quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Cura do cego de Betsaida


4ª feira – VI semana comum

Leitura interpretativa do episódio 

da cura do cego de Betsaida

 

- Betsaida – terra natal de Simão e André. Terra censurada pela sua incredibilidade.

- Trouxeram a Jesus um cego – precisamos sempre que alguém nos leve a Jesus ou então Jesus precisa que alguém nos leve até Ele.

- Suplicaram-lhe que o tocasse – os outros eram os olhos do cego e também a sua voz, pois estava passivo ou dependente.

- Jesus tomou-o pela mão – tomou conta dele, deitou-lhe a mão, isto é, uniu-se a ele para que ele se unisse a Si.

- Levou-o – Jesus é o caminho, a verdade e a vida.

- Para fora da cidade – deixar a terra incrédula, que é contagiosa, a cidade dos homens, para encontrar-se com Deus. Também Simão e André tiveram de deixar Betsaida para poderem ver Jesus ou Jesus vê-los e chamá-los.

- Deitou-lhe saliva nos olhos – É a unção que vem do interior de Jesus.

- Impôs-lhe as mãos – sinal do poder de Deus.

- Diálogo – vês alguma coisa? – Jesus envolve o cego a participar.

- Vejo as pessoas que parecem árvores a andar – a sua participação foi crescendo, o conhecimento de Jesus foi progredindo e a fé foi-se desenvolvendo.

- Jesus impôs-lhe novamente as mãos – agora já com a participação e a vontade do cego.

- E ele começou a ver bem – só depois do diálogo é que conseguiu ficar restabelecido e ver tudo claramente.

- Então Jesus mandou-o para casa - é um convite a tomar parte da comunidade, da família e não apenas da cidade.

- E disse-lhe – Não entres sequer na povoação – é o compromisso a deixar a vida anterior na cidade incrédula e continuar uma vida nova.

 

Conclusão:

o episódio, exclusivamente apresentado pelo Evangelista Marcos, no seguimento da pregação de Jesus – Tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis – é a sua explicação dessa cegueira.

Só através do diálogo é que descobrimos Jesus pouco a pouco e a nossa fé vai crescendo.

O que é que deu errado na primeira vez? Porque começou primeiro a ver desfocado? Porque só se vê bem através do diálogo, do nosso envolvimento ou participação.

 

À margem:

Gosto muito de ler os sermões do Pe. António Vieira. Admiro imensamente a sua habilidade com a língua portuguesa e a sua capacidade de extrair das Escrituras pensamentos tão profundos. No seu sermão sobre a cura do cego de Betsaida, ele diz:

“Trouxeram um cego a Cristo, para que o curasse; pôs-lhe o Senhor as mãos nos olhos e perguntou-lhe se via? Respondeu que via andar os homens como árvores.

Pergunto: e quando estava este homem mais cego, agora ou antes? Agora, não há dúvida, que tinha alguma vista, mas esta vista era maior cegueira, que a que dantes tinha: porque dantes não via nada, agora via uma coisa por outra, homens por árvores; e maior cegueira é ver uma cousa por outra, que não ver nada. Não ver nada é privação; ver uma cousa por outra é erro.”

Trata-se de uma imagem rica e muito apropriada que tem implicações sobre todas as áreas da vida. A cegueira moderna é a nossa incapacidade de ver Deus como Deus é, de ver-nos a nós mesmos como nós somos e ver o mundo como o mundo é. Uma vez que as imagens são distorcidas, a vida torna-se igualmente distorcida e confusa.

O Pe. António Vieira nos afirma que a pior cegueira não é a que nos impede de ver totalmente, mas aquela que deforma aquilo que vemos. Jesus precisou impor as mãos sobre aquele cego uma segunda vez para que a sua visão fosse totalmente recuperada de forma que pudesse então distinguir tudo com clareza. Precisamos de um novo toque de Cristo.

 

1 comentário:

Benedito mauricio mendonça disse...

Muito obrigado pela bela e profunda reflexão.
São Paulo, Brasil.