Dehon orador
O
nosso Fundador era um bom comunicador, mas não dominava muito bem a literatura.
Era acima de tudo um comunicador e não escritor nem orador.
Sentia-se
limitado quanto à literatura: Eu não
gostava da literatura pura, o romance, o que se chama arte pela arte (NHV V).
Limitado
quanto à oratória, foi aprendendo a falar em público e aprendendo com os
outros: “Quando eu encontrava o Sr. De Mun e quando ele tomava a palavra nos
congressos e assembleias eu recebia uma
lição de eloquência, e isso serviu-me um pouco daí em diante. Há essas
metáforas e esses exemplos bem escolhidos com os quais, para exercitar uma
paixão, se mostra essa paixão em ato nalgum facto histórico (NHV, VI,
1876)”
“Comecei a falar em público na Obra da Doutrina da
fé em S. Suplício. Tinha mais boa vontade que talento (NHV I).”
Sentia
vontade em estudar mais, mas as circunstâncias da vida levaram-no a dedicar-se
mais à ação do que ao estudo: “Feliz é tu, Palustre, que podes entregar-te
assim ao estudo. Quanto a mim, deixando-me guiar pela Providência, tornei-me homem de ação, apesar do meu
gosto pelo trabalho de escrivaninha. (NHV, V)”
O que dizia de si mesmo
-
“Eu não era orador (NHV, III, 1869)
e ainda não o sou embora tenha hoje mais facilidade, mas as circunstâncias
falavam por si mesmas. Os estudos escolásticos dão uma doutrina segura a uma
lógica cerrada. Colocam-nos aos antípodas
da retórica. Esta, pressupõe leituras, treinos, que não se tem tempo de
fazer no seminário, e habilidades que lá não se aprendem. Eu terminara cedo
demais as minhas humanidades, aos 16 anos! O direito, a filosofia escolástica,
a teologia tinham dado ao meu espírito hábitos de exatidão, de ordem e de
clareza, que eram preciosos. Mas faltava-me
a leitura. Repugnava-me todos os escritos modernos, aos quais geralmente
falta lógica, fundo, e doutrina, e que são unicamente frases, arte pela arte,
diletantismo, címbalo que retine de São Paulo. Só foi muito tarde que eu retomei um pouco o gosto pela literatura,
compreendendo, mas tarde demais, que com pouco mais de arranjo, muitas vezes eu
teria dado mais eficácia à minha
palavra. Escrevi, neste primeiro ano, uns trinta sermões, sem contar com as
breves conferências no Patronato… Faltava-me evidentemente formação. Não se
faziam sermões em Roma. Tinha o sentido literário nada desenvolvido.
Coração não me faltava, mas tinha a imaginação demasiado pobre. O meu melhor
instrumento de retórica teria sido o sentimento, mas não o usei bastante.” (NHV,
V, 1871)
-
“Os pequenos do Liceu de São Quintino fazem a primeira comunhão razoavelmente. Contei-lhes muitas histórias, e eles
escutaram-me.” (NHV, Volume III, 1877)
-
“Estes sermõezinhos durante as
férias em La Capelle não eram nenhumas
maravilhas; o estilo é muito simples; faltava-me
retórica. Mas eu tinha-os meditado; pronunciava-os com sinceridade, e eles
certamente faziam grande impressão.” (NHV, Volume V, 1870)
-
“Em São Quintino, para o catecismo paroquial eu tinha os miúdos das escolas
laicais, e podia tirar um proveito, porque o catecismo ainda era ensinado nas
escolas. Ia à Terça numa e à Sexta noutra escola, às 11 horas, fazer uma conferência de meia hora. Punha nisso
todo o meu zelo. Era um catecismo de perseverança; com exemplos e histórias. Escutavam-me… No Patronato dávamos
prémios literários aos mais assíduos. Os meus breves contos interessavam porque eu narrava coisas vistas e passadas por mim.” (NHV, Volume
V, 1871)
-
“Cada Domingo, eu relatava no Patronato
alguma das minhas recordações de viagens, fotografias, pedras, objetos do país
etc… As crianças precisam tanto de
coisas concretas para ficar com atenção.” (NHV, Volume V)
O
que diziam dele
- “Aos
10 de Janeiro de 1897, o jornal romano “La Voce della Veritá”, que acompanha de
perto os acontecimentos da Igreja, anuncia nestes termos as cinco Conferências
do Pe. Dehon para Janeiro-Março: “Pe. Dehon é um excelente conhecedor dos estudos sociais, e a sua palavra forte e
eficaz é sempre bem recebida onde quer que fale. A sua competência sobre a questão faz dele um orador procurado para os Congressos católicos da França. Testemunho
desta sua capacidade incontestável é
o seu magnífico “Manuel Social Chrétien”, que recebeu a aprovação de numerosos
Bispos e que em pouco tempo conheceu quatro edições; foram publicados mais de
13.00 exemplares.” Cada quinze dias, o mesmo jornal informa sobre o tema
especial que Pe. Dehon vai tratar, como um ilustre
orador que fala magistralmente
diante de um auditório bem seleto e numeroso”. (A renovação cristã social,
conferências romanas).
-
Ao comentar eventos contemporâneos dignos de atenção, em Fevereiro de 1897, a
famosa revista dos Padres Jesuítas La Civilità Cattolica (Série XVI, vol IX,
pag 616) escreve: “Em Roma, actualmente, duas
personagens ilustres dão Conferências sobre Rerum Novarum e a questão
social: o professor Toniolo… e o Pe. Dehon, francês, Geral dos Sacerdotes do
Coração de Jesus… O Pe. Dehon fala numa sala dos Padres Agostinianos da
Assunção, na praça de Aracoeli. Os discursos
são em francês, e o Pe. Dehon se revela ótimo conhecedor da matéria. Fala de pé, com grande desenvoltura, o tom
de voz é ao mesmo tempo de quem ensina e de quem conversa familiarmente.
Tem diante de si apenas poucas folhas de papel e que olha só rapidamente, às
vezes as toma nas mãos para ler uma estatística, uma citação, uma data. De vez
em quando, sobrevém-se um raio de
eloquência, mas logo, gradualmente, volta a ser a luz normal e tranquila da conversação familiar…”
-
Um dos ouvintes do Pe. Dehon, Mons. Prunel (Sob o pseudónimo de J. Dorval),
descreve a cena nestes termos: “Entrando na sala, se notava a importância dada
a esta Conferência pelo clero e os membros da melhor sociedade de Roma… O orador entra sob os aplausos da sala.
Alto, magro, nervoso, ele tinha algo de militar no porte e no passo. A fronte descoberta, o olhar inquisidor, o
nariz aquilino e algo, que eu não sei dizer exatamente, que indicava pleno domínio de si e convicção ardente…
Mais e mais o orador conquistava o seu
auditório. As eminências pareciam participar do entusiasmo geral… Num gesto inspirado, os olhos fixos no alto,
como se tivesse esquecido o auditório e seguido com a vista uma visão
iluminante o orador apresentava, como uma magnífica epopeia, as ações da
Igreja, durante os séculos”
- “A força
das ideias, a emoção do orador
pela grande causa que defendia, empolgam a assistência que aclama o Rev. Pe.
Dehon”. ( Atas do 4º Congresso da Ordem Terceira
Franciscana, Nimes, 23-27 de Agosto de 1897, in IV Volume Obras Sociais, pag.
646)
O Pe. Dehon podia não ter grande jeito
para escrever histórias, mas sabia muito bem contá-las e aplicá-las.
Podia não ter a preparação nem a
experiência de um grande orador, mas sabia muito bem comunicar.
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