quinta-feira, 15 de outubro de 2020

As castanholas da santa


Memória de Santa Teresa de Jesus, de Ávila, 

1515-1582

Doutora da Igreja, ensina-nos hoje, não apenas grandes lições místicas, mas as pequenas lições de alegria e santidade através de palavras simples e gestos bem-humorados.

A) As palavras

Dizia Santa Teresa de Ávila:

- Tristeza e melancolia não as quero na minha casa.

- Tenho mais medo de uma monja infeliz e triste do que uma corja de demónios.

- Uma monja triste e ou infeliz é como uma mulher mal casada.

Ela gostava muito do bom humor, da simplicidade e da naturalidade e rezava assim:

- Deus me livre dos santos acabrunhados… pois quanto mais santos mais coloquiais.

Certa ocasião, estando no mosteiro de Sória, uma monja perguntou a uma noviça o que pensava da Madre Fundadora. A noviça respondeu simplesmente que não a achava assim tão santa como lhe diziam, porque ela ria muito e que a prioresa dessa casa lhe parecia mais santa, pois era mais séria.

A Madre Teresa de Jesus, tendo ouvido, respondeu logo à noviça:

- Para aí! A Madre prioresa é mais santa do que eu porque ela é muito virtuosa, nisso tens toda a razão. Eu pareço ter a fama e ela as virtudes. Mas ela não é mais santa, porque ri pouco, que isso não é uma virtude, mas um defeito.

A Abadessa de Madrid quando conheceu Teresa de Jesus em 1569, disse às suas monjas:

- Bendito seja Deus, que nos permitiu ver uma santa a quem todos podemos imitar, que come, dorme e fala como nós e anda sem cerimónia.

Na verdade, ela ria, dançava, tocava castanholas com toda a simplicidade, sem deixar de inspirar santidade. Gostava da vida simples e sem artifícios.

Não aconselhava levantar-se de madrugada para rezar:

- Por mais fervor que sinta, ninguém roube horas de sono para rezar. É preciso dormir pelo menos seis horas por noite. Todos nós devemos cuidar do nosso corpo para que não derrube nem enfraqueça o espírito.

Finalmente concluía:

- Que no céu haja santos mais elevados do que eu, não tenho dúvidas. Que haja quem ame mais do que eu, não me posso permitir.

B) Os gestos

Uma vez uma rica senhora colocou à disposição da Abadessa Teresa de Ávila um carrão de luxo que aceitou sem muitas preocupações. Uma mulher do povo vendo isso ficou escandalizada e disse:

- É esta a monja que chamam de santa que anda como rica num carrão!?

Teresa de Jesus ouviu, desceu e nunca mais na sua vida usou estes carros de luxo puxados por belos cavalos. Ela e as suas monjas só usavam o humilde transporte do povo.

Outra vez, num dia de chuva, a mula que a transportava agitou-se e fê-la cair no caminho lamacento. Ela levantou-se, molhada, suja e magoada numa perna, olhou para o céu e perguntou:

- Senhor, não podíeis ter escolhido pior altura para isto acontecer?

Uma voz respondeu do Céu:

- É assim que eu trato os meus amigos.

Ao que a santa respondeu, sorrindo:

- Pois se é assim que os tratais, não me admira que tenhais tão poucos!

Por fim, ainda hoje se conservam em Ávila as castanholas e a pandeireta com que a santa dançava acompanhada das suas religiosas em frente ao presépio, pois dizia que ao contemplar os mistérios divinos a alma tinha de desafogar em tontarias.

 

Ver também:

A esmola da oração

A caçadora de Ávila

Teresa de Ávila

Santa Teresa de Ávila

Por entre as panelas

Pedir para os outros

Grande Teresa

 

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