terça-feira, 22 de outubro de 2024

Homem de profunda oração


Memória litúrgica de São João Paulo II

 

Sempre me impressionou a grande capacidade do Papa João Paulo II em entrar em oração. Onde quer que fosse, à frente de multidões, abstraindo-se do som, das imagens e de tudo o mais via-se que ele entrava em oração, ou melhor, a oração entrava nele. Era tão rápido que até parecia ser fruto de um clique e assim permanecia em profunda concentração.

Ele foi mestre de oração em qualquer lugar, em qualquer circunstância, mesmo no meio de ruído. E todos os presentes eram contagiados pelo mesmo espírito de recolhimento e oração.

Aprendamos com ele a rezar sem cessar, em todo o tempo e lugar.

Episódio histórico

Ele também ensina que o amigo reza pelo amigo, e que a amizade leva a rezar juntos.

É o que podemos aprender do episódio que se segue.

O antigo presidente italiano Sandro Pertini (1978-1985), no seu leito de morte, pediu para ver o papa João Paulo II, que se dirigiu imediatamente ao hospital onde estava internado o dirigente socialista, mas a sua esposa não permitiu a entrada do Pontífice, que ficou rezando no corredor.

O relato foi feito por Arturo Mari, fotógrafo do jornal Osservatore Romano, que esteve durante 27 anos no séquito de Karol Wojtyla.

Mari, numa entrevista à revista semanal italiana Chi, antecipou o conteúdo do livro "Arrivederci in Paradiso" (Adeus no paraíso).

O episódio ocorreu em fevereiro de 1990, quando o ex-presidente italiano foi internado em estado grave no hospital da Universidade de Roma Umberto I.

“Foi-nos informado que ele repetiu expressamente 'chamem o meu amigo'. No hospital, não entendiam quem era o 'amigo' que deveriam chamar, mas finalmente o presidente conseguiu dizer que se tratava do Papa", continuou o fotógrafo. João Paulo II, informado, cancelou imediatamente todas as audiências e se dirigiu ao hospital, onde surgiu um problema inesperado: a esposa de Pertini não quis deixá-lo entrar no quarto. Com muita indelicadeza, nem lhe dirigiu o olhar.

O Pontífice não insistiu, mas explicou que foi chamado pelo seu amigo no leito de morte. Depois, visto que não tinha nada a fazer, pediu à senhora Pertini permissão para conseguir uma cadeira: 'Assim posso estar próximo dele ainda que ficando do lado de fora'. Faça o que quiser', respondeu a mulher do presidente.

Depois o Papa começou a rezar no corredor diante da porta. Recitou o rosário e depois parte do breviário. No final João Paulo II disse: "agora está em paz", e levantando-se da cadeira e deixou o local.”

O ex-presidente italiano morreu a 24 de fevereiro de 1990 e a sua esposa, Carla Voltolina, morreu também em Roma no final de 2005.

Um dos mais estreitos colaboradores de Sandro Pertini, Antonio Ghireli, declarou à ANSA que não foi testemunha do fato narrado no livro por Giovanni Mari, mas admitiu que não se espantou ao saber que o ex-presidente tenha pedido para ver o Papa João Paulo II antes de morrer.

"Sou testemunha da primeira vez que Pertini foi convidado a jantar por João Paulo II. O presidente não era crente e tinha muitos escrúpulos, mas voltou entusiasmado com a inteligência e a abertura do Papa", declarou Ghirelli.

João Paulo II e o ex-presidente italiano, socialista e declaradamente ateu, mantiveram os laços de amizade e admiração mútuas mesmo após o fim do mandato de Pertini.

A amizade manifesta-se também através da oração.

Quem não reza pelo outro, não pode ser seu amigo.

 

Ver também:

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João Paulo Santo

Dois beatos, duas memórias

Os papas que conheceram o Pe. Dehon

 

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