sexta-feira, 27 de abril de 2012

Saulo

6ª Feira - III Semana da Páscoa

1.
Saulo queria trazer algemados os discípulos do Senhor…
- Saulo queria algemar e foi algemado. Queria prender, mas foi ele o preso. Julgava fazer o bem, mas afinal estava a prejudicar.
- Ainda hoje repete-se a história. Às vezes queremos ensinar, mas afinal nós é que somos ensinados. Às vezes queremos fazer o bem, mas só atrapalhamos. Às vezes parece-nos que não dissemos nada de jeito, mas Deus foi glorificado, enquanto outras vezes ficamos satisfeitos, mas a nossa acção mais tarde foi considerada insignificante…

2.
Saulo viu-se de repente envolvido numa luz intensa vinda do Céu. Caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?». Ele perguntou: «Quem és Tu, Senhor?». O Senhor respondeu: «Eu sou Jesus, a quem tu persegues… Ouviam a voz, mas não viam ninguém. Saulo levantou-se do chão, mas, embora tivesse os olhos abertos, nada via.
- Nem Saulo nem os companheiros viram o senhor, apenas ouviram a sua voz. É por isso que Saulo perdeu a vista… para nos lembrar que a Deus deve-se sobretudo ouvir e não ver.  É por dentro que se deve ver a Deus, com os olhos do nosso coração.
- Ainda hoje a mensagem é actual. Não procuremos ver a Deus, mas deixemos apenas que Deus nos veja. Felizes os que acreditam sem terem visto.

3.
Levaram Saulo pela mão e introduziram-no em Damasco. Ficou três dias sem vista e sem comer nem beber… Com a imposição das mãos recuperou a vista. Depois levantou-se, recebeu o baptismo e, tendo tomado alimento, readquiriu as forças.
- Saulo ficou cego e sem forças… de tal modo que teve de ser conduzido e ajudado pelos companheiros. Ele queria levar os discípulos e afinal ele é que foi levado.
- Ainda hoje é o mesmo. Sem a ajuda dos outros nós não conseguimos nada. Estejamos atentos e sejamos agradecidos, pois não ajudamos ninguém. Eles é que nos ajudam…


segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dia Mundial do Livro

Hoje celebra-se o dia mundial do Livro e dos Direitos de Autor, por iniciativa da UNESCO que desde 1995 escolheu esta data em que faleceram William Shakespeare e Miguel de Cervantes.
Partilhamos 3 frases do Pe. Dehon sobre o Livro, já que ele escreveu dezenas de obras.

O livro é um dos conselheiros da criança.
Ele segue-a a cada passo. Ensina com o mestre e contra ele.
Ele influencia consideravelmente a sua alma de discípulo.
(Acerca da Educação Cristã, in “A Educação e o Ensino Segundo o Ideal Cristão”, IV Volume das Obras Sociais de Leão Dehon, Edizione CEDAS (Centro Dehoniano Apostolato Stampa) – Andria, 1985, Pág. 280)

Jovens cavaleiros, este deve ser o vosso ideal, este deve ser o vosso plano de vida:
o livro e a espada devem caracterizar a vossa vida, o estudo e a acção militante devem completá-la.
(O sonho do jovem cavaleiro, 1903, in in I Volume das Obras Sociais de Leão Dehon, Edizione CEDAS (Centro Dehoniano Apostolato Stampa) – Andria, 1979, Pág. 620)

O livro é bom, mas não é tudo.
O livro na mão esquerda e a espada na mão direita.
O livro, é a oração, é a leitura, o estudo pessoal feito na sua mesa e o estudo comunitário feito no Círculo.
A espada, é a luta, o ataque e a defesa; é a acção social dos sindicatos, das caixas de crédito e dos secretariados do povo.
O livro e a espada, tais são, caros jovens, as armas do vosso brasão.
A igreja faz-vos seus cavaleiros.
(O sonho do jovem cavaleiro, 1903, in I Volume das Obras Sociais de Leão Dehon, Edizione CEDAS (Centro Dehoniano Apostolato Stampa) – Andria, 1979, Pág. 621)



sexta-feira, 20 de abril de 2012

Pai Nosso de Teilhard de Chardin

O Pai Nosso de cada dia (126)

Pai
Pai, que tiraste do nada o Universo e o encheste com o Teu sopro, fizeste com que, desde as minúsculas partículas até ao homem, tudo procurasse unir-se pela tua força de atracção e convergir para o pólo que incendeia o mundo, Cristo, o Ponto Ómega

