sábado, 29 de novembro de 2008

Saber Esperar

Ano B - I Domingo Advento

Contaram-me, há tempos, um episódio que pode ilustrar este tempo de Advento, de espera ou de preparação.
Numa aldeia indígena, algures em África, um missionário pediu à população local que o ajudasse a transportar um carregamento de material até ao cimo da montanha. Com o fardo às costas, partiram todos cheios de entusiasmo. A meia encosta o pessoal parou, pousou o material no chão e sentou-se. O missionário esforçou-se para os pôr outra vez em marcha mas foi em vão:
- Porque parastes? Estais cansados?
- Não.
- Quereis comer ou beber?
- Não.
- Quereis uma gratificação maior? A carga é muito pesada? Quereis voltar para trás? Então o que é que se passa?
Após um silêncio geral, um dos indígenas explicou:
- É que nós viemos depressa demais. A nossa alma ficou para trás. Ficaremos à espera que ela chegue.
Às vezes parece que somos um corpo sem alma. Sentimo-nos vazios ou a dormir. É preciso aguardar que o espírito nos encha, que a alma nos desperte para continuarmos a caminhar. Eis que Cristo está à porta e bate. Estaremos cheios por dentro?Vivemos numa azáfama contínua. É preciso parar e zelar pela nossa interioridade. Afinal Cristo é a alma da nossa vida, só Ele nos pode encher por dentro.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Vida de Capelão (31)

Durante as férias fui visitar um confrade que fez questão em dar-me uns conselhos morais:
- Sabes, o meio militar é bastante liberal, há muita imoralidade nas conversas e não só… Cuidado, é um perigo para a castidade!
- Não se preocupe – sosseguei-o – olhe que em nenhum convento há tanta continência como na tropa.

Criancices( 31)

- Senhor padre, venho acusar-me de ter estragado uma bola de futebol.
- Na próxima vez que jogares deves ter mais cuidado…
- Está bem, mas o senhor padre sabia que essa bola já tinha anos?
- Como assim?
- Sim, essa bola já tinha anos.
- Então se a bola tinha ânus, mostra-me então onde é que está o ânus da bola.
E não é que o aluno aponta para um grande buraco da velha bola? … E eu pensava que o malicioso era eu.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sorrir para Deus

Ano A - Cristo Rei

Uma vez apresentou-se no Céu um homem tão simples, tão humilde que até os santos se espantaram:
- Como é pequena a sua alma! Não tem as vestes brancas das Virgens, nem a coroa dos Mártires, não tem a estola dos Pastores nem a divisa das Ordens Religiosas. Que terá feito de especial para estar aqui?
O homem, já preocupado com isso, ainda tremeu mais ao ouvir as perguntas que Deus fazia a quem se aproximava:
- Partilhaste os teus bens com os pobres? Ensinaste a minha Palavra? Viveste os Mandamentos?
Quando chegasse a sua vez que iria responder? Nada partilhara porque nada de seu tivera. Não ensinou nem viveu os mandamentos porque nunca os aprendeu. Qual seria o seu lugar ali?
Chegado ao trono, Deus abriu o livro da vida, olhou para o homem e disse:
- Aqui está escrito apenas uma coisa: tu sorriste ao teu semelhante. E isto basta para teres o primeiro lugar no céu. Entra na alegria do teu Senhor.
Mais do que isto não quer de nós o Senhor. Não quer obras extraordinárias, não quer grandes jejuns ou longas penitências, não quer milagres, não. Quer a vida simples, com as suas cruzes diárias, com um sorriso nos lábios e a alegria no coração; quer-nos felizes fazendo felizes os outros.

domingo, 16 de novembro de 2008

Semana dos Seminários


Nós precisamos do Seminário e o Seminário precisa de nós.
Nós precisamos que o seminário forme padres e os mande para as nossas paróquias.
Mas o Seminário também precisa que as paróquias lhes enviem vocacionados pois só assim haverá padres novos.


