domingo, 9 de novembro de 2025

Descobrir onde Deus habita


Festa da Dedicação da Basílica de Latrão

 

Irmãos, vós sois edifício de Deus…

Veja cada um como constrói.

Porque o templo de Deus é santo

e vós sois esse templo.

Uma caravana de ciganos estacionou junto ao poço na entrada de uma aldeia. As crianças do local correram curiosas a admirar esses visitantes especiais.

Um cigano em particular chamava-lhes a atenção. Era alto, forte, moreno, de longos cabelos. Depois de ter bebido água, esse homem ficou estático a olhar para dentro do poço com as mãos apoiadas na orla.

Um garoto, de cerca de seis anos, aproximou-se e em bico de pés procurava espreitar para dentro do poço para ver o que chamava a atenção àquele homem estranho.

Então o cigano com um sorriso perguntou-lhe:

- Sabes quem está lá em baixo?

O garoto abanou a cabeça negativamente.

- Está Deus. – disse o homem – Vê.

E levantando-o, debruçou-o sobre a orla do poço para que pudesse olhar para dentro. Lá no fundo a água era como um espelho que refletia a sua própria imagem.

- Mas aquele sou eu! – concluiu o garoto.

- É verdade – exclamou o cigano colocando-o de volta no chão – Agora sabes onde está Deus.

 

Ver também:

Qual o lugar mais santo

A glória encheu o templo

Não evocar a Igreja em são

O templo de Deus é santo

Nós somos um templo

Só se limpa com gestos

Coração casa de oração

As três igrejas

A não-violência de Jesus

Deus na igreja

Negócios à parte

Limpar e ornamentar

Três casas de Deus

A multiforme de ensinar

Limpeza do templo

Ao colo de Deus Pai

Limpando o templo

Morada de Deus

 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O Condestável virou monge


Memória de São Nuno de Santa Maria 

Álvares Pereira, +1431

A – O Santo e o Padre

No dia 15 de agosto de 1423, Nuno Álvares Pereira foi admitido na Ordem Carmelita como um simples monge com o nome de Nuno de Santa Maria. Tornou-se um grande religioso, assim como fora um grande soldado. Com ele no mosteiro estava um sacerdote que, antes da sua ordenação, fora soldado e servira sob o comando de Nuno. Quando passava, o monge Nuno beijava o manto do sacerdote como sinal de respeito à sua dignidade. Por sua vez, o sacerdote costumava dizer que uma das maiores honras da sua vida fora servir como pajem do Condestável. Havia uma bela reciprocidade de respeito entre o Condestável – agora monge – e o padre – antes pajem.

O espírito católico se alegra em reconhecer a superioridade do outro. Naquela época, essa alegria se manifestava em gestos e expressões de respeito e admiração mútuos, que acrescentavam grande valor à vivência cristã.

Isto faz parte dos ensinamentos de Jesus: Pois todo aquele que se exaltar será humilhado, e todo aquele que se humilhar será exaltado.

 

B – O Santo e o Rei

Durante o último ano da sua vida, Frei Nuno de Santa Maria recebeu a visita do Rei D. João I, que o abraçou pela última vez. O Rei chorou, pois considerava Frei Nuno seu amigo mais próximo, aquele que o colocara no trono e fundara com ele a Casa Real de Bragança. Naquela época, as pessoas não temiam a morte. Era comum um homem pressentir a proximidade do fim. Se estivesse forte o suficiente, visitava os seus amigos e parentes próximos para se despedir. Da mesma forma, as pessoas que o conheciam eram aconselhadas a visitá-lo e dar-lhe um último adeus. Todos encaravam isso naturalmente, pois as pessoas tinham fé. Aqueles que permaneceriam nesta vida costumavam pedir favores ao moribundo: “Peço-te que me recomendes a Nossa Senhora” ou “Quando vires a minha padroeira, por favor, lembra-lhe de que preciso da sua ajuda.”

Era uma época de cortesia, e as pessoas até morriam com polidez e elegância. Se alguém estava partindo deste mundo, o gesto de cortesia era visitá-lo e se despedir. Expressava-se gratidão, dava-se ou recebia-se algum bom conselho, demonstrava-se estima pela última vez. Foi por isso que o Rei foi visitar D. Nuno. O rei queria demonstrar a sua amizade ao Condestável Nuno Álvares Pereira. Ao vê-lo, o Rei chorou, abraçaram-se e, em seguida, cada um seguiu o seu caminho. Nuno Álvares faleceu e, no Céu, rezou pelo Rei, seu amigo.