Nosso
Nosso, porque somos irmãos do Teu Filho, Jesus Cristo, a quem confiaste toda a Criação e se tornou Homem, como nós, para connosco selar a Eterna Aliança, pensada desde todos os tempos, pela qual Tu quiseste que o Homem fosse Deus

que estais nos céus
no céu, que não é lugar nenhum, porque o lugar que ocupas é o infinito sem espaço nem tempo; mas é antes o Teu pensamento, o Teu plano de Pai, abrindo os braços para neles receberes tudo o que para Ti converge por Amor

santificado seja o vosso nome
o Teu nome é Pai, e é santificado quando nós, Teus filhos, por ele chamamos, absolutamente confiantes que Tu nos escutas

venha a nós o vosso reino
o Teu reino é tudo o que se está criando a cada instante, no Universo e em cada um de nós, pelo esforço e pelo amor; ele virá a nós se construirmos, com Cristo e para Cristo, o seu Corpo Místico, feito de todos nós e de toda a Terra

seja feita a vossa vontade
a Tua vontade que, pela Tua graça, nos ajudas a descobrir em cada instante, é a Santa Evolução; e que, pelo bem supremo que deste à humanidade, a liberdade, podemos amar ou recusar

assim na terra como no céu
aqui, na terra, o lugar de o homem realizar a Tua vontade, quando a ama e reconhece como única via de felicidade, para que o Teu plano, traçado no céu, assim se cumpra

o pão nosso de cada dia
que o homem faz com as suas mãos, usando tudo o que vê desenvolver-se sobre a terra, e que a sua inteligência reflexiva valoriza e faz progredir irreversivelmente;

nos dai hoje
mas que é também a graça, Pai, que Tu nos dás e sem a qual somos incapazes de distinguir o verdadeiro alcance do nosso labor, o sentido do pão que é para todos

perdoai-nos as nossas ofensas
sobretudo quando, ao tactearmos os caminhos, aprendemos a distinguir o mal do bem, e acabamos por fazer a escolha errada

assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
como é difícil este mandamento, como a todo o momento nós esquecemos que amar é dar, é dar sempre (que é o que quer dizer per-donare); é dar a quem não dá, percebendo as razões desse não dar

e não nos deixeis cair em tentação
sendo a maior de todas a recusa: recusa de com os outros construir, recusa de amar, recusa de perdoar, recusa de Te escutar

mas livrai-nos do mal
do mal que vem de fora, os cataclismos, as violências, as doenças, que vamos aprendendo a dominar mas que nos arrasam, nos destroem, nos podem impedir de progredir material e espiritualmente; e do mal que vem do nosso coração, a recusa do outro, o desânimo, a intolerância, a impaciência; em todos os casos, livra-nos da perturbação…

Ámen



Texto adaptado de António Paixão

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Os nomes de Deus


O Pai Nosso de cada dia (125)


Santa Teresa de Ávila ligava os sete pedidos do Pai Nosso aos títulos de Deus dados por nosso amor.


No primeiro pedido ela honra-O especialmente como seu Pai:
Pai Nosso que estais nos céus,
Santificado seja o vosso nome.

no segundo o adora como seu Rei:
Venha a nós o vosso reino.

no terceiro o ama como seu Esposo:
Seja feita a vossa vontade
Assim na terra como no céu.

No quarto, reconhece Jesus como seu Pastor:
O pão nosso de cada dia nos dai hoje.

no quinto como seu Redentor:
Perdoai-nos as nossas ofensas
Assim como nós perdoamos
A quem nos tem ofendido.

no sexto como seu Médico:
Não nos deixeis cair em tentação.

e no sétimo como seu Juiz:
Mas livrai-nos do mal.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Só o amor salva

4ª Feira - II Semana da Páscoa

“Deus amou tanto o mundo… Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele.”

1ª Reflexão
Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido pelo amor.
Não é o castigo que corrige o erro. O que corrige alguém é sempre o amor.
Não é a mortificação que nos salva. O que nos salva é o amor de Deus.

2ª Reflexão
Um dia, Deus olhou do alto dos Céus para a Terra para ver como os homens o louvavam.
Viu um homem sentado como uma flor de loto, em profunda meditação e indiferente a todas as coisas do mundo. Deus alegrou-se mas disse:
- Para quê tanta mortificação?
Em seguida viu outro homem, sorridente, que procurava a difícil harmonia entre o bem e o mal. Deus sentiu satisfação mas exclamou:
- Para quê tanto esforço, sem a ajuda dos Céus?
Depois, Deus contemplou um homem primitivo, cheio de temor, a sacrificar diante do seu totem.
Deus comoveu-se e pensou:
- Para quê tanto medo?
Mais tarde observou um nómada, no meio do deserto, prostrado no seu tapete. Deus, sensibilizado, murmurou:
- Para quê tanta reverência e submissão?
Finalmente Deus lançou o seu olhar para um convento e sorrindo desabafou:
- Para quê tantas leis e prescrições? Para quê tudo isto se eu um dia disse a meu filho: Desce ao mundo e leva-lhe o Espírito de Amor.
Não quero sacrifícios, porque sou Pai.
Não quero a morte, porque sou Pai.
Não quero o medo, porque sou Pai.
Não quero imposições, porque sou Pai.
Quero apenas amor sereno e sincero, porque todos os homens são meus filhos.

3ª Reflexão
Um pai enviou dois filhos à cidade para fazer compras.
Demoraram-se por lá imenso em diversões várias e regressaram com muito atraso e sem compras.
Perto da casa, ambos começaram a chorar, mas por motivos diferentes:
O primeiro chorava, com receio de que o pai lhe batesse, pois não tinha sido seu amigo.
O segundo chorava por ter desgostado o seu pai que era tão seu amigo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Olhar para o alto

3ª Feira - II Semana da Páscoa

Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna.”


