domingo, 4 de dezembro de 2022

Uma história de Advento


Ano A – II domingo de advento

 

A minha história de advento


Era uma vez um ovo, tão branquinho, tão quentinho, aconchegado sob as asas de uma galinha. Era branco e puro como a neve e tinha um coração amarelo, ou seja, um coração de ouro. Era frágil, mas tinha resistido aos encontrões dos seus semelhantes e à gula de tantos sôfregos.

Por dentro deste ovo havia vida. Estava-se bem lá dentro, quentinho, bem nutrido, protegido. Havia um único constrangimento – a falta de espaço. Estava tudo tão arrumadinho, mas parecia que o ovo encolhia de dia para dia. Não, não era o ovo que encolhia, era sim um pintainho que crescia dentro do ovo. E a casca do ovo começou a dar de si, começou a estalar. O pintainho pensou que era o fim e que estava tudo perdido.

Eram já 21 dias que estava dentro daquela cápsula. Agora o pintainho precisava de mais espaço e de ar. Para ter vida precisava partir o ovo de dentro para fora, pois se alguém o partisse de fora para dentro, a sua vida acabaria. Com um pouco mais de esforço o ovo ficou em duas partes e o pintainho sentiu um ar fresco pela primeira vez.

Aleluia, aleluia! Bem-vindo ao mundo! Bem aparecido e bem parecido. Sou um pintainho bem perfeito, mas podem chamar-me Pintarolas. A princípio o Pintarolas respirava com dificuldade, pois o ar era muito, mas até que enfim que todo o espaço era seu. É certo que estava um pouco despenteado, mas sentia-se feliz por ter conseguido nascer, por ver a luz do dia, ou simplesmente por estar ali.

O Pintarolas olhou para um lado – que surpresa desagradável! Parecia que ninguém estava à sua espera, que nem havia lugar para ele. Tanto suspirou por aquele dia, mas afinal mais ninguém o esperou, ninguém o acolheu. Não era desejado nem amado. E o Pintarolas perguntava: Onde é que eu vim parar?!

Depois o Pintarolas olhou para o outro lado e viu-se ignorado. Que mundo indiferente e cruel! Cada um a pensar só em si. Tanta concorrência para ter mais, para viver à custa dos outros, para aproveitar mais. E o Pintarolas concluiu: Parece que estou a mais aqui. Este mundo não é o meu!

Que desilusão. Assim não dá. As coisas podiam ser diferentes. Sonhei tanto por este dia e só encontrei desprezo e ganância, oportunismo e consumismo. Este não é o mundo que eu esperava. Assim pensava o Pintarolas. E quis desistir e voltar atrás. Adeus mundo cruel.

E assim fez. Conseguiu fechar-se de novo na sua cápsula. Era acanhada e limitada, mas pelo menos era acolhedora e segura. Ali ficaria à espera de melhores tempos ou de outras condições para nascer de novo.

E o Pintarolas trancou-se com um cadeado. Deixou uma carta escrita (para ti cara bonita, como se canta por aqui) que dizia simplesmente: Preparei-me para me encontrar com os outros, mas ninguém mais se preparou para me acolher. Eu vim a este mundo, mas o mundo não me quis receber. Quem quiser encontrar-me procure a chave no seu coração.

Moral da história

É por isso que em cada advento se clama: Preparai o caminho do Senhor. Endireitai as suas veredas. O caminho do Senhor é a humanidade. A humanidade é o caminho do Senhor.

 

À margem:

Depois da luz verde do primeiro domingo, segue-se a luz amarela.

O amarelo é sinal de semáforo de precaução e de cuidado. Há que avançar com cuidado e atenção. Não basta ir em frente é preciso estar preparado e prevenido.

O amarelo é também sinal de amadurecimento. De há uma semana a esta parte passamos de verde a amarelo, isto é, fomos amadurecendo. Aguardamos a vinda do Senhor amadurecendo, apurando, melhorando a nossa vida.

Finalmente o amarelo é também a cor do ouro. Há que descobrir o nosso coração de ouro, o que temos de melhor que é o nosso coração de ouro.

 

Ver também:

Preparados e prevenidos

 

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