3ª Feira - XI Semana Comum
Santa
Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita- Manuscrito autobiográfico C 13v°-15v°
“No
Evangelho, o Senhor explica em que consiste o seu mandamento novo. Diz em S.
Mateus: «Ouvistes que foi dito: amareis o vosso amigo e odiareis o vosso
inimigo. Mas eu digo-vos: amai os vossos inimigos, rezai por aqueles que vos
perseguem.» Sem dúvida, no Carmelo não se encontram inimigos, mas enfim, há
simpatias, sente-se atração por uma Irmã, ao passo que outra nos faria dar uma
grande volta para evitar encontrá-la; assim, mesmo sem o saber, ela torna-se
objeto de perseguição. Pois bem! Jesus diz-me que esta Irmã, é preciso amá-la,
que é preciso rezar por ela, mesmo que o seu comportamento me levasse a pensar
que ela não me ama: «Se amais aqueles que voa amam, que reconhecimento haveis
de ter? Pois também os pecadores amam aqueles que os amam». E não basta amar, é
preciso prová-lo…
Há
na Comunidade uma Irmã que tem o condão de me desagradar em todas as coisas; as
suas maneiras, as suas palavras, o seu carácter, pareciam-me muito
desagradáveis. Apesar de tudo, é uma santa religiosa que deve ser muito
agradável a Deus; por isso, não querendo ceder à antipatia natural que sentia,
disse comigo que a caridade não devia consistir nos sentimentos, mas nas obras.
Então apliquei-me a fazer por essa Irmã o que faria pela pessoa que mais amo.
Cada vez que a encontrava rezava por ela a Deus, oferecendo-Lhe todas as suas
virtudes e os seus méritos. Estava certa de que isso agradava a Jesus, pois não
há artista que não goste de receber louvores pelas suas obras, e Jesus, o
Artista das almas, fica contente quando não nos detemos no exterior, mas,
penetrando até ao santuário íntimo que escolheu para sua morada, lhe admiramos
a beleza. Não me contentava com rezar muito pela Irmã que me proporcionava
tantos combates; procurava prestar-lhe todos os serviços possíveis e, quando
tinha a tentação de lhe responder de uma maneira desagradável, contentava-me com
dar-lhe o meu sorriso, e procurava desviar a conversa, pois a Imitação de
Cristo diz: Vale mais deixar cada um com a sua opinião do que deter-se a
discutir.
Muitas
vezes também, tendo alguns contactos de ofício com esta Irmã, quando os meus
combates eram muito violentos, fugia como um desertor. Como ela ignorava
absolutamente o que eu sentia por ela, nunca suspeitou dos motivos da minha
conduta, e continua persuadida de que o seu carácter me é agradável. Um dia, no
recreio, disse-me mais ou menos estas palavras com um ar muito contente:
«Poderíeis dizer-me, minha Irmã Teresa do Menino Jesus, o que tanto vos atrai
em mim, cada vez que olhais para mim vejo-vos sorrir?» Ah, o que me atraía era
Jesus escondido no fundo da sua alma… Jesus, que torna doce o que há de mais
amargo…”
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