sábado, 13 de dezembro de 2025

A alegria e o sorriso

 

Ano A – III domingo do advento, Gaudete

Domingo Rosa, da alegria e do sorriso


Rosas Heroicas, Paul Klee,1938

1ª leitura: Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores coo o narciso, exulte com brados de alegria.

Alguém comentou com William James:

- Tu és a única pessoa feliz que conheço: tens sempre um sorriso nos lábios, mesmo diante das maiores dificuldades.

- Eu não vivo sorrindo porque sou feliz – respondeu William James – Eu sou feliz porque vivo sorrindo.

 

2ª leitura: Esperai com paciência a vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra. Sede vós também pacientes.

O cineasta Frederico Fellini tinha o hábito de chegar a qualquer encontro um bom bocado antes da hora aprazada, fosse a uma reunião de trabalho ou a um jantar de amigos. Chegava a esse sítio e ponha-se a fazer tempo, caminhando prazenteiramente e sem dar sinais de agitação alguma al longo da rua, para lá e para ca. Quando os amigos o surpreendiam nisto e lhe perguntavam porque não tinha toado à porta imediatamente, a sua resposta era: O prazer de esperar. Precisamos de dizer a nós próprios e uns aos outros que que esperar não é necessariamente uma perda de tempo. Muitas vezes é o contrário. É reconhecer o seu tempo., o tempo necessário para ser, é tomar o tempo para si, como lugar de maturação, como oportunidade reencontrada, é perceber o tempo não apenas como enquadramento do sentido, as como formulação em si mesma significativa. Quem não esperar pacientemente pelas sementes que lançar jamais provará a alegria de vê-las florir. (CF. Tolentino Mendonça)

 

Evangelho: Ide contar a João o que vedes e ouvis.

À pergunta de João se Jesus era o Messias, este respondeu não com palavras, mas com ações.

Uma vez alguém me perguntou:

- O senhor padre é feliz?

E eu respondi:

- É preciso perguntar? Não vês que sou feliz? As minhas ações, os meus gestos e atitudes não mostram que sou feliz?

 

Ver também

Que devemos fazer

Dia da rosa e da alegria

Esperando com alegria

Ser ou estar alegre

A fonte da alegria

Alegrai-vos

Haja alegria

O evangelho da alegria

 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Cãominhada sem cão

Ao fim da tarde, quando faço a minha caminhada pela cidade onde moro, encontro tanta gente, tantos amigos a passear com o seu cão – os cães sempre felizes, os donos nem por isso.

Alguns perguntam-me pelo meu cão. E eu respondo:

- Não tenho cão, estou a passear-me a mim mesmo.

Eles sorriem pensando que eu sou o meu cão.

E eu também sorrio e declaro-me mais feliz do que eles porque estou ali não por obrigação ou pelo dever de tratar um animal. Eu caminho ou passeio por pura liberdade e felicidade.

Eles pensam que levam o seu cão a passear, mas é o contrário: afinal eles é que são levados pelo cão, enquanto eu levo-me a mim mesmo.

 

Ver também:

Adeus Bolinha

Cãopensador

Cão frio

Descãotracão

Devocão

Cão à janela

Cão Bolinha

Admiracão

Conversacão

Cão saudade

Os cachorrinhos

Dois amigos

Cão de guarda

Lição dos cachorrinhos

 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Violência ou agressividade


5ª feira – II semana do advento

 

Jesus no trecho do evangelho de hoje lembra que são os violentos que se apoderam do Reino dos Céus.

Também Jesus sempre ensinou por palavras e por gestos a não-violência.

Então parece-me que a palavra violência não está bem aplicada ou bem traduzida aqui.

Em vez de violência devíamos ler agressividade.

Perguntei à IA a diferença entre agressividade e a violência.

Eis a sua resposta:

A agressividade é uma força vital de autoafirmação e combate, essencial para defender direitos e objetivos, enquanto a violência é o uso dessa energia ou de força para ferir, destruir ou controlar o outro, resultando em dano físico, psicológico ou privação, sendo a agressividade a energia e a violência a sua manifestação destrutiva e inadequada. Em resumo, agressividade pode ser construtiva (assertividade), mas quando descontrolada ou mal direcionada, torna-se violência, um comportamento que causa danos reais, diferentemente da agressividade "pura" que busca afirmação.

Agressividade

Definição: Energia natural, força vital para autoafirmação, combate e defesa de limites.

