domingo, 12 de outubro de 2025

Prémio Nobel da Gratidão


Ano C – XXVIII domingo comum

Em Madagáscar contaram-me que um dia todos os animais quiseram fazer uma competição para descobrir qual deles era a criatura que mais sabia agradecer. Receberia assim o Prémio Nobel da Gratidão.

Desfilaram todos os animais com os seus argumentos ou a demonstração da sua arte de agradecer.

Qual foi a figura escolhida?

Não foi o Louva a Deus, como supostamente o seu nome indiciava.

A escolhida é bastante humilde e conhecida de todos nós, em todas as latitudes.

Que ganhou o prémio da criatura mais agradecida foi a galinha.

Porquê?

Mesmo sem dizer nada, ela mostrou que levanta a cabeça para o céu para agradecer cada gota de água que bebe.

De facto, Jesus no Evangelho de hoje abençoou aquele que veio agradecer a sua cura e assegurou-lhe a recompensa ou o prémio da salvação.

À margem

A parábola do Bom Samaritano e o Episódio do Agradecimento do Samaritano curado mostram experiência complementares:

Numa o samaritano ajuda, noutra o samaritano é ajudado (curado).

Nesta o samaritano é agradecido, naquela o samaritano agradece.

No milagre da cura o samaritano vive a fé.

Na parábola o samaritano vive a caridade.

E a esperança? Vai ser vivenciada pela samaritana à beira do poço.

É preciso ajudar e ser ajudado.

É preciso agradecer e ser agradecido.

 

Ver também

A gratidão nos une a Deus

Como agradecer no Japão

O dever da gratidão

Agradecer é engrandecer

Meio milagre

Ingrato – Indigno

Agradecer

Gratidão

Gostar mais

Ser cambado

Agradecimento

 

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Receber, encontrar, entrar


5ª feira – XXVII semana comum

O resultado das ações que Jesus nos manda fazer é receber, encontrar e entrar.

Receber – Quem não pede (quem não pede) não recebe os dons que Deus tem para nós, porque quem pede, recebe.

Encontrar – Quem não procura (quem não reza) não sente a alegria do encontro e da companhia de Deus, porque quem procura encontra.

Entrar – Quem não bate à porta (quem não reza) mantém-se isolado, sozinho e fora da comunidade e do aconchego de Deus, porque a quem bate à porta abrir-se-á.

 

À margem

Se eu não costumo rezar sou como aquele que está fechado em casa e não quer abrir a porta a Deus, seu amigo… Devo ser mais atento.

Se eu rezo sou como aquele que bate à porta de Deus, meu amigo e devo ir até ele com mais frequência. Devo ser mais persistente.

 

Ver também

Pedir o Espírito Santo

Quais são os 3 pães

Rezar é bater à porta

Três degraus da oração

Modelos de oração

Empresta-me 3 pães

Pedi

Fortaleza e fraqueza

Oportunidades

Pedra ou pão

Pedi e recebereis

 

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Rosário - Oração e Pregação


Memória da Virgem Santa Maria do Rosário

O que deu ao Rosário a sua maior nitidez foi a sua estrutura, e não me refiro à repetição ou ao agrupamento das orações. Refiro-me à meditação orante sobre os mistérios da vida, morte e ressurreição de Cristo. Ao contemplar esses mistérios, somos catequizados por eles. O Rosário não é meramente rezado — ele ensina. Ele forma a mente na verdade e o coração no amor.

E é precisamente por isso que, historicamente, foi eficaz contra os cátaros (os albigenses). Os seus ensinamentos não eram apenas moral ou filosoficamente incorretos — negavam a Encarnação, os sacramentos e a bondade da própria criação. Aniquilavam o casamento e a procriação, e se uma criança nascesse, não poderia ser batizada. O Rosário proposto por São Domingos de Gusmão, mistério por mistério, desmantela esses erros não apenas por meio de argumentos, mas conduzindo a alma à claridade luminosa da revelação divina.

 

Examinemos cada conjunto de mistérios e como eles se opõem diretamente aos ensinamentos dos cátaros.

Os Mistérios Gozosos: Afirmando a Bondade da Criação e da Encarnação

Os cátaros acreditavam que o mundo material era maligno — uma prisão criada por um deus inferior ou espírito maligno. Os corpos humanos deveriam ser objeto de fuga, não de santificação. O casamento, o parto e até mesmo os sacramentos eram vistos como parte dessa ordem física corrupta.

Mas os Mistérios Gozosos declaram algo radicalmente diferente:

A Anunciação – Deus se faz homem. Ele assume a carne. Longe de fugir da criação, Deus entra nela. O anúncio do anjo Gabriel a Maria refuta o próprio cerne da cosmologia cátara.

