segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal (8)

Natal no Quartel


Cumpri o meu serviço militar como capelão numa unidade de instrução, mais concretamente numa Base Aérea. A celebração do Natal, neste ambiente, teve para mim um significado mais genuíno em vários aspectos.
O que mais me surpreendeu foi o Presépio e a representação natalícia fora do habitual. Em vez da gruta havia uma tenda de campanha. O berço era um pneumático. Maria e José estavam vestidos, não como há 2008 anos, mas de camuflado. Os anjos tocavam clarim anunciando o nascimento do Menino como nova alvorada. Os pastores não traziam ovelhas pelos campos mas sim um pelotão pela parada. Ninguém se ajoelhava mas, junto à tenda, apresentavam armas ou faziam continência. Os reis magos substituíram os seus camelos por carros de combate e em vez de coroa na cabeça traziam um capacete militar. E tantos outros elementos da vida militar... Terá sido isto um atentado ao espírito do Natal?
Para mim foi uma boa oportunidade para descobrir algo mais do Natal. Não foi apenas o quartel a adaptar-se ao Natal mas este a traduzir-se em linguagem militar. Deus serve-se sempre da nossa realidade para Se manifestar. É nosso tempo, no nosso mundo, na nossa experiência concreta que deve haver Natal. Senti isso de modo especial na tropa.
No quartel vivi o Natal fora da minha terra, fora da minha família tal como o que aconteceu com Maria, José e o Menino.
O primeiro Natal ocorreu em tempo de guerra, num país ocupado por forças estrangeiras. A minha experiência na vida militar, em tempo de paz, fez-me recordar tudo isso.
Não foi mais do que a concretização da frase: “Deus plantou a sua tenda entre nós”. E realizou-se a profecia de Isaías: “Das espadas farão relhas de arado e das lanças forjarão foices”. É que as armas, aos pés de Jesus, ganharam outro sentido.
Estou grato à vida militar por me ter proporcionado um Natal tão sugestivo.

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