Acreditar é olhar para o alto,
Olhar para o alto é contemplar o que foi elevado,
Acreditar é então contemplar a Cristo.

A vida só é pesada quando se olha apenas para baixo.
A vida só pode ser corrigida olhando para trás.
A vida só pode ser vivida olhando para a frente.
A vida só pode ser compreendida olhando para dentro.
A vida só é merecida olhando para cima:

Hão-de olhar para aquele que será elevado…




quinta-feira, 12 de abril de 2012

Mostrou-lhes as mãos

5ª Feira da Oitava da Páscoa
 
 
 “Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes:
- A paz esteja convosco.
Os discípulos ficaram espantados e cheios de medo.
Jesus observou:
- Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos…
Dito isto, mostrou-lhes as mãos…
Abriu-lhes então o entendimento e compreenderem então as Escrituras.”
 
 
Mostrou-lhes as mãos, porquê?
Porque que os discípulos vissem a imagem que tinha gravado na palma das suas mãos…
Essas marcas somos nós… sinal do seu amor.
“Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé,
Não ter carinho pelo fruto das suas entranhas?
Ainda que ela se esquecesse dele
Eu nunca te esquecerei, oráculo do Senhor Deus.
Eis que eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos…” (Is 49, 15-16)
 
 
Se nós temos impressa no nosso coração a imagem de Deus…
Deus também tem gravada a nossa imagem na palma das suas mãos…
Tal como nós temos uma tatuagem divina impressa nosso coração…
Deus também tem uma tatuagem da nossa imagem na palma das suas mãos.
Tanto uma como outra são sinais do amor, de doação e de total entrega.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Reconheceram-n'O pelas mãos

4ª Feira - Oitava da Páscoa

"Jesus entrou e ficou com eles.
E quando Se pôs à mesa, tomou o pão, recitou a bênção, partiu-o e entregou-lho.
Nesse momento abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-n'O.
Mas Ele desapareceu da sua presença..."

Os amigos de Emaús só reconheceram Jesus quando este pegou no pão, abençoo-o e partilhou-o com eles...
Mais do que o gesto, mais do que o partilhado, o que fez com que os amigos reconhecessem Jesus?
Foi vendo as suas mãos e o que elas faziam...
Foram as marcas visíveis nas mãos que denunciaram Jesus...

Ainda hoje é assim.
São as marcas, os sinais, os gestos, as obras, isto é, as mãos de Jesus que o denunciam, o dão a conhecer ou o fazem reconhecer.
Jesus em Emaús mostrou as marcas nas suas mãos para que ainda hoje estejamos atentos para vermos as marcas das suas mãos.
As suas mãos tinham marcas, para que nos habituemos a ver em tudo as marcas das suas mãos, isto é, a ver as marcas que as suas mãos deixam em tudo e em todos.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Vi o Senhor

3ª Feira da Oitava da Páscoa

Explicava eu que tinha feito uma semana de retiro…
- O que é isso?
- É um tempo em que se faz uma experiência de Deus, no silêncio, reflexão e oração…
- E gostou? Eu não sei se conseguia…
- Sim, foi muito bom.
- E teve alguma visão de Deus?
- Só sei que tive uma visão de mim mesmo. Encontrei-me comigo mesmo… Vi-me de uma outra maneira…
De facto só quem se encontra consigo mesmo, está em condições de encontrar a Deus.
Só quem se vê a si mesmo, pode ver ou contemplar a Deus.

- Maria! – Disse-lhe Jesus
- Rabuni! – Respondeu-lhe ela, querendo dizer Mestre!
A aflição, as lágrimas, a azáfama não permitiu Maria Madalena encontrar-se consigo mesma.
Só depois de ouvir o seu nome, de se identificar no chamamento de Jesus é que se viu a si mesma e viu e reconheceu Jesus.

Quem não se encontra, não pode encontrar a Deus…

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Via Sacra (10)



Via-Sacra narrada na primeira pessoa
Ou seja, narrada pelo próprio Jesus


1ª Estação:
Eu, Jesus, sou condenado à morte
Quando ouço a sentença da minha condenação, baixo os olhos, aceitando-a com humildade, sem achar que tanto sofrimento, tanta dor, como a que me vinham infligindo, já chegava.
Já chegava, efetivamente, mas não tem limites a doação de quem ama sem limites.
A única medida do amor é amar sem medida.
O meu amor pelo Pai e por vós não tem limites. Por isso queria dar-me todo ao Pai, em reparação por vós, sem limite algum.
Por isso aceitei a condenação, sem culpar ninguém por ela. Se quisesse culpar alguém, não saberia quem.
Não houve limites para o meu amor. Não ponhais também limites ao vosso amor por Mim.
Assim como vos amei, amai-vos uns aos outros…sem limites.

