domingo, 9 de janeiro de 2022

Marcando nova viagem

Como bons colegiais, nós dois (Canova e Colombo) procurámos afinar um pouco o nosso português, ao mesmo tempo que tomávamos conhecimento do ambiente, levemente preocupados com a partida para a Madeira.

Estávamos persuadidos de que a ida para aquela ilha fosse coisa simples, tomar um dos barcos que para lá partiriam, tirar o bilhete a bordo, que deveria ser coisa baratinha. Mais ou menos como ir de Itália para a Sicília ou para a Sardenha.

Fomos imediatamente desenganados, ao manifestarmos a nossa ideia.

- Não, não! – disseram-nos – muito longe disso! Só há barco para a Madeira de 15 em 15 dias ou de mês a mês e está sempre cheio de gente que vai para a Madeira ou para os Açores. Tem que se marcar lugar com antecedência. Quanto ao dinheiro, será preciso mais de mil escudos para os dois, em terceira classe.

Com certeza que teríamos ficado em Lisboa, quem sabe quanto tempo, se não tivéssemos do nosso lado a Providência, na pessoa das boas Irmãs Doroteias. Uma delas, a Irmã Cunha, tinha conhecimentos ou parentes na baixa lisboeta e lá meteu uma cunhazinha. Assim tivemos autorização para embarcarmos na próxima viagem do navio Carvalho Araújo.

E o dinheiro para a passagem? E o lugar no barco?

As Irmãs puseram-se em contacto com um tal Pe. Xavier que, em Paços de Lumiar, abrira a primeira residência dos Paulistas (Pia Sociedade de São Paulo), em Portugal. Fomos visitá-lo e falámos-lhe da nossa situação. Ele conhecia uma Senhor amiga, D. Maria de Mello Espírito Santo, da família dos banqueiros Espírito Santo, que morava lá perto. Ele falou à senhora do nosso caso:

- Eles precisam de passagem para a Madeira e do dinheiro para pagar a passagem.

A senhora deu-nos a esmola de 2.000$00 para Missas por sua intenção e depois falou não sei com quem, por meio não sei de quem, à Empresa Insulana de Navegação, propriedade do bom judeu Ben Saúde.

Conclusão: Foi-nos assegurado o bilhete de passagem de segunda classe, na próxima viagem do Carvalho Araújo. A Providência começava as suas intervenções.

A autorização da PIDE para embarque, nesse tempo absolutamente necessária, foi-nos concedida no dia 9 de janeiro de 1947. 

(Memórias do Pe. Ângelo Colombro)

 

Sem comentários: