segunda-feira, 29 de julho de 2013

Marta e Maria

 
Ao celebrarmos a memória de Santa Marta podemos acolher 2 mensagens:
 
1ª Recebeu-o em sua casa
Marta costumava receber Jesus em sua casa.
Sua irmã Maria, porém, acolhia-o no seu coração.
E Jesus prometeu que receberia as duas no seu reino.
Também eu quero receber Jesus na minha casa, na minha vida e no meu coração na certeza de que um dia ele receber-me-á no seu reino.
 
2ª Irmãs diferentes mas complementares
Uma era muito prática, outra mais calma.
Uma afirmava-se na ação, a outra na contemplação...
Afinal os seus nomes dizem tudo:
MARTA e MARIA.
São nomes coincidentes. A única diferença está num traço.
MARIA tem um i que é uma dimensão vertical. De facto ela inclinava-se mais para se unir a Deus.
MARTA tem um t que acrescenta um traço horizontal. De facto não esquecia o serviço a quem estava ao seu lado.
Também eu posso trazer em mim estas duas dimensões - vertical para me unir a Deus e horizontal para servir os outros.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Memorial Pe. Colombo (5)


O Pe. Colombo, mais que falar da fé, manifestava-a

Introdução
Vou falar-vos das linhas de força que levaram o Pe. Ângelo Colombo a viver como viveu e a realizar o que fez.
Entendo referir-me. Dum modo particular, aos anos em que vivi com ele: os meus três primeiros anos de formação (1948-1951).
Tinha eu cerca de 14 anos quando, em 1948, entrei no Colégio Missionário do Funchal. Encontrei um Pe. Colombo de 35 anos, já muito entusiasta pela Obra que estava a levar por diante, mas também preocupado pela solução dos problemas económicos. Eu era ainda adolescente e, como tal, não conseguia imaginar as reais dificuldades dos meus formadores nesse sector.
Fui convidado a pensar que havia dificuldades quando em junho de 1948, após ter-lhes dirigido o meu pedido de entrada, foi-me respondido que já não havia lugar para mim… que decidisse frequentar o Colégio Missionário como externo ou então que esperasse pelo ano seguinte! A minha resposta foi que não me sentia ser aluno externo dado que “uma ovelha fora do aprisco facilmente se desgarra”. A verdade é que acabei por entrar quinze dias após o início das aulas. Entretanto, já tinham conseguido encontrar dinheiro para a compra da cama, dos livros, da carteira, da cadeira e não só!...
Penso que no dia da minha consagração definitiva e da ordenação presbiteral, o Pe. Colombo e os outros padres sentiram-se profundamente consolados pelo esforço feito por ocasião da minha entrada. Diga-se, de passagem, que dos 18 alunos que tinham entrado em 1948, segundo ano da presença dehoniana em Portugal, fui eu, apenas, quem perseverou até ao fim!...

