Como bons colegiais, nós dois (Canova e
Colombo) procurámos afinar um pouco o nosso português, ao mesmo tempo que
tomávamos conhecimento do ambiente, levemente preocupados com a partida para a
Madeira.
Estávamos persuadidos de que a ida para
aquela ilha fosse coisa simples, tomar um dos barcos que para lá partiriam,
tirar o bilhete a bordo, que deveria ser coisa baratinha. Mais ou menos como ir
de Itália para a Sicília ou para a Sardenha.
Fomos imediatamente desenganados, ao
manifestarmos a nossa ideia.
- Não, não! – disseram-nos – muito longe
disso! Só há barco para a Madeira de 15 em 15 dias ou de mês a mês e está
sempre cheio de gente que vai para a Madeira ou para os Açores. Tem que se
marcar lugar com antecedência. Quanto ao dinheiro, será preciso mais de mil
escudos para os dois, em terceira classe.
Com certeza que teríamos ficado em Lisboa,
quem sabe quanto tempo, se não tivéssemos do nosso lado a Providência, na
pessoa das boas Irmãs Doroteias. Uma delas, a Irmã Cunha, tinha conhecimentos
ou parentes na baixa lisboeta e lá meteu uma cunhazinha. Assim tivemos
autorização para embarcarmos na próxima viagem do navio Carvalho Araújo.
E o dinheiro para a passagem? E o lugar no
barco?
As Irmãs puseram-se em contacto com um tal
Pe. Xavier que, em Paços de Lumiar, abrira a primeira residência dos Paulistas
(Pia Sociedade de São Paulo), em Portugal. Fomos visitá-lo e falámos-lhe da
nossa situação. Ele conhecia uma Senhor amiga, D. Maria de Mello Espírito
Santo, da família dos banqueiros Espírito Santo, que morava lá perto. Ele falou
à senhora do nosso caso:
- Eles precisam de passagem para a Madeira e
do dinheiro para pagar a passagem.
A senhora deu-nos a esmola de 2.000$00 para
Missas por sua intenção e depois falou não sei com quem, por meio não sei de
quem, à Empresa Insulana de Navegação, propriedade do bom judeu Ben Saúde.
Conclusão: Foi-nos assegurado o bilhete de
passagem de segunda classe, na próxima viagem do Carvalho Araújo. A Providência
começava as suas intervenções.
A autorização da PIDE para embarque, nesse
tempo absolutamente necessária, foi-nos concedida no dia 9 de janeiro de 1947.
(Memórias do Pe. Ângelo Colombro)
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