IV
A
fé é ainda a luz e a chave da história. A história do mundo, é a história da
acção providencial de DEUS sobre a terra. Só este verdadeiro ponto de vista
torna grandes os historiadores. Mais especialmente a história do mundo é a
história de CRISTO, Cristo anunciado, Cristo revelado, Cristo lutando e
reinando. Fora desta luz, todo o historiador é pequeno e todo o ensino da
história é miserável.
Vós
podereis encontrar agradáveis descrições, investigações exactas, cronologia,
factos, episódios, mas não encontrareis a história.
A
história não se compreende senão através de CRISTO. Só tem sentido quando
converge toda para Ele; sem Ele, que é a marcha das nações através dos séculos?
Uma confusão de povos que se empurram no espaço e no tempo, por caminhos sem
saída e sem luz.
O
povo hebreu anuncia e prepara o Messias.
Os
grandes impérios levam o mundo à unidade e centralizem-no em Roma sua capital,
para facilitar a fundação e o triunfo da Igreja. A vida dos povos modernos, é a
luta de CRISTO contra os seus inimigos. O Pai prometeu-Lhe as nações. CRISTO
conquista-as uma a uma.
Por
vezes perde-as parcialmente, mas é para fazer brilhar a sua glória com uma nova
conquista.
Isto
é a história. A sua luz é CRISTO, o calvário e Roma são os seus cumes.
Agora,
dizei-me, que grandeza e que verdade podem ter os ensinamentos de mestres de
história que não têm profundamente o sentido cristão?
A
antiguidade pagã teve historiadores gloriosos. Mas em quantos aspectos estes
génios da história pagã foram pequenos e imperfeitos!
Santo
Agostinho na Cidade de Deus, Salvien
no seu Governo Divino, e Sulpício
Severo na sua História, tinham preparado o caminho ao herói da história cristã,
o nosso Bossuet.
Bossuet
é o tipo mais perfeito do historiador. Não basta dizer que deu à sua história o
brilho da política como Tucídides, da moral como Xenofonte, da eloquência como
Tito-Lívio, da pintura dos caracteres como Tácito. Toda a sua glória vem da
elevação das suas vistas, que parece ter tanto de inspiração como de fé.
Lamentavelmente
os mais eminentes escritores da restauração cristã, no século XIX, não voltaram
os seus esforços intelectuais para o campo da história.
Chateaubriand
e José de Maistre, foram os únicos que mostraram através de alguns breves
trabalhos, que eram da grande escola histórica cujo brilhante mestre foi
Bossuet.
Eles
foram no entanto seguidos mais tarde por Montalembert, Ozanan, de Broglie, e
todo um período de historiadores e hagiógrafos que honraram a Igreja.
Numa
página admirável, Chateaubriand dá-nos ao mesmo tempo a norma e o modelo de
como escrever a história.
“Coloquemos
pois, diz ele, a eternidade como fundo da história dos tempos; relacionemos
tudo com Deus, como causa universal. Exalte-se quanto se quiser aquele que,
deslindando os segredos dos nossos corações, faz surgir os maiores
acontecimentos das fontes mais miseráveis: DEUS atento aos reinos dos homens; a
impiedade, isto é a ausência das virtudes morais, como razão imediata das
desgraças de todos os homens. Tal é, segundo o que nos parece, uma história
muito mais nobre e também muito mais correcta do que a primeira.
E
para nos mostrar um exemplo na nossa Revolução, digam-nos se foram causas
normais as que, com o decurso de alguns anos, desnaturalizaram os nossos
afectos e afectaram entre nós a simplicidade e a grandeza peculiares do coração
do cristão. Tendo-se retirado o espírito de DEUS do meio do povo, só resta
força da queda original, que retomou o seu domínio, como no dia de Caim e da
sua raça. Quem quisesse ser razoável sentia em si alguma impotência para o bem.
A bandeira vermelha flutua nas muralhas das cidades, a guerra é declarada às
nações: cumprem-se então as palavras do Profeta: “Os ossos dos reis de Judá, os
ossos dos sacerdotes, os ossos dos habitantes de Jerusalém serão retirados da
sua sepultura.” Réu contra os soberanos, calca-se aos pés as instituições
antigas; réu contra as esperanças, nada se funda para a posteridade!...
Enquanto
este espírito de perda devora interiormente a França, um espírito de salvação
defende-a a partir de fora. Ela só tem prudência e grandeza nas suas
fronteiras: no interior tudo é arrasado, no exterior tudo triunfa. A pátria já
não está nos seus lares, ela está num campo do Reno como na época da raça
Merovíngia.
Uma
semelhante combinação de coisas não tem princípio natural nos acontecimentos
humanos. O escritor religioso pode só descobrir aqui um profundo desígnio do
Altíssimo; se as potências coligadas quisessem somente deter as violências da
Revolução e deixar depois a França reparar os seus males e os seus erros,
talvez tivessem conseguido. Mas DEUS viu a iniquidade dos acontecimentos, e
disse ao soldado estrangeiro: “Quebrarei a espada na tua mão e tu não
destruirás o povo de São Luís.”
Assim
a religião conduz à explicação dos factos mais incompreensíveis da história.
Depois
destas páginas é-me permitido ainda exclamar: “Em história, o cristianismo não
é cegueira, é altura e extensão do olhar.”
Mas
detive-me a tratar uma questão muito vasta e muito geral, e nada disse acerca
da nossa obra em particular, do seu passado tão curto e do seu futuro cheio de
esperanças.
Ainda
não dirigi à distância um testemunho de gratidão e de filial devoção ao nosso
Bispo e não agradeci ao Monsenhor Arcipreste seu delegado, cuja solicitude pela
nossa obra é contínua. Não vos tranquilizei acerca da perpetuidade da obra e do
seu desenvolvimento.
Mas
tenho eu necessidade de me alongar sobre este ponto? Não envio eu hoje mesmo
pelo nosso departamento uma centena de mensageiros fiéis e abnegados que vão
contar o que viram e ouviram, a entrega do superior e dos professores à sua
obra, os esforços realizados, os projectos preparados e as esperanças comuns?
Deixo-lhes
o cuidado de colmatar nas confidências íntimas do lar paterno esta segunda
parte da minha tarefa. Eles o conseguirão com a eloquência que a alegria
resultante dum ano bem cheio e o afecto que dedicaram aos seus mestres.
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