sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Vagabunda e mística


Memória de Santa Teresa de Jesus ou de Ávila

1515-1582, Virgem e Doutora da Igreja

Dizem que sou uma vagabunda e inquieta – assim contava Teresa de Ávila a um amigo.

De facto, Filipe Sega, núncio em Espanha de 1577 a 1581, tal pensava e proclamava. Ele chegara a Espanha quando as fundações de Teresa já estavam muito avançadas, mas, ao contrário do anterior núncio, não via com bons olhos o caminho reformador empreendido por Teresa. Por isso afirmava: Teresa é uma mulher inquieta e vagabunda, desobediente e obstinada que a título de devoção inventa falsas doutrinas, andando fora da clausura, contra a ordem do Concílio de Trento e dos prelados, ensinando como mestra, desrespeitando São Paulo que proibiu que as mulheres ensinassem.

Estas palavras vindas de um núncio não podiam passar despercebidas. Por isso Teresa preocupou-se em esclarecer a verdade: Que não era desobediente nem andava a enganar ninguém. Mas que ela própria, se andava pelos caminhos e se fundava conventos, se escrevia ou ensinava, era por obediência a Deus e não por contra própria.

Este confronto entre o núncio e Teresa de Ávila, mais do que uma circunstância histórica, aponta para uma misteriosa verdade – A mística, a espiritualidade, a união permanente com Deus, a contemplação, é um estilo de vida que não está circunscrito à clausura de um mosteiro. Esta experiência mística é mais vasta e mais fecunda do que o núncio imaginava.

Percorrer mais de seis mil quilómetros em condições daquela época (século XVI) comprar e vender casas, tratar da reparação material das mesmas, encontrar-se com grandes ou pequenos, homens ou mulheres, gente da igreja ou do mundo, dos negócios ou da religião, é saber gerir o seu tempo e todos os demais recursos sem desprezar o seu interior e descurar o seu caminho de perfeição.

Procurar vocações, candidatos masculinos ou femininos para os seus conventos reformados, ser fundadora, reformadora, mestra e madre, é estar constantemente atenta à realidade à sua volta sem nada deixar escapar, dentro ou fora de si mesma e dos outros.

Escrever livros, não só para discernir a vontade de Deus, mas também para ajudar os outros consagrados, escrever milhares de cartas, responder a todos os pedidos de conselho ou de qualquer ajuda material ou espiritual, governar os mosteiros, assegurar a sustentabilidade e a subsistência de todos, é viver sem sufocar o coração nem deixar de trabalhar pela sua perfeição e a de todos.

Entre tanta correria e tanta barafunda é possível crescer no espírito de Deus.

O que interessa é não esquecer que Deus está sempre presente onde quer que estejamos ou façamos.

Jesus é o nosso capitão. Nós somos simples subalternos.

“Estando presente tão bom amigo e tão generoso capitão, Jesus Cristo, tudo podemos suportar e fazer. Ele é ajuda e dá força; nunca falta, é verdadeiro amigo. (CF. Livro da vida, Teresa de Jesus).

 Ela foi Marta ativa, sem deixar de ser Maria.

Ela foi Maria contemplativa sem deixar de ser Marta.

Conclusão:

Podemos concluir ao jeito de Santa Teresa:

Sou vagabunda, sim senhor, porque Deus vai comigo e eu vou com Ele,

Sou inquieta, sim senhor, porque Jesus está comigo e eu estou com Ele.

Sou vagabunda e inquieta porque assim é Jesus.

 

Ver também

As castanholas da santa

A esmola da oração

A caçadora de Ávila

Teresa de Ávila

Santa Teresa de Ávila

Por entre as panelas

Pedir para os outros

Grande Teresa

 

1 comentário:

Quintal Vieira disse...

E morreu em viagem, no caminho de regresso a Ávila, em Alba de Tormes.
De facto, toda a sua vida foi uma viagem a caminho da perfeição...