quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

O que é demais não presta


5ª feira – VII semana comum

Naquele tempo disse Jesus: tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.

Se eu pudesse ter apenas um tempero no armário da minha cozinha, seria definitivamente o sal.

O sal não muda o sabor dos alimentos da mesma forma que outros temperos e especiarias fazem; ele simplesmente realça o melhor deles.

Quando Jesus nos diz para sermos sal para os outros, ele está de facto pedindo para adicionar o sabor que despertará os seus espíritos, o tempero que extrairá deles o melhor de si.

Mas Jesus também está pedindo para não adicionar sal demais.

O que é que isso quer dizer?

Significa simplesmente fazer o que ele nos diz e não ir além. Nem mais nem menos. Com o sal não podemos ser generosos. Se for demais não presta.

Convém respeitar o sabor dos outros.

Convém não invadir ou dominar o que eles são ou podem ser.

Por outras palavras

O macaco salvador

Um macaco passeava à beira de um rio, quando viu um peixe dentro da água.

Como não conhecia aquele animal, pensou que ele estava a afogar-se.

Conseguiu apanhá-lo e ficou muito contente quando o viu aos pulos, preso nos seus dedos, pois achava que aqueles saltos eram sinais de uma grande alegria por ter sido salvo.

Pouco depois, quando o peixe parou de se mexer e o macaco percebeu que ele estava morto, comentou:

- Que pena eu não ter chegado mais cedo!

E, depois exclamou, sossegando-se:

- Mas fiz tudo o que podia para o ajudar!

Querer ajudar os outros sem os conhecer e sem saber se precisam mesmo de ajuda não é ser simpático, é ser intrometido.

Deitar sal demais, não é apurar a comida, mas estragar.

Tudo o que é demais não presta.

 

Ver também:

Sem sal não há salvação

Ajudar a ver e a saborear

Propriedades do sal

Salbedoria

Nova tradução da bíblia

Tende sal em vós mesmos

Ser sal

Participativos, agradecidos, íntegros

 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Toda a gente unida a rezar


4ª feira – VII semana comum

A)

João foi ter com Jesus, todo satisfeito porque tinha proibido alguém de fazer milagres em nome de Jesus só pelo faco de não fazer parte do gruo dos discípulos. Pensava ele que ia levar com um elogio de Jesus. Este apenas disse:

- Tu és pior que os fariseus. Eles proíbem-me de fazer o bem, milagres e curas, só por ser sábado. E tu proíbes fazer o bem só porque não é do teu grupo. Vós e eles estão mais preocupados, não pelo bem que é preciso fazer, mas pelas circunstâncias ou pormenores

O bem não pode ser proibido. E quem faz o bem nem precisa de estar ou dizer que é da minha comunidade, pois as suas ações já mostram isso.

 

B)

Afinal a comunidade de Jesus vai para além da comunidade dos discípulos. O grupo de quem faz o bem é muito maior do que nós, vemos ou pensamos.

O bem que é feita deve sempre alargar os nossos horizontes.

O bem deve ser feito sem olhar a quem o faz e para quem se faz.

 

C)

O bem não é feito para ser visto, mas para ser valorizado como louvor a Deus, Sumo Bem. Devemos fazer o bem sem esperar recompensa ou aplausos, mas deve ser sempre estimado e valorizado.

 

À margem:

Atualização deste episódio ao dia de hoje.

Vi hoje muita gente a rezar pelo Papa Francisco que está a passar um estado de saúde bastante complexo. Vi católicos, mesmos os mais críticos, a rezar, em todos o mundo, vi protestantes, vi não batizados, hindus, muçulmanos e judeus a expressar a sua oração pelo Papa Francisco. De facto, ele é a pessoa mais transversal em toda a humanidade.

Mas alguém poderá dizer, como João no Evangelho:

- Nós vimo-los todos a rezar, mas não achamos bem porque eles não pertencem à nossa comunidade, porque nem têm fé nem acreditam no mesmo Deus. Vamos proibi-los.

É este um milagre do Papa Francisco – pôr toda a gente a rezar.

Quando alguém está a passar por um momento difícil, o que mais precisa é ver que não está sozinho e que todos estão próximos.

A nossa oração mostra precisamente isso, que estamos ao lado do Papa e todo o mundo está com ele.

Para além disso, o que mais alegre a um pai de família é ver que os seus filhos estão unidos uns aos outros e amigos de todos os homens.

 

Ver também:

Pró e contra

Os neutros

 

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

JC caminho, servo, criança


3ª feira – VII semana comum

1ª mensagem – Jesus, o caminho

Jesus ensinava pelo caminho.

A escola peripatética foi um círculo filosófico da Grécia Antiga que basicamente seguia os ensinamentos de Aristóteles, o fundador. Surgiu em 336 a.C., quando Aristóteles abriu a primeira escola filosófica no Liceu, em Atenas, durou até o século IV.