As linhas de força do Pe. Colombo partem da espiritualidade e carisma dehonianos que ele soube fazer seus a al ponto de parecer que tudo procedia da sua pessoa.
Aqui vão aquelas que mais me tocaram a mente e, sobretudo, o coração.
Uma fé viva – O Pe. Colombo, mais que falar da fé, manifestava-a e propunha-a com a sua vida, com o seu sorriso, com a sua grande capacidade de trabalho e doação.
Refere ele nas suas “Memórias” que um dia, tendo de encontrar-se com o casal proprietário da “Chácara Brazil”, Dr. Jacinto Henriques e D. Estrela, e devendo aguardar uns instantes na sala de espera, decididamente ajoelhou-se uns instantes sobre a cadeira e orou pelo sucesso da conversa. Entretanto, D. Estrela, abre a porta de repente e encontrou-o em oração. Isto bastou para que o casal compreendesse com “quem” andava a lidar. A confirmação da venda da casa e da propriedade foi-lhe logo dada. Deste modo, a Chácara Brazil” passou a ser Chácara do Coração de Jesus”.
Uma vida de oração contínua – O Pe. Colombo é um dos tantos homens que se deixou encontrar por Jesus Cristo vivo e Ressuscitado e que, como Paulo, se viu com a sua vida radicalmente mudada. A sua oração contínua será a verdadeira explicação do seu dinamismo e da sua santidade.
Facilmente se encontrava o Pe. Colombo ajoelhado, na capela, em oração ou então de terço na mão a passear no átrio ou em qualquer outro lugar em modos de quem estava em diálogo com Deus. Terminada a celebração eucarística ajoelhava-se no genuflexório da sacristia e entregava-se demoradamente, à ação de graças.
A impressão que tinha naquela altura era que a oração, para ele, era mesmo muito importante e ao mesmo tempo uma coisa natural.
Uma profunda relação como Coração de Jesus – Entusiasmava-se quando falava da reparação, da adoração eucarística, do puro amor, da necessidade de corresponder ao amor com amor. Tínhamos a forte impressão que estes temas faziam, realmente, parte integrante da sua espiritualidade.
Adoração eucarística – Via-se que o Pe. Colombo resumia o seu “ser dehoniano” no ato da adoração eucarística. Não me lembro de ter havido muitos dias da semana sem a adoração eucarística. A grande necessidade da vigilância durante os exercícios da tarde não constituía motivo suficiente para dispensar algum padre de a fazer. Muitas vezes quando não era possível ter um padre para a vigilância, ele mesmo cocava junto da secretária uma vassoura para nos ajudar a permanecer na presença de Deus.
Um forte espírito de sacrifício e de doação – Sendo eu ainda, de pouca idade não podia compreender as profundas convicções que animavam a sua intensa atividade, mas apercebia-me que tudo se alicerçava em bases muito seguras.
Um ardente zelo apostólico – Tenho uma viva impressão da sua dedicação apostólica, pois aquele homem não era capaz de parar. Dava aulas, contatava com as pessoas que podiam ajudar a comunidade a resolver as suas inúmeras dificuldades de ordem económica, apoiava os párocos nas suas contínuas necessidades e dedicava-se à animação espiritual das comunidades religiosas com confissões, retiros, Missa.
Um genuíno espírito missionário – Um tema que estava no seu coração era o das missões. A sua vocação missionária tinha sido provada. A princípio devia seguir para o Egipto, depois para a Argentina e, por fim, desembarcar na Madeira. O Pe. Colombo é um maravilhoso exemplo de como em qualquer parte se pode fazer frutificar os dons recebidos de Deus e assim realizar a própria missão apostólica.
Os frutos de tanta disponibilidade e doação não tardaram. Em 1960 partia para Moçambique o jovem religioso Manuel de Gouveia. Em 1962 seguia eu, já presbítero. E pouco depois era a vez do Irmão José Diomário (hoje padre), do Pe. Eduardo Ferreira de Sousa, do Pe. Francisco Vargem e dos jovens religiosos Ir. Fernando Fonseca (hoje padre), Ir. Luís Silva, Pe. José Bairros, Manuel Quintas, Isildo da Silva, Adérito Barbosa e José Ornelas.
O Pe. Colombo não poderá ter deixado de exultar ao ver tantos e belos frutos do seu trabalho e de seus colegas de formação. Mas a verdade é que esta primeira experiência missionária teve uma maravilhosa continuidade quando a Província Portuguesa passou a ter missões próprias em Madagáscar. E neste território já temos religiosos malgaxes.
Assim podemos compreender o tormento” sentido pelo Pe. Colombo nos dias que precederam a sua ida para o Pai: como continuar a viver paralisado pela doença sem poder partilhar da animada atividade missionária e apostólica dos membros da Província? E o bom Deus libertou-o da sua aflição, levando-o para Si!
Conclusão
A partilha que acabo de fazer sobre a personalidade do Pe. Colombo é apenas um aceno à sua riqueza interior de homem dehoniano.
Muitas outras suas virtudes mereceriam ser desenvolvidas aqui nesta primeira partilha, como a sua coerência de vida, a simplicidade, a pontualidade, a gratidão para com os benfeitores. A grande sensibilidade à presença da Providência de Deus na vida, o voto e a virtude da pobreza, o amor ao silêncio como precioso meio para advertir a voz e a vontade de Deus, a fidelidade à vida comunitária, a abertura a qualquer ser humano e aos problemas da Igreja, a capacidade extraordinária de total entrega à causa do Reino do Coração de Jesus.
Aqui vão estas linhas como expressão da minha gratidão para com aquele que, com as suas atitudes humanas e de fé, mito me ajudou a perseverar na vocação religiosa e presbiteral num modo iluminado e alegre.
O Pe. Colombo foi e é um precioso dom do Coração de Jesus e da Congregação à Província Portuguesa.
O Pe. Colombo foi, é e será, para cada um de nós, um ponto de referência altamente inspirador e estimulador.