Função: Impulsiona a ação, a liderança e a busca por sucesso.

Exemplo: Ser assertivo numa reunião, defender uma ideia, praticar um esporte de contato.

Diferença da Violência: Pode ser construtiva e não visa machucar o outro intencionalmente.

Violência

Definição: Uso intencional de força ou poder (física, verbal, psicológica) para ferir, controlar ou destruir.

Função: Causar sofrimento, dano ou privação, rompendo o bem-estar do outro.

Exemplo: Bater, insultar, humilhar, abusar psicologicamente, causar danos materiais.

Relação com Agressividade: É a agressividade mal direcionada, descontrolada ou com a intenção de prejudicar.

Pontos-chave

Agressividade vs. Raiva: Sentir raiva é normal; o problema surge quando essa raiva se torna um comportamento agressivo ou violento que magoa.

Controle: Agressividade não controlada pode levar a problemas psicológicos e comportamentos violentos.

Agressividade Não-Violenta: É possível usar a energia da agressividade (força de ação) para defender direitos e mobilizar ações potentes sem ser violento, através da assertividade e da busca por soluções construtivas.

 

Conclusão:

Jesus lembra-nos que o Reino dos Céus sofre violência, isto é, é alvo de esforço, de luta ou dedicação para ser alcançado. É preciso lutar por esse ideal. Se não formos agressivos não o alcançaremos.

Além disso é preciso fazer pressão sobre este mundo para alcançar o Reino de Deus.

É preciso também suportar a pressão que o mundo faz sobre nós, cidadãos do Reino dos Céus. 

Procurar mudar o mundo e não deixemos que o mundo nos mude a nós.

 

Ver também:

Ternura e coragem

Deus é um pai babado

Violentos

 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Mansidão não é fraqueza


4ª feira – II semana do advento

 

Jesus manso e humilde de coração

Não há força mais dominante do que a da mansidão; porque conquista a alma e subjuga a vontade.

Quando encontramos raiva online, a mansidão oferece uma alternativa – uma chance de dissipar a raiva e transformar corações através da gentileza (a gentileza gera gentileza).

Podemos comparar os mansos a uma brisa refrescante e à chuva suave que penetra até às raízes.

A sua força tranquila pode derreter até mesmo vontades endurecidas.

Os barulhentos e tempestuosos podem temporariamente dominar os outros através do volume absoluto, mas são os mansos que, em última análise, conquistam as pessoas de maneira duradoura.

Onde há amargura, os mansos oferecem doçura.

Onde há gritos, eles respondem com respostas suaves.

Eles vencem o mal com o bem, enfrentando os insultos e a injustiça com o perdão e a caridade.

A mansidão não é fraqueza.

Jesus apresentou-se a si mesmo como manso e humilde de coração.

(C.F. Don Dolindo)

 

Ver também:

As virtudes de um coração

Contratador de cansados

Missão impossível

O saber ocupa lugar

Manso e humilde

Pregação telegráfica

Aprender

Um jogo leve

Sem fadiga

Vinde a mim

A cruz leve

Aprendei de mim

 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Cheia de Graça = Imaculada


Solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, Padroeira principal de Portugal

Ave Maria Imaculada, o Senhor está convosco…

Não é mera coincidência que a Igreja celebre esta festa no início do Advento. Este privilégio concedido a Nossa Senhora fez parte da obra de salvação iniciada no exato momento em que o pecado entrou no mundo. A experiência do pecado e o seu domínio no nosso mundo surgiram devido à fraqueza e ao orgulho humanos. Assim como uma mulher tornou possível o primeiro pecado, também uma mulher tornaria possível a obra da nossa salvação. Maria foi a resposta de Deus a Eva.

Os cristãos de hoje e de todas as épocas amam Maria porque ela personifica, literalmente, tudo o que almejamos ser. É por isso que Wordsworth pôde exaltá-la como “o único orgulho da nossa natureza corrompida”.

Por sua fé e disposição em cooperar com Deus, Maria mostrou ser uma verdadeira filha de Abraão. A humilde serva de Nazaré demonstrou ainda que a verdadeira libertação não consiste em fazer o que se quer, mas sim em fazer o que Deus quer. Ela provou que o anjo estava certo, que o Senhor estava verdadeiramente com ela, ao proferir aquele “sim” temeroso, porém firme, que reverteu todos os “nãos” anteriores da história.

 

Conclusão:

Deus diz cheia de graça para dizer Imaculada Conceição.

