Pe. António Vieira
e o Pe. Dehon
1) Apresentação
Neste dia 18
de julho, quando em 1697 faleceu no Brasil com 89 anos o Pe. António Vieira,
podemos fazer sua memória através do Pe. Dehon.
O Pe. Dehon
tem do Pe. António Vieira um alto conceito.
Em dois
textos publicados, com base das anotações correspondentes das Notas Quotidianas,
um de 1906 e outra de 1916, o Pe. António Vieira é colocado no mais alto nível:
- Entre os grandes
missionários (que semearam a fé em todo o mundo)
- Entre os grandes
santos (que viveram e passaram pela América do Sul)
- Entre os promotores
da solidez da fé (dos brasileiros)
- Entre as glórias
da Companhia de Jesus (o melhor campo de ação da de toda a Companhia de
Jesus).
O Pe. Dehon
enquadra-o numa amplitude crescente:
- a partir do
Brasil,
- em toda a
América do Sul
- na
Companhia de Jesus,
- em todo o
globo.
O Pe. Dehon
ao visitar o Brasil (1906) ficou a conhecer in
loco a importância deste grande missionário cuja ação eficaz, passados três
séculos, ainda pôde verificar, ao constatar a solidez da fé por ele pregada.
Mais tarde
(1916) ao celebrar a festa de Santo Inácio, fundador da Companhia de Jesus, à
qual pertencia o Pe. António Vieira, não deixa de se lembrar de um dos seus
discípulos mais gloriosos a vários níveis: na santidade, na missão, na eficácia
e na fé.
2) Citações
- 1906 –
Muitos santos
viveram lá ou por lá passaram (Baía) em particular o venerável José Anchieta, o
Pe. Nóbrega, o seu companheiro, o santo mártir Inácio de Azevedo, que lá foi
como visitador, o venerável Pe. João de Almeida e mais tarde o Pe. Vieira. É a estes santos jesuítas que
se deve a fé tão sólida dos brasileiros. (NQ 21, Mille lieues dans l’Amerique
du Sud)
- 1916 –
Para nós é de
festa de um pai. Santo Inácio vislumbrou e preparou o Reino do Coração de
Jesus. Preguei hoje no convento das Irmãs e anotei algures a minha pequena
conferência: Santo Inácio, 31 de julho. As missões longínquas. Os índios
ocidentais ou da América foram um dos melhores campos de trabalho da Companhia
de Jesus. Pedro Claver e com ele Vieira,
José Anchieta e tantos outros semearam a fé em toda a América do Sul…(NQ 40, Julho
1916; INV. 27,03 B. 5/3, pp. 43-63, DIS 9050112/7 - Santo Inácio -
Saint-Quentin - Convento Irmãs Servas 31 de julho de 1916)
3) Afinidades
Provavelmente
o Pe. Dehon não conhecia muitos aspetos da vida e obra do Pe. António Vieira.
No entanto podemos constatar algumas coincidências em vários âmbitos da vida
destes dois homens da Igreja.
- Os
indígenas chamavam ao Pe. António Vieira PAIAÇU, que na língua Tupi, quer dizer
GRANDE PADRE ou GRANDE PAI.
Também o Pe.
Dehon era chamado pelos seus amigos e conhecidos LE TRÈS BON PÈRE, isto é, o
MUITO BOM PADRE ou O PAI MUITO BOM.
- O Pe.
António Vieira dedicou-se à defesa dos direitos humanos dos povos indígenas,
combatendo a exploração e a escravização dos índios do Brasil através da
evangelização.
O Pe. Dehon
foi também um apóstolo social, combatendo a exploração do povo mais humilde na
revolução industrial.
- O Pe.
António Vieira viveu uma vida ativíssima e vertiginosa: Nasceu em Portugal,
viveu sobretudo no Brasil onde morreu, 7 vezes atravessou o Atlântico, 2 vezes
visitou a Holanda, 2 vezes a França, outras 2 a Itália e 1 vez a Inglaterra.
O Pe. Dehon
também durante a sua vida vertiginosa viajou mais de 1.323 dias, isto é, 4 anos
da sua vida. Deu a volta ao mundo, cruzou o Atlântico 3 vezes, visitou todos os
países da Europa, norte de África, médio Oriente, América e Ásia.
Tanto um como
outro deram a volta ao mundo para que o mundo desse uma volta.
- O Pe.
António Vieira deixou mais de 700 cartas e 200 sermões. É considerado o
Imperador da Língua Portuguesa pela sua arte literária sem igual.
Também o Pe.
Dehon escreveu muito: mais de 5.000 cartas, postais e bilhetes, dezenas de
livros espirituais e outras tantas dezenas de livros sociais e ainda 45 cadernos
de diário ou notas quotidianas entre outras obras diversificadas.
Tanto um como
outro viveram com a pena na mão, escrevendo e fazendo história.
4) Mensagens paralelas
Apenas a
título de exemplo podemos traçar o paralelismo das mensagens do Pe. António
Vieira e o Pe. Dehon.
-
O valor das viagens
Assim
pregava o Pe. António Vieira: O ir pelo mundo não é
a mesma cousa para todos. Se o homem for sábio, é peregrinação; se for néscio,
é desterro. É peregrinação, se for sábio, porque terá muito que aprender do que
vir e experimentar, e será muito para ele a mesma peregrinação estudo. Pelo
contrário, se for néscio, não tirará outro fruto das terras que andar, senão
estar fora da pátria e isto propriamente é desterro. Quanto à peregrinação ela
é um dos livros que o mesmo espírito Santo inculcou para se aprender a
verdadeira sabedoria. Porque a geografia do mundo melhor se aprende vista no
mesmo mundo, que pintada no mapa.
Assim
ensinava o Pe. Dehon: Uma viagem bem feita, grande ou
pequena, vale mais do que uma outra recreação ou recompensa. É um estudo, e dos
melhores. Este gosto vale mais de que o círculo (convívio), o bilhar ou o
romance. As viagens bem feitas completam o estudo das humanidades… São um
complemento da educação.
As
viagens são uma fonte inesgotável de estudo As minhas viagens foram sempre um
estudo e uma peregrinação. Sempre tomei apontamentos. Servi-me disso para me
edificar e para edificar os outros.
-
Livro e espada
Assim
pregava o Pe. António Vieira: Por que traz Paulo em
uma mão o livro, noutra a espada? Por que Paulo entre todos os outros apóstolos
foi o vaso de eleição escolhido particularmente por Cristo para preparador dos
gentios – e quem tem por ofício a pregação e conversão dos gentios há de ter o
livro em uma mão, e a espada na outra: o livro para os doutrinar, a espada para
os defender.
Assim
ensinava o Pe. Dehon: O livro na mão esquerda e a espada na
mão direita. O livro, é a oração, é a leitura, o estudo pessoal feito na sua
mesa e o estudo comunitário feito no Círculo. A espada, é a luta, o ataque e a defesa;
é a ação social dos sindicatos, das caixas de crédito e dos secretariados do
povo. O livro e a espada, tais são, caros jovens, as armas do vosso brasão. A
igreja faz-vos seus cavaleiros.
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