolos a postos

Apóstolos de Jesus e o Jesus dos apóstolos

Aprendendo com Judas

Deus é quem escolhe

Sou porque somos

Contrato

Seguidores

Escolher

Subir ao monte

Doze apóstolos

 

terça-feira, 8 de julho de 2025

Trocas e baldrocas de hoje


3ª feira – XIV semana comum


Ovelhas no céu

As trocas e baldrocas do evangelho de hoje

Em vez de Jesus olhar para a multidão das ovelhas sem pastor, porque andavam fatigadas e abatidas, hoje quero que Jesus olhe para os pastores que parecem estar fatigados e abatidos, como pastores sem rebanho. 

Em vez de Jesus mandar pedir ao Senhor trabalhadores para a sua seara, peçamos-lhe se encha de compaixão para com os trabalhadores.

Em vez de Deus enviar pastores para o rebanho, que mande boas ovelhas para os seus pastores.

De facto, não sei o que é pior, se ovelhas sem pastor ou se pastores sem ovelhas.

O pior de tudo é que hoje as ovelhas não querem ser rebanho.

O que mais preocupa e cansa os pastores é que as suas ovelhas não querem ser rebanho, não querem formar comunidade. Hoje cada ovelha quer seguir o seu caminho, a sua vida e a sua fé por sua própria conta. Uma ovelha sem rebanho ou sem pastor não é livre, mesmo que pareça sê-lo; na verdade, é uma ovelha desgarrada e perdida, que vaga sozinha pelos montes sem saber para onde ir, e está exposta ao assalto de qualquer inimigo como presa fácil. É preciso rezar para que Deus dê rebanhos aos seus pastores e que as ovelhas queiram ser rebanho.

 

À margem:

Em vez de rezarmos para que o dono mande mais trabalhadores para a sua seara, hoje vamos rezar pelos trabalhadores que fatigados e abatidos trabalham já trabalham nessa seara.

 

Oração pelo Pastor

 

1-

Ele sabe fazer-se pequeno

vive a profetizar.

Tem um jeito tranquilo e sereno,

tem o teu jeito de amar.

 

Abençoa, Senhor, o nosso pastor,

abençoa, Senhor, este homem de paz.

E faz com que ele não canse jamais.

E faz com que ele não canse jamais.

 

2-

Ele vive a servir os pequenos

vive a nos incentivar.

Não permite que fique por menos

tudo o que deve mudar.

 

Ele tem uma paz tão inquieta,

vive a se preocupar

Quer o povo a caminho da meta,

quer ver o povo chegar.

 

3-

Ele é pai, é irmão, é amigo,

nunca tem tempo pra si.

De seus braços armou um abrigo,

conduz o povo em ti

 

Seu anseio é sentir que a justiça

aconteceu entre nós.

Quer um povo sem dor nem cobiça,

é voz de quem não tem voz

 

(Música e letra do Pe. Zezinho)

Para ouvir – clicar aqui

 

Ver também:

Os trabalhadores da seara

Diabo não expulsa diabo

O demónio que era mudo

Jesus não parava

E o mudo falou

Enviados para a colheita

Grande seara

Endemoninhado e mudo

A colheita é boa

Pedi ao dono da seara

A missão é grande

Demónio mudo

Para a sua seara

A colheita é grande, mas

Carga leve

Poucos, mas bons

Seara grande

 

segunda-feira, 7 de julho de 2025

Tocar o manto e curar-se


2ª feira – XIV semana comum

 

- Se eu ao menos lhe tocar na fímbria do manto, ficarei curada.

E assim aconteceu…

O manto entre os judeus tinha 5 significados:

- O manto tinha a finalidade prática de manter as pessoas aquecidas.

- Protegia das intempéries.

- Também servia a um propósito simbólico, no caso dos profetas, mostrando que eles estavam envoltos na autoridade de Deus.

- O manto pode ser visto como um símbolo da unção do Espírito Santo que Deus tão graciosamente concede a todos os cristãos, o povo de Sua escolha (1Ts 1,5-6; 1 Pd 2,9).

- O manto é uma espécie de baldaquino ou de abóbada celeste. Usar um manto é pôr-se debaixo do Céu ou tenda de Deus sobre os homens.

 

É por tudo isto que a mulher do evangelho de hoje quis tocar no manto de Jesus.

Ela precisava de proteção, de acolhimento, da unção, do poder e do Espírito Divino. Numa palavra, ela precisava de cura de Deus.

 

Mas este episódio ensina algo mais sobre Jesus – mostra que Jesus usa um manto, não porque precisa dele, mas porque os outros necessitam do seu manto.

O manto de Jesus não é para si, mas para os outros, está ao serviço dos necessitados.

O manto de Jesus não serve Jesus, mas os que se abeiram dele.

 

Ver também:

Débora eu te ordeno acorda

Quem é esta mulher curada

História de duas mulheres

A menina está a dormir

Kum, isto é, levanta-te

Assim tocamos corações

Tocar o coração

Cordeirinha levanta-te

Coragem e fé

Jovem levanta-te

Tocar e ser tocado

Todos queriam tocar

Talitha kum

Tocar em Jesus

Tocar na orla da capa