2ª Estação:
Eu, Jesus, carrego a Cruz
Pego na minha cruz, na cruz que as vossas faltas me impõem.
Pego na cruz da vossa falta de caridade, na cruz da não aceitação daquilo que é incómodo, do reclamar contra o que vos acontece de desagradável. Pego na cruz dos comentários que fazeis, das conversas inúteis, que vos fazem perder tempo e vos conduzem a perigos vários.
Pego na cruz dos vossos desejos, dos desejos que não mortificais, desejos de toda a ordem e a todos os níveis, corporais, mundanos e espirituais.
Pego na cruz das imprudências, que abrem a porta às tentações da futilidade, dos esquecimentos dos compromissos que assumis comigo.
Pego na cruz das vossas teimosias, do vosso amor próprio, do orgulho, das faltas à verdade.
É uma cruz pesada, esta cruz formada pelas vossas falhas. Segui sempre pelo caminho onde vedes as marcas da minha passagem. É um caminho doloroso, mas é o meu caminho.

3ª Estação:
Eu, Jesus, caio pela primeira vez
Uma queda! A minha primeira queda! O peso, o cami­nhar rápido a que me obrigavam, as pedras, o caminho incerto, cheio de altos e baixos, fizeram-me cair.
Ao cair sobre mim, a cruz pesou mais e magoou-me ainda mais.
Cair a cruz por cima de vós é a falta de aceitação que tendes por aquilo de que não gostais, de que tendes má impressão, talvez más recordações de cruzes anteriores. Mas lembrai-vos de que, mesmo que não gosteis, a cruz não vos é retirada, mas cai sobre vós e, se tentais atirar com ela com desassossego, queixas ou fugas ao dever, é sobre vós, nessa queda que a recusa representa, que ela volta a cair, tantas vezes, quantas vezes a recusais.
Lembrai-vos da minha dor quando caí e da dor que me provocou a cruz, ao cair sobre mim. Lembrai-vos disso, quando tiverdes vontade de recusar alguma cruz. Evitai recusar a vossa cruz para que ela não caia outra vez sobre ninguém.

4ª Estação:
Eu, Jesus, encontro a minha Mãe
A certa altura do caminho, levantei os olhos e vi a minha Mãe. Como me doeu a sua aflição, a sua dor, perante este espectáculo.
Desejaria esconder a seus olhos este sangue que corre por vós, e a cuja vista a mergulha numa dor sem par para uma criatura.
O amor pela minha Mãe, não me impediu de me apresentar assim diante dela, aumentando o seu sofrimento, porque tal era preciso para vós.
Olhai para mim e para esta Mãe dolorosa, e vede em que estais mais agarrados à vossa vontade para que os desígnios de Deus se realizem em vós.

5ª Estação:
Eu, Jesus, sou ajudado pelo Cireneu
Eu estava tão desfalecido que procuraram alguém para me ajudar, não porque tivessem pena de Mim, mas com receio de que, o esforço de levar o peso da cruz, me fizesse morrer pelo caminho e já não fosse possível o espectáculo da execução, que seria ainda um acréscimo de dor, a que eles não me queriam poupar.
O Cireneu, um homem que vinha do campo, cansado do trabalho, desejoso de ir para casa, e que achava que nada tinha a ver com tudo aquilo, foi chamado para ajudar. Nada tinha contra mim ou a meu favor.
E, no entanto, foi este indiferente que foi chamado à grande missão de levar a minha cruz.
Um estranho levou a minha cruz para que os meus amigos não tenham medo de carregar a sua própria cruz.

6ª Estação:
Eu, Jesus, encontro Verónica que me limpa o rosto
Um grupo de amigos seguia-Me. Outros esperavam nas ruas onde sabiam que iria passar. Mal Me reconheciam! O meu rosto estava desfigurado e coberto de sangue!
Fitai o meu rosto sujo e maltratado. Quando fingis o que não sois e quando praticais caridade para serdes vistos e louvados, quando vos mostrais bons, mas com essa bonda­de ambicionais algum lucro, estais a desfigurar o meu rosto, a maltratar a minha imagem.
Que haja sempre alguém por perto para vos ajudar a limpar os vossos rostos desfigurados…

7ª Estação:
Eu, Jesus, caio pela segunda vez
Segunda queda! Eu caí pela segunda vez, tropeçando nas pedras do caminho, estas pedras que não se amaciaram para Eu passar! Nada na minha paixão saiu do ritmo normal da natureza.
Também os corações e as mentes daqueles que Me maltratavam não foram forçados a mudar para Eu sofrer menos!
Não vos admireis daquilo que venhais a sofrer, não vos admireis que inocentes sofram!
A minha queda foi humilhante. Esta queda reparou as vossas faltas de humildade.

8ª Estação:
Eu, Jesus, encontro as mulheres de Jerusalém
Continuei a avançar. O meu sangue continuava a deixar pelo caminho a sua marca. Estava quase sem forças e custava-Me a levantar os pés, tropeçando muitas vezes.
Num determinado momento, o meu olhar foi atraído por um grupo de mulheres que chora. Eram amigas piedosas. Choravam com pena, por Me verem tão maltratado.
Olhei para elas e o meu coração compadeceu-se. Era grande a sua compaixão para comigo… mas Eu tive maior compaixão por elas.
Sim, chorai, mais sobre vós que sobre Mim, arrependei-vos e acreditai no evangelho…porque a minha dor é a vossa esperança, e o perdão é garantia de vida nova.