Paróquia que não dá seminaristas, não merece o padre que tem.
É dando que se recebe, ou é dando que merecemos receber…
Se não sabemos dar gente para o seminário como é que podemos esperar ter um padre na nossa comunidade?


Alguém ao visitar um seminário quase vazio perguntava-me:
- Afinal onde estão os padres do futuro? Será que não existem? Onde estão eles?
- Os padres do amanhã não estão nos seminários, mas estão ainda na tua casa, na casa do teu vizinho etc. Estão aí os padres do futuro.
É preciso criar condições para que a semente vocacional se desenvolva no primeiro seminário que é a família e depois possa ser transplantado para o seminário propriamente dito.


Se no mundo há fome de Deus não é por falta de pão, mas por falta de mãos para abençoar e distribuir esse pão.

Se há crise de vocações, não é porque Deus já não chama como outrora. Também não é porque os chamados não ouvem a sua voz. É simplesmente porque essa semente não encontra ambiente favorável para germinar, crescer e dar fruto. Deus continua a dar sementes, as sementes continuam a ser de boa qualidade, mas o terreno é que podia ser melhor.
É preciso criar ambiente favorável, é preciso saber cultivar…

Se a falta de vocações é um problema de todos, a solução dependerá também de todos.

O Coração da Diocese

SEMINÁRIO

Ocorrem-me ao pensamento duas pequenas situações, a propósito da Semana do Seminário.
A primeira é o que se passava comigo, sempre que regressava a casa, vindo do seminário. Um vizinho perguntava-me, todas as vezes, se eu já sabia dizer missa. Eu ficava com vontade de repetir a palavra missa, sem mais, bem pronunciado, para mostrar que há muito que aprendera essa palavra. Mas, sorrindo, respondia apenas que ser Padre era bem mais do que aprender a missa.
A última situação é uma lição por conta própria. Numa conversa de amigos, um aluno dizia-me que o seu irmão proclamava, alto e bom som, de que não precisava de padres para nada. Alguns ouvintes responderam logo que se ele não precisava, havia quem precisasse. Eu limitei-me a perguntar se ele namorava. Meio surpreendido, esse aluno respondeu:
- Sim, mas porquê ?
- É que mais cedo ou mais tarde o teu irmão estará na igreja à procura de um padre para assistir ao seu casamento, depois ao baptismo dos filhos...
Não demorou muito a concretizar-se aquilo que profetizei.
Destas situações posso concluir que a primeira resposta sobre o seminário é simples, evasiva, que ficou aquém daquilo que realmente é ou deve ser um seminário. É um viveiro de vocações sacerdotais, lugar de discernimento vocacional. Já alguém definiu o seminário como o Coração de uma Diocese, com toda a sua simbologia. Lá aprende-se, não a dizer missa, mas aprende-se tudo com o coração. Lá sente-se o vibrar de uma diocese. De lá revitaliza-se as comunidades.
Quanto ao último episódio concluo apenas: Todos nós precisamos do seminário. Mas não devemos esquecer que também o seminário precisa de nós. Eu necessito do seminário porque necessito de animadores das comunidades eclesiais. Ele precisa de mim, da minha promoção vocacional, da minha ajuda material, do meu apoio moral, da minha oração, da valorização do serviço sacerdotal.

