6ª feira – I semana da quaresma
O escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986),
cujo bisavô era português, tem uma lenda no seu livro poético Elogio da Sombra
que ilustra o perdão partilhado entre os dois irmãos, Caim e Abel.
“Abel e Caim encontraram-se depois da morte de Abel.
Caminhavam pelo deserto e reconheceram-se de longe, porque os dois eram muito
altos. Os irmãos sentaram-se na terra, acenderam uma fogueira e comeram.
Guardavam silêncio, à maneira das pessoas cansadas quando declina o dia. No céu
assomava uma estrela que ainda não tinha recebido o nome. À luz das labaredas,
Caim percebeu na testa de Abel a marca da pedra e deixou cair o pão que estava
prestes a levar à boca e pediu que lhe fosse perdoado o seu crime.
– Tu mataste-me ou eu matei-te? – respondeu-lhe Abel – Já
não me lembro; aqui estamos juntos como antes.
– Agora sei que me perdoaste de verdade – disse Caim –
porque esquecer é perdoar. Procurarei também esquecer.
– É assim mesmo – falou Abel devagar – Enquanto dura o
remorso, dura a culpa.”
Manda Jesus no Evangelho de hoje:
- Reconcilia-te com o teu adversário, enquanto vais
com ele a caminho.
Se te recordares que o teu irmão tem alguma coisa
contra ti, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão…
De facto, somente através do perdão começa tudo de
novo, começa uma vida de paz.
Para Caim e Abel a melhor partilha foi o perdão.
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