terça-feira, 6 de julho de 2010

Pai Nosso Alargado


O Pai Nosso de cada dia (29)

Pai Nosso
Meu Deus, como sois bom, Vós que nos consentis chamar-Vos Pai Nosso! Quem sou eu, para que o meu criador, o meu Rei, o meu Soberano Senhor me consinta chamar-Lhe meu Pai? E não somente me consinta, mas o ordene até. Meu Deus, como sois bom! Quanto me devo lembrar, todos os momentos da minha vida, desta ordem tão suave! Quanta gratidão, quanto alegria, quanto amor, mas sobremaneira quanta confiança tal ordem deve inspirar-me! Como sois meu pai, meu Deus, como eu devo esperar em vós!... Mas também, já que sois tão bom para mim, como eu devo ser bom para os outros! Como quereis ser meu pai e o de todos os homens, quanto sentimento de pai amantíssimo eu devo ter para todo o homem, seja ele qual for ou por mau que seja!...
Portanto, confusão, reconhecimento, confiança, e esperança inalterável, amor filial para com Deus e fraternal para com os homens…
Pai nosso, Pai nosso, ensina-me a trazer o teu nome sempre nos lábios com Jesus, em Ele e por Ele, pois que poder dizê-lo é a minha maior ventura… Pai nosso, Pai nosso, possa eu viver e morrer dizendo: Pai nosso; e pela minha gratidão, pelo meu amor, pela minha obediência, ser deveras o vosso filho fiel, um filho que praza ao vosso coração. Ámen.

Pai nosso que estais nos Céus.
Por que motivo escolheis esta qualificação em vez de qualquer outra, em vez de justo Pai ou santo Pai?... É sem dúvida, meu Deus, para elevar a nossa alma, desde o começo da oração, bem alto, acima desta pobre terra e a colocar desde o princípio onde ela deve sempre estar, nesta vida e na outra, no céu, sua verdadeira pátria… É também para nos colocar, desde as primeiras palavras das nossas orações, na esperança e na paz: Nosso Pai está no céu: como com a confiança, não haveríamos de ter esperança e doce paz?... É também para nos pôr, desde o princípio, na alegria; como não estaríamos na alegria, pensando que o nosso Pai, o nosso Deus, o nosso Bem Amado, Aquele a quem nós amamos de todo o coração, com toda a nossa alma, com todo o nosso espírito e todas as nossas forças frui na eternidade infinita beatitude?

Santificado seja o nosso nome.
Que pedimos nós, por estas palavras, Senhor meu?...
Pedimos tudo quanto é objectivo dos nossos desejos, tudo quanto é a mirra, a finalidade da nossa vida, da Igreja e da vossa própria vida, Jesus meu Senhor! Pedimos a manifestação da glória de Deus e a salvação dos homens… Em que consiste, afinal, pedir que seja santificado o Vosso nome, senão orar para que vós sejais glorificado o mais possível, por todos os homens, nos seus pensamentos, nas suas palavras e obras? E isto é ao mesmo tempo a manifestação da vossa glória e a perfeição deles… É portanto o fim, ao mesmo tempo único e duplo, de todas as nossas preces e de toda a nossa vida que contém estas palavras: Santificado seja o teu nome… Com tanto amor, com quanto ardor nós devemos suspirar por Vós, meu Deus, para que tal prece seja acolhida!... Quantas vezes ela não fluiu dos lábios de Nosso Senhor, Ele que só veio à terra a fim de trabalhar para que tal prece se cumprisse!... Quantas vezes Ele pediu a Deus o que nos diz para Lhe pedirmos por estas palavras! Esta prece constituía o âmago das suas súplicas, como este desejo era o mais ardente do seu coração, como o seu cumprimento era a finalidade de todo o trabalho da sua vida.

Venha o vosso reino.
Com este rogo, peco exactamente a mesma coisa que supliquei com o anterior: a manifestação da glória de Deus e a salvação dos homens… Que vem a ser realmente o advento do reino de Deus, senão o momento em que todos os homens O considerem como o único Senhor ao qual primam por obedecer, como ao seu rei omnipotente e bem-amado se empenhem, com todas as suas forças, a servir o melhor que possam esse rei bendito, consagrarem todo o seu coração, todo o seu espírito, todas as suas forças e toda a sua alma, a satisfazer, o mais perfeitamente os seus mínimos desejos?... E que será esse zelo incomparável de todos os homens, para servir o seu Rei celestial, de todo o seu coração, senão a manifestação da glória de Deus e a salvação de todos os homens?...

Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
Esta rogativa é a mesma, na verdade, que as duas anteriores: suplica as duas mesmas coisas: a manifestação da glória de Deus e a santificação dos homens… Que significa pedir que realmente os homens façam a vontade de Deus, senão rogar que vivam santamente?... E a santidade dos homens é nisso mesmo que consiste: na manifestação da glória de Deus na terra…
Na prece que me ensina Nosso Senhor, quer Ele portanto que, antes de fazer qualquer outro pedido, eu rogue a seu Pai três vezes, para a manifestação da sua glória na terra e a santificação dos homens… Isso mostra-me quanto Ele tinha a peito estes dois objectos, quanto constituíram o fundo dos seus suspiros, das suas preces, como aliás foram o fito de toda a sua vida neste mundo… Isso mostra-me também quanto tudo o que é próprio para glorificar a Deus e fazer bem às almas leva a rejubilar o Coração de Nosso Senhor, por ser conforme aos seus mais ardentes desejos, à obra de toda a sua vida… E isso mostra quanto toda a ofensa a Deus e tudo o que retarda a santificação de uma alma é doloroso para o seu Coração, visto estar em oposição directa com o que mais ardentemente Ele deseja, com o que todos os dias Ele pedia a seu Pai, entre lágrimas e suspiros, com o que pelo qual ele derramou e deu todo o seu Sangue…

Dai-nos hoje o pão de cada dia.
Que pedimos nós com isso, meu Deus? Pedimos para hoje e ao mesmo tempo para toda esta vida presente, que só dura um dia, o pão acima de toda outra substância, quer dizer, o pão sobrenatural, o único indispensável, o único de que temos absoluta necessidade para alcançar o nosso fim: esse pão necessário e único é a graça. Há, todavia, um outro pão, igualmente sobrenatural, que, sem ser absolutamente indispensável como a graça, é indispensável para muitos e é o bem dos bens; esse outro pão, cujo nome de pão só por si nos dá a ideia do que seja e que na verdade é um bem dulcíssimo, um bem supremo, o próprio deus, é a Santíssima Eucaristia: pedindo o pão sobrenatural, o que nos é mais necessário, certamente o pedimos… Pedimos, portanto, duas coisas, pedindo o nosso pão sobrenatural: primeiro, a graça; depois, a Santa Eucaristia… Mas acima de tudo, é preciso observar que, pedindo esse duplo pão da graça e da eucaristia, não o peço para mim, mas para nós; isto é, para todos os homens… Não faço nenhum pedido para mim só: tudo o que peço ao Pai Nosso peço-o para Deus ou para todos os homens: esquecer-me, só pensar em Deus e no próximo e em mim somente, em vista de Deus e na mesma medida que nos outros, como convém àquele que ama a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, eis o que Nosso Senhor me faz praticar a cada pedido do Pai Nosso… Portanto, a cada frase do Pai Nosso, não orar só para mim, não pedir para mim só, mas ter o cuidado de pedir para todos os homens, para todos nós, filhos de Nosso Senhor, amados por Ele, para nós todos, a quem Ele resgatou com o seu Sangue.

Livrai-nos do mal.
Livrai-nos do pecado, o único verdadeiro mal, o único mal que Vos ofende, vosso mal!... Livrai do pecado todos os homens: dessa maneira, eles serão santos e a sua santidade Vos glorificará: a vossa glória será manifestada e a sua salvação garantida, a qual é a única coisa que queremos. Livrai-nos portanto do mal, do pecado, meu Deus, a fim de que sejais glorificado, a fim de que os homens sejam salvos… Esta súplica encerra, como as três primeiras súplicas, tudo o que temos de pedir, tudo o que constitui o nosso fim, o da Igreja, o da vida de Nosso Senhor, neste mundo; mas encerra tudo isto de maneira indirecta e recaindo em nós mesmos, pedindo uma das coisas necessárias para cumprir o nosso fim, enquanto as três primeiras frases pedem, directamente, o nosso fim último, a glória de Deus.

(Cf. Charles de Foucauld, Cristo rezava assim, Ed. Paulistas, Apelação-Sacavém 1980, página 12-18)

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