Vida de Capelão (30)

- Ó Capelão, este texto tem muitos erros de máquina. Em vez de um Cabo Auxiliar você devia ter uma boa dactilógrafa.
- Eu não me importava, mas quanto melhor fosse a dactilógrafa mais erros eu faria…

Criancices (30)

Um miúdo chegou tarde ao lanche e encontrou a janela fechada. Eu ia a passar e ele perguntou-me:
- Senhor Padre, posso entrar na cozinha para pedir leite?
- Sim, mas pergunta primeiro se a funcionária está muito ocupada.
Quando eu passava junto da janela ouvi o miúdo:
- A Menina N... está muito ocupada?
- O que é que me queres?
- A Menina tem leite?
- Tenho mas não é para ti. Desaparece senão eu chamo o Senhor Padre!
Corri para não ter que responder.

sábado, 15 de novembro de 2008

Vida de Capelão (29)

Acompanhava eu uma visita de estudo de uma Escola Secundária pela Base Militar. Alguém ao contemplar tão esbelta companhia grita-me:
- Ó Capelão, quer ajuda?
- Sim, sim. Vem tu ajudar-me. Este rebanho já tem pastor. Só lhe falta um cão de guarda.

Criancices (29)

- O senhor padre por acaso não me arranja uma peça de fruta em vez de geleia?
- Olhe, só se for uns manguitos...
O aluno fica vermelho e volta para a sua mesa todo envergonhado e eu sem culpa nenhuma dos mangos não terem crescido mais.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Agradecer

4ª feira - XXXII Tempo Comum

"SÓ VOLTOU UM PARA AGRADECER..."



Tudo o que temos é dom de Deus.
Tudo o que somos é dádiva da vida.
Tudo o que usamos é oferta da natureza.
Tudo nos foi oferecido.


Tudo devemos agradecer
porque tudo recebemos.
Quem não agradece
não sabe receber.


Quem não é capaz de dar
nem que seja um simples agradecimento
não merece nada daquilo que tem.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Amar o que se faz

Ano A - XXXIII Domingo Comum


Numa reflexão sobre a Parábola dos Talentos, pedi que me identificassem as suas personagens indicando o que cada uma tinha e com que ficou, fazendo as contas aritméticas. Eis uma resposta:
5 x 2 = 10 + 1 = 11
2 x 2 = 4
1 x 0 = 0
Perguntei então qual o valor do coeficiente ou multiplicando.
- É a quantidade do amor – respondeu um miúdo – Duas pessoas tinham amor de grau dois, a outra não tinha amor e por isso ficou sem nada. Sem amor nada se consegue.
De facto há duas maneiras de fazer as coisas: por obrigação, e então são cansativas, aborrecidas e maçadoras e por amor, e então são suaves, alegres e fecundantes. Um estudante que trabalha naquilo que tem vocação torna-se criativo e produtivo. Um profissional que tem o seu trabalho no coração realiza-se e cria um mundo novo. Fazer as coisas com temor e por obrigação, por muito que alguém se esforce, será sempre um peso doloroso e estéril. O importante é amar o que se faz quando não se pode fazer o que se ama. Só assim desaparece o esforço e surge a alegria. Pelo contrário, quando algo nos custa demasiado não é por ser difícil, o que nos falta é essa força interior que é o amor. Tarefa que não redunda em prazer é porque é feita por obrigação.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Semente de Mostarda


2ª Feira - XXXII Tempo Comum

"Se tivésseis fé do tamanho de uma semente de mostarda ... nada seria impossível."

Não importa ter uma grande fé, ou uma fé pequena, ou então uma fé mediana... o que importa é TER FÉ, porque a fé não se mede pelotamanho, ou pela grandeza, nem pela quantidade...

Uma semente não pode ser medida pela sua dimensão... o que interessa é que seja uma semente de boa qualidade e isso basta para poder germinar e suscitar o milagre da vida.
Tanto faz uma semente pequena ou grande, pois tanto uma como outra podem germinar.

Basta a uma semente ser semente.
Assim também a fé. Basta ter fé...

Morada de Deus

9 de Novembro - Dedicação da Basílica de Latrão

Celebrando esta Festa, ao contemplar um edifício físico, recordo qual a morada preferida de Deus - o coração de cada pessoa.

