Diário de setembro de
1914
Hoje
começa o Conclave??? Uno as minhas orações às da Igreja.
Dia
1, dia de tristeza e incerteza. Os feridos e os mortos recolhidos no campo de
batalha continuam a afluir. Nós damos o nosso apoio a uma ambulância da Cruz.
Todas as ambulâncias ficam cheias. Muitas notícias falsas se propagam na
cidade, sobretudo as notícias alarmantes.
Torna-se
difícil alimentar-se. Faltam provisões.
Releio
as vidas de almas vítimas do Coração de Jesus: Maria de Jesus, Maria Steiner,
Maria Brotel. Que belos exemplo de vida interior, de união com Nosso Senhor, de
abandono e imolação!
Dia
2. Segundo dia do Conclave? Aniversário de Sedan.
Os
nossos Oficiais vão embora. Estiveram aqui três dias e não tivemos nada a
reclamar deles. Eles esperam estar em breve em Paris...
Dia
3. O tempo está ótimo, mas todas as mentes estão inquietas e tristes. A justiça
de Deus passa, a sua misericórdia continuará.
Não
ouvimos mais os canhões. Muitos feridos padecem nas nossas ambulâncias. Deus
concederá a sua graça quando expiação for suficiente.
Dia
4. O silêncio de uma cidade ocupada é doloroso para as nossas mentes ávidas de
notícias.
Esta
é a primeira sexta-feira do mês. Retiro, leituras piedosas, confiança no
Coração de Jesus. Apesar de todas as nossas faltas, Nosso Senhor terá
misericórdia de nós.
Releio
a vida da Irmã Teresa do Menino Jesus e da piedosa Maria Brotel, desejo este
espírito de simplicidade e de infância espiritual que tanto agrada ao Nosso
Senhor.
Dia
5 e 6. A mesma situação. Leio as vidas dos santos, rezo, escrevo apontamentos
sobre o Coração de Jesus.
Dia
7. Vou à cidade, que espetáculo! As pessoas do povo desempregadas e miseráveis,
feridos transportados daqui para ali, a pé, de carro, mas os chefes em
automóveis. As casas estão fechadas. A ira de Deus passa, o povo não parece
compreender bem isso.
Dia
8. Bonita festa da Natividade de Maria. Peço à boa Mãe para restaurar a paz no
mundo cristão.
Bento XV
Recebo
hoje a notícia da nomeação do novo Papa, Bento XV. É o cardeal Della Chiesa,
arcebispo de Bolonha, que é um dos nossos amigos. Era o confidente e auxiliar
de Leão XIII e do Cardeal Rampolla.
Dias
9 e 10. Dias de espera, sem notícias. Leio e escrevo sobre o Coração de Jesus.
Dia
12. Festa do Santo Nome de Maria. Esta festa lembra a proteção conferida por
Maria às nações católicas...esperemos.
Aniversário
Dia
14. Exaltação da Santa Cruz. Há 36 anos que esta casa do Coração de Jesus foi
fundada sobre a Cruz. Quanto sofri lá de todas as maneiras, como isso me foi
proveitoso! Humilhações, doenças, pobreza, contradições... depois a
perseguição, as expulsões, e hoje a guerra! Fiat!
Mas
também, eu tive muitas graças: graças sensíveis especialmente no início, e quantas
obras saídas daqui e abençoados pela Providência.
É
um dia de arrependimento e gratidão. Tenho a impressão que Nosso Senhor quer
ainda hoje tudo perdoar.
Os
canhões rugem ainda, é provavelmente o início de uma nova série de combates
terríveis.
Estando
nós mais numerosos em casa desde que a guerra começou, retomámos o costume de
bênção diária do Santíssimo Sacramento. É uma grande consolação nesta confusão.
Dia
15. Bombardeamentos distantes.
Dia
16. Bombardeamentos muito próximos e intensos na parte da tarde pelas 4 horas.
É tudo perto da cidade e esperamos a entrada do exército aliado. Oração e
confiança na Providência.
Dia
17. Continua a falta de notícias. Nem uma publicada desde há três semanas.
Continuam os bombardeamentos e tiroteios ao longe.