Pe. José Vieira Alves, SCJ In UNÂNIMES, nº 4, Junho de 1995, páginas 102-106. O Pe. José Alves, retornou adoentado de Moçambique e faleceu no Colégio Missionário a 17 de novembro de 2000.


quinta-feira, 25 de julho de 2013

Santiago



Festa do Apóstolo Santiago

1ª lição – Um lugar no céu
A morada das criancinhas, segundo Santa Teresinha do Menino Jesus:
“Falando-lhe das mortificações dos santos, respondeu-me: “Como Nosso Senhor fez bem em nos prevenir de que há muitas moradas na casa de seu Pai! Do contrário, Ele no-lo teria dito...
Sim, se todas as almas chamadas à perfeição devessem, para entrar no céu, praticar essas macerações, ter-nos-ia prevenido e nós as teríamos abraçado de boa vontade. Mas Ele nos anuncia que há muitas moradas em sua casa. Se há para as grandes almas, para os Padres do deserto e para os mártires da penitência, deve haver também para as criancinhas.
O nosso lugar está guardado lá, se o amarmos muito, a Ele, a nosso Pai celeste e ao Espírito de Amor.”
- Perguntemos: qual é o nosso lugar no céu?

2ª lição – Morrendo e perdoando
O juiz do Apóstolo Tiago foi o cruel rei Herodes Antipas, um terrível e incansável perseguidor dos cristãos. Ele lhe impôs logo a pena máxima, ordenando que fosse flagelado e depois decapitado.
A sentença foi executada durante as festas pascais no ano 42.
Assim, Tiago, o Maior, tornou-se o primeiro dos apóstolos a derramar seu sangue pela fé em Jesus Cristo
Segundo uma tradição, antes de ser martirizado, São Tiago abraçou um carcereiro desejando-lhe "a Paz de Cristo". Este gesto converteu o carcereiro que, assumindo a fé em Jesus, foi martirizado juntamente com o apóstolo.
- Em vez de dizer ‘morrendo e aprendendo’ o discípulo de Cristo devia dizer como Santiago: morrendo e perdoando…

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sementeiras

4ª Feira - XVI Semana Comum

A – Sementeira do Pe. António Vieira, no Sermão da Sexagésima pregado em 1655:

“Enfim, para que os pregadores saibam como hão-de pregar e os ouvintes a quem hão-de ouvir, acabo com um exemplo do nosso Reino, e quase dos nossos tempos.
Pregavam em Coimbra dois famosos pregadores, ambos bem conhecidos por seus escritos; não os nomeio, porque os hei-de desigualar.
Altercou-se entre alguns doutores da Universidade qual dos dois fosse maior pregador; e como não há juízo sem inclinação, uns diziam este, outros, aquele.
Mas um lente, que entre os mais tinha maior autoridade, concluiu desta maneira:
- Entre dois sujeitos tão grandes não me atrevo a interpor juízo; só direi uma diferença, que sempre experimento: quando ouço um, saio do sermão muito contente do pregador; quando ouço outro, saio muito descontente de mim.”


B – A minha sementeira:

Às vezes somos semeadores e noutras somos terra de sementeira:
Como semeadores – é preciso semear sempre com confiança e esperança pois nós fazemos a nossa parte… Deus e o terreno farão o resto.
Como terra de sementeira – como tal nós temos partes pedregosas, partes com espinhos, partes calcadas, partes de terra lavrada. Só frutificará a semente que cair e penetrar mais fundo.



C – Outra sementeira:

Toda semente é um anseio de frutificar
e todo fruto é uma forma da gente se dar.

          Põe a semente na terra, 

          não será em vão
          Não te  preocupe a colheita, 

          plantas para o irmão

Toda palavra é um anseio de comunicar
e toda fala é uma forma da gente se dar.   

Todo tijolo é um anseio de edificar
e toda obra é uma forma da gente se dar.  

terça-feira, 23 de julho de 2013

Santa Brígida


Hoje a Europa celebra uma das suas padroeiras, Santa Brígida (1303-1373)

Saliento duas simples lições:
- A ação de Maria na nossa vida e salvação
- A necessidade de rezar todos os dias.


















