Memória
de Santo Agostinho, Século V
Bispo e Doutor da Igreja
A
vida em comunidade
Depois
da sua conversão e batismo (24 de abril de 387), Santo Agostinho decidiu-se por
um total empenhamento cristão. Voltando a Tagaste fundou uma pequena comunidade
monástica, dedicada ao serviço de Deus através do “desapego de toda a
propriedade pessoal, do exercício da mortificação, da prática da ascese e do
empenhamento no apostolado.” Mesmo depois de sacerdote continuou a viver em
comunidade monástica.
Nas
suas Confissões (L.IV, c. 8, nº 13) Santo Agostinho, já como bispo, fez a
descrição saborosa da Comunidade:
-
Rezar juntos, mas também falar e rir juntos;
-
Fazer favores uns aos outros;
-
Ler juntos um livro, bem escrito;
-
Brincar juntos e juntos estar sérios;
-
Discordar, por vezes, sem agressividade, e aproveitar esta rara discordância
para aprofundar o consenso habitual;
-
Aprender alguma coisa uns com os outros e ensinar alguma coisa uns aos outros;
-
Sentir falta e saudade dos ausentes.
-
Acolher os que chegam de fora com alegria e manifestações de carinho, expressas
no rosto, na fala, nos olhos, em gestos de ternura;
-
E preparar bem a comida, para que as almas se unam em conjunto e várias pessoas
não seja, senão uma.
O
Salmo preferido de Santo Agostinho
Uma
das grandes obras de Santo Agostinho versa o Livro dos Salmos – Enarrationes
in Psalmos, que começou a compor em 392, antes de ser bispo. Aí encontramos os conteúdos e as
características da sua pregação. Sobressaem a extraordinária riqueza de temas,
linguagem pronta e popular, realismo na evocação e representação, forte carga
humana.
Qual
será então o salmo preferido de Santo Agostinho?
A
liturgia do dia apresenta o salmo 118 (119) 9-16:
Como
há de o jovem manter puro o seu caminho?
Guardando
as vossas palavras.
De
todo o coração Vos procuro,
Não
me deixeis afastar dos vossos mandamentos.
De
facto, podemos ver a relação entre este salmo e a frase mais importante de
Santo Agostinho, que inspira a oração própria da memória ou antífona das
Laudes:
-
Porque nos criastes para Vós, e o nosso coração está inquieto enquanto não
descansa em Vós.
Mas
se perguntarmos ao próprio Agostinho qual o seu salmo preferido responderá que
é o Salmo 31(32) – Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa e absolvido o
pecado.
A
liturgia cristã colocou desde o século VI este salmo na lista dos 7 salmos
penitenciais (juntamente com 6, 37, 50, 101, 102, 142).
Santo Agostinho tinha grande apreço por este salmo. Fixou uma cópia na parede do seu quarto diante do seu leito. E lia-o entre lágrimas. O que lhe trazia grande paz e conforto sobretudo durante os últimos tempos da sua doença de que viria a falecer.
Curiosidade
Alguém
natural de Braga foi colaborador direto de Santo Agostinho.
Trata-se
de Orósio de Braga que terá “exercido a sua atividade profissional como
presbítero” junto de Agostinho. Chegando da longínqua periferia hispânica,
Orósio de Braga entrou em cena nos anos 414 a 417, ao privar com os dois
protagonistas do momento: Santo Agostinho, em Hipona, e São Jerónimo, em Belém.
Publicou
logo à chegada a África a obra Comunitório, escrito, segundo o próprio Orósio, a
pedido de Agostinho. É dedicado ao “Beatíssimo Padre Agostinho, Bispo”, com o
título completo – Consulta ou relação de Orósio a Agostinho sobre o erro dos
priscilianistas e dos origenistas. Publicou
ainda outra obra, Livro Apologético – Livro Apologético de (Paulo) Orósio
Presbítero contra Pelágio – Da liberdade do Alvidrio.
Numa
Epístola (166) Santo Agostinho confirmou: “Eis que veio ter comigo um jovem
religioso, irmão na comunhão católica, como que meu filho quanto à idade mas
colega – no presbiterado – quanto à dignidade; de engenho vivo e palavra
pronta, de temperamento ardente e dedicado, desejando ser alfaia útil na Casa
do Senhor, em repelindo as falsas e perniciosas doutrinas que, mais
dolorosamente do que o ferro dos bárbaros, feriram as almas dos hispânicos…
Movido pela fama, veio das praias do Oceano, para ouvir de nós tudo o que
quisesse acerca do que desejava saber.”
A
sua presença junto de Agostinho é explicada apenas pelo desejo de saber mais.
Assim
termina o Livro Apologético: Por mim, declaro diante de Jesus Cristo que odeio
a heresia e não o herege. Mas, entretanto, como é de justiça. Evito o herege
por causa da heresia (e, de facto, não só lhe fiz frente, como lhe dei
assalto). Oxalá ele a renegue, oxalá a condene, não só por palavras, mas
também, por obras, e a todos ficará ligado pelo vínculo da fraternidade, pois
está escrito: Suportai uns aos outros vossos fardos, que assim cumprireis a lei
de Cristo.
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