domingo, 13 de setembro de 2009

Perguntar e responder

Ano B - XXIV - Domingo Comum

Reflexão do Pe. António Vieira, século XVII:

Perguntou o Senhor:
Perguntou para que os senhores que mandam o Mundo
se não desprezem de perguntar.
Se pergunta a sabedoria divina,
porque não perguntará a ignorância humana?
Quem não pergunta, não quer saber;
quem não quer saber, quer errar.

Quem dizem:
Não perguntou o Senhor o que era,
senão o que se dizia: Quem dizem?
Antes de se fazerem as coisas, há-se de temer o que dirão;
depois de feitas, há-se de examinar o que dizem.
Uma coisa é o acerto, outra o aplauso.
A boa opinião de que tanto depende o bom governo,
não se forma do que é, senão do que se cuida;
e tanto se devem observar as obras próprias,
como respeitar os pensamentos e línguas alheias.
A providência com que Deus permite a murmuração,
é porque talvez de tão má raiz se colhe o fruto da emenda.
E se eu de murmurado me posso fazer aplaudido,
porque me não informarei do que se diz?

Um profeta do passado:
Grande é o ódio que os homens têm à idade em que nasceram.
Não diziam que era um profeta como os antigos, senão um deles.
Pois assim como antigamente houve também profetas,
não poderia também agora haver um?
Cuidam que não.
Por melhor milagre tinham ressuscitar um dos profetas passados,
que nascer em seu tempo outro como eles.
Tudo o moderno desprezam,
só o antigo veneram e acreditam.

Conclusão:
Não sei o que mais devo venerar aqui,
se o que Cristo disse a Pedro,
se o que Pedro disse a Cristo.

Sermão de São Pedro, do Padre António Vieira Pregado em Lisboa, em S. Julião, no ano de 1644, à venerável congregação dos sacerdotes.

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