Delicio-me
na leitura de um pequeno livro sobre a comunhão espiritual do meu santo amigo
Pe. Francisco de Vouillé. É uma pequena brochura a divulgar. Podemos facilmente
usar este método de comunhão espiritual nas nossa práticas de união com os
mistérios de Nosso Senhor, nas diversas horas do dia.
Dia
18. Devíamos estar em retiro e na véspera do Capítulo. Esta guerra é uma grande
prova para a nossa Congregação, e provavelmente vai durar também muito tempo.
Que o Divino Coração de Jesus e Maria Mãe de Misericórdia venham em nosso
auxílio!
La Salette
Dias
19-20. Aniversário de La Salette. 1846 é a data à qual remontam as minhas mais
antigas recordações. Eu era pequeno: três anos e meio. A minha mãe e as minhas
tias estavam a conversar sobre a aparição da Virgem de La Salette, com
lágrimas, com medo de castigo para a França.
O
castigo veio várias vezes. Mas as lágrimas de Maria suscitaram um florescimento
de obras de penitência e reparação. Várias comunidades nasceram desta
mentalidade criada por Nossa Senhora de La Salette. A nossa também é-o também
inspirada em parte. Possa a medida da reparação ser em breve suficiente, para
que Nosso Senhor nos conceda a graça por intercessão de Maria!
Entretanto,
continuamos retidos em São Quintino. É o 23º dia e os ocupantes tornam-se mais
duros.
A comunhão espiritual
Dias
21-22-23. Ainda a reclusão. A comunhão espiritual. De manhã, rezo a Santa Maria
e a São José para me emprestar o Menino Jesus, como eles O emprestaram a Santa
Gertrudes, a Margarida Maria, Santo António de Pádua, Santo Estanislau, São
Caetano de Thiene. Às três da tarde viro-me para a ferida do lado de Jesus,
como Santa Maria e São João no Calvário, como São Francisco e São Paulo da
Cruz. Na adoração da tarde como na Ação de Graças da manhã, tento descansar a
minha cabeça sobre o Coração de Jesus, como o Apóstolo São João e os santos do
Coração de Jesus.
Dia
de emoção, os ocupantes desejam levar todos os homens dos 18 aos 48 anos. Três
dos nossos foram tomados. À noite, Nossa Senhora da Misericórdia deu uma
ajudinha e surgiu uma contraordem.
No
dia 25 tivemos de alojar cinco franciscanos de Vestefália, um padre e quatro
irmãos, gente boa com boa conduta. Eles vêm fazer o serviço de enfermagem. Eles
conhecem as nossas obras da Alemanha.
Dia26.
A batalha aproxima-se. Ouvem-se os canhões nos dois lados da cidade. Trazem
muitos prisioneiros e feridos.
Despertar da fé
Todas
as pessoas rezam um pouco. Pedem medalhas, acendem círios a Nossa Senhora dos
Exércitos. Há aqui um pouco de fé, um pouco de superstição e um instinto
natural: o homem é um animal religioso. Deus é infinitamente misericordioso,
contentar-se-á talvez um pouco. Ao lado disto há almas tão boas, que rezam
muito sinceramente.
O
ministério nomeou o Sr. De Mun. Se esta gente nos quer dar uma república livre,
uma república liberal, Deus perdoar-lhes-á a sua ignorância e a França
tornar-se-á habitável.
As
escolas sem Deus encheram a nossa cidade de uma série de gente não exemplar. As
moças sobretudo são desprezíveis. Elas correm atrás dos soldados de todas as
nações. São como os cães. Façam uma escola obrigatória, mas com a catequese e a
educação cristã.
Dias
27-28-29. Ainda há tiros, mas nada significativos. As nossas ambulâncias estão
congestionadas. Os feridos foram levados para a praça do liceu e para as
avenidas, esperando poder removê-los ou acomodá-los. É um espetáculo
constrangedor. Assim o quiseram os Impérios Centrais que declararam a guerra.
Dias
29-30. São Miguel não nos trouxe a nossa libertação. Já não ouvimos os canhões,
a luta distancia-se. Paciência! São Quintino tem quatro a cinco mil feridos.
Que carnificina em toda a frente de batalha!
Sem comentários:
Enviar um comentário