sexta-feira, 14 de março de 2025

Abstinência esquecida

Hoje, 14 de março, celebrámos a festa do nascimento do nosso fundador, Pe. Leão Dehon.

Partilhamos o almoço com os nossos funcionários.

A ementa foi própria de uma sexta-feira da quaresma, como não podia deixar de ser – Caldeirada de Congro e Filetes de Abrótea.

O problema foi as entradas. Havia três espécies de queijo fresco e curado. E no centro desta tábua estava uma paleta de presunto serrano fatiado.

Alguém atirou-se logo ao presunto, que ainda por cima era espanhol.

Não cheguei a tempo de lembrar que era sexta-feira de quaresma, dia de abstinência. Além disso a cozinheira estava à mesa connosco e podia ficar vexada. E então calei-me para sempre.

- Podia ter justificado que os amigos do noivo não fazem abstinência no dia da sua festa.

- Podia ter lembrado que festa é festa e jejum é jejum.

- Podia ter sossegado as consciências que não era uma fatia transparente de presunto saboreada inadvertidamente que iria comprometer a nossa prática quaresmal e machucar o nosso mérito.

- Podia também aconselhar a fazer penitência durante o resto da tarde, rezar o ato de contrição ou fazer a via-sacra de joelhos por causa de 3 gramas de carne.

Optei pelo silêncio e comi como os demais, para ninguém ficar com azias pelo esquecimento.

Fiz aquilo que São Francisco de Assis, homem austero e rigoroso, mas simples e humano, fez em certa quaresma.

Um dia o santo viu que um jovem monge estava lutando contra o jejum exuberante na sua comunidade. Tentava fazer como os outros frades, mas tinha muita dificuldade a ponto de parecer desfalecer. Francisco percebeu. Então, em vez de envergonhar o jovem irmão e chamar a atenção para a sua fraqueza, Francisco ordenou que todos os irmãos quebrassem o jejum e compartilhassem uma ceia normal. Ninguém soube a razão e todos louvaram a Deus.

O próprio Francisco foi famoso pelas suas quaresmas. Uma vez ele retirou-se para um lugar tranquilo para fazer uma novena de jejum, penitência e oração. Levou consigo dois pequenos pães. No início da temporada comeu um pão, para não ficar orgulhoso demais por fazer um jejum perfeito. O segundo pão ele guardou como fonte constante de tentação.

 

Hoje, na festa do nosso fundador, não fizemos abstinência como devíamos, mas não caímos na tentação de orgulho e reconhecemos que apesar de fracos e humildes fizemos bem festejar. Nós pecadores celebrámos o grande santo fundador.

 

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