sábado, 18 de outubro de 2008

Dia das Missões

BREVE TESTEMUNHO

É preciso ir ao povo, dizia o Pe. Dehon.
Foi a pensar nisto que deixei a minha sacristia na Madeira e parti para Madagáscar para participar na ordenação de D. José Alfredo e visitar as missões dos meus confrades dehonianos, em Março de 2001.
Era a minha vez de ir até aquele povo de quem ouvira falar, de visitar aqueles que deixaram tudo para evangelizá-lo.
Parti com o sonho de ver como se evangeliza e voltei convencido de como somos evangelizados. É preciso ir ao povo, não para evangelizar mas para se deixar evangelizar. Foi esta a conclusão a que cheguei ao dialogar com os seminaristas do colégio Missionário, ao regressar de Madagáscar. Ao explicar aquilo que mais me tinha surpreendido na viagem, fiz a lista das qualidades daquele povo:
- Vive o espírito de pobreza evangélico, contentando-se com o mínimo dos mínimos e apesar disso mostra-se feliz. Tem uma vida pobre mas pura. Encontrei pessoas sempre alegres, felizes. Bastava olhar para elas para se abrirem num sorriso.
- Vive numa fome de aprender e de participar. Fazem grandes caminhadas a pé para celebrar a sua fé. Até mesmo as crianças ficam quietinhas a absorver tudo o que ouvem ou vêem. Com o mínimo das condições, conseguem tirar o máximo na aprendizagem. Não olham para o relógio, não apenas porque não os há mas porque para crescer não medem o tempo. Todos cantam e rezam com entusiasmo. Rezam com a boca cheia, pois ela está vazia de pão mas o coração a transbordar. Cantam com o corpo inteiro com toda a espontaneidade. E dançam num balanço lento que exterioriza uma serenidade contagiante.
- É um povo bastante contemplativo. Frequentemente vê-se alguém sentado a olhar para o infinito. Dizem que é por causa do calor e do esforço das caminhadas ou da dureza da própria vida. O certo é que sabem parar e quase que nem se movem na sua paz ou tranquilidade.
- Gente que não se queixa. À pergunta se está tudo bem, respondem prontamente que sim e só mais tarde é que fazem a ladainha das ocorrências – a tempestade levou-me a casa, o meu parente está doente, o arrozal ficou destruído, mas está tudo bem. Está tudo bem porque estou vivo, não interessa o resto pois tudo se irá compor.
Podia continuar numa exaustiva enumeração destas qualidades. Quando as assinalei, um jovem seminaristas desabafou:
- Então, se os malgaxes são assim tão bons, o que é que eu vou lá fazer? O que é que posso ensinar-lhes? É que eles são melhores do que nós.
- Pois é. Não vamos até eles para os evangelizar mas para nos deixar evangelizar.
Como admiro aquele povo, pobre em condições de vida mas tão rico humanamente!
Como admiro os missionários que comungam da sua vida, com coragem e com fé.
Os malgaxes estão orgulhosos dos seus missionários, como posso ficar insensível a tudo isto. Eu sinto orgulho de uns e de outros.
Obrigado a todos por esta evangelização.

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