O Filho de Santa Brígida

        "Nas revelações de Santa Brígida[1], aprovadas pelo Concílio de Constança, lemos que ela teve um filho chamado Carlos.
Jovem de idade e de costumes, dado à guerra e à licenciosidade dos campos de batalha. Morreu na flor da idade.
Santa Brígida viu o tribunal celeste onde assentava o Cristo, com a sua Mãe à direita. Satanás queixava-se da injustiça de Maria que lhe roubava essa alma. Dizia ele ter recebido o poder de tentar os homens, porém, a Virgem tinha-o afastado do leito de morte de Carlos. Dizia também que ele tinha o direito de apresentar as almas ao julgamento e de acusá-las. Mas a Virgem tinha-lhe roubado essa alma e ela mesma as apresentava, proibindo-lhe qualquer acusação, o que levava a um julgamento sem inquirição das partes. Cristo respondeu-lhe que a sua Mãe participava da sua realeza, que ela podia dispensar das leis e que era justo que ela o fizesse a favor dessa alma, a qual tinha sempre tido devoção para com Ela.
Tal é o fruto da devoção a Maria: Uma morte tranquila nos braços da mãe de Deus."



As 15 Orações de Santa Brígida

Como já há muito tempo Santa Brígida desejasse saber o número de golpes que JESUS levara durante a Paixão, certo dia ELE lhe apareceu dizendo:
- Recebi em todo o Meu Corpo 5.480 golpes. Se desejardes honrar as chagas que eles ME produziram, mediante uma veneração particular, deveis recitar 15 Pais-Nossos, e 15 Ave-Marias, acrescentando as seguintes orações, durante um ano inteiro; quando o ano terminar, tereis prestado homenagem a cada uma das Minhas Chagas.
Faltarão 5 para completar o número, mas no ano bissexto será regularizado.
Quem recitar estas orações durante um ano inteiro conseguirá livrar do Purgatório 15 almas de sua família, 15 justos também de sua linhagem serão conservados em graça e 15 pecadores de sua família serão convertidos. A pessoa que as recitar será elevada ao mais eminente grau de perfeição e 15 dias antes da sua morte EU lhe darei meu Precioso Corpo, para que ela seja livre da fome eterna. EU lhe darei também de beber o Meu Precioso Sangue, afim de que não padeça sede eternamente e 15 dias antes da morte ela experimentará uma profunda contrição de todos os seus pecados e um perfeito conhecimento deles…

Conclusão: O que interessa é rezar sempre, pois não posso compreender passar um dia sem conversar com um BOM AMIGO.


[1] Pe. Dehon, NHV, Volume VII, 1877, pág. 19


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Memorial Pe. Colombo (4)



Pe. Colombo autonomista

"Obrigado à Congregação que escolheu a Madeira para aqui começar e levou muitos dos nossos jovens a ter um futuro, ou na Vida Religiosa ou na vida leiga…
Ora, eu penso que inclusivamente aqui, o Pe. Colombo foi dos primeiros autonomistas. Chegou cá e foi a Lisboa… Lisboa encrencou. Ele disse: “Ah! Vocês não resolvem? Eu vou para a Madeira e com o povo madeirense vou resolver!...”
Não há dúvida que como madeirense e como português, não é sem uma grande ponta de orgulho que quando vemos aqui esta grande obra levantada, este Colégio no ar, nós agradecemos aos que para aqui vieram e que propiciaram esta grande obra…
Quando cheguei, e vi que o Sr. Pe. Colombo chegou aqui com 50 escudos no bolso, eu estava sentado e dizia comigo: “Mas quem é que me manda a mim ser parvo e andar preocupado com milhões do orçamento da Região Autónoma da Madeira? Se estes homens só com 50 escudos no bolso fizeram o que fizeram… eu não vou estar a discutir milhões?”
Recebam sobretudo a nossa gratidão, e recebam neste momento uma gratidão muito particular: a de eu ter compreendido que afinal 50 escudos podem vir a ser, nesta obra, daqui a 25 anos muito mais importantes do que o orçamento de milhões de uma Região.
Muito obrigado!"

Dr. Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional da Madeira, na sessão solene das comemorações dos 25 anos da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, a 17 de outubro de 1991 no Colégio Missionário, Funchal.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Memorial Pe. Colombo (3)


“Cristóvão Colombo descobriu a América,
mas o Pe. Ângelo Colombo descobriu o coração dos Madeirenses!”