9ª Estação:
Eu, Jesus, caio pela terceira vez
Os meus pés que tropeçavam continuamente, não resistiram e eu caí, na mais dolorosa das quedas.
O povo passou indiferente, distraído, incrédulo, como vós passais por Mim nas Igrejas, tão alheios à minha presença.
Não critiqueis aquele povo, que pisou o meu sangue no chão. Esse povo não sabia aquilo que vós sabeis, e vós fazeis o mesmo com a vossa indiferença perante o meu amor, que se vos dá sem que lhe deis nada em troca, senão indiferença e distração.
Lembrai-vos de que na vossa alma é derramado o meu sangue através da comunhão. Não passeis à frente com indiferença, distração ou negligência.

10ª Estação:
Eu, Jesus, sou despojado das minhas vestes
Eu tinha as vestes coladas ao corpo, principalmente nos lugares das feridas que tinham sangrado.
As vestes foram-Me brutalmente arrancadas e os meus ombros e costas, em carne viva, sangrando profundamente.
Todo o meu corpo foi objecto de mofa e escárnio, as feridas das minhas pernas e dos meus joelhos postas em ridículo, para salientar a minha fraqueza.
Tudo isto foi humilhação profunda a juntar a todas as humilhações que já sofrera.
Quando vos humilharem, lembrai-vos deste momento da minha paixão e implorai que o sangue que aqui derramei, ao serem-Me as vestes arrancadas, desça sobre vós e purifique os vossos corações, para que possais unir a vossa humilhação à minha humilhação.

11ª Estação:
Eu, Jesus, sou pregado na cruz
No momento em que onde aceitei ser pregado na cruz por amor de vós, aceitai ser pregados na­quela cruz que Eu vos dou e que vós sabeis qual é. É aquela que mais vos dói, que mais vos incomoda e da qual mais procurais fugir.
Dizei-me agora que quereis abraçar por meu amor a vossa cruz.
Sede vós as minhas mãos e os meus pés. Deixai-vos cravar comigo... em Mim.

12ª Estação:
Eu, Jesus, morro na cruz
Estava há três horas na cruz.
Não podia fechar os meus braços. Estavam pregados e abertos para todos os que quisessem aproximar-se de Mim.
Teria deixado que os fariseus Me abraçassem, se eles quisessem. Passavam, abanavam a cabeça e escarneciam.
Vinde a Mim só por amor. Rezai só por amor, obedecei só por amor, mortificai-vos só por amor e vivereis no meu amor, todos os dias da vossa vida.

13ª Estação:
Eu, Jesus, sou colocado nos braços da minha Mãe
Já morto, fui colocado nos braços daquela que daria a vida por Mim, que daria todo o seu sangue para evitar que Eu derramasse uma gota do meu.
As suas lágrimas magoadas caiam sobre Mim.
Vinde também aqui chorar, não tanto por Mim, mas por aquelas almas que recusam o meu amor. Mas não fiqueis só a chorar. Procurai ver o que podeis fazer por elas, acolhendo-as nos vossos braços.

14ª Estação:
Eu, Jesus, sou colocado no sepulcro
Os meus amigos colocaram-me no sepulcro. Era o sepulcro novo de José de Arimateia. Era o que, de melhor, aquele homem Me podia dar, aquilo que tinha reservado para si próprio, mas de que prescindia, para Mim.
Também vós precisais de prescindir muitas vezes de di­versas coisas que escolhestes, reservastes, acarinhastes, para vosso uso, tais como coisas, situações, modos de ver ou de actuar, pes­soas, sistema de vida, opções.
Hoje o meu sepulcro sóis vós. É em vós que descan­so e quero ressuscitar. Cada um de vós deve ser aquele sepulcro novo que me é dado, não por obrigação, mas só por amor.

15ª Estação:
Eu, Jesus, ressuscito
A noite foi a altura escolhida por Mim, para ressuscitar.
Foi na noite que a minha glória se manifestou. Será também na noite que, em vós, a minha glória se manifestará.
Quando sofreis, quando estais tristes, abandonados, em dificuldades e dores, quando parece nada mais vos restar, quando tudo para vós for trevas e morte, então estou mais perto para manifestar-vos a minha glória.
Tende esperança e acreditai na vida e na ressurreição.
Confiai em Mim e sereis salvos, vós todos por quem ressuscitei e tereis vida em abundância.
Eu sou a ressurreição e a vida… Quem acredita em Mim viverá eternamente…


terça-feira, 3 de abril de 2012

EDUCAR


"Educare como Dehonianos as jovens gerações"


É o tema da VIII Conferência Geral SCJ,
Neustadt, 16-21 de julho de 2012
















Oração de Preparação:

Nós Te louvamos, ó Pai,
em união com Jesus, teu Filho,
que nos educa com a sua Palavra
e forma os nossos corações para o amor.

