Ano C - XV domingo comum
E
perguntaram a Jesus: Quem é o meu próximo?
E
ele contou-lhes a seguinte parábola:
Voltava
para sua casa, de madrugada, caminhando por uma rua escura, um garçom que
trabalhara até tarde num restaurante. Ia cansado e triste. A vida de garçom é
muito dura, trabalha-se muito e ganha-se pouco. Naquela mesma rua dois assaltantes
estavam de tocaia, à espera de uma vítima.
Vendo
o homem assim tão indefeso saltaram sobre ele com armas na mão e disseram: Vá
passando a carteira.
O
garçom não resistiu. Deu-lhes a carteira. Mas o dinheiro era pouco e por isso,
por ter tão pouco dinheiro na carteira, os assaltantes o espancaram
brutalmente, deixando-o desacordado no chão.
Às
primeiras horas da manhã passava por aquela mesma rua um padre no seu carro, a
caminho da igreja onde celebraria a missa. Vendo aquele homem caído, ele se compadeceu,
parou o caro, foi até ele e o consolou com palavras religiosas: Meu irmão, é
assim mesmo. Esse mundo é um vale de lágrimas. Mas console-te: Jesus Cristo
sofreu por ti.
Ditas
estas palavras com o sinal da cruz deu-lhe a absolvição de pecados: Eu te
absolvo...
Levantou-se então, voltou para o carro e foi
para a missa, feliz por ter consolado aquele homem com as palavras da religião.
Passados
alguns minutos, passava por aquela mesma rua um pastor evangélico, a caminho da
sua igreja, onde iria dirigir uma reunião da Escola Bíblica. Vendo o homem
caído, que nesse momento se mexia e gemia, parou o seu carro, desceu, foi até
ele e perguntou, baixinho: já tens Cristo no seu coração? Isso que te aconteceu
foi enviado por Deus! Tudo o que acontece é pela vontade de Deus! Tu não vais à
igreja. Pois, por meio dessa provação, Deus chama-te ao arrependimento. Sem
Cristo no coração a tua alma irá para a perdição. Arrepende-te dos seus
pecados. Aceita Cristo como teu salvador e os teus problemas serão resolvidos!
O homem gemeu mais uma vez e o pastor
interpretou o seu gemido como a aceitação do Cristo no coração. Disse, então,
aleluia! e voltou para o carro feliz por Deus lhe ter permitido salvar mais uma
alma.
Uma
hora depois passava por aquela rua um líder espírita que, vendo o homem caído,
aproximou-se dele e lhe disse: Isso que te aconteceu não aconteceu por acaso.
Nada acontece por acaso. A vida humana é regida pela lei do karma. Estás a pagar por algo que
fizeste numa encarnação passada. Pode ser até que tenhas feito a alguém aquilo
que os ladrões te fizeram. Mas agora a tua dívida está paga. O teu espírito
está agora livre dessa dívida e poderás continuar a evoluir. Colocou a suas
mãos na cabeça do ferido, suspirou, levantou-se, voltou para o carro, maravilhado
pela justiça da lei do karma.
O
sol já ia alto quanto por ali passou um travesti, cabelo louro, brincos nas
orelhas, pulseiras nos braços, boca pintada de batom. Vendo o homem caído,
parou a sua scooter, foi até ele e
sem dizer uma única palavra tomou-o nos seus braços, colocou-o no veículo e
levou para as urgências do hospital, entregando-o aos cuidados médicos. E
enquanto os médicos e enfermeiras estavam distraídos, tirou do seu próprio
bolso todo o dinheiro que tinha e o colocou no bolso do homem ferido.
Terminada
a história, Jesus voltou-se para os seus ouvintes que o olhavam com ódio e
cheio de bondade perguntou-lhes: Quem foi o próximo do homem ferido?
(cf.
Marcio Duan)
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