Hoje, 14 de março, celebrámos a festa do nascimento do nosso
fundador, Pe. Leão Dehon.
Partilhamos o almoço com os nossos funcionários.
A ementa foi própria de uma sexta-feira da quaresma,
como não podia deixar de ser – Caldeirada de Congro e Filetes de Abrótea.
O problema foi as entradas. Havia três espécies de
queijo fresco e curado. E no centro desta tábua estava uma paleta de presunto
serrano fatiado.
Alguém atirou-se logo ao presunto, que ainda por cima era espanhol.
Não cheguei a tempo de lembrar que era sexta-feira de
quaresma, dia de abstinência. Além disso a cozinheira estava à mesa connosco e
podia ficar vexada. E então calei-me para sempre.
- Podia ter justificado que os amigos do noivo não
fazem abstinência no dia da sua festa.
- Podia ter lembrado que festa é festa e jejum é jejum.
- Podia ter sossegado as consciências que não era uma
fatia transparente de presunto saboreada inadvertidamente que iria comprometer
a nossa prática quaresmal e machucar o nosso mérito.
- Podia também aconselhar a fazer penitência durante o
resto da tarde, rezar o ato de contrição ou fazer a via-sacra de joelhos por
causa de 3 gramas de carne.
Optei pelo silêncio e comi como os demais, para ninguém
ficar com azias pelo esquecimento.
Fiz aquilo que São Francisco de Assis, homem austero e
rigoroso, mas simples e humano, fez em certa quaresma.
Um dia o santo viu que um jovem monge estava lutando
contra o jejum exuberante na sua comunidade. Tentava fazer como os outros
frades, mas tinha muita dificuldade a ponto de parecer desfalecer. Francisco
percebeu. Então, em vez de envergonhar o jovem irmão e chamar a atenção para a sua
fraqueza, Francisco ordenou que todos os irmãos quebrassem o jejum e
compartilhassem uma ceia normal. Ninguém soube a razão e todos louvaram a Deus.
O próprio Francisco foi famoso pelas suas quaresmas.
Uma vez ele retirou-se para um lugar tranquilo para fazer uma novena de jejum, penitência
e oração. Levou consigo dois pequenos pães. No início da temporada comeu um
pão, para não ficar orgulhoso demais por fazer um jejum perfeito. O segundo pão
ele guardou como fonte constante de tentação.
Hoje, na festa do nosso fundador, não fizemos abstinência
como devíamos, mas não caímos na tentação de orgulho e reconhecemos que apesar
de fracos e humildes fizemos bem festejar. Nós pecadores
celebrámos o grande santo fundador.
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