terça-feira, 16 de dezembro de 2008

... Deus, esse desconhecido

Ano B - IV Domingo Advento

Certo dia, uma menina de seis anos veio contar-me, toda satisfeita:
- Senhor Padre, eu ontem fui à catequese.
- Muito bem, Marilisa. E com certeza aprendeste muitas coisas. Diz-me, por exemplo, o que é que já sabes.
- Eu aprendi que o Pai do Menino Jesus não é São José...
- Óptimo! És capaz de dizer então quem é o Pai de Jesus?
A Marilisa põe-se a pensar, esforça-se e desiste:
- É um Senhor que já não me lembra o nome...É verdade, Deus é um Senhor que não conhecemos bem.
Tal como nos diz São Paulo neste IV Domingo do Advento, é "um mistério encoberto desde os tempos eternos mas agora manifestado e dado a conhecer a todos os povos".
Somos limitados para compreender o mistério de Deus mas Ele conhece-nos bem, tal como conhecia a Virgem Maria e os desejos do rei David.
O Natal vem ensinar-nos algo sobre Deus: Ele é Pai. É ao mesmo tempo um Irmão, que nasceu com um rosto humano para nos lembrar que O podemos encontrar no nosso semelhante.
Obrigado, Marilisa, por me teres lembrado que se sabemos pouco de Deus, Ele Se nos revela como Alguém próximo, a caminhar connosco. Ele entrou na nossa história para nos ajudar a conhecer melhor, a Ele e a nós mesmos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Depois de ter passado mais de metade da minha vida servindo a Deus vejo-me hoje numa encruzilhada e pergunto-me se Ele de facto existe. Houve muitos acontecimentos que me levaram a questionar a existência desse Ser que muitos descrevem como Pai, Criador, etc. mas a realidade é que é-me muito difícil aceitar a existência de alguém que apenas se revela(?) através de profetas, de escrituras, de oração ou através de actos de outras pessoas. Porque é que não o podemos ver face-a-face?

Imaginemos o que seria dos nossos filhos se apenas recebessem e-mails ou cartas de nossa parte e nunca os vissemos pessoalmente? Um pai desconhecido ou falecido todos podemos provar que existe, mas o que nunca vimos… O que pensar sobre Deus quando vimos tantas pessoas a morrer de fome, quando vimos os massacres perpretrados durante as imensas guerras, se Ele existe, onde é que Ele estava durante o Holocausto?

Onde conheci um Deus de amor foi durante o meu tempo de católico, na igreja mórmon conheci um Deus que era de amor mas de um amor muito condicionado a regras muito específicas e rígidas. Com o passar dos anos comecei a questionar se Deus seria de facto assim tão rígido uma vez que eu não consigo ser assim com os meus próprios filhos. Para ser sincero já não sei em que acreditar mas gostaria de ter as certezas como tinha outrora. Hoje só sei que nada sei. Não me consigo identificar com nada nem ninguém.

Quem me garante que o cristianismo ou o islão são o caminho a seguir? Sim, ambas as religiões pregam a paz e o amor, mas ambas têm tanto sangue nas suas mãos. Tanta gente morreu e continua a morrer em nome de Deus que qualquer um mais cedo ou mais tarde começará a perguntar-se onde está Deus e se Ele existe porque é que tantas coisas injustas acontecem em Seu nome e porque é que Ele não põe cobro a tanta injustiça.

Tanto a Bíblia como o Corão são livros que inspiram qualquer pessoa a fazer o bem e a aproximar-se mais de Deus, mas quem garante que esse sentimento de paz e amor que temos ao ler esses livros, é a confirmação do espírito santo sobre a verdade desses ensinamentos? Quem garante que não é auto-sugestão?

Até eu encontrar resposta a estas e a muitas outras perguntas ninguém me encontrará numa igreja a não ser por necessidade pessoal mas sem me querer ligar a quem/o que quer que seja. Vou continuar a educar os meus filhos o melhor que possa e deixar que eles no devido tempo tomem a decisão que lhes parecer mais acertada.

www.miguellomelino.com