Memória litúrgica de São João Paulo II
Sempre me impressionou a grande capacidade do Papa João
Paulo II em entrar em oração. Onde quer que fosse, à frente de multidões, abstraindo-se
do som, das imagens e de tudo o mais via-se que ele entrava em oração, ou
melhor, a oração entrava nele. Era tão rápido que até parecia ser fruto de um
clique e assim permanecia em profunda concentração.
Ele foi mestre de oração em qualquer lugar, em qualquer
circunstância, mesmo no meio de ruído. E todos os presentes eram contagiados
pelo mesmo espírito de recolhimento e oração.
Aprendamos com ele a rezar sem cessar, em todo o tempo e lugar.
Episódio histórico
Ele também ensina que o amigo reza pelo amigo, e que a
amizade leva a rezar juntos.
É o que podemos aprender do episódio que se segue.
O antigo presidente italiano Sandro Pertini
(1978-1985), no seu leito de morte, pediu para ver o papa João Paulo II, que se
dirigiu imediatamente ao hospital onde estava internado o dirigente socialista,
mas a sua esposa não permitiu a entrada do Pontífice, que ficou rezando no
corredor.
O relato foi feito por Arturo Mari, fotógrafo do jornal
Osservatore Romano, que esteve durante 27 anos no séquito de Karol Wojtyla.
Mari, numa entrevista à revista semanal italiana Chi,
antecipou o conteúdo do livro "Arrivederci in Paradiso" (Adeus no
paraíso).
O episódio ocorreu em fevereiro de 1990, quando o
ex-presidente italiano foi internado em estado grave no hospital da
Universidade de Roma Umberto I.
“Foi-nos informado que ele repetiu expressamente
'chamem o meu amigo'. No hospital, não entendiam quem era o 'amigo' que
deveriam chamar, mas finalmente o presidente conseguiu dizer que se tratava do
Papa", continuou o fotógrafo. João Paulo II, informado, cancelou
imediatamente todas as audiências e se dirigiu ao hospital, onde surgiu um
problema inesperado: a esposa de Pertini não quis deixá-lo entrar no quarto.
Com muita indelicadeza, nem lhe dirigiu o olhar.
O Pontífice não insistiu, mas explicou que foi chamado
pelo seu amigo no leito de morte. Depois, visto que não tinha nada a fazer,
pediu à senhora Pertini permissão para conseguir uma cadeira: 'Assim posso
estar próximo dele ainda que ficando do lado de fora'. Faça o que quiser',
respondeu a mulher do presidente.
Depois o Papa começou a rezar no corredor diante da
porta. Recitou o rosário e depois parte do breviário. No final João Paulo II
disse: "agora está em paz", e levantando-se da cadeira e deixou o
local.”
O ex-presidente italiano morreu a 24 de fevereiro de
1990 e a sua esposa, Carla Voltolina, morreu também em Roma no final de 2005.
Um dos mais estreitos colaboradores de Sandro Pertini,
Antonio Ghireli, declarou à ANSA que não foi testemunha do fato narrado no
livro por Giovanni Mari, mas admitiu que não se espantou ao saber que o
ex-presidente tenha pedido para ver o Papa João Paulo II antes de morrer.
"Sou testemunha da primeira vez que Pertini foi
convidado a jantar por João Paulo II. O presidente não era crente e tinha
muitos escrúpulos, mas voltou entusiasmado com a inteligência e a abertura do
Papa", declarou Ghirelli.
João Paulo II e o ex-presidente italiano, socialista e
declaradamente ateu, mantiveram os laços de amizade e admiração mútuas mesmo
após o fim do mandato de Pertini.
A amizade manifesta-se também através da oração.
Quem não reza pelo outro, não pode ser seu amigo.
Ver também:
Os papas que conheceram o Pe. Dehon
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