Peripatético (em grego clássico: περιπατητικός) é a palavra grega para "ambulante" ou "itinerante". Peripatéticos (ou "os que passeiam") eram discípulos de Aristóteles, em razão do hábito do filósofo ensinar ao ar livre, caminhando enquanto lia e dava preleções, sob os portais cobertos do Liceu, conhecidos como perípatos, ou sob as árvores que o cercavam.

O ensino de Jesus é mais do que um ensino peripatético, pois não se refere apenas ao modo do ensino, mas à sua substância e ao seu destino.

Jesus ensinava pelo caminho para fazer do ensino um caminho e para fazer do caminho um ensino. Por isso nos primeiros séculos o cristianismo era conhecido como O Caminho.

Jesus ensina caminhando para que os seus discípulos possam avançar e nunca se esqueçam que são peregrinos. Além disso Jesus apresenta-se como o Caminho, a Verdade e a Vida.

 

2ª mensagem – Jesus, a criança

Jesus sentou-se. Porquê?

Não apenas porque estava cansado da caminhada, ou porque já estava à vontade em casa.

Sentou-se como mestre na sua cátedra. Ele é mestre que vive o que ensina e ensina o que vive.

Sentou-se para todos ficarem todos ao mesmo nível e não discutissem qual deles era o maior. Jesus ficou também nivelado com os discípulos e estes com ele, pois não queria falar de cima para baixo.

Mas acima de tudo, Jesus sentou-se para ficar do tamanho da criança que chamou e colocou no meio deles. Identificando-se com a criança, identificava-se com o servo, conforme o significado da palavra. Jesus é a criança simples e humilde, mas acima de tudo o último e o servo de todos.

 

3ª mensagem – Jesus, o servo de todos

Os apóstolos tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Então Jesus sentou-se e disse-lhes: Quem quiser ser o primeiro será o servo de todos. E tomando uma criança colocou-a no meio deles… Quem receber uma criança em meu nome é a mim que recebe…

A infância não era valorizada antes de Deus se tornar criança. O mundo antigo não tinha a mesma afeição pelas crianças que temos hoje.

Tanto em aramaico como em grego, a palavra para criança é a mesma que para criado ou servo.

Esta palavra, em grego, pode significar uma criança visando a sua relação de descendência, também pode denominar um rapaz ou uma moça em relação à idade ou até um ‘servo/atendente’ visando em especial a sua condição.

Deus não se tornou criança porque o mundo achava que as crianças eram um amor, pelo contrário, foi ao tornar-se criança que Deus santificou a infância e as crianças. Isto permite-nos abordar e compreender melhor as palavras suaves, mas assombrosas, do Evangelho de hoje: Quem recebe uma criança como estas em meu nome, é a mim que recebe, e quem me recebe não me recebe a mim, mas àquele que me enviou (Marcos 9, 30-37).

A nossa sociedade, quando escuta estas palavras, interpreta-as de um modo sentimental.

Jesus ao colocar uma criança no meio dos discípulos, estava a valorizar o seu serviço (para além da inocência e simplicidade) fazendo jus ao seu nome – criança é também a mesmo palavra para servo. Ou a palavra servo quer dizer também criança.

 

Ver também:

Quem é e onde está o maior

Jesus ensinava

Ser santa sem crescer

Ser grande

Simplicidade de criança

 

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

O caminho da fé e da oração


2ª feira – VII semana comum

A)

No Evangelho de hoje, Jesus desce da montanha da Transfiguração, o monte Tabor, e um menino desfigurado e possesso é levado até Ele. Há um grande contraste nesta cena: no alto da montanha, a humanidade transfigurada e gloriosa; ao pé da montanha, a humanidade desfigurada, tomada por Satanás e jogada no fogo e na água.

O pai do menino endemoniado pede a Cristo que expulse o demónio do seu filho, se puder, e Ele responde: Se podes!… Tudo é possível para quem tem fé (Mc 9, 23). Então o homem diz a Jesus que crê, mas suplica ajuda para a sua pouca fé. Nesse momento, a humanidade desfigurada se torna uma humanidade transfigurada em Deus.

A fé é a ligação entre a base da montanha, tão agitada e conturbada, e o topo da montanha pacífica.

 

B)

O gesto mais belo e humilde apresentado pelo evangelista, neste trecho, foi o do pai, que reconhecendo a sua pouca fé, recorre a Jesus, não mais para pedir a cura do seu filho, mais a fé, dom de Deus, que cura e dá a vida eterna. Cura, deste modo, não só o corpo, mas também e sobretudo, o espírito.

O filho só ficou curado depois da oração humilde e sincera do seu pai. A oração é deste modo um importante instrumento de salvação e de libertação de nossos males, sobretudo do mal da falta de fé.

 

C)

Por que é que os discípulos não conseguiram curar o menino?