Era um tempo de elegância e de cortesia. Mas acima de tudo expressava fé, esperança e caridade.

Isto faz lembrar o diálogo com Jesus no alto da Cruz: Lembra-te de mim quando entrares no teu reino.

 

Ver também:

O jejum do Santo Condestável

Sem desânimo

O Santo da batalha

Rezar é combater

Ecos de um santo

São Nuno

Condestável

São Nuno de Santa Maria

 

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

A morte é a curva da estrada


A morte é a curva da estrada,

Morrer é só não ser visto.

Se escuto, eu te oiço a passada

Existir como eu existo.

 

A terra é feita de céu.

A mentira não tem ninho.

Nunca ninguém se perdeu.

Tudo é verdade e caminho.

 

23-5-1932

Poesias. Fernando Pessoa.

 

Reflexão para o mês das almas:

De facto, os falecidos adiantaram-se.

Foram à nossa frente.

Dobraram a curva da vida.

Nós apenas deixamos de os ver, mas continuam vivos, porque em Deus todos vivem.

Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida.

Ele é o ponto de encontro de tudo e de todos.

 

terça-feira, 4 de novembro de 2025

Um espelho de virtudes


Memória de São Carlos Borromeu

Bispo, +1584

Vida e santidade de São Carlos

De origem de uma família rica e influente, diplomou-se em direito canónico com apenas vinte e um anos. Um ano depois, entusiasmado com a fé e com grande ardor missionário, ele fundou uma Academia para estudos religiosos. Esta academia teve total aprovação da Santa Sé.

Carlos Borromeu era sobrinho do Papa Pio IV e isso o estimulava a seguir adiante no caminho da fé e não nas glórias mundanas. Ele queria viver uma vida afastada, como monge. Porém, por causa da sua sabedoria e inteligência, com apenas vinte e quatro anos já era sacerdote e já tinha sido sagrado bispo de Milão. No cargo, ajudou a organizar a igreja e dedicou-se à evangelização.

São Carlos Borromeu sentia-se bastante atraído pela vida monástica e contemplativa. Por causa disso, pensou seriamente em renunciar a seu cargo à frente da arquidiocese. Porém, o seu amigo, São Bartolomeu dos Mártires, então arcebispo de Braga no Concílio de Trento, conseguiu dissuadi-lo dessa ideia. São Bartolomeu ajudou-o a perceber que, naquele século, repleto de maus exemplos dados pelo alto Clero, seria melhor que São Carlos Borromeu, um nobre, vindo de família milionária e sobrinho do Papa, desse um exemplo de vida pobre, humilde e santa como arcebispo. São Carlos Borromeu viu neste conselho a vontade de Deus e acatou, permanecendo arcebispo de Milão.

Seguindo os conselhos de Cristo e os do seu amigo São Frei Bartolomeu dos Mártires, São Carlos Borromeu foi utilizando todos os seus bens (e eram muitos!) na construção de hospitais, albergues para os pobres, casas de formação para os sacerdotes e religiosos. Além disso, teve atuação forte no Concílio de Trento, na formação de seminários e a formação do clero.

 

Obediência, humildade e penitência de São Carlos

Certa vez, a sua carruagem estava a caminho de um dos seus compromissos quando um frade simples, que caminhava pela estrada, aproximou-se. São Carlos Borromeu ordenou ao cocheiro que parasse o veículo. O frade o cumprimentou e disse:

- Vossa Eminência, como deve ser bom viver a vida de um cardeal, usar roupas tão esplêndidas e viajar numa carruagem magnífica! Certamente é muito mais agradável do que ser um simples frade como eu e andar a pé.

O Cardeal Borromeu gentilmente convidou o frade para acompanhá-lo. O frade sentou-se ao lado do Cardeal e a viagem recomeçou. Logo o frade começou a gritar de dor, pois as belas almofadas dos bancos estavam sobre uma tábua com pregos de ferro afiados, símbolo da penitência que o Cardeal normalmente usava para se mortificar. A dor se intensificava a cada movimento do veículo. O frade não suportava tal mortificação e implorou que a carruagem parasse para que ele pudesse descer. Aliviado, retomou a sua caminhada.

Ou seja, as sedas e os cristais da luxuosa carruagem eram, por obediência do cargo, para serem vistos pelo povo, glorificando a Deus e a dignidade do seu múnus. Sob a esplêndida aparência de um Cardeal, o Santo continuava a praticar penitência pelos seus pecados e pelos de seu rebanho.

 

Ver também:

Conquistar de joelhos

São Carlos Borromeu

 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Novembro, mês da Esperança


Cada mês do ano tem alguma especificidade, algum aspeto que o destaca entre todos os meses.