A Visitação – Maria, grávida do Filho de Deus, traz a nova Arca para Isabel. João salta no ventre materno — uma criança ainda não nascida reagindo à presença do Senhor Encarnado. A vida no ventre materno é sagrada, não uma armadilha.

A Natividade – O Verbo se faz carne e habita entre nós. Cristo não nasce em grandeza celestial, mas em uma família humana real, com sofrimento e alegria humanos reais.

A Apresentação – Jesus é oferecido no Templo segundo a Lei. Ele entra nos rituais e estruturas da Antiga Aliança, afirmando a continuidade entre carne e fé.

A perda e o encontro no Templo – O Verbo encarnado aprende, fala, escuta. Deus encarnado está entre os mestres. O aprendizado e a razão humana não são armadilhas, mas caminhos para a verdade.

Cada mistério afirma a dignidade da matéria, do corpo, das relações humanas, da aliança e da própria ideia de que Deus se torna visível. Estes mistérios atingem o cerne do desprezo cátaro pelo mundo material.

Os Mistérios Dolorosos: Abraçando o Corpo e a Cruz

Os cátaros rejeitavam a crucificação como algo ilusório (já que acreditavam que Cristo não tinha um corpo real) ou moralmente repugnante. O Jesus deles não sofreu, não morreu e certamente não ressuscitou corporalmente.

Mas os Mistérios Dolorosos mostram um Deus que ama até a morte:

A Agonia no Jardim – Cristo sente o peso do sofrimento. Ele transpira sangue. Isso não é ilusão. O Deus Encarnado experimenta pavor e tristeza como qualquer ser humano.

A Flagelação – O corpo não é mau, mas aqui ele é ferido, açoitado, dilacerado para a nossa cura. O sofrimento físico de Cristo redime o reino físico.

A Coroação de Espinhos – Mesmo na humilhação, a Realeza de Cristo brilha. Os cátaros viam o sofrimento mundano como algo sem sentido; mas para os cristãos, ele se torna redentor.

O Carregamento da Cruz – O caminho para o Calvário não é de fuga, mas de abraço. A cruz não é evitada, mas aceita, santificada pelo amor.

A Crucificação – Cristo morre uma morte real em um corpo real. Há sangue, sede, agonia — e, em meio a tudo isso, perdão e misericórdia. A cruz é o ápice da Encarnação, não um erro divino.

Esses mistérios confrontam corajosamente o dualismo dos cátaros. Jesus não apenas parecia humano — Ele era humano. E Seu sofrimento não foi um acidente — foi o meio pelo qual Ele salvou o mundo.

Os Mistérios Gloriosos: Derrotando a Morte e Restaurando a Criação

Se os cátaros desprezavam o material, desprezavam igualmente a ressurreição do corpo. Para eles, a salvação significava a fuga do corpo, não a sua glorificação.

Mas os Mistérios Gloriosos revelam a verdade:

A Ressurreição – Jesus ressuscita corporalmente. O túmulo está vazio. Ele come com Seus discípulos. A ressurreição não é uma metáfora espiritual, mas uma vindicação de toda a humanidade de Cristo.

A Ascensão – O corpo humano de Cristo é levado ao céu. A matéria não é deixada para trás — ela é ressuscitada.

A Descida do Espírito Santo – O Espírito desce sobre apóstolos de carne e osso, fortalecendo a Igreja. A era da Igreja começa com línguas, fogo e proclamação em praça pública.

A Assunção de Maria – O primeiro discípulo é levado ao céu, em corpo e alma. Uma mulher, uma mãe, uma criatura de carne, é glorificada.

A Coroação de Maria – Não como deusa ou abstração, mas como Rainha do Céu — coroada, exaltada e ainda humana.

Este conjunto de mistérios silencia o medo cátaro do corpo e do mundo. Mostra que a redenção não vem pela rejeição da criação, mas pela sua recriação a partir de dentro. O corpo não é uma gaiola, mas um templo destinado à glória.

 

Conclusão: Um Catecismo Vivo em Contas

O Rosário é mais do que uma oração, torna-se uma proclamação ou pregação. Cada Ave-Maria é uma batida de coração que ecoa as verdades do Credo. Cada dezena é uma lição de Encarnação, Redenção e Glória.

Não é de se admirar que São Domingos tenha recorrido ao Rosário para pregar a um povo cujas mentes haviam sido obscurecidas pelo erro espiritual. Onde longos tratados teológicos falharam em tocar os corações, o Rosário permitiu que pessoas comuns vissem Cristo com os olhos da fé.

