Memória de São Nuno de Santa Maria Álvares Pereira, o
Santo Condestável (1360-1431)
O jejum do santo
O santo do jejum
O Santo que foi em jejum para a Batalha de Aljubarrota
(1385).
São Nuno de Santa Maria Álvares Pereira todos os dias
ouvia duas missas e três nos sábados e domingos.
Confessava-se amiúde e comungava quatro vezes por ano:
pelo Natal, Páscoa, Pentecostes e Santa Maria de agosto, o que se admirava
muito, visto os leigos, então, quase só comungarem pela Quaresma.
Diariamente, rezava as suas Horas, levantando-se
pontualmente a rezar Matinas à meia-noite, como se fosse um religioso; e isto antes
de entrar na Ordem do Carmo.
Jejuava às quartas-feiras, sextas e sábados, e guardava
todas as festas e dias prescritos pela igreja. Do jejum nunca se dispensava
mesmo que viesse a cair nos dias em que havia de dar batalha.
Mas o seu maior jejum foi outro: depois de uma carreira militar vitoriosa renunciou a tudo isso e
dedicou-se totalmente na Deus e à Maria Santíssima, como frade terceiro da
Ordem do Carmo.
De facto, jejuar é dizer não ao pão material para dizer
sim ao alimento divino que só nos pode saciar plenamente. É deixar as vitórias
deste mundo para alcançar uma vitória eterna.
O que rezamos nas Laudes do comum dos santos aplica-se
perfeitamente a São Nuno:
A glórias vãs desde mundo,
Bem as soubeste deixar,
Para lá cima alto nome
Com letras de oiro gravar.
Oração:
Senhor nosso Deus, que destes a são Nuno de Santa Maria a graça de combater o bom combate e o tornastes exímio vencedor de si mesmo, concedei aos vossos servos que, dominando como ele as seduções do mundo, com ele vivam para sempre na pátria celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
Invocação
São Nuno de Santa Maria, rogai por nós!
Já que tiveste aqui na terra a mesma Pátria que nós,
Faz que tenhamos lá no céu a mesma Pátria que tu.
São Nuno nas palavras de Bento XVI
Bento XVI na canonização de São Nuno de Santa Maria
Álvares Pereira:
Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura
exemplar, nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos
aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer
situação, mesmo de carácter militar e bélica, é possível atuar e realizar os
valores e princípios da vida cristã (26/94/2009)
São Nuno nas palavras de Camões
Ditosa Pátria que tal filho teve.
Camões coloque a figura de Dom Nuno nos cantos I, IV,
VIII, merece atenção. São cantos charneira da narrativa épica, dão-lhe
travejamento e sustentam a estrutura da memória histórica a que dão
consistência. Não pode senão significar o preito de homenagem épico à “estrela
da manhã” que mais que todos os heróis portugueses merece as honras de quem
interpreta o sentido da Memória da coletividade a que pertence. Com ele
proclamamos “Ditosa pátria que tal filho teve. / Mas antes, Pai!”
São Nuno nas palavras de Fernando Pessoa
NUN’ÁLVARES PEREIRA
Que auréola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Artur te deu.
Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
8-12-1928, Mensagem. Fernando Pessoa. Lisboa: Parceria
António Maria Pereira, 1934 (Lisboa: Ática, 10ª ed. 1972). - 45.
O poeta quer dizer que a santidade que ele alcançou,
foi a custo também dos seus atos de guerreiro, pois é a sua espada que desenha
o círculo diáfano por cima da sua cabeça, destacando-o santo, do comum dos
homens. Nuno Álvares Pereira é o portador de uma espada que,
sendo simultaneamente auréola, credencia-o como símbolo da plena heroicidade,
por incorporar a dupla condição de guerreiro e de santo
Ver também:
Sem desânimo
O santo da Batalha
Rezar é combater
Ecos de um santo
São Nuno
Condestável
São Nuno de Santa Maria
À margem
Cronologia da vida de Santo Condestável
1360: Nuno Álvares Pereira nasce em Castelo do
Bonjardim, Santarém, filho do prior da Ordem dos Hospitalários.
1361: É legitimado por D. Pedro I
1373: Entra na Corte de D. Fernando e torna-se
escudeiro da rainha D. Leonor Teles. Em breve é armado cavaleiro.
1376: A 15 de agosto casa com D. Leonor de Alvim, de
quem vem a ter uma filha, D. Beatriz.
1383: Morre D. Fernando. D. Leonor Teles manda
proclamar a filha e o genro, D. João de Castela, sucessores do trono de
Portugal. Nuno Álvares Pereira distingue-se no partido patriótico que incita D.
João, Mestre de Avis, a chefiar a revolta contra os castelhanos. É nomeado
fronteiro entre Tejo e Guadiana.
1384: Vence os castelhanos na Batalha dos Atoleiros.
1385: D. João I de Portugal, entretanto aclamado rei,
nomeia-o Condestável do reino. A 14 de Agosto vence na Batalha de Aljubarrota.
Recebe numerosos títulos e domínios, entre os quais o Condado de Ourém e o
Condado de Arraiolos.
1388: Começa a construção da capela de S. Jorge, em
Aljubarrota.
1389: Começa a construção do Convento do Carmo, em
Lisboa.
1393: Partilha com os companheiros de armas muitas das
suas terras.
1397: Primeiros carmelitas vêm viver para o Convento do
Carmo.
1401: Fim das hostilidades com Castela.
1414: Morre a filha, D. Beatriz. Projeta tornar-se
carmelita.
1415: Participa na conquista de Ceuta.
1422: Reparte pelos netos os seus títulos e domínios.
1423: Professa no Convento do Carmo a 15 de agosto.
Toma o nome de Fr. Nuno de Santa Maria. Dedica-se a atos de piedade e de
benemerência. Ainda em vida é chamado Santo Condestável pelo povo.
1 de abril de 1431, domingo da Ressurreição, morre em
Lisboa.
1641: As cortes pedem ao Papa Urbano VIII a sua
beatificação. O pedido é renovado várias vezes ao longo dos anos.
1918: O Papa Bento XV confirma o culto do Santo
Condestável; a sua Festa celebra-se no dia 6 de novembro.
2009: São Nuno é canonizado pelo Papa Bento XVI, em 26
de abril e a sua festa é a 6 de novembro.