Ano A – XXVII domingo comum
É fácil identificar os traços biográficos de
Jesus patentes nesta parábola dos vinhateiros assassinos.
Jesus é o filho daquele proprietário que
enviou os seus mensageiros para zelar pela sua vinha. Depois de várias
tentativas sem sucesso, enviou o seu próprio Filho, Jesus, que levaram à morte…
É mais difícil identificarmo-nos com as
restantes personagens da parábola.
Mas esta parábola fala de mim, de cada um de
nós. Eu sou aquele que devia dar frutos de vida eterna e que muitas vezes não
aceito os mensageiros de Deus, que se apresentam quando menos espero, nem o seu
Filho, que não vem ao som da trombeta e sobre as nuvens, mas disfarçado de
enfermo, de ancião, pessoa com fome, migrante ou sem vez nem voz na sociedade.
Com certeza que não os mato, mas ignoro-os ou desvio o olhar para o lado.
Dois exemplos:
1 – Contado pelo cardeal Seán O’Malley, de
Boston
Certo dia, o Arcebispo de Nova Iorque
recebeu, pelo telefone interno, a chamada de uma rececionista que tinha acabado
de ser contratada para o secretariado.
- Eminência, está aqui um homem na entrada
que diz ser Jesus Cristo. O que é que eu faço?
O arcebispo respondeu:
- Dê a impressão de estar muito ocupada!
Embora as palavras do arcebispo mereçam um
sorriso, num outro registo, são justíssimas. O sem-abrigo esquizofrénico, fora
do seu juízo, que diz ser Jesus Cristo, é de facto Jesus Cristo em aparência
confrangedora.
Reconhecemos Cristo presente na sua Igreja,
no seu povo. Não temos de parecer ocupados, temos mesmo é de estar ocupados a
cumprir o grande mandamento que Ele nos deu, de continuarmos a sua missão.
2 – Contado por um peregrino russo, do século
XIX
Depois de me analisar
atentamente cheguei à conclusão que não amo a Deus, não amo o próximo, sou
orgulhoso e ambicioso – Não amo a Deus porque se o amasse, pensava
permanentemente nele, sentiria um grande prazer e deleitar-me ia sempre que
pensasse em Deus. Ao contrário penso com mais frequência e com mas Vontade nos
acontecimentos diários e o pensamento em Deus dá-me trabalho e frieza. Se eu o
amasse, então a minha conversa com Ele seria o meu alimento, deleitar-me-ia e
levar-me-ia ao permanente contacto com Ele. Mas eu não só não me deleito com a
oração como ainda sinto que me dá trabalho. Quem ama alguém pensa nele todo o
dia, imagina-o, ocupa-se dele, e esse alguém não lhe sai do pensamento.
Dificilmente dispenso uma hora durante o dia para me entregar profundamente ao
pensamento de Deus, sentir prazer com o seu amor. No entanto durante as outras
23 horas entretenho-me com os meus ídolos preferidos.
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