quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A comunidade de Agostinho


Memória de Santo Agostinho, Século V

Bispo e Doutor da Igreja

A vida em comunidade

Depois da sua conversão e batismo (24 de abril de 387), Santo Agostinho decidiu-se por um total empenhamento cristão. Voltando a Tagaste fundou uma pequena comunidade monástica, dedicada ao serviço de Deus através do “desapego de toda a propriedade pessoal, do exercício da mortificação, da prática da ascese e do empenhamento no apostolado.” Mesmo depois de sacerdote continuou a viver em comunidade monástica.

Nas suas Confissões (L.IV, c. 8, nº 13) Santo Agostinho, já como bispo, fez a descrição saborosa da Comunidade:

- Rezar juntos, mas também falar e rir juntos;

- Fazer favores uns aos outros;

- Ler juntos um livro, bem escrito;

- Brincar juntos e juntos estar sérios;

- Discordar, por vezes, sem agressividade, e aproveitar esta rara discordância para aprofundar o consenso habitual;

- Aprender alguma coisa uns com os outros e ensinar alguma coisa uns aos outros;

- Sentir falta e saudade dos ausentes.

- Acolher os que chegam de fora com alegria e manifestações de carinho, expressas no rosto, na fala, nos olhos, em gestos de ternura;

- E preparar bem a comida, para que as almas se unam em conjunto e várias pessoas não seja, senão uma.

 

O Salmo preferido de Santo Agostinho

Uma das grandes obras de Santo Agostinho versa o Livro dos Salmos – Enarrationes in Psalmos, que começou a compor em 392, antes de ser bispo.  Aí encontramos os conteúdos e as características da sua pregação. Sobressaem a extraordinária riqueza de temas, linguagem pronta e popular, realismo na evocação e representação, forte carga humana.

Qual será então o salmo preferido de Santo Agostinho?

A liturgia do dia apresenta o salmo 118 (119) 9-16:

Como há de o jovem manter puro o seu caminho?

Guardando as vossas palavras.

De todo o coração Vos procuro,

Não me deixeis afastar dos vossos mandamentos.

De facto, podemos ver a relação entre este salmo e a frase mais importante de Santo Agostinho, que inspira a oração própria da memória ou antífona das Laudes:

- Porque nos criastes para Vós, e o nosso coração está inquieto enquanto não descansa em Vós.

Mas se perguntarmos ao próprio Agostinho qual o seu salmo preferido responderá que é o Salmo 31(32) – Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa e absolvido o pecado.

A liturgia cristã colocou desde o século VI este salmo na lista dos 7 salmos penitenciais (juntamente com 6, 37, 50, 101, 102, 142).

Santo Agostinho tinha grande apreço por este salmo. Fixou uma cópia na parede do seu quarto diante do seu leito. E lia-o entre lágrimas. O que lhe trazia grande paz e conforto sobretudo durante os últimos tempos da sua doença de que viria a falecer.

Curiosidade

Alguém natural de Braga foi colaborador direto de Santo Agostinho.

Trata-se de Orósio de Braga que terá “exercido a sua atividade profissional como presbítero” junto de Agostinho. Chegando da longínqua periferia hispânica, Orósio de Braga entrou em cena nos anos 414 a 417, ao privar com os dois protagonistas do momento: Santo Agostinho, em Hipona, e São Jerónimo, em Belém. Publicou logo à chegada a África a obra Comunitório, escrito, segundo o próprio Orósio, a pedido de Agostinho. É dedicado ao “Beatíssimo Padre Agostinho, Bispo”, com o título completo – Consulta ou relação de Orósio a Agostinho sobre o erro dos priscilianistas e dos origenistas.  Publicou ainda outra obra, Livro Apologético – Livro Apologético de (Paulo) Orósio Presbítero contra Pelágio – Da liberdade do Alvidrio.

Numa Epístola (166) Santo Agostinho confirmou: “Eis que veio ter comigo um jovem religioso, irmão na comunhão católica, como que meu filho quanto à idade mas colega – no presbiterado – quanto à dignidade; de engenho vivo e palavra pronta, de temperamento ardente e dedicado, desejando ser alfaia útil na Casa do Senhor, em repelindo as falsas e perniciosas doutrinas que, mais dolorosamente do que o ferro dos bárbaros, feriram as almas dos hispânicos… Movido pela fama, veio das praias do Oceano, para ouvir de nós tudo o que quisesse acerca do que desejava saber.”

A sua presença junto de Agostinho é explicada apenas pelo desejo de saber mais.

Assim termina o Livro Apologético: Por mim, declaro diante de Jesus Cristo que odeio a heresia e não o herege. Mas, entretanto, como é de justiça. Evito o herege por causa da heresia (e, de facto, não só lhe fiz frente, como lhe dei assalto). Oxalá ele a renegue, oxalá a condene, não só por palavras, mas também, por obras, e a todos ficará ligado pelo vínculo da fraternidade, pois está escrito: Suportai uns aos outros vossos fardos, que assim cumprireis a lei de Cristo.

 

Ver também:

Tolle, lege, toma e lê

Coração inquieto

Salmo 22 de Santo Agostinho

Tríplice conversão

Agostinho é o seu nome

Lição do Doutor Agostinho

Agostinho de Hipona

 

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