domingo, 4 de outubro de 2020

Parábola autobiográfica


Ano A – XXVII domingo comum

É fácil identificar os traços biográficos de Jesus patentes nesta parábola dos vinhateiros assassinos.

Jesus é o filho daquele proprietário que enviou os seus mensageiros para zelar pela sua vinha. Depois de várias tentativas sem sucesso, enviou o seu próprio Filho, Jesus, que levaram à morte…

É mais difícil identificarmo-nos com as restantes personagens da parábola.

Mas esta parábola fala de mim, de cada um de nós. Eu sou aquele que devia dar frutos de vida eterna e que muitas vezes não aceito os mensageiros de Deus, que se apresentam quando menos espero, nem o seu Filho, que não vem ao som da trombeta e sobre as nuvens, mas disfarçado de enfermo, de ancião, pessoa com fome, migrante ou sem vez nem voz na sociedade. Com certeza que não os mato, mas ignoro-os ou desvio o olhar para o lado.

 

Dois exemplos:

 

1 – Contado pelo cardeal Seán O’Malley, de Boston

Certo dia, o Arcebispo de Nova Iorque recebeu, pelo telefone interno, a chamada de uma rececionista que tinha acabado de ser contratada para o secretariado.

- Eminência, está aqui um homem na entrada que diz ser Jesus Cristo. O que é que eu faço?

O arcebispo respondeu:

- Dê a impressão de estar muito ocupada!

Embora as palavras do arcebispo mereçam um sorriso, num outro registo, são justíssimas. O sem-abrigo esquizofrénico, fora do seu juízo, que diz ser Jesus Cristo, é de facto Jesus Cristo em aparência confrangedora.

Reconhecemos Cristo presente na sua Igreja, no seu povo. Não temos de parecer ocupados, temos mesmo é de estar ocupados a cumprir o grande mandamento que Ele nos deu, de continuarmos a sua missão.

 

2 – Contado por um peregrino russo, do século XIX

Depois de me analisar atentamente cheguei à conclusão que não amo a Deus, não amo o próximo, sou orgulhoso e ambicioso – Não amo a Deus porque se o amasse, pensava permanentemente nele, sentiria um grande prazer e deleitar-me ia sempre que pensasse em Deus. Ao contrário penso com mais frequência e com mas Vontade nos acontecimentos diários e o pensamento em Deus dá-me trabalho e frieza. Se eu o amasse, então a minha conversa com Ele seria o meu alimento, deleitar-me-ia e levar-me-ia ao permanente contacto com Ele. Mas eu não só não me deleito com a oração como ainda sinto que me dá trabalho. Quem ama alguém pensa nele todo o dia, imagina-o, ocupa-se dele, e esse alguém não lhe sai do pensamento. Dificilmente dispenso uma hora durante o dia para me entregar profundamente ao pensamento de Deus, sentir prazer com o seu amor. No entanto durante as outras 23 horas entretenho-me com os meus ídolos preferidos.

 

Ver também:

Virtudes gémeas

 

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