Ensina-nos a partilhar os valores
que nos deste no Pe. Dehon
para continuarmos no mundo
a tua obra de salvação.

Envia o teu Espírito a fim de que possamos educar
as jovens gerações de acordo com a tua vontade.
Que Cristo, o único mestre, inspire o nosso agir.

Ámen.


Fonte de inspiração:
                Educar um cristão, não é somente dar-lhe noções de ciência humana que o ajudarão a alcançar uma posição na vida. Não é somente ensinar-lhe boas maneiras, dar-lhe uma ciência profunda e fazer dele um homem que possa e queira integrar-se em todos os progressos do génio humano. É também e antes de tudo formar nele um nobre e grande carácter, costumes impolutos, virtudes vigorosas. É fazer crescer na sua alma a fé que abre à compreensão do mundo invisível, a esperança que fortalece o coração através da perspectiva de uma felicidade merecida, e o amor que torna Deus sensível nas frias sombras da vida.
         Educar um cristão é ainda formar um homem de coração, um homem de sacrifício e de dedicação, um homem que tenha sacudido o jugo do egoísmo. Qualquer que seja a carreira que abrace mais tarde – padre, soldado, agricultor, industrial ou magistrado – o discípulo da educação cristã levará consigo a convicção ardente e profunda, de que ele tem uma influência regeneradora de palavra e de exemplo a exercer…
         Não consiste a educação religiosa no cultivo das faculdades mais elevadas do homem, na civilização da inteligência e do coração?”
Pe. Leão Dehon, “A Educação e o Ensino Segundo o Ideal Cristão”, 1º Discurso Acerca da Educação Cristã (1877), pp. 274-293, IV Volume das Obras Sociais do Pe. Leão Dehon, Edizione CEDAS (Centro Dehoniano Apostolato Stampa) – Andria, 1985.



segunda-feira, 2 de abril de 2012

Frasco de perfume

2ª Feira da Semana Santa

Uma mulher, silenciosamente aproximou-se de Jesus e, sem meias medidas, quebrou o frasco de perfume que trazia consigo e ungiu os pés de Jesus…

- Silenciosamente, discretamente… porque o bem não faz barulho nem o barulho faz bem…

- Sem meias medidas… Quebrar o frasco é sinal de totalidade ou de radicalidade. É que ela nem quis ficar com o resto no fundo do frasco… porque a única medida do amor é amar sem medida.

- O frasco é símbolo de Jesus… Depois de dar tudo o que tem, chega o momento de Jesus dar aquilo que é: sobre a cruz será quebrado o frasco do seu corpo ou da sua vida que para todos exalará o perfume de Deus ou o perfume do seu amor.

- O perfume é símbolo do amor: como o amor, o perfume dá-se, difunde-se subtil e gratuitamente. É graça invisível, mas percebe-se. É agradável e cria uma atmosfera de vida, de alegria e de festa.

- Também nós precisamos quebrar o frasco da nossa vida, ou melhor do nosso coração, para libertar o perfume do amor e inebriar tudo e todos!

domingo, 1 de abril de 2012

Noventa Anos



Faz hoje 90 anos que partiu para a eternidade o Beato Carlos, Imperador da Áustria.
Nesta efeméride partilho um artigo publicado em 1952, portanto há 60 anos e apenas 30 depois dessas ocorrências...

