terça-feira, 1 de outubro de 2019

Há 75 anos


Faz hoje 75 anos que foi martirizado o Padre Nicola Martino Capelli (1912-1944) dehoniano da Itália.





















Queria ser missionário, morreu mártir.
De facto todos os missionários são mártires
e todos os mártires são missionários.
Nasceu em Nembro, na província de Bérgamo; foi ordenado sacerdote em 1938, em Bolonha, e sonhava poder ir para as missões da China, projeto missionário da Província Italiana, cedo abandonado.
Os seus superiores decidiram mandá-lo para Roma, por causa de seus brilhantes resultados escolares.
“Esperava ir para as missões; em vez disso estou condenado a terminar a minha vida numa cátedra de sala de aula” (P. Capelli, numa carta de 24.10.1939).
Foi, pois, para Roma, onde estudou no Instituto Bíblico e na Urbaniana, obtendo a 10 de Julho de 1942 a licenciatura em teologia “cum laude”. Em 1943, deixou Roma para ensinar Sagrada Escritura e História Eclesiástica no escolasticado de Castiglione (perto de Bolonha), para onde tinha sido transferido todo o escolasticado de Bolonha por motivos de segurança. Esse lugar, porém, não era tão seguro quanto se pensava. Quando as tropas dos aliados e dos alemães com os fascistas italianos ali chegaram, a região transformou-se no tristemente conhecido “triângulo da morte”.
O P. Capelli chegou exatamente no dia 19 de Setembro de 1943 a Castiglione na qualidade de “novo professor”, como regista o cronista do escolasticado. Segundo a opinião dos alunos, ele conseguia interessá-los pela sua matéria, era cordial com os estudantes. Nos pequenos conflitos “sempre se mantinha do lado dos estudantes contra os superiores; era também muito simpático, cordial connosco, porém, tinha muitas dificuldades com a direção…” (P. Remo Canal, testemunho de 1987).
Uma grande devoção mariana, o sonho das missões, uma esplêndida capacidade inteletual e, depois, a descoberta do entusiasmo pastoral, quando foi chamado para ajudar os padres nos arredores de Castiglione: eis alguns traços da personalidade de P. Capelli.
A 23 de Junho de 1944, os alemães ordenaram o despejo da casa de Castiglione para transformá-la em hospital militar. A presença de tropas alemãs no grande edifício do escolasticado tornou ainda mais perigosa a convivência, além da confusão. Os padres foram para as várias paróquias da região. Em 6 de Julho de 1944, a comunidade de Castiglione transferiu-se para Burzanella, perto de Castiglione.
A 18 de Julho de 1944, de manhã, ouviram-se tiros de metralhadora: um grupo de alemães cercou o lugarejo e queimou algumas casas que estariam escondendo os rebeldes e fizeram um pente-fino, capturando 5 italianos, supostos “partigiani”. Os padres Agostini e Capelli pediram clemência para aqueles pobres jovens. Três foram libertados, os outros dois foram condenados. “Estavam para ser fuzilados quando os padres intervêm para que eles se pudessem confessar. E ali, no campo, os dois ajoelham-se diante de todos e fazem a sua confissão. Um com o P. Capelli, outro com o pároco…
Logo depois, entre lágrimas e soluços dos presentes, abraçam-se e beijam-se. Ainda um minuto e os seus corpos caem sem vida atingidos na nuca pelos tiros disparados a poucos palmos de distância” (Missionário frustrado…, p. 69).
A 20 de Julho, o P. Capelli foi para Salvaro ajudar Mons. Mellini, velho pároco. Com a chegada do salesiano, P. Elia Comini, com o qual ficará unido até a morte, o P. Capelli pôde aceitar vários compromissos de pregação que lhe foram solicitados pelos párocos dos arredores. Ministério cansativo e perigoso. Em Setembro de 1944, os aliados, transposta a linha defensiva alemã (linha gótica), chegaram a poucos quilómetros de Monte Sole. A presença de um forte contingente da resistência – 700 a 800 homens – era para o exército alemão um grande perigo, porque podiam trazer graves dificuldades às operações militares. Por isso, foi dada a ordem de aniquilar a brigada “Stella Rossa”. A 29 de Setembro de 1944, o território foi cercado pelo exército alemão e pelas SS, que, com a colaboração dos fascistas, sem nenhuma discriminação, eliminaram toda a população. Foram mortas 770 pessoas das quais 216 eram crianças e 316 mulheres.
O martírio do P. Capelli insere-se nesse contexto horrível. Duas vezes recusou os conselhos dos confrades e dos superiores para abandonar aquela região e colocar-se a salvo. Recusa que alguns confrades interpretaram como desobediência – mesmo se por motivos nobres – conforme o carácter crítico do P. Capelli. Recusa em que outros viram a escolha de permanecer fiel a uma missão e a um povo, o de Salvaro.

Morrendo e abençoando
Abençoando e morrendo
No dia 29 de Setembro de 1944, quando iam socorrer um ferido, o P. Capelli e o P. Comini, tidos como espiões, foram presos pelos alemães. Os soldados serviram-se deles para o transporte de munições, fazendo-os subir e descer o monte sob a vigilância deles. Foram depois trancados, juntamente com um numeroso grupo de outros prisioneiros, numa estrebaria da fiação de Pioppe de Salvaro. Depois de dois dias de cruel prisão, no primeiro domingo de Outubro, o P. Capelli e o P. Comini, junto com 44 prisioneiros, foram levados ao tanque da fiação e ali foram trucidados pelas metralhadoras das SS nazistas. Alguns, fingindo-se mortos sob o monte dos cadáveres, conseguiram salvar-se, depois da saída dos soldados alemães. Será um deles que recordará o último gesto sacerdotal do P. Martino: ferido mortalmente, ergueu-se com dificuldade, pronunciou ainda algumas palavras e deu a bênção. Fazendo aquele último gesto de bênção, caiu com os braços em cruz. Tinha 32 anos. Todos os vestígios dele e dos outros mortos se perderam, alguns dias depois quando foram abertas as entradas do tanque e a água arrastou os corpos para o rio Reno.

No cemitério de Salvaro, a lápide dedicada ao P. Martino resume o testemunho a sua vida:
Ninguém tem amor maior
Do que aquele que dá a vida
P. Nicola Martino Capelli
Revelou a sua vida
Na grandeza da sua morte
Simplesmente mártir.


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