Uma senhora veio ter comigo no final da missa, no Funchal:
- O Senhor Padre mora no Coração de Jesus?
Sem perceber bem o sentido da pergunta, mostrei-me surpreendido:
- Sou Padre do Coração de Jesus, sim. Em que a posso ajudar?
- Perguntei se morava no Coração de Jesus, no Colégio Missionário.
- Ah, sim… - e fiquei a pensar que de facto nunca me tinha apercebido que morava no Coração de Jesus. É que até então pensava que era o Coração de Jesus que morava em mim e afinal eu é que moro nele…

Muitas vezes procuro preparar-me para entrar no Santuário para louvar o Senhor e esqueço-me de que é Ele quem quer entrar no meu santuário.
E outras vezes quero que Deus esteja comigo e esqueço-me de que Ele quer também que eu esteja n'Ele.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Renunciar

4ª Feira - XXXI Tempo Comum


Diz a sabedoria popular que para se dar é preciso primeiro encher-se.

A Sabedoria divina diz que para se encher é preciso esvaziar-se:

“Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo” diz Jesus no Evangelho de hoje.

Para dizer SIM a Deus é preciso dizer NÃO a muita coisa.

Para ENCHER-SE de Deus é preciso ESVAZIAR-SE de muitas coisas.

Porque dois proveitos não cabem na mesma alma.

E ninguém pode servir a dois senhores…

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Uma só Alma e um só Coração

2ª Feira - XXXI Tempo Comum

Filipenses 2, 1-4

Ter os mesmos sentimentos em Cristo
– É ter uma só alma e um só coração

Sentir a mesma caridade em Cristo
– É ter uma só alma e um só coração

Não fazer nada por rivalidade
– É ter uma só alma e um só coração

Olhar só pelos interesses dos outros
– É ter uma só alma e um só coração

Viver na humildade e simplicidade
– É ter uma só alma e um só coração

Na escuta da palavra proclamamos
– Uma só alma e um só coração

Em cada Eucaristia celebramos
– Uma só alma e um só coração

Unidos na oração nós confessamos
– Uma só alma e um só coração

Na vida em união testemunhamos
– Uma só alma e um só coração

Na partilha da vida anunciamos
– Uma só alma e um só coração

Socorrendo os irmãos realizamos
– Uma só alma e um só coração


Ser Responsável

Ano A - XXXII Domingo Comum
- Hoje, senhor padre, não posso concordar com o Evangelho que foi lido na Igreja. Então aquelas Virgens não quiseram partilhar do seu azeite com as colegas e foram elogiadas? Isso não pode ser pois é um convite ao egoísmo.
- Ainda bem que estavas atento à leitura e não dormiste como aquelas personagens – respondi timidamente. Como és responsável por aquilo que pensas não vás a reboque de ninguém. É isso mesmo que se passa nesta parábola. Ninguém partilhou porque cada uma devia responder pela sua vida. É uma experiência pessoal que não pode ser responsabilizada aos demais.
Não sei se o meu amigo ficou mais esclarecido. Ao voltar para casa fui pensando que afinal é preciso vigiar, estar atento porque na hora em que menos esperamos vem uma lição e de quem não contamos vem uma chamada de atenção. E fui preparando o sermão que devia ter feito:
Estes dois grupos de pessoas representam cada um de nós. Estamos divididos: às vezes preparados, outras vezes pensado em tudo menos naquilo que de facto tem importância. Dentro de nós coexiste o bem e o mal. Ninguém nos poderá emprestar uma parte da sua vida. Devemos ser responsáveis.
O homem prudente é como um alfinete: É a sabedoria, isto é, a sua cabeça que lhe dá a força para ir até onde deve e o impede de ir além de mais.

