4ª feira – VI semana comum
Leitura interpretativa do episódio
da cura do cego de Betsaida
- Betsaida
– terra natal de Simão e André. Terra censurada pela sua incredibilidade.
- Trouxeram
a Jesus um cego – precisamos sempre que alguém nos leve a Jesus ou então Jesus
precisa que alguém nos leve até Ele.
-
Suplicaram-lhe que o tocasse – os outros eram os olhos do cego e também a sua voz,
pois estava passivo ou dependente.
-
Jesus tomou-o pela mão – tomou conta dele, deitou-lhe a mão, isto é, uniu-se a
ele para que ele se unisse a Si.
- Levou-o
– Jesus é o caminho, a verdade e a vida.
- Para
fora da cidade – deixar a terra incrédula, que é contagiosa, a cidade dos homens,
para encontrar-se com Deus. Também Simão e André tiveram de deixar Betsaida para
poderem ver Jesus ou Jesus vê-los e chamá-los.
- Deitou-lhe
saliva nos olhos – É a unção que vem do interior de Jesus.
-
Impôs-lhe as mãos – sinal do poder de Deus.
- Diálogo
– vês alguma coisa? – Jesus envolve o cego a participar.
-
Vejo as pessoas que parecem árvores a andar – a sua participação foi crescendo,
o conhecimento de Jesus foi progredindo e a fé foi-se desenvolvendo.
-
Jesus impôs-lhe novamente as mãos – agora já com a participação e a vontade do
cego.
- E
ele começou a ver bem – só depois do diálogo é que conseguiu ficar restabelecido
e ver tudo claramente.
-
Então Jesus mandou-o para casa - é um convite a tomar parte da comunidade, da família
e não apenas da cidade.
- E
disse-lhe – Não entres sequer na povoação – é o compromisso a deixar a vida
anterior na cidade incrédula e continuar uma vida nova.
Conclusão:
o episódio, exclusivamente apresentado pelo Evangelista Marcos, no seguimento
da pregação de Jesus – Tendes olhos e não vedes, ouvidos e não ouvis – é a sua explicação
dessa cegueira.
Só
através do diálogo é que descobrimos Jesus pouco a pouco e a nossa fé vai
crescendo.
O que
é que deu errado na primeira vez? Porque começou primeiro a ver desfocado?
Porque só se vê bem através do diálogo, do nosso envolvimento ou participação.
À
margem:
Gosto
muito de ler os sermões do Pe. António Vieira. Admiro imensamente a sua
habilidade com a língua portuguesa e a sua capacidade de extrair das Escrituras
pensamentos tão profundos. No seu sermão sobre a cura do cego de Betsaida, ele
diz:
“Trouxeram
um cego a Cristo, para que o curasse; pôs-lhe o Senhor as mãos nos olhos e
perguntou-lhe se via? Respondeu que via andar os homens como árvores.
Pergunto:
e quando estava este homem mais cego, agora ou antes? Agora, não há dúvida, que
tinha alguma vista, mas esta vista era maior cegueira, que a que dantes tinha:
porque dantes não via nada, agora via uma coisa por outra, homens por árvores;
e maior cegueira é ver uma cousa por outra, que não ver nada. Não ver nada é
privação; ver uma cousa por outra é erro.”
Trata-se
de uma imagem rica e muito apropriada que tem implicações sobre todas as áreas
da vida. A cegueira moderna é a nossa incapacidade de ver Deus como Deus é, de
ver-nos a nós mesmos como nós somos e ver o mundo como o mundo é. Uma vez que
as imagens são distorcidas, a vida torna-se igualmente distorcida e confusa.
O Pe.
António Vieira nos afirma que a pior cegueira não é a que nos impede de ver
totalmente, mas aquela que deforma aquilo que vemos. Jesus precisou impor as mãos
sobre aquele cego uma segunda vez para que a sua visão fosse totalmente
recuperada de forma que pudesse então distinguir tudo com clareza. Precisamos
de um novo toque de Cristo.
1 comentário:
Muito obrigado pela bela e profunda reflexão.
São Paulo, Brasil.
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