Vale a pena notar que a estrutura do Rosário espelha a estrutura dos Evangelhos. Não são apenas os ensinamentos de Cristo que são destacados, mas a Sua vida. Os mistérios não são doutrinas abstratas, mas momentos – momentos revelados que confrontam a falsidade ao revelar a realidade.

 

Atualização

Hoje, há também heresias que circulam entre nós: negação da Encarnação, rejeição da dignidade humana, confusão sobre o sofrimento e desdém pelo corpo. E, no entanto, o Rosário ainda funciona – não como magia, mas como meditação, formação e comunhão. Num mundo seduzido por falsas luzes, o Rosário permanece uma tocha de fogo. São Domingos sabia disso. Ele nos deu não apenas palavras para dizer, mas mistérios para viver. (Adaptado de autor não identificado)

 

À margem 1

Quando Santo Afonso de Ligório já estava velho, doente e em uma cadeira de rodas, um irmão leigo costumava levá-lo em sua cadeira de rodas pelo claustro de seu mosteiro à noite para que ele pudesse tomar um pouco de ar fresco. Conversando com o irmão, Santo Afonso perguntou-lhe:

- Já rezaste o seu terço hoje?

- Não me lembro – respondeu o irmão.

- Então, vamos rezá-lo agora – disse o Santo.

- Mas vossa Reverência já está tão cansado. Que diferença faz se não rezarmos o terço por um dia? –  protestou o irmão.

Santo Afonso respondeu:

- Se eu não rezasse o meu terço por um dia sequer, temeria pela minha salvação eterna.

 

À margem 2

A festa de Nossa Senhora do Rosário foi instituída por São Pio V em comemoração à vitória na Batalha de Lepanto, em 7 de outubro de 1571, contra os turcos que ameaçavam a Europa.

Em 1716, a festa foi estendida a toda a Igreja em agradecimento pela derrota do Crescente Muçulmano na Hungria.

Antes do Vaticano II, os hábitos de muitas Ordens religiosas tinham rosários pendurados em seus cíngulos, e os bons católicos costumavam carregar o rosário consigo o dia todo. Era considerado não apenas um item para contar as Ave-Marias, mas um objeto abençoado, o selo de uma ligação especial da pessoa com Nossa Senhora. Muitas vezes, a mera presença física do rosário repelia o Diabo e atraía graças especiais. Tornou-se o objeto religioso clássico para lutar contra o Diabo.

O Rosário é assim uma corrente de oração e de união. Através do Rosário nós estamos presos a Maria e Maria mantém-se unida a nós.

 

Ver também:

O terço de Fernando Pessoa

Cinquenta moedas de ouro

A vitória do Rosário

As contas do mês

Terços do Rosário

A melhor maneira de rezar

O Rosário em Portugal

Escada para o céu

O Rosário do Pe. António Vieira

O Pe. Dehon e o Rosário

 

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Ser feliz é fazer felizes


2ª feira – XXVII semana comum

Parábola do bom samaritano

Prestemos atenção ao trecho do evangelho de hoje, sobretudo às suas perguntas.

- Que hei de fazer para alcançar a eternidade?

- O que é te ensinaram?

- Que significa amar o próximo?

- Quem foi o próximo?

 

Adaptemos esses conceitos a uma linguagem moderna:

- Que hei de fazer para alcançar a felicidade?

(Como ser feliz? é a pergunta ou o desejo mais transversal a todos os homens)

- O que é que te ensinaram para chegar à felicidade?

(Aprendemos que para ser feliz é preciso fazer o bem)

- Que significa fazer o bem?

(Fazer o bem é fazer feliz alguém)

- Quem foi o mais feliz?

(Mais feliz foi aquele que fez o outro mais feliz)

 

À margem:

- O escritor Luigi Santucci, em seu conto apócrifo O Bom Samaritano, recordou a presença do personagem evangélico nas salas dos lazaretos e instituições de caridade o músico Benjamin Britten propôs a mesma figura na intensa Cantata misericordium op. 69, composta em 1963 para o centenário da Cruz Vermelha.

Mas o Bom Samaritano vai além de qualquer filantropia, celebrando um amor absoluto e religioso, entrelaçado com o de Deus e por Deus.

No Evangelho apócrifo de Tomé, Jesus repete: Ama o teu irmão como a tua própria alma. Protege-o como a menina dos teus olhos.

