Memória
de Santa Teresa de Jesus ou de Ávila
1515-1582, Virgem e Doutora da Igreja
Dizem
que sou uma vagabunda e inquieta – assim contava Teresa de Ávila a um amigo.
De
facto, Filipe Sega, núncio em Espanha de 1577 a 1581, tal pensava e proclamava.
Ele chegara a Espanha quando as fundações de Teresa já estavam muito avançadas,
mas, ao contrário do anterior núncio, não via com bons olhos o caminho
reformador empreendido por Teresa. Por isso afirmava: Teresa é uma mulher
inquieta e vagabunda, desobediente e obstinada que a título de devoção inventa
falsas doutrinas, andando fora da clausura, contra a ordem do Concílio de
Trento e dos prelados, ensinando como mestra, desrespeitando São Paulo que
proibiu que as mulheres ensinassem.
Estas
palavras vindas de um núncio não podiam passar despercebidas. Por isso Teresa
preocupou-se em esclarecer a verdade: Que não era desobediente nem andava a
enganar ninguém. Mas que ela própria, se andava pelos caminhos e se fundava
conventos, se escrevia ou ensinava, era por obediência a Deus e não por contra
própria.
Este
confronto entre o núncio e Teresa de Ávila, mais do que uma circunstância
histórica, aponta para uma misteriosa verdade – A mística, a espiritualidade, a
união permanente com Deus, a contemplação, é um estilo de vida que não está
circunscrito à clausura de um mosteiro. Esta experiência mística é mais vasta e
mais fecunda do que o núncio imaginava.
Percorrer
mais de seis mil quilómetros em condições daquela época (século XVI) comprar e
vender casas, tratar da reparação material das mesmas, encontrar-se com grandes
ou pequenos, homens ou mulheres, gente da igreja ou do mundo, dos negócios ou
da religião, é saber gerir o seu tempo e todos os demais recursos sem desprezar
o seu interior e descurar o seu caminho de perfeição.
Procurar
vocações, candidatos masculinos ou femininos para os seus conventos reformados,
ser fundadora, reformadora, mestra e madre, é estar constantemente atenta à
realidade à sua volta sem nada deixar escapar, dentro ou fora de si mesma e dos
outros.
Escrever
livros, não só para discernir a vontade de Deus, mas também para ajudar os
outros consagrados, escrever milhares de cartas, responder a todos os pedidos de
conselho ou de qualquer ajuda material ou espiritual, governar os mosteiros,
assegurar a sustentabilidade e a subsistência de todos, é viver sem sufocar o
coração nem deixar de trabalhar pela sua perfeição e a de todos.
Entre
tanta correria e tanta barafunda é possível crescer no espírito de Deus.
O
que interessa é não esquecer que Deus está sempre presente onde quer que
estejamos ou façamos.
Jesus
é o nosso capitão. Nós somos simples subalternos.
“Estando
presente tão bom amigo e tão generoso capitão, Jesus Cristo, tudo podemos
suportar e fazer. Ele é ajuda e dá força; nunca falta, é verdadeiro amigo. (CF.
Livro da vida, Teresa de Jesus).
Conclusão:
Podemos
concluir ao jeito de Santa Teresa:
Sou
vagabunda, sim senhor, porque Deus vai comigo e eu vou com Ele,
Sou
inquieta, sim senhor, porque Jesus está comigo e eu estou com Ele.
Sou
vagabunda e inquieta porque assim é Jesus.
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também
1 comentário:
E morreu em viagem, no caminho de regresso a Ávila, em Alba de Tormes.
De facto, toda a sua vida foi uma viagem a caminho da perfeição...
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