O Pe. Angelo Colombo, SCJ, na sessão solene das comemorações dos 25 anos da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, a 17 de outubro de 1991 no Colégio Missionário, Funchal, partilhou este discurso:

Estou aqui para lembrar hoje que os fundamentos da presença dehoniana em Portugal foram postos, tal árvore foi plantada aqui, nesta ilha da Madeira!
Ninguém, naquele já longe 1947, teria sonhado isso! No dia 17 de janeiro chegaram a esta ilha da Madeira, no Carvalho Araújo, dois “padrezinhos”, o Pe. Canova e o Pe. Colombo, vindos daquela Itália espezinhada pela guerra. Tinham chegado sem dinheiro. Só tinham ficado com uns 50 escudos, resto da viagem Lisboa-Funchal, pago pela intervenção caridosa da boa alma da Senhora D. Maria Melo Espírito Santo.
Acolheram-nos o venerando Bispo de então, D. António Manuel Pereira Ribeiro e o fundado da Escola de Artes e Ofícios, Pe. Laurindo Leal Pestana, assegurando-nos pão e alojamento.
Que sonhavam e procuravam os dois? Diziam que tinham sido enviados para abrir um seminário para futuros missionários em ajuda às missões de Moçambique!... Com que meios?... A bênção dos superiores que os tinham enviado e a do Sr. Bispo, D. António Manuel Pereira Ribeiro, que os tinha recebido por intervenção da Santa Sé e do Cardeal Arcebispo de Lourenço Marques, o Sr. D. Teodósio Clemente de Gouveia. Muito bem! Mas isso como pode servir para realizar um Seminário com pedra e cal e com uma cozinha a funcionar? Sonhos!
Mas os dois, depois de meses, foram um dia peregrinar a Nossa Senhora do Monte e voltaram decididos: “Vamos à procura de uma casa, alugamo-la e vamos começar um Seminário!”.
Procuraram, encontraram e, com a aprovação e assistência do Sr. Bispo, instalaram-se aqui, na Chácara Brazil, em regime de aluguer. Agora era providenciar os meios de vida.
O Pe. Colombo foi a Lisboa e, no mês de setembro e parte de outubro, procuro algo de indispensável para os começos e depois foi bater à porta do Governo, escrevendo uma cartinha ao mesmo Doutor Oliveira Salazar. Dizia mais ou menos assim: “No espírito da Concordata e do Acordo Missionário entre a Santa Sé e o Governo Português, estamos para abrir um Seminário Missionário no Funchal, em apoio aos missionários italianos que já temos em Moçambique e em concordância com o estabelecido no mesmo Acordo. A Árvore que estamos já para plantar, no Funchal, precisa de água para enraizar e desenvolver. Não será possível compartilharmos, com outros Institutos Missionários da ajuda que o Estado Português anualmente lhes oferece?”
Por meio de um seu secretário, o Exmo. Sr. Doutor Oliveira Salazar respondeu não ser possível fugir ao estabelecido em favor dos Institutos Missionários, até que não fosse determinado em futura revisão da parte do Ministério do Ultramar!...
Os dois padrezinhos não desanimaram. Em vez de partir do alto, começaram a recorrer à base: ao bom povo da Madeira, que entretanto tinham ficado a conhecer, e cujos filhos já estavam na Chácara Brazil, ou seja, no Colégio Missionário.
Por ocasião do Natal, escreveram e distribuíram pelos correios uma cata, tirando as direções da Lista Telefónica e pedindo ajuda… Lembro-me bem que alguns poucos responderam e enviaram algo. A melhor ajuda foi de 50 escudos. Vinha do Sr. Eduardo Paquete.
Os nossos contatos de ministério sacerdotal, as intenções de missas do povo em geral, e de um certo grupo de Senhoras que cuidavam das Missas Reparadoras (que nós assumimos, porque mais conformes ao nosso espírito) foram outra fonte de meios para viver.
Não devemos esquecer que já naquele nosso primeiro Natal na Madeira lembrámo-nos de fazer um pequeno presépio (em parte animado) que atraiu pessoas e que rendeu uns 300 escudos! E quem não lembra os presépios dos anos a seguir, realizados pelo Pe. Luís Celato, no antigo paço do Bispo na Praça do Município?
Cedo nasceram pequenos “Grupos Missionários” no Funchal e fora, que não somente ajudaram financeiramente, mas fizeram conhecer o Colégio Missionário e entusiasmaram muita gente.