Se quiséssemos escolher o mês da esperança, com certeza que novembro seria o candidato vencedor.

De facto, novembro com seu ar melancólico, nos convida a uma pausa para contemplar o mistério do tempo e da vida, numa afirmação constante da esperança.

A queda das folhas, os dias mais curtos e o frio que se instala sobre a terra lembram que tudo neste mundo é passageiro. Mas para o crente, essa transitoriedade não é motivo de tristeza, mas de esperança: assim como as árvores perdem as suas folhas para se prepararem para o inverno, nós também somos chamados a nos desapegar do que passa, para que a vida eterna possa florescer dentro de nós.

Iniciamos este mês celebrando todos os santos e rezando por todos os falecidos. A liturgia nos leva a elevar o olhar para o céu e a contemplar a comunhão invisível que une aqueles que ainda estão em peregrinação terrena com aqueles que já alcançaram o seu destino. Os santos intercedem por nós, e nós intercedemos por aqueles que ainda precisam da purificação do amor. Nesse fluxo de oração, o Corpo místico de Cristo permanece vivo e respira esperança.

A Palavra de Deus a liturgia deste mês de novembro exorta-nos a sermos vigilantes e a mantermos acesa a chama da esperança.

Durante este mês o ano litúrgico chego ao seu fim, dando lugar ao Advento, tempo de espera e promessa. Tudo na Igreja respira esperança: o fim e o começo se abraçam em Cristo. Ele é o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o Senhor do tempo e da história

Neste ano jubilar de 2025, em que nos sentimos peregrinos na esperança, o mês de novembro recapitula a nossa vivência jubilar.

Que o mês da esperança, nos envolva cada vez mais, pois em novembro tudo nos fala da esperança.

(Inspirado em pregação do Pe. Eduardo Sanz de Miguel)

Louvado sejais, Senhor, pela irmã Esperança, que fortalece e reanima as nossas almas, para prosseguirmos a nossa peregrinação, mesmo por entre dificuldades e provações.

 

domingo, 2 de novembro de 2025

Adormecer cá e acordar além


Comemoração de todos os fiéis defuntos

Adormecer em Cristo

Um menino dizia aos colegas da escola:

- Eu não quero morrer, não, porque morrer deve ser a pior coisa do mundo. Quando uma pessoa morre, colocam dentro de um caixão, tapam e põem debaixo da terra.

- Eu ouvi dizer que quando a gente morre, se tivermos sido bonzinhos, vamos para o céu.

- Não vai, não, rapaz. Depois de morto como é que podemos ir para o céu?

Então um miúdo mais filósofo começou por perguntar:

- Alguma vez já adormeceste no sofá?

- Sim, já.

- Quando acordaste no dia seguinte ainda estavas no sofá?

- Não, estava na minha cama.

- Como é que podes ter ido para a cama se estavas dormindo?

- Ah, o meu pai ou a minha mãe pegaram em mim dormindo e me levaram ao colo para o quarto.

- Então não compreendes que na morte é a mesma coisa? Jesus ensina que quando morremos ficamos naquele caixão a dormir. Enquanto isso o Pai vem, pega-nos ao colo e nos põe no céu.

De facto, adormecemos neste mundo para acordarmos no céu.

É assim que a liturgia chama aos defuntos – os que adormeceram em Cristo.

A morte é o começo da eternidade.

 

Á margem 1

A morte é mestra da vida. Os tolos evitam pensar na morte, parece-lhes que escaparão dela se não pensarem nela. Os sábios dos tempos antigos consideravam a morte como a sua melhor amiga. A morte é o fim do ser terrestre. A alma não perece.

São Silvestre dizia para um morto:

- O que eu sou, tu eras. O que tu és, eu serei.

A morte é o começo da eternidade. Adormecer na terra e acordar no céu. O pensamento da morte serve para nos proteger dos erros mais perigosos. Lembrai-vos do que vem depois faz-nos evitar pecar. Ut moriens viveret, vixit ut morituros.

 

À margem 2

Anne Frank dizia que os mortos recebiam mais flores do que os vivos porque o remorso era mais forte que a gratidão.

Que cada flor seja uma oração por aqueles que amamos.

E cada oração seja uma flor junto aos que vivem na eternidade.

 

À margem 3

O corpo sem alma está morto e a alma sem Deus está morta. Todo o homem que não tem Deus tem a alma morta. Se choras um morto, chora antes um pecador, um ímpio, um infiel. Está escrito (Ecl 22, 13) O luto de um morto é sete dias; o luto de um insensato e de um ímpio é todos os dias da sua vida. (Santo Agostinho)

 

À margem 4

Comemoração dos fiéis defuntos.

