sexta-feira, 18 de março de 2022

Crónica de um santo (18)


Crónica de um santo na Madeira

18ª semana – Comunhão diária

 

O Beato Carlos manifestava, nesta semana, o desejo de ver o altar, para assim se imolar com Jesus que se entregou por ele e por todos. O altar é o lugar do memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus, e onde nos podemos associar a essa imolação.

Nos prolongados dias da sua doença, o seu maior desejo era poder participar na celebração da missa e receber a Sagrada Comunhão. O Imperador pensava que os remédios quebravam o jejum eucarístico e por isso constrangiam-no a “sacrificar o mais terno desejo de seu coração”, até que o Padre Zsámboki, seu último capelão, persuadiu-o, explicando-lhe repetidas vezes, que não era necessário, para um homem assim doente, observar o jejum eucarístico. A partir daquele dia, ficou felicíssimo por poder receber a Comunhão todos os dias, até à sua morte. Foi isso que lhe deu a força necessária para perseverar até ao fim.

A Eucaristia é, de facto, o alimento dos fortes e o viático para a eternidade.

Ao receber a visita diária de Jesus na Eucaristia, unia assim a sua oblação à oblação de Cristo. Não sabemos como dizê-lo melhor – se era Cristo que se unia à imolação do Imperador ou se era este que assim se unia à oblação do Redentor. Afinal acompanhavam-se um ao outro. Jesus estava com o seu amigo Carlos e este estava com o seu Senhor Jesus, através da comunhão diária.

Ao receber a visita de Jesus na Comunhão, preparou-se para o dia em que o próprio Jesus receberia a sua visita na eternidade.

Ser santo é acreditar que Deus está connosco na terra e que um dia estaremos com Ele no Céu.

18 de março de 1922 – sábado

 

19 de março de 1922 – domingo

Terceiro Domingo da Quaresma.

Foi noticiado que o Imperador e três filhos estavam de cama, com fortes ataques de gripe.

 

20 de março de 1922 – segunda-feira

Equinócio de Primavera.

Chegou à Madeira o Conde Joseph Károlyi a bordo do Ardeola.

Mesmo no exílio e doente, o Imperador levou muito a peito e com grande seriedade os seus deveres de monarca e pai dos povos. Por causa da enfermidade, a Imperatriz Zita lia-lhe os jornais, mas percebia que as notícias agitavam-no e faziam-no preocupar-se muito. Insistiu com ele para que não lhe pedisse para fazer-lhe as leituras, pois não era bom para a sua saúde. O Imperador replicou: “Estar informado é meu dever, não meu prazer. Por favor, leia!

 

21 de março de 1922 – terça-feira

O Imperador acordou novamente com febre e tossia continuamente. Havia uma semana que recusava mandar chamar o médico, por razões económicas; desta vez, porém, e perante a insistência de Zita, cedeu. O Dr. Carlos Leite Monteiro diagnosticou uma bronquite, e receitou-lhe aspirinas e cataplasmas.

 

22 de março de 1922 – quarta-feira

A temperatura do Imperador subiu para 40º.

O arquiduque Carlos Luís ficou bom, mas foi a vez de Adelaide apanhar gripe e a epidemia acabou por se estender ao pessoal A condessa Kerssenbrock cuidava das crianças; Zita, sem deixar de se preocupar com elas, cuidava do marido. Um segundo médico, Dr. Nuno de Vasconcelos Porto confirmou o diagnóstico: bronquite grave no pulmão direito.

 

23 de março de 1922 – quinta-feira

O estado do imperador deteriorava-se de dia para dia. Ele estava instalado num quartinho do primeiro andar, mas a arquiduquesa Maria Teresa cedeu-lhe o seu quarto, que era mais espaçoso e ficava no rés-do-chão, ao lado do salão que fora transformado em capela. A temperatura não baixava dos 39º e 40º.

 

24 de março de 1922 – sexta-feira

Era o 3º ano do início do exílio imperial que tinha começado pela Suíça.

A missa era regularmente celebrada na sala contígua ao seu quarto de enfermo. No início a porta era deixada entreaberta de maneira que ele pudesse assistir à missa sem perder a privacidade ou pôr outras pessoas em risco de contágio, mas logo pediu para que a porta fosse deixada bem aberta dizendo: “Desejo muito ver o altar!

 

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