Este entusiasmo e este apoio manifestaram-se sobretudo nas chamadas “Festas da Boa Vontade”. Três senhoras: A senhora D. Estrela Gomes Henriques, a senhora D. Lídia Dória Monteiro, a senhora D. Teresa de Bianchi Valparaíso (esta última animadora das outras), foram a alma de tais festas. Nestas apareceram e participaram conhecidos artistas, como a Amália Rodrigues e o madeirense Max, a abrilhantarem aquelas manifestações populares, a favor do Colégio Missionário.
Mas os efeitos destas manifestações não ficaram numa mais ou menos notável e direta ajuda financeira ao Colégio Missionário, mas sim e sobretudo no apoio das autoridades da Madeira a favor do mesmo Colégio. O Governador Civil e Militar, os Presidentes da Junta Regional e da Câmara Municipal do Funchal, passaram a apoiar, quer de uma maneira quer de outra, o que podia facilitar a vida e o progresso daquele Seminário Missionário da Levada.
Até a Alfândega prestava-se, antes dos seus responsáveis a facilitar a passagem de material religioso, dirigido ao Colégio Missionário.
Até o Presidente da Junta renunciava aos direitos da taxa de 1% sobre os calendários e as estampas religiosas que nos vinham da Itália!
Até a PIDE – e isto é o máximo! – parecia nos ajudar, quando já no primeiro ano de vida do Colégio Missionário, nos concedeu como professor de ginástica dos nossos alunos, um seu dependente. E quando renunciava a multar os esquecimentos dos padres italianos em se apresentarem todos os meses para marcar presença!
Faltava um passo para chegarmos ao Governo da Nação. Em março de 1950, estávamos já no terceiro ano de vida do Colégio Missionário e depois da assinatura do contrato de compra da Chácara Brazil, almejávamos um necessário aumento da casa.
Chegou à Madeira naquela altura o Ministro das Obras Públicas Engº Frederico Ulrich. O trio da “Boa Vontade” armou um assalto àquela personagem oficial, de acordo com a Madre Pedro, Superiora das Irmãs de S. José de Cluny no então Sanatório João de Almada. O Sr. Ministro subiu para visitar aquela obra de assistência à saúde. No fim da visita, ao sair da entrada principal daquele estabelecimento o Sr. Ministro encontrou esbarrada a passagem pelo trio da “Boa Vontade”, pela Madre Pedro e pelo Pe. Colombo e ouviu dizer-lhe: “Vossa Excelência é cristão, não é? Amanhã tenciona ir à missa e porque não vir participar na missa da capela do nosso seminário? Desejamos que veja algo!” Olhou-nos por um momento e “porque não?!” respondeu ele.
Na manhã de Domingo, acompanhado de várias personalidades, lá estava ele na nossa “Capela-Garagem”. Escutou a Missa e o canto dos nossos pequenos seminaristas, juntamente com o povo e as senhoras da “Boa Vontade”. No fim, dirigiram-lhe o convite: “Vossa Excelência dignava-se entrar na nossa “casita” e subir ao terraço?”
Fomos e mostrando-lhe aquele espaço do qual o olhar espalhava-se sobre a cidade do Funchal, ouviu-se dizer: “Aqui precisamos de levantar um dormitório para os alunos que vão chegar para o novo ano escolar. Eis o esboço da construção: O Estado não teria a possibilidade de nos ajudar?”
O Ministro observou um instante as coisas e disse: “Há algum trabalho comparticipado que não se realizou e cuja verba está à disposição. Podem mandar-me o projeto para Lisboa quanto antes?”
Antes de nos deixar o Sr. Ministro assinou o registo de honra da casa e nós ajuntámos depois da assinatura, a verba conseguida: 80 contos!
Tínhamos entrado no número dos apoiados do Governo da Nação antes das especificações do Ministério do Ultramar!
Os passos de Deus tinham chegado à sua finalidade através dos caminhos do bom povo da Madeira.
Depois disso, um dia, o grupo da “Boa Vontade” realizou uma reunião das principais senhoras da alta sociedade, que mais colaboravam na ajuda ao Colégio do Sagrado Coração. Na conclusão daquela reunião, o Pe. Colombo levantou-se e disse: “Cristóvão Colombo descobriu a América, mas o Pe. Colombo descobriu a Madeira e o coração dos Madeirenses!”