 

Ver também:

O bom samaritano das neves

Sem amor não há unidade

O nome do bom samaritano

O coração do samaritano

Jesus samaritano

Um samaritano

Versão alegórica

Versão alternativa

Ver com o coração

Quem é o meu próximo

Fazer o mesmo

Encontro

Bom samaritano

Vai e faz o mesmo

 

domingo, 5 de outubro de 2025

A fé é como uma semente


A fé é semente de Deus em nós

Ano C – XXVII domingo comum

 

Naquele tempo, os Apóstolos disseram a Jesus:

- Aumenta a nossa fé.

O Senhor respondeu:

- Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Arranca-te daí e vai plantar-te no mar, e ele obedecer-vos-ia.

Jesus não atendeu a este pedido dos seus Apóstolos.

Não atendeu, mas corrigiu:

- A fé não é pequena, nem é grande. A fé, há ou não há.

A fé é como uma semente. Não importa se é grande ou pequena. O importante +e que seja semente. Quer seja pequena ou grande é sempre um grão, uma grande potencialidade.

 

O que é que Jesus nos quer ensinar com esta comparação?

- Primeiro ensina-nos que a fé é um dom de Deus, é um grão que é semeado no nosso coração, não importa o seu tamanho.

-  Segundo ensina-nos que é preciso criar condições para que essa semente possa germinar, crescer e desenvolver-se. O resultado depende do cuidado que cada um tiver para com essa semente. É preciso ter um bom terreno, regar com a oração, alimentar com a Eucaristia, proteger com os sacramentos…

- Terceiro ensina-nos que não podemos esperar que os outros façam o nosso trabalho. Eles podem ajudar-nos a criar condições para que a semente germine, mas isso depende de nós.

 

História verdadeira

Vi, há alguma tempo, um programa no Canal História sobre um saco de trigo encontrado numa pirâmide. Apesar de estar guardado há mais de 4525 anos, estava em boas condições. De facto, as pirâmides do Egito foram construídas cerca do ano 2500 anos Antes de Cristo. Somando 2025 depois de Cristo, esses grãos de trigo tinham cerca de 2525 anos.

Aceitaram o desafio de semear alguns grãos para verem o resultado. As sementes germinaram, cresceram e deram espigas e bom trigo. Tinham sido conservados no frio da pirâmide, guardados da humildade e outros agentes de modo que mantiveram a sua boa qualidade. Oferecendo-lhes condições favoráveis, boa terra, luz, água e nutrientes, germinaram com toda a sua capacidade.

Assim também a fé, qual semente que Deus semeia em cada um de nós.

Se o nosso coração for frio, endurecido e fechado, esse grão da fé mantém-se inalterável.

Se lhe oferecermos condições propícias, poderá germinar e desenvolver-se em qualquer momento. Isso só depende de cada um, com a ajuda dos amigos, familiares, catequistas, pastores de igreja.

Deus semeia, mas compete a cada um regar, mondar, alimentar e proteger.

 

Ver também:

A fé dos portugueses

Sementes do Reino

Grão da fé

De grão em grão

Da semente à árvore

Flor da mostarda

Semente de mostarda

 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

O anjo que nos acompanha


O Memória dos Santos Anjos da Guarda

Para refletir:

Deus mandou os seus Anjos, para que te guardem em todos os teus caminhos.

Assim comentava São Bernardo:

Quanta reverência, devoção e confiança devem inspirar-te estas palavras!

Veneração pela presença, devoção pela benevolência, confiança pela proteção.

Estão, presentes; e estão ao teu lado, não só contigo como companhia, mas também para ti como proteção.

Estão presentes para te proteger, estão presentes para te favorecer.

É certo que eles estão a cumprir um mandato do Senhor, mas devemos mostrar-lhes gratidão pelo grande amor com que obedecem e nos socorrem em tantas necessidades.

 

Para fazer

Trata uma pessoa comum como um anjo e descobrirás o anjo que mora dentro dessa pessoa.

Esforça-te para pensar nos anjos ao longo do dia e pedir a sua ajuda. Eles ficarão encantados quando o fizeres e farão muito mais por ti se os honrares. Faz amizade com os Anjos. Diz com quem andas e dir-te-ei quem és.

 

Para rezar

Anjo da guarda

Minha companhia

Guardai a minha alma

De noite e de dia

 

Para rir

Quando fiz o Exame de Condução, o engenheiro examinador, ao anunciar a minha aprovação, disse-me:

- Nunca conduzas mais rápido do que o teu anjo da guarda pode voar.

 

Para ler

Um mestre, soldado ou doutor

Rezar com o anjo da guarda

Que fazem os anjos

A nossa guarda

Meu zeloso guardador

Anjos da guarda

Os anjos estão longe

Anjo da guarda