O Imperador–Rei Carlos da Áustria
e o Coração de Jesus

Foi extraordinária a devoção deste monarca, vítima da maçonaria e súbditos traidores, falecido no seu exílio da Madeira no dia 1 de Abril de 1922, aos 35 anos, com fama de santo.
Por ocasião da Primeira Comunhão do seu primogénito Otão, consagrou solenemente toda a sua família ao Coração de Jesus. Desterrado da Pátria em Prangins, na Suíça, considerava dia de festa especial cada primeira sexta-feira do mês. Eis como descreve um desses dias o capelão do Imperador Mons. Seydl:
“De manhã cedo olho pela janela. Era Outono. O lago de Genebra estende-se na minha frente, severo, ele tão azul, tão risonho durante o verão. O Monte Branco está invisível; a costa da Sabóia está oculta por uma ligeira bruma. Ao longe estende-se a província da Chablais, que S. Francisco de Sales, este simpático santo, evangelizou; este santo fundou a Ordem da Visitação, a que pertenceu Santa Margarida Maria Alacoque, mensageira oficial do culto do Sagrado Coração de Jesus. Hoje é a primeira sexta-feira do mês. Tenho que apressar-me para ir à capela dar a comunhão às pessoas que não podem estar presentes à missa, mais tarde. Meu Deus, como é simples esta capela imperial! Onde estão os ornamentos de arquitectura, as pinturas das capelas imperiais de antigamente, em Hofburg, de Viena? Mas o essencial ali está: sobre o altar, o sacrário encimado pela cruz; no sacrário, Deus; em frente do altar a lâmpada acesa, sentinela fiel revelando a presença do Divino Jesus. Dois minúsculos altares laterais suportam, um a imagem do Sagrado Coração de Jesus, o outro a imagem da Santíssima Virgem. Em frente do Sagrado Coração de Jesus arde uma pequena lâmpada vermelha em memória da consagração da família imperial ao Sagrado Coração de Jesus, realizada já em Warthols. Às 8 horas vai começar a missa. Suas Majestades chegam e comungam antes do Santo Sacrifício, como fazem todos os dias. Maravilhoso e salutar exemplo para os filhos!...
Os arquiduques Otão e Roberto ajudam à Missa, enquanto que o soberano com o terço entre os dedos mergulha em meditação. Que motivos edificantes para todos a Fé e a piedade deste augusto monarca?
À tarde, às 6 horas e 45, há na capela bênção solene do Santíssimo Sacramento. Todos assistem: os soberanos, rodeados dos seus filhos, o séquito e o pessoal da casa. Às 9 horas e 30 da noite, volto uma vez mais à capela. Começo a rezar o Pai Nosso. Subitamente abre-se a porta. Suas Majestades entram e ajoelham ao pé do Sacrário e mergulham na oração. Breve se levantam com o rosto todo iluminado pela fé que os anima, pois que crêem e esperam apesar dos golpes da sorte.”
A extraordinária devoção deste rei-mártir ao Coração de Jesus deu-lhe força para suportar heroicamente ao lado de uma santa que era a Imperatriz Zita, todos os revezes da sorte, as calúnias, as traições, a perda da fortuna, o exílio, dores físicas e morais, a morte no vigor dos anos, precedida de dolorosíssima doença.
Andava-lhe sempre nos lábios a jaculatória: “Sagrado Coração de Jesus, tenho confiança em Vós.”
Via em tudo a disposição da Providência, a Vontade Santíssima de Deus. Esta frase repetida na doença, em horas de maior aflição, explica toda a sua vida: “Quando se conhece a vontade de Deus, tudo está bem.”
A heróica imperatriz conservou e transmitiu-nos religiosamente esta confidência de seu marido, em vésperas de morrer: “Quero agora manifestar-te claramente o meu pensamento: Todos os meus esforços tendem sempre a conhecer exactamente a vontade de Deus em todas as coisas e a conformar-me o melhor possível com essa vontade suprema.”
Eis o que nos conta por sua vez a condessa Mensdorf, sua desvelada enfermeira: “o imperador (no meio de uma crise cardíaca) começou a dizer: é na verdade uma grande coisa ter uma confiança ilimitada no Sagrado Coração de Jesus; senão o meu estado era insuportável.
Pronunciou estas palavras de uma forma tão amável e tão piedosa, que as lágrimas saltaram-me dos olhos. Dei o pretexto de ir buscar a imagem do Sagrado Coração para desaparecer por detrás do guarda-vento e dar livre curso às minhas lágrimas.”
O imperador-rei que em vida ouvia missa e comungava, quanto possível, diariamente, ao lado da esposa, teve ainda a assistir-lhe e confortá-lo na morte o Coração de Jesus, presente na Eucaristia. O augusto exilado tinha já recebido a Extrema-Unção que pedira muito a tempo, pois, como católico fervoroso, quis recebê-la em plena consciência, rogando à esposa que lhe lesse e comentasse as orações litúrgicas, para colher mais fruto do Sacramento.
Confessara-se alguns dias antes; não obstante quis fazê-lo novamente, declarando a sorrir, depois da confissão: “Fiz uma confissão geral de toda a minha vida!”. Depois, com voz forte e solene, acrescentou: Perdoo a todos os meus inimigos, a todos os que me ofenderam e a todos os que trabalharam contra mim”.
Ao ser ungido, o monarca, apertando o crucifixo entre as mãos, segue com atenção e piedade, as orações da Igreja. Cena emocionante! Otão, o filho mais velho, para exemplo, assiste comovido, ajoelhado aos pés da cama.
Despontava triste sobre a Madeira o dia 1 de Abril de 1922. Às primeiras horas o imperador Carlos recebera a Sagrada Comunhão, como de costume, com a fé e piedade que eram timbre da sua alma.