Quem são os fiéis?

São os defuntos ou são os celebrantes?

Para contentar a todos dizemos que fiéis devem ser os dois, isto é, todos os fiéis.

Mas é sobretudo nós que celebramos.

Devemos ser fiéis, isto é, continuar a celebrar os defuntos, rezar por eles e com eles, não só neste dia, mas sempre.

 

À margem 5

Jorge de Sena, que curiosamente nasceu no Dia de Finados, dizia que a morte é quela de que nos livramos no enterro dos outros.

Que morte tememos mais, a nossa ou a dos outros?

 

À margem 6

Oração pelos fiéis defuntos

 

Senhor Deus de Misericórdia e amor,

neste mês de novembro,

em que a Igreja recorda com especial carinho

todos os fiéis defuntos,

vimos diante de Vós com coração humilde e grato.

 

Lembrai-vos, Senhor dos nossos familiares, amigos e benfeitores,

e de todos aqueles que já partiram deste mundo

marcados com o sinal da esperança.

 

Concedei-lhes o descanso eterno, 

e fazei brilhar para eles a luz da Vossa presença.

Que a sua confiança em Vós não tenha sido em vão,

e que, purificados pelo Vosso amor,

possam contemplar para sempre o Vosso rosto glorioso no Céu.

 

Dai também a nós,

que ainda peregrinamos nesta vida,

a graça de vivermos com fé, esperança e caridade,

Para que um dia nos reencontremos na alegria da vossa casa.

 

Por Cristo, Nosso Senhor,

Ámen.

 

Ver também:

Rezando com os defuntos

A Páscoa em novembro

Aprender com os defuntos

Desafios para novembro

Que seja pelas almas

A canção do dia

Memória e esperança

Celebrar óbito

Mútua intercessão

Saudade sim, tristeza não

Dia de Finados

Rezando com os defuntos

 

sábado, 1 de novembro de 2025

Os santos são nossos amigos

 

Solenidade de Todos os Santos

Os santos são nossos amigos

Os nossos amigos são santos

 

A festa de Todos os Santos tem, pois, um triplo sentimento:

- Em primeiro lugar, de gratidão e liberdade, porque a santidade de Deus se manifesta nos santos.

- Em segundo lugar, de comunhão e intercessão, para que eles, unidos a Cristo, intercedam por nós e nos acompanhem na caminhada.

- Em terceiro lugar, de esperança e de chamamento, porque todos os fiéis são chamados a participar dessa mesma glória, vivendo as grandes aventuras no dia-a-dia.

Como dizia S. Bernardo, a memória dos santos não aumenta a sua glória, mas aumenta-nos o desejo de seguir os seus passos.

O exemplo e a intercessão dos santos convidam-nos:

- a elevar o nosso olhar para o Céu,

- a buscar e a preparar as realidades futuras,

- a viver com a esperança de um dia partilhar também essa santidade na glória de Deus.

 

À margem 1

A santidade sempre foi, é e será…

A santidade foi sempre um sonho de Deus e o destino do homem

Santidade é sempre um dom de Deus e uma conquista do homem

Santidade será sempre a alegria de Deus e a felicidade do homem

 

À margem 2

Aprendi nos Açores a tratar as outras pessoas como santas.

É comum dizer a alguém como vocativo:

- Ó meu santo!

- Ó sagrado!

- Ó alma santa!

Habituei-me a ser tratado assim e a tratar os outros de igual modo.

Uma vez recebi a visita de alguns ‘continentais’. A meio da conversa saiu-me a expressão:

- Ó minha santa…

Vi que a pessoa a quem eu falava ficou surpreendida. Então corrigi:

- Desculpe. Se não quer que a trate assim, então, direi – ó minha pagã!

- Ó não, por favor. Trate-me segundo a primeira fórmula. Sabe tão bem!

Noutra ocasião eu disse a mesma expressão a uma criança e dessa vez eu é que fiquei surpreendido com a resposta.

Eu disse-lhe:

- Ó minha santa…

Ela humildemente respondeu-me:

- Às vezes, às vezes…

 

Ver também:

O caminho da santidade

Da vida de santidade

Podemos ser como eles

Todos os santos de Deus

Comemorar os santos

Quem são e donde vieram

Tão próximos e tão diferentes

ABC da santidade

Santos companhia limitada

Ilustres filhos da Igreja

Santos modernos

Todos os santos

Todos santos

Santos todos

Pão por Deus