quarta-feira, 20 de novembro de 2024

O avesso de uma parábola


4ª feira – XXXIII semana comum

A parábola dos talentos no avesso

Numa noite de pesadelos sonhei que o meu patrão nos tinha convocado para o seu escritório, a mim a outros dois colegas.

Estávamos ansiosos, pois não imaginávamos o que é que queria de nós.

Abriu a gaveta da mesa e tirou três moedas de ouro dizendo que eram muito antigas e valiosas. Entregou um exemplar a cada um de nós e recomendou que puséssemos a render essas moedas o máximo possível e que daí a um mês voltássemos à sua presença para darmos conta dessa tarefa.

Trinta dias depois estávamos os três de novo na presença do chefe.

O meu colega mais velho foi o primeiro a apresentar o resultado da sua dedicação. Disse ter vendido a moeda por um preço justo. Depois investiu esse dinheiro cujo resultado foi três vezes mais. Via-se que estava orgulhoso, contente consigo mesmo por apresentar tão bom resultado.

Depois fui eu a mostrar o meu trabalho, diferente talvez, mas de igual valor. Apresentei, não uma, mas três moedas de ouro iguais em antiguidade e valor, para a sua coleção.

- Não me perguntes como consegui achar estas moedas – disse eu radiante a contemplar extasiado essas moedas na palma da minha mão – durante um mês não pensei noutra coisa a não ser juntar estas preciosidades.

Finalmente o colega mais novo, completamente descontraído começou a falar:

- Levei a moeda de ouro que me entregaste, com a esperança de pô-la a render e a pensar neste momento para entregar tudo nas tuas mãos. Mas aconteceu um percalço. Durante a viagem para casa perdi essa moeda. Procurei por toda a parte, pensando no desgosto que daria a quem ma deu. Aqui estou de mãos vazias. Sei, todavia, que és bom e compreendes a minha desgraça. Não te trago nada, mas sei que és misericordioso e compassivo.

E o nosso chefe sorriu e disse:

- Agradeço ao primeiro amigo que me trouxe tanto dinheiro, mas lamento que tenha pensado mais em si do que em mim. Preocupou-se em alcançar mais alegria para si do que para mim.

- Agradeço também a quem me entregou três moedas preciosas – disse o chefe a olhar para mim. Mas tenho pena que durante esse tempo todo tenha pensado não em mim, mas apenas nas moedas, como se fosse isso o mais importante.

E finalmente, o chefe, para quem mais do que o dinheiro, importava que aquele servo tivesse uma imagem verdadeira de si, disse-lhe:

- Muito bem, amigo bom e fiel, ainda que nada tenhas, entra na alegria do teu senhor, porque confiaste em mim.

E imediatamente acordei.

Fiquei com pena ter sido apenas um sonho, mas a lição não se apagou.

Já agora, aproveito para dizer que, sempre que conto este sonho, há uma má língua que insinua que as moedas que arranjei vieram todas das mãos do chefe. Ou seja, uma deu-me ele diretamente, outra teria comprado ao meu colega mais velho, e a última teria encontrado perdida, para não dizer roubada ao colega mais novo.

E se tivesse sido? A mensagem do sonho seria a mesma.

Às vezes pensamos mais em nós que servimos do que em Deus a quem servimos.

Outra vezes valorizamos mais aquilo que recebemos do que Deus que nos dá.

Que saibamos confiar em Deus e entregarmo-nos nas suas mãos.

Isto é o que interessa.

 

Ver também:

Talentos num saco de lã

Talentos num saco de trigo

Ter ou ser talento

Parábola das minas

Câmbio de talentos

Fazer a minha parte

Outra versão da parábola

Versão pragmática

O amor faz render

Amar o que se faz

 

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