4ª feira – XXXIII semana comum
A parábola dos talentos no avesso
Numa noite de pesadelos sonhei que o meu patrão nos
tinha convocado para o seu escritório, a mim a outros dois colegas.
Estávamos ansiosos, pois não imaginávamos o que é que
queria de nós.
Abriu a gaveta da mesa e tirou três moedas de ouro
dizendo que eram muito antigas e valiosas. Entregou um exemplar a cada um de
nós e recomendou que puséssemos a render essas moedas o máximo possível e que daí
a um mês voltássemos à sua presença para darmos conta dessa tarefa.
Trinta dias depois estávamos os três de novo na
presença do chefe.
O meu colega mais velho foi o primeiro a apresentar o resultado
da sua dedicação. Disse ter vendido a moeda por um preço justo. Depois investiu
esse dinheiro cujo resultado foi três vezes mais. Via-se que estava orgulhoso,
contente consigo mesmo por apresentar tão bom resultado.
Depois fui eu a mostrar o meu trabalho, diferente
talvez, mas de igual valor. Apresentei, não uma, mas três moedas de ouro iguais
em antiguidade e valor, para a sua coleção.
- Não me perguntes como consegui achar estas moedas –
disse eu radiante a contemplar extasiado essas moedas na palma da minha mão –
durante um mês não pensei noutra coisa a não ser juntar estas preciosidades.
Finalmente o colega mais novo, completamente
descontraído começou a falar:
- Levei a moeda de ouro que me entregaste, com a
esperança de pô-la a render e a pensar neste momento para entregar tudo nas tuas
mãos. Mas aconteceu um percalço. Durante a viagem para casa perdi essa moeda.
Procurei por toda a parte, pensando no desgosto que daria a quem ma deu. Aqui
estou de mãos vazias. Sei, todavia, que és bom e compreendes a minha desgraça.
Não te trago nada, mas sei que és misericordioso e compassivo.
E o nosso chefe sorriu e disse:
- Agradeço ao primeiro amigo que me trouxe tanto
dinheiro, mas lamento que tenha pensado mais em si do que em mim. Preocupou-se
em alcançar mais alegria para si do que para mim.
- Agradeço também a quem me entregou três moedas preciosas – disse o chefe a olhar para mim. Mas tenho pena que durante esse
tempo todo tenha pensado não em mim, mas apenas nas moedas, como se fosse isso o
mais importante.
E finalmente, o chefe, para quem mais do que o dinheiro, importava que aquele servo tivesse uma imagem verdadeira de si, disse-lhe:
- Muito bem, amigo bom e fiel, ainda que nada tenhas,
entra na alegria do teu senhor, porque confiaste em mim.
E imediatamente acordei.
Fiquei com pena ter sido apenas um sonho, mas a lição não
se apagou.
Já agora, aproveito para dizer que, sempre que conto
este sonho, há uma má língua que insinua que as moedas que arranjei vieram todas das
mãos do chefe. Ou seja, uma deu-me ele diretamente, outra teria comprado ao meu
colega mais velho, e a última teria encontrado perdida, para não dizer roubada ao
colega mais novo.
E se tivesse sido? A mensagem do sonho seria a mesma.
Às vezes pensamos mais em nós que servimos do que em Deus a quem servimos.
Outra vezes valorizamos mais aquilo que recebemos do que Deus que nos dá.
Que saibamos confiar em Deus e entregarmo-nos nas suas mãos.
Isto é o que interessa.
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