Ser Grande

Ano A - XXXI Domingo Comum
Num acampamento de amigos era necessário escolher alguém para a chefia do grupo. Seria o representante de todos, o coordenador das actividades, o responsável pela ordem etc. Fizeram uma votação. Quando o resultado foi anunciado, o mais votado começou por dizer:
- Eu não sou digno dessa escolha. Há outros que tem mais capacidades do que eu. Não sei se serei capaz de ser o chefe que esperais...
Então um colega sugeriu que se escolhesse outro para o seu lugar.
- Caramba – disse o primeiro – já não se pode fazer um acto de humildade?
E não abdicou do seu novo cargo.
Também nós gostamos de ser importantes.
Jesus Cristo lembra-nos que quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado. Ser bom é importante mas o importante é ser bom.
O homem grande é silenciosamente bom. É poderoso, mas sem exibir poder. Adora o que é sagrado, mas sem fanatismo. Carrega fardos pesados, com leveza e sem gemidos. Domina, mas sem insolência. É humilde, mas sem servilismo. Fala a grandes distâncias, mas sem gritar. Ama, sem se oferecer. Faz bem a todos, sem o fazer notar. Renuncia, sem fazer disso um culto. Abre novos caminhos, sem esmagar ninguém. Entra no coração do homem, sem arrombar a porta.

domingo, 2 de novembro de 2008

Vida de Capelão (28)

A RTP estava a passar um filme ousado e eu sozinho na sala de Televisão. Nisto chega alguém e opina:
- Ó Capelão, você devia estar junto de Deus a rezar por esses pecadores.
- Olha, eu prefiro estar aqui a ver isto com o pensamento em Deus, do que lá na Capela a rezar, mas com o pensamento nisto.

Criancices (28)

Fui a uma Secretaria Regional perguntar se havia alguma resposta a um pedido formulado. A recepcionista, querendo fazer-se engraçada diante das colegas, respondeu:
- Ó Senhor Padre, por enquanto não há nada. Vá para casa rezar à Virgem...
- Sim, sim - respondo eu - já que aqui não há nenhuma...

sábado, 1 de novembro de 2008

Viagem Sem Retorno

A vida não passa de uma viagem de comboio, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis ou tristezas surpreendentes.
Quando nascemos, entramos nesse comboio e deparamo-nos com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre nessa viagem connosco, como por exemplo os nossos pais. Infelizmente, isso não é verdade. Nalguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos do seu carinho e da companhia insubstituível... mas isso não impede que, durante a viagem, outras pessoas importantes para nós entrem nessa carruagem. Chegam os nossos irmãos, novos familiares, outros amigos. Uns, mal entram, logo descem. Outros parecem eternos passageiros.
Muitas pessoas tomam esse comboio apenas como turistas ou na desportiva. Outras levam a viagem muito a sério que nem desfrutam da companhia dos outros ou da beleza da paisagem. Outras pessoas circulam pelas cabines, prontas a ajudar a quem precisa. Muitas descem e deixam saudades eternas, outras passam pelo comboio de uma forma que ninguém sequer se apercebe. Alguns passageiros, que nos são caros, acomodam-se noutros vagões diferentes dos nossos e por isso somos obrigados a fazer a viagem afastados deles. De vez em quando vamos ao seu encontro na carruagem seguinte.
É assim a nossa viagem, cheia de atropelos, sonhos, encontros e despedidas. Retornos é que nunca os há.
É possível fazer dessa viagem uma experiência aliciante, tentando relacionar-nos com todos os companheiros, partilhando com eles sonhos e realizações. O grande mistério, afinal, é que nunca sabemos em qual estação vamos descer, muito menos os nossos companheiros, nem quem está sentado ao nosso lado.
Eu fico a pensar nas saudades que sentirei quando chegar a minha vez de descer. Acredito que sim, tal como sinto saudades de todos os que já se apearam.
Até esse dia procurarei criar um ambiente agradável na carruagem onde viajo com os meus amigos. Seguirei viagem com a esperança de chegar à minha estação com as bagagens bem recheadas de tudo aquilo que me fará feliz no além. Quando chegar a hora de desembarcar, o meu lugar ficará vazio, mas as boas recordações e o bem que eu tiver feito, continuarão com aqueles que prosseguirem viagem.