Hoje celebra-se a Festa do Apóstolo São Tomé
1ª Reflexão
São Tomé, o dídimo ou gémeo.
É gémeo de quem? Não sabemos.
Mas se é gémeo deve ser gémeo de cada um de nós, pois somos parecidos com ele quer nas dúvidas quer na profissão de fé.
Já que ele é nosso gémeo, saibamos ser semelhantes a ele, sobretudo na fé.
2ª Reflexão
Felizes os que acreditam sem terem visto.
Santa Teresa de Ávila quis substituir o VER para CRER em CRER para VER. O Espírito vê o que crê porque crê o que vê.
Por vezes Deus tão acessível ao que sabe amar, esconde-se do que não sabe senão compreender. Mais vale um coração que ama do que uma inteligência que apenas sabe pensar.
É preciso amar para crer e crer para ver para que se chegue a ver o que se crê e crer o que se vê.
3ª Reflexão
Pregador incrédulo
Disse o Pe. António Vieira, no século XVII, no sermão sobre o Espírito Santo:
"Repreendeu Cristo aos discipulos da ncredulidade e dureza de coração, com que não tinham dado crédito aos que o viram ressuscitado e logo depois os mandou que fossem pregar por todo o mundo.
A São PEro coube-lhe Roma e Itália, a São João a Ásia Menor, a São Tiago a Espanha, a São mateus a Etiópia, a São Simão a Mesopotâmia, a São Judas Tadeu p Egipto, aos outros, outras províncias e finalmentea São Tomé esta parte da América em que estamos, Brasil.
Pergunto eu: E por que nesta repartição coube o Brasil a São Tomé e não a outro apóstolo?
Notam alguns autores que notificou Cristo aos apóstolos a pregação da fé pelo mundo, depois de os repreender da culpa da incredulidade, para que os trabalhos que haviam de padecer na pregação da fé fossem também em satisfação e em penitência da mesma incredulidade e dureza de coração que tiveram em não quererem crer. E como Tomé, entre todos os apóstolos, foi o mais culpado da incredulidade, por isso coube-lhe a missão do Brasil, porque onde fora maior a culpa, era justo que fosse mais pesada a penitência.
Os outros apóstolos, que foram menos cukpados na incredulidade, vão pregar aos gregos, aos romanos, aos etíopes, aos romanos... mas Tomé que teve a maior culpa, vai pregar aos gentios do Brasil...
Quando os portugueses descobriram o Brasil, acharam as pegadas de São Tomé estampadas em uma pedra, que hoje se vê nas praisa da Baía; mas rasto, nem memória da fé que pregou São Tomé, nenhum acharam nos homens.
Não se podia melhor provar e encarecer a barbárie da gente. Nas pedras, acharam-se rastos do pregados, na gente não se achou rasto da pregação; as pedras conservaram memórias do apóstolo, os corações não conservaram memória da doutrina.
A causa porque as não conservaram...
Não há gentios no mundo que menos repugnem à doutrina da fé, e mais facilmente a aceitem e recebam, que os brasis. É pena, não porque os brasis não creiam com muita facilidade, mas porque essa mesma facilidade com que creêm faz que o seu crer, em certo modo, seja como o não crer. Outros gentios são incrédulos até crer; os brasis, ainda depois de crer, são incrédulos. Em outros gentios a incredulidade é incredulidade, e a fé é fé; nos brasis a mesma fé ou é, ou parece incredulidade.
Tal é a fé dos brasis: é fé que parece incredulidade, e é incredulidade uqe parece fé; é fé, porque creêm sem dúvida e confessam sem repugnância tudo o que lhes ensinam, e parece incredulidade, porque com a mesma facilidade com que aprenderam, desaprendem, e com a mesma facilidade, com que creram, descreêm.
Assim lhe aconteceu a São Tomé com ele. Porque vos parece que passou São Tomé tao brevemente pelo Brasil, sendo uma região tão dilatada e umas terras tão vastas? É que receberam os naturias a fé que o santo lhes pregu com tanta facilidade e tão sem resistência nem impedimento que não foi necessário gastar mais tempo com ele. Mas tanto que o santo apóstolo pôs os pés no mar ou virou as coastas, no mesmo ponto se esqueceram os brasis de tudo quanto lhes tinha ensinado, e começaram a descrer ou a não fazer caso de quanto tinham crido.
Eis aqui a razão por que digo que é mais dificultosa de cultivar esta gentilidade que nenhuma outra do mundo: se os não assistis, perde-se o trabalho, como o perdeu Sao Tomé; e para se aproveitar e lograr o trabalho, há-de ser com outro trabalho maior, que é assisti-los; há-se de assistir e insistir sempre com ele, tornando a trabalhar o já trabalhado e a plantar o já plantado, e a ensinar o já ensinado, não levantando jamias a mão da obra, porque semre está por obrar, ainda depois de obrada.
Assim como Deus está sempre criando o criado, assim os mestes e pregadores hão-de estar sempre ensinando o ensinado, e convertendo o convertido, e fazendo o feito: o feito para que se não desfaça; o convertido, para que se não perverta; o ensinado, para que se não esqueça; e finalmente, ajudando a incredulidade nºao incrédula, para que a fé seja fé não infiel...
Sem comentários:
Enviar um comentário