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Memorial Pe. Colombo (2)




Bartolomeu dos Mártires



O Reformador

D. Bartolomeu dos Mártires discursando no Concílio de Trento:
“Os ilustríssimos e reverendíssimos cardeais precisam duma ilustríssima e reverendíssima reforma…
Vossas senhorias são as fontes donde todos os prelados bebem; necessário é portanto que a água seja limpa e pura… a Igreja e o mundo todo estão muito mais precisados de reformas do que dogmas.”
Insistia, por isso, com outros padres conciliares para que se deixassem de coisas de pouca importância e fossem diretos ao essencial. Mostrava assim quanto poder tem um homem primeiro em si o que pretende emendar nos outros. Ele procurou sempre a conversão por dentro, procurou, em particular, a permanente formação do clero.
Este dominicano, como diz o professor Aníbal Pinto de Castro, “soube transformar a história em arte, o passado em presente, a vida em poesia.”

O espelho dos padres
“Vós sois os espelhos em que os outros se hão de ver. Finalmente, vós sois de cuja vida depende o bem ou o mal do mundo. Porque manifesto está que, se vosso zelo respondesse ao ofício, não haveria tanta dissolução nos leigos, não andariam as ovelhas de Cristo tão fora do caminho do Céu.
Ai de vós, diz um Santo, lugar alto, e espírito baixo, cadeira prima e vida ínfima, mãos sagradas e mãos sacrílegas! Andais continuamente com as mãos metidas nos vasos santos, nos óleos sagrados, nos Sacramentos, no Corpo e Sangue do Filho de Deus, e com as mesmas mãos tratais coisas torpes, coisas nefandas; tirai-las dali e ponde-as aqui. Ó horrendíssimo sacrilégio! Não seria menos mal sempre as trazer metidas em coisas sujas, que das sujas passá-las às limpíssimas e sacratíssimas?”

A caridade vai alimpando a escória

“Quanto tens de caridade, tanto tens de santidade e virtude. Se tens grande caridade, és grande santo e justo; se tens pequena, assim tens pequena santidade e justiça. Porque esta é a suma de toda a santidade e justiça, e bondade, sem a qual ninguém se pode chamar bom.”

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Inácio de Azevedo

 
Hoje celebramos a memória do bem-aventurado Inácio de Azevedo e seus companheiros, martirizados no mar das Canárias, depois de terem deixado a Ilha da Madeira a caminho do Brasil em 1570.
 
O líder da expedição destes portugueses (e 9 espanhóis) jesuítas era o Pe. Inácio.
Atacados por uma embarcação calvinistas, foi-lhes decretada a morte caso não abjurassem a fé católica. O Pe. Inácio e seus companheiros não vacilaram:
- Não chorem. Hoje fundamos um colégio lá no céu! - dizia para os animar.
 
De facto nós andamos todos enganados.
Pensamos que fundamos colégios, empresas, projetos aqui na terra. Mas não. Daqui só edificamos projetos no céu.
Os projetos daqui da terra são levados adiante por quem já está lá no céu.
Inácio não edificou um colégio no Brasil, mas edificou com o seu martírio uma comunidade no Céu.
Os Santos intercedem por nós desde a eternidade, de modo que são eles a edificar as nossas empresas cá na terra.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Excelência



Hoje, ao celebrarmos a memória de Nossa Senhora do Carmo, procuremos descobrir uma dupla excelência - a da Virgem Santa Maria e a de todos os Filhos de Deus.

A maior excelência da Virgem Santa Maria é ser mãe do Filho de Deus.
A maior excelência dos filhos de Deus é ter como mãe a Virgem Santa Maria.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Memorial Pe. Colombo (1)


Boaventura

A liturgia propõe-nos hoje a memória de São Boaventura, franciscano, teólogo, bispo e doutor da Igreja do século XIII.

Podemos acolher 3 lições, retiradas da sua vida, dos seus valores e dos seus ensinamentos.

1. A humildade
Frei Boaventura recusara por diversas vezes o convite do Papa que o queria nomear Cardeal. Um dia, quando lavava os pratos no seu convento, chegou uma delegação papal, trazendo-lhe o chapéu cardinalício e a carta do Papa com a nomeação. Sem interromper o seu trabalho de cozinha, ele disse aos enviados pontifícios:
- Dependurem por aí esse chapéu, porque agora estou com as mãos ocupadas.

2. Sabedoria
Como teólogo e cardeal estava a participar no Concílio de Lião em 1274. Depois da 3ª sessão ele caiu doente e não mais se levantou. O próprio Papa administrou-lhe a unção dos enfermos.
Boaventura agonizava com o olhar fixo no crucifixo que segurava com ambas as mãos.
Alguém perguntou-lhe em que livro tinha bebido tanta sabedoria ao longo da sua vida. Ele respondeu levantando o crucifixo:
- Aqui está o livro onde aprendi tudo... a cruz de Cristo!

3. O amor
São Boaventura ensinou uma vez:
"Basta amar a Deus se quisermos ir para o céu. Uma simples velhinha analfabeta pode amar muito mais o Pai do Céu do que um professore de Teologia."


quinta-feira, 11 de julho de 2013

Oração e Ação

 
Hoje celebramos a festa de São Bento, um dos padroeiros da Europa.
Foi ele um dos impulsionadores, no século V, da construção da Europa através do seu projeto: ORA et Labora, isto é, Oração e Ação.
 