Nós dizemos Imaculada Conceição para dizer Cheia de Graça.

Estando cheia de graça, não há mais lugar para outra coisa, para qualquer sombra de pecado.

 

Senhora da Conceição

De Fátima ou da Paz

Chamar por uma ou por outra

É Mãe do Céu tanto faz.

 

Ver também:

A maior influencer é Maria

Desceu para fazer subir

Ave, o contrário de Eva

Um duplo sim

O nome mais bonito

Dia das montras

A resposta de Maria

O anjo retirou-se

Se digo ave Maria

Perfeita no amor

Sermão infantil

Deus conta contigo

Imaculada

Humildade

Padroeira de Portugal

 

Dehonianos no Vaticano II


Ocorrendo os 60 anos do encerramento dos trabalhos do Concílio Vaticano II (08/12/1965) evocamos a memória e o contributo dos dehonianos nos trabalhos conciliares.

Quantos dehonianos participaram

Na 1ª sessão – 11 de outubro a 08 de dezembro de 1962 – participaram 11 dehonianos: 10 bispos e o Superior Geral.

Na 2ª Sessão – 29 de setembro a 04 de dezembro de 1963 – participaram 12 dehonianos: 11 bispos e o Superior Geral.

Na 3ª Sessão – 14 de setembro a 21 de novembro de 1964 – participaram 10 dehonianos: 9 bispos e o Superior Geral.

Na 4ª e última sessão – 14 de setembro a 08 de dezembro de 1965 – participaram 10 dehonianos: 9 bispos e o Superior Geral

 

Quem e quando participou

No conjunto, em todo o Concílio Vaticano II estiveram presentes 13 dehonianos, 12 Bispos e o Superior Geral, por ordem alfabética:

- Albert Hermelink Gentiaras (05/08/1898–25/02/1983), como Bispo de Tandjungkarang (Indonésia) participou na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª sessão

- Camille Verfaillie (04/07/1892–22/01/1980), como Vigário Apostólico emérito de Santley-ville (República Democrática do Congo) participou na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª sessão

- Franz Wolfgang Demont (22/11/1880-15/06/1964), como Bispo emérito de Aliwal (África do Sul), participou na 1ª e 2ª sessão

- Henri Martin Mekkelholt (25/02/1896-26/12/1969), como Bispo emérito de Palembang (Indonésia) participou na 2ª, 3ª e 4ª sessão

- Honorato Piazera (06/11/1911-23/10/1990), como Bispo de Nova Iguaçu (Brasil) participou na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª sessão

-  Johannes Baptist Luck (08/05/1909-06/10/2000), como Bispo de Aliwal (África do Sul) participou na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª sessão

- Joseph Antony de Palma (04/09/1913-03/02/2005), como Superior Geral SCJ, participou na 1ª, 2ª, 3º e 4ª sessão

- Joseph Hubertus Soudant (30/03/1922-29/12/2003), como Bispo de Palembang (Indonésia) participou na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª sessão

- Joseph Pierre Albert Witteblos (12/04/1912-26/11/1964), como Bispo de Wamba (República Democrática do Congo) participou na 1ª e 2ª sessão

- Nicolas Kinsch (31/10/1904-23/03/1973), como Arcebispo de Kisangani (República Democrática do Congo) participou na 1ª e 2ª sessão

- Paul Verschuren (26/03/1925-19/02/2000) como Bispo coadjutor de Helsínquia (Finlândia) participou na 3ª e 4ª sessão

- Paul Bouque (05/09/1896-15/08/1979), como Bispo de Nkongsamba (Camarões) participou na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª sessão

- Willem Petrus Bhartolomaeus Cobben (29/06/1897-27/01/1985) como Bispo de Helsinki, participou na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª sessão

 

Curiosidades:

O Bispo dehoniano mais novo a participar no Concílio foi o de Palembang (Indonésia) D. Joseph Hubertus Soudant com 40 anos desde a 1ª sessão, seguindo-se o Coadjutor de Helsíquia (Finlândia), D. Paul Verschuren desde a 3ª sessão com 40 anos.

O Bispo dehoniano mais velho a participar no Concílio foi D. Franz Wolfgang Demont, Vigário Apostólico Emérito de Aliwal (África do Sul) na 1ª sessão aos 83 anos.

O Pe. Joseph Anthony de Palma, foi Superior Geral de 15/07/1959 a 13/04/1967, e nessa qualidade participou nas 4 sessões do Concílio. A 13/04/1967 foi eleito Bispo de De Aar (África do Sul).

Todos estes participantes já faleceram. O primeiro a falecer foi Franz Wolfgang a 15/06/1964) depois de ter participado na 2ª sessão. No mesmo ano D. Joseph Pierre Albert Witteblos foi martirizado na República Democrática do Congo a 26/11/1964, sem ter participado na 3ª sessão. O último dehoniano participante no concílio a falecer foi D. Joseph Antony de Palma, a 03/02/2005, ex-Superior Geral e Bispo Emérito de Bispo de De Aar (África do Sul).

Para além de D. De Palma (que morreu 43 anos depois do início do Concilio), há a assinalar quem chegou a celebrar os 25 anos do Concílio:

D. Joseph Hubertus Soudant (41 anos depois do início); D. Johannes Baptist Luck (38 anos depois); D.  Paul Verschuren (36 anos depois de ter participado); D. Honorato Piazera (28 anos depois).

Dos 12 bispos dehonianos participantes 1 era Arcebispo, 7 bispos residenciais, 1 Coadjutor, 2 bispos eméritos e 1 Vigário Apostólico Emérito.

Destes 12 participantes 6 eram bispos em África (3 na República Democrática do Congo, 2 na África do Sul e 1 nos Camarões), 3 bispos na Ásia (na Indonésia), 2 na Europa (Finlândia) e 1 da América (Brasil). Com exceção do Brasil, nenhum bispo era natural do país onde exercia, pois todos eram missionários.

Na 1ª sessão, dos 2448 padres conciliares 11 eram dehonianos.

Na 2ª sessão, dos 2488 padres conciliares 12 eram denonianos.

Na 3ª sessão, dos 2468 padres conciliares 10 eram dehonianos.

Na 4ª e última sessão, dos 2625 padres conciliares, 9 eram dehonianos.

Conclui-se assim que nas sessões do Concílio a presença dos dehonianos rondava os 0,4%.

 

O Pe. Dehon também esteve presente no Concílio Vaticano II

É verdade.

Depois de ter participado no Concílio Vaticano I convocado por Pio IX (08/12/1869 – 18/12/1870) como estenógrafo, o Pe. Dehon publicou os seus apontamentos e as suas reflexões sobre essa experiência sem igual com o título de “Diário do Concílio Vaticano I”.

Na preparação do Concílio Vaticano II, o Cardeal Suenens, bispo de Bruxelas, foi encarregado pelo Papa de coordenar todos os esquemas preparatórios numa unidade orgânica. O Papa João XXIII aconselhou-o precisamente a ler o Diário do Pe. Dehon, como ajuda imprescindível nessa preparação. O Cardeal Suenens dá-nos conta disso numa carta dirigida ao Papa João XXIII, em 1962:

“Acabo de ler o Diário do Concílio Vaticano I do Pe. Dehon, cuja leitura Vossa Santidade me tinha aconselhado: é cheio de interesse, de vida e de ensinamento quer sobre aquilo que é necessário fazer... quer sobre aquilo que não é preciso fazer. É um livro à glória do Espírito Santo, que age através de instrumentos sempre muito deficientes e, por vezes, tão pobremente humanos” (Cardeal Suenens, Aux origines du Concile Vatican II, in NRT 107/1985, 10).

Desse modo, o P. Dehon, pelos seus escritos e pela sua ação posterior, contribuiu remota e ativamente para o grande acontecimento da Igreja no século XX, o Concílio Vaticano II. (CF P. Manuel Joaquim Gomes Barbosa SCJ, Padre Dehon Homem de Igreja, Curia Generale SCJ, Roma – 2004)

 

Conclusão

O Pe. Dehon participou nos trabalhos do Concílio vaticano II não só por meio do seu sucessor como Superior Geral, Pe. Joseph Antony de Palma, como também pela participação dos 12 confrades bispos da Congregação SCJ, mas ainda através dos seus escritos, estudados e aplicados pelo Papa João XXIII e pelo cardeal Suenens na preparação do mesmo Concílio.

A Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus, o P. Dehon e os dehonianos que participaram no Concílio Vaticano II foram homens da renovação da Igreja, a partir de dentro.

Ainda hoje ocorre o mesmo fenómeno: o Pe. Dehon continua presente e ativo na Igreja através de nós.

