Resta-nos falar da pureza. Vimos
a educação cristã ensinar à criança a fé, o amor, o respeito, a coragem. Para
completar a educação e concluir esta obra-prima, falta ainda a única coisa que
salvaguarda e embeleza estas quatro coisas, aquilo que dá ao homem o
complemento da sua beleza: a auréola de uma angélica pureza.
Há na pureza da infância e da
juventude uma beleza superior às demais, que deve sofrer a prova dos assaltos
da carne e da volúpia, e que a filosofia sozinha é impotente a preservar. É
preciso acrescentar que a educação cristã é verdadeiramente a sua única defesa.
Razão tinha De Maistre quando
dizia vendo certos colégios: “O olhar do sábio detém-se dolorosamente sobre
esta massa de jovens em que as virtudes são isoladas e os vícios postos em
comum.” Sim, é com estranho espanto que os pais e as mães e todos os que se preocupam
com as almas contemplam este estranho espetáculo: duas ou três centenas de
crianças, no momento em que os sentidos despertam e as paixões fervem, atiradas
para esta atmosfera incandescente, e os mestres a pairar numa indiferença
tranquila acima destas tempestades dando-se por satisfeitos se conseguirem
manter nesta loucura ardente uma ordem de conveniência e uma disciplina
imposta. Sem dúvida que a filosofia sabe ensinar à criança, que submeter a
carne ao espírito é o primeiro dever do homem e que a pureza é a honra da
juventude, mas conhece-se o poder desta vaga moral sobre as paixões ardentes.
A educação cristã possui luzes
penetrantes, forças dominadoras e influências vitoriosas que a filosofia
desconhece.
A educação cristã dá à alma da
criança cintilações sublimes que dão à pureza que lha pede uma coroa celeste e lhe
dá uma atração divina. É ela que ensina à criança que o seu corpo é um templo,
a sua alma um santuário, o seu coração um sacrário, onde JESUS CRISTO vivo vem
morar. É ela que revela à criança, no tesouro da sua inocência, o preço do
sangue de um Deus. É ela por fim que faz aparecer, mas alturas do céu, o ideal
da pureza, irradiando do rosto de CRISTO e da Virgem Imaculada sobre a
humanidade cristã.
Com a luz que mostra a pureza, é necessária
na vontade uma força que a natureza sozinha não pode dar.
Esta força vem do banho
fortificante e regenerador em que a Igreja nos mergulha com todos os seus
sacramentos; encontra-se nas águas da penitência e no caudal do sangue de JESUS
CRISTO; encontra-se na confissão e na comunhão, e nesta pura atmosfera formada
em torno da criança por todas as práticas santas.
Ah! Sem dúvida, isto não quer
dizer que nenhuma criança abusará da sua liberdade e não se sentirá pobre no
meio de toda esta riqueza; mas o que é verdade, é que a maior parte, num meio
onde se distribui a educação cristã, conservará até aos dezoito anos a sua
pureza ainda intacta ou gloriosamente reparada depois das feridas do combate.
Recorro novamente às nossas
testemunhas.
Uma criança de dezasseis anos
escrevia no seu caderno orações como esta: “Virgem Maria, sei que vos devo
tudo; é a vós que dou graças por tudo, mas em particular pela pureza que me
conservastes até este dia e que me conservareis durante toda a vida, não é?, ó
Virgem Imaculada! Tomo o céu e a terra como testemunhas do meu juramento, sim,
mais de mil vezes a mais cruel morte do que um só pecado contra a santa
virtude!
Outro “teve de travar grandes
lutas contra as suas paixões, porque tinha um temperamento muito ardente, mas
ao mesmo tempo dotado da energia que normalmente acompanha estes caracteres,
sabia reprimir os impulsos da sua natureza”.
Um terceiro ia completar
dezassete anos, e no entanto “a serenidade do olhar, a franqueza expressiva do
sorriso, a simplicidade da linguagem, a modéstia das suas maneiras, não sei que
aspeto encantador de reserva virginal e de abandono infantil, tudo nele deixava
transparecer a inocência do coração”.
Para outro: “eu conheci, diz uma
testemunha, este excelente jovem e fui depositário das suas confidências. Não
vos direi nada da admirável pureza da sua alma, da delicadeza da sua
consciência. A virtude que tínheis admirado na criança encontrava-se ainda no
jovem mais madura, fortalecida, embelezada pela luta e pelas vitórias. Tudo o
que tinha aspeto de mal inspirava-lhe ou horror ou desprezo”.
Aqui, recolho o juízo dos
colegas: “nunca ouvi sair da sua boca qualquer palavra ainda que fosse pouco
leviana”. – “A sua qualidade dominante era, a meu ver, a modéstia”.
Ali, é um mestre que envia um
aluno ao responsável superior: “Quanto aos seus costumes e à sua piedade, não
se preocupe: é uma criança perfeita. Para mim que o acompanhei durante quatro
anos, nunca o surpreendi, não só uma palavra, mas nem sequer um olhar, um
sorriso, um gesto, uma atitude, que fosse indício de uma virtude diminuída”.
São alguns extratos; eu poderia
completar um volume. Apresento apenas mais um que põe frente a frente os dois
sistemas da educação e respetivos. Uma criança tinha sido enviada primeiro para
uma casa pouco cristã. “Lá, diz a sua biografia, a imoralidade reinava por
entre os seus colegas; ela era quase geral: se não o atingiu, se ele se
conservou puro, só se o pode atribuir à piedade que a sua mãe lhe tinha
incutido, à sua prudência na escolha dos amigos e à forma como se aplicava ao
trabalho em todo o curso dos seus estudos. Estas felizes qualidades atraíram
sobre ela o ódio e a inveja dos seus rivais; estes moveram-lhe pirraças e