O Santíssimo ficara em exposição sobre uma pequena mesa, no quarto do doente. Às 9 horas, este entra em agonia. Sentada na borda da cama, evolvendo com o braço o corpo do moribundo, cuja cabeça repousa no seu ombro, a imperatriz Zita, mulher admirável, heróica e dedicada, ajuda a morrer o seu real esposo.
- “Pensa somente, diz-lhe, que Nosso Senhor está aqui presente e que te cinge com seus braços; abandona-te completamente a Ele” – Sim, suspira o moribundo, nos braços do Salvador, contigo e os nossos filhos queridos”. São onze horas e meia.
Vai comungar novamente, agora por Viático.
Recita com voz firme o acto de contrição. Depois acrescenta: “Meu doce Salvador, protegei os meus filhos. Velai por eles e pelas suas almas; antes morram que cometam um pecado mortal!”. Acentuando cada palavra, conclui desta maneira: “Meu Salvador, seja feita a vossa vontade, Assim seja”.
Jesus Sacramentado continua ali em adoração dando força ao moribundo e à torturada imperatriz, nunca tão nobre e sublime como nesta hora.
Ao pé do leito, de joelhos, a face inundada de lágrimas, assiste Otão, o filho mais velho, o herdeiro do trono.
A imperatriz sugere jaculatórias que o moribundo repete com voz cada vez mais fraca: “Sagrado Coração de Jesus, eu tenho confiança em Vós! Meu Jesus misericórdia!, Meu Deus, faça-se a vossa vontade!”
Ao imperador Carlos resta apenas um sopro de vida. Faz um ligeiro movimento de cabeça; reúne pela última vez todas as suas forças, olha para o Coração de Jesus ali presente no Sacramento do amor e, acatando submisso, como sempre, a divina vontade, diz baixinho: “Jesus!... Maria!... José!...” e exala o último suspiro. Eram 12 horas e 25 minutos. O céu abria-se para receber a alma nobre e pura de quem na terra tanto sofrera.
Assim morrem os santos, os devotos do Coração de Jesus. E o imperador-rei Carlos da Áustria-Hungria era um santo.
“Rei-Santo” era o título que lhe davam os habitantes da Madeira.
Na sua morte ouviram-se e escreveram-se frases como estas: “Carlos era na verdade um santo! Viveu como um santo, e como um santo morreu!”.
A condessa Mensdorf, enfermeira do imperador nos últimos dias da doença, exclamava: “Estou certa de uma coisa; temos mais um santo no céu. Era bom demais para este mundo e Deus quis chamá-lo para si!”.
Um dos médicos assistentes era descrente. A morte do imperador exilado impressionou-o tanto que fez esta confissão: “em face da morte deste santo, é-se obrigado a recuperar a fé perdida!”
Os dois escultores chamados para tirar a máscara do defunto, tão impressionados ficaram ao ver a expressão doce e cheia de paz do soberano, que, de livre-pensadores que eram, tornaram-se fervorosos católicos.
Um deles assim se exprimia: “Nós estávamos sobre a colina, naquela casa, bem perto de um Ser de que tínhamos até então negado a existência. Aquelas horas que passámos a trabalhar junto do soberano defunto, revolveram-nos a alma”.
“Rei Santo e Mártir”! Como tal foi tido em vida e homenageado na morte pelo povo da Madeira o imperador Carlos de Áustria. Trinta mil pessoas, o terço da população da ilha, acorreram aos funerais a que presidiu o próprio Sr. Bispo D. António Pereira Ribeiro. Trinta mil portugueses choravam ao ver passar o féretro do “rei apostólico da Hungria” e atrás dele a desolada imperatriz envolta nos crepes da viuvez. Choravam e sentiam-se pequeninos ante as “figuras bíblicas” desses monarcas destronados, como os apelidara Mons. Schioppa, Núncio apostólico em Budapeste.
Choravam e perguntavam-se: onde encontraram força para tão rude Calvário este imperador defunto e esta heróica imperatriz viúva?
Na sua fé viva, na sua ardente e entranhada devoção ao Coração de Jesus, que os levava a repetir, com paz e tranquilidade sobrenaturais: “É a vontade de Deus”.
Os despojos mortais do último soberano da antiga monarquia austro-húngara mereceram bem ir repousar no templo sagrado, em Nossa Senhora do Monte, sob o altar da Virgem.
Uma placa de mármore a fechar a base do túmulo diz-nos, em letras de oiro, que o imperador Carlos I, tendo nascido a 17 de Agosto de 1887, “morreu na Madeira, adorando o Santíssimo Sacramento, ali presente, e dizendo: “seja feita a vossa vontade!”
A imperatriz Zita de Habsburgo forçada a sair da Madeira por causa da saúde e educação de seus sete filhos, deixou os despojos do marido santo entregues ao venerando Prelado do Funchal e à piedade da população da ilha. Ia continuar a sua vida dolorosa.
Tendo educado cristãmente os filhos, depois de peregrinar com humildade e pobreza a Roma, no passado Ano Santo de 1950, foi bater às portas da Abadia beneditina de Santa Cecília, nas vizinhanças de Solesmes (Sarthe), com o fim de passar ali, no isolamento e oração o resto de seus dias. Três das suas irmãs, as princesas Adelaide, Francisca e Maria Antónia, precederam-na como monjas na mesma Abadia.
Belo remate de uma vida, toda amor, sacrifício, imolação, com o Coração de Jesus e pelo Coração de Jesus!
Como a imprensa tornou do domínio público, está já em feliz andamento o Processo informativo sobre a fala de santidade do Servo de Deus, o Imperador Carlos de Áustria, em ordem à sua beatificação.
É Juiz Ordinário o Em.mo Cardeal Initzer, Arcebispo de Viena. Para o que se refere à Madeira o Sr. Bispo do Funchal nomeou já o Tribunal respectivo.
Apressemos, com nossas orações, a hora da glorificação do “Rei santo”.

J. M. N. in Mensageiro do Coração de Jesus, nº 825, Braga, Maio de 1952, Página 226 ss.