 

Ver também:

O Pe. Dehon estava lá

Bela obra do Espírito

 

domingo, 7 de dezembro de 2025

O 1º evangelista foi Isaías


Ano A – II domingo do advento

Isaías destaca-se como o grande profeta do Advento: ele prediz com tanta força a vinda de Cristo (bem como sua Paixão e Morte) que este livro foi chamado de “quinto Evangelho” ou o Pré-Evangelho. Nos Evangelhos e nos Actos dos Apóstolos mais de 400 referência do Livro de Isaías. De facto, não há livro nenhum do Antigo Testamento que seja tão evangélico como o do Profeta Isaías. Ele é, com toda a propriedade o Primeiro Evangelista.

Mais tarde no Advento, ouviremos sua profecia mais direta: a virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe chamará Emanuel. Neste segundo domingo do Advento, porém, Isaías nos oferece uma descrição vívida da era messiânica, que se assemelha a uma ode pastoral: o lobo se hospedará com o cordeiro, e o leopardo se deitará com o cabrito.

Aqui, toda a natureza repousa em harmonia e paz. Ela nos remete ao Éden, livre de violência e morte. Nesta visão de esperança, proferida pelo profeta da esperança, vislumbramos a restauração daquele mundo caído.

Mas Isaías não é o único profeta que encontramos hoje. Encontramos também São João Baptista, o último e maior da longa linhagem de profetas. Foi ele quem Isaías previu como “uma voz que clama no deserto”. A mensagem de João, porém, parece bem diferente: Arrependei-vos!

 

À margem

O caminho de Cristo é o Homem.

O caminho do Homem é Cristo – Caminho, Verdade e Vida.

 

Ver também:

Mil anos aos olhos de Deus

Uma história de advento

Preparados e prevenidos

Preparando o caminho

Preparai-vos

GPS evangélico

Preparai

O caminho de Deus

Preparar-se

 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Assim cantavam os 2 cegos


6ª feira – I semana do advento

 

Dois cegos seguiram Jesus pelo caminho, cantando:

- Filho de David, tem piedade de nós.

O velho guitarrista cego, Picasso, Barcelona (1903)


Não é forçado traduzir assim o trecho do evangelho de hoje.

Em geral os cegos na rua cantam pedindo uma esmola. Com certeza também cantariam para pedir a maior esmola, a sua cura.

Estes dois cegos no evangelho cantavam o mesmo refrão a duas vozes (gritando):

- Filho de David, tem piedade de nós.

E assim acompanharam Jesus até a sua casa onde Jesus se certificou da sua fé e os curou.

E eles continuaram a cantar afinados glorificando a Deus, de modo que a fama de Jesus se divulgou por toda aquela terra.

 

Observações

 

1) Numa só voz

Os dois cegos tiveram voz para pedir a sua cura a Jesus durante o caminho.

Apesar de Jesus lhes ter advertido para não dizerem a ninguém, tiveram voz para agradecer após a sua cura. Este episódio é o contrário da cura dos dez leprosos. Estes cegos juntos cantaram pedindo e juntos cantaram agradecendo.

 

2) Os cegos cantam por várias razões.

A compensação sensorial faz da música uma forma tradicional de expressão e subsistência para os cegos, pois sem a visão, a audição se torna um sentido mais apurado, e a música oferece um meio de vida, embora nem todo cego seja músico. De facto, a falta de visão pode levar a um desenvolvimento mais aguçado da audição, tornando a perceção de sons mais rica e detalhada, o que pode beneficiar a prática musical. Por outro lado, a música se torna um canal para expressar emoções e perceções que não dependem da visão, usando a memória auditiva e o tato. Ao cantarem, os cegos partilham o melhor que têm ou são.

 

3) Cantavam chorando e choravam rezando.

 

Cheguei à janela,

Porque ouvi cantar.

É um cego e a guitarra

Que estão a chorar.

 

Ambos fazem pena,

São uma coisa só

Que anda pelo mundo

A fazer ter dó.

 

Eu também sou um cego

Cantando na estrada,

A estrada é maior

E não peço nada.

 

(26-2-1931 – Poesias Inéditas, Fernando Pessoa)

 

Ver também:

Apesar de cegos seguiam Jesus

Não digas nada a ninguém

1 mestre, 2 cegos, 3 lições

Jesus é o segredo

Curar a cegueira

Vita dos cegos

Cegos que seguem Jesus

Acordeonista cego, Ben Shahn (1945)