Nestes dias em que todos falamos do trabalho para reconstruir um país ou um continente como a Europa eu fico a pensar: Não podemos ir longe apenas com o trabalho. Falta algo mais. São Bento dizia que nos falta Oração. Só assim, com as mãos e o coração, com a oração e o trabalho, com os santos e os operários, com a ajuda da terra e do céu, é que podemos construir a nossa vida, a nossa casa, a nossa cidade, a nossa pátria, a nossa Europa, a nossa Terra.
 
Recordo outro grande reconstrutor: O rei David construiu Jerusalém com dois instrumentos: com a harpa e com a espada, com a palavra e a ação, com a oração e o trabalho.
 
Também nas nossas mãos podemos segurar os mesmos meios para construir algo - a harpa e a espada para a ação e a oração, a contemplação e o trabalho.


domingo, 7 de julho de 2013

Código do trabalhador evangélico


Ano C - XIV Domingo Comum

No Evangelho de hoje Jesus apresenta o código do trabalho evangélico.
Os 72 enviados ou 0s 36 grupos de 2 devem simplesmente dizer uma coisa:
Está perto o Reino de Deus.
Mas o perfil destes enviados é mais complicado.
Podemos resumir em 7 as virtudes, atributos ou características destes operários do Reino dos Céus:

1. Não podem ser preguiçosos, mas trabalhadores dedicados.
... A seara é grande e os operários são poucos, portanto trabalhai.

2. Não podem ser medricas nem tímidos, mas corajosos.
...Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.

3. Não podem ser enfatuados ou cheios de si, mas desprendidos.
... Não leveis bolsa, nem duas túnicas.

4. Não podem ser violentos ou agressivos, mas pacíficos.
... Dizei " paz esteja nesta casa"

5. Não podem ser vadios ou salta-pocinhas, mas perseverantes ou constantes.
... Não andeis de casa em casa.

6. Não podem ser exigentes, mas humildes e simples.
... Comei do que vos servirem.

7. Não podem ser autoritários, mas tolerantes.
... Sacudi o pó e parti para outra paragem, mas no entanto dizei: está perto o reino dos céus.


É que a melhor maneira de evangelizar não é através do que se diz, mas através daquilo que se é.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Lumen Fidei

A luz da Fé (Lumen Fidei) é o título da Encíclica do Papa Francisco, publicada hoje, no âmbito do Ano da Fé.
Vem no seguimento das outras duas encíclicas do Papa Bento XVI (sobre a caridade e sobre a esperança). Foi iniciada pelo mesmo Bento XVI, de modo que parece ser "uma obra a 4 mãos" ou "de dois Papas".

O texto termina no nº 60 com uma oração mariana que pode ser o resumo ou o sumário de toda a encíclica:

"A Maria, Mãe da Igreja e Mãe da nossa fé,
nos dirigimos, rezando-lhe:

Ajudai, ó Maria, a nossa fé.
Abri o nosso ouvido à Palavra, para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada.
Despertai em nós o desejo de seguir os seus passos, saindo da nossa terra e acolhendo a sua promessa.
Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo seu amor, para podermos tocá-Lo com a fé.
Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de tribulação e cruz, quando a nossa fé é chamada a amadurecer.
Semeai, na nossa fé, a alegria do Ressuscitado.
Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho.
Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus, para que Ele seja luz no nosso caminho. E que essa luz da fé cresça sempre em nós até chegar aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo, vosso Filho, nosso Senhor."

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Crer é ver sem olhar

Na festa do Apóstolo SÂO TOMÉ tenho a fazer uma correção.
Afinal, é preciso ou não ver para crer?
pergunto isto porque no trecho do evangelho de hoje Jesus começa por dizer a Tomé:
- Porque me viste,acreditastes
Então para crer é preciso ver.
Depois diz:
- Felizes os que acreditam sem terem visto.
Então para crer não é preciso ver.
Em que ficamos?
Tenho a impressão de que a diferença está na tradução, que devia ser assim:
- Felizes os que acreditam sem olharem, pois crer é ver sem olhar, é ver com outros olhos.
Para além desta correção, eu acho que quem fica mal a fotografia não é Tomé, mas os outros discípulos.
De facto, segundo as palavras de Jesus: felizes os que acreditam em virtude da palavra dos que viram... mas afinal quem viu não conseguiu convencer quem não viu, talvez por falta de convicção não de Tomé, mas dos outros apóstolos.
 
Peço a Deus através de São Tomé que me faça crer vendo com outros olhos e que consiga convencer os que me rodeiam a acreditarem comigo...