Porque é preciso oração, como explicou Jesus.

De facto, não basta falar de Deus, agir em nome de Deus, abençoar.

É preciso falar a Deus, isto é, oração.

O menino ficou curado quando os apóstolos falaram dele a Jesus.

 

D)

Adaptando este episódio aos nossos dias, podemos parafrasear:

- O meu filho não para quieto; não há maneira de o sossegar; arrisca-se radicalmente, aventura-se. Ninguém tem controle nele. Não ouve ninguém, não obedece, faz só aquilo que quer. Falo-lhe tanto de Deus… mas nada muda.

- Falta-te uma coisa… reza por ele. Não basta falar de Deus a teu filho, é preciso falar do teu filho a Deus. Este género de coisas não se consegue curar, a não ser pela oração.

 

E)

Ver também:

Falar de quem a quem

Grandeza e debilidade da oração

Im+possível

 

domingo, 23 de fevereiro de 2025

É bom ou não ter inimigos?


Ano C – VII domingo comum

 

Amai os vossos inimigos, 

Fazei o bem aos que vos odeiam,

Abençoai os que vos amaldiçoam,

Orai por aqueles que vos injuriam.

Então é bom ter inimigos?

Claro que sim.

Imaginemos se não tivéssemos adversários no desporto?

Como é que nos consagraríamos campeões se não tivéssemos equipa adversária?

Ter adversários ou inimigos é bom para nos fortalecer, para não nos acomodar e para nos dar méritos de fazer-lhes o bem.

 

Versão doméstica

A quem te bater numa face, apresenta-lhe também a outra.

Ou seja:

Não pagues uma ofensa com outra ofensa.

Isso é como lavar a lama com a lama.

Isso não melhora, antes piora.

 

Rezar pelas cebolas

Quando a mãe foi junto à cama dar as boas noites à filha:

- Vamos rezar juntas a oração de noite. – E perguntou-lhe – Filha, hoje por quem gostarias de rezar?

Ela respondeu prontamente:

- Cebolas!

- Rezemos então pelas cebolas – concluiu a mãe um pouco intrigada por esta intenção, mas sem exteriorizar espanto.

Rezaram, pois, um pai nosso e uma ave-maria.

No dia seguinte, quando teve oportunidade, a mãe quis saber o porquê daquela oração exótica.

- Então a mãe não foi ontem comigo à missa?

- Claro que sim, mas não percebo porquê rezar pelas cebolas…

- A mãe não ouviu o que disse o padre no sermão? Ele disse que deveríamos rezar por quem não gostamos…

 

Ver também:

Oferece a face da dignidade

A vida é policromada

Oferece nova oportunidade

Abençoando os inimigos

É logico amar os inimigos

Focar o bem ou o mal

Sem inimigos

O amor tudo apaga

Rezando pelos inimigos

2 pesos e 2 medidas

Amar todos

Os nossos inimigos

A outra face

No céu não há inimigos

Ama o teu inimigo

Perfeito como o pai celeste

Duas faces

Transbordar o amor

Sede de perfeição

Amar os inimigos

Outra face

A medida da generosidade

Oferecer a outra face

 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Tomar a cruz é benzer-se


6ª feira – VI semana comum

Se alguém quiser seguir-me,

renuncie a si mesmo,

tome a sua cruz,

e siga-me.

 

A)

Benzer-se é tomar a cruz

E tomar a cruz é benzer-se

 

Fazendo o sinal da cruz

colocamos a cruz de Cristo em nós.

e colocamo-nos na cruz de Cristo.

Nós ficamos na cruz

e a cruz fica em nós.

 

B)

A cruz é que nos toma e nos leva.

Tomamos a cruz não para a levar,

mas para que sejamos levados por ela.

 

C)

Fazer o sinal da cruz

é professar a fé em Deus Uno e Trino:

 

O Pai é Deus que está sobre nós:

por isso tocamos no alto da fronte.

O Filho é Deus que está connosco:

e baixamos a mão porque ele desceu do céu.

O Espírito Santo é Deus que está dentro de nós:

por isso tocamos lado a lado do nosso peito.

 

À margem:

Trazes uma cruz no peito.

Não sei se é por devoção.

Antes tivesse o jeito

De ter lá um coração.

 

Quadras ao Gosto Popular, sem data, Fernando Pessoa. (Texto estabelecido e prefaciado por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1965. (6ª ed., 1973).  - 106.

 

Ver também:

A cruz não é opcional

Como tomar a nossa cruz

Semáforos dos discípulos

Sem cruz não há salvação

Subindo à cruz com Jesus

Convida mas não obriga

Versão aritmética

A cruz dos discípulos e os discípulos da cruz

Identidade cristã

Carregar a cruz

A forma do amor

Abraçar a cruz

Tomar a cruz

Renegue-se a si mesmo

A cruz abraçada

A cruz tomada

A nossa cruz