Crónica de um santo na Madeira
18ª
semana – Comunhão diária
O
Beato Carlos manifestava, nesta semana, o desejo de ver o altar, para assim se
imolar com Jesus que se entregou por ele e por todos. O altar é o lugar do
memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus, e onde nos podemos associar
a essa imolação.
Nos
prolongados dias da sua doença, o seu maior desejo era poder participar na
celebração da missa e receber a Sagrada Comunhão. O Imperador pensava que os
remédios quebravam o jejum eucarístico e por isso constrangiam-no a “sacrificar
o mais terno desejo de seu coração”, até que o Padre Zsámboki, seu último
capelão, persuadiu-o, explicando-lhe repetidas vezes, que não era necessário,
para um homem assim doente, observar o jejum eucarístico. A partir daquele dia,
ficou felicíssimo por poder receber a Comunhão todos os dias, até à sua morte.
Foi isso que lhe deu a força necessária para perseverar até ao fim.
A
Eucaristia é, de facto, o alimento dos fortes e o viático para a eternidade.
Ao
receber a visita diária de Jesus na Eucaristia, unia assim a sua oblação à
oblação de Cristo. Não sabemos como dizê-lo melhor – se era Cristo que se unia à
imolação do Imperador ou se era este que assim se unia à oblação do Redentor. Afinal
acompanhavam-se um ao outro. Jesus estava com o seu amigo Carlos e este estava
com o seu Senhor Jesus, através da comunhão diária.
Ao receber
a visita de Jesus na Comunhão, preparou-se para o dia em que o próprio Jesus receberia
a sua visita na eternidade.
Ser santo é acreditar que Deus está connosco na terra e que um dia estaremos com Ele no Céu.
18
de março de 1922 – sábado
19
de março de 1922 – domingo
Terceiro
Domingo da Quaresma.
Foi
noticiado que o Imperador e três filhos estavam de cama, com fortes ataques de
gripe.
20
de março de 1922 – segunda-feira
Equinócio
de Primavera.
Chegou
à Madeira o Conde Joseph Károlyi a bordo do Ardeola.
Mesmo
no exílio e doente, o Imperador levou muito a peito e com grande seriedade os
seus deveres de monarca e pai dos povos. Por causa da enfermidade, a Imperatriz Zita lia-lhe os jornais, mas percebia que as
notícias agitavam-no e faziam-no preocupar-se muito. Insistiu com ele para que
não lhe pedisse para fazer-lhe as leituras, pois não era bom para a sua saúde.
O Imperador replicou: “Estar informado é meu dever, não meu prazer. Por
favor, leia!”
21 de
março de 1922 – terça-feira
O
Imperador acordou novamente com febre e tossia continuamente. Havia uma semana
que recusava mandar chamar o médico, por razões económicas; desta vez, porém, e
perante a insistência de Zita, cedeu. O Dr. Carlos Leite Monteiro diagnosticou
uma bronquite, e receitou-lhe aspirinas e cataplasmas.
22
de março de 1922 – quarta-feira
A
temperatura do Imperador subiu para 40º.
O
arquiduque Carlos Luís ficou bom, mas foi a vez de Adelaide apanhar gripe e a
epidemia acabou por se estender ao pessoal A condessa Kerssenbrock cuidava das
crianças; Zita, sem deixar de se preocupar com elas, cuidava do marido. Um
segundo médico, Dr. Nuno de Vasconcelos Porto confirmou o diagnóstico:
bronquite grave no pulmão direito.
23
de março de 1922 – quinta-feira
O
estado do imperador deteriorava-se de dia para dia. Ele estava instalado num
quartinho do primeiro andar, mas a arquiduquesa Maria Teresa cedeu-lhe o seu
quarto, que era mais espaçoso e ficava no rés-do-chão, ao lado do salão que
fora transformado em capela. A temperatura não baixava dos 39º e 40º.
24
de março de 1922 – sexta-feira
Era
o 3º ano do início do exílio imperial que tinha começado pela Suíça.
A
missa era regularmente celebrada na sala contígua ao seu quarto de enfermo. No
início a porta era deixada entreaberta de maneira que ele pudesse assistir à
missa sem perder a privacidade ou pôr outras pessoas em risco de contágio, mas
logo pediu para que a porta fosse deixada bem aberta dizendo: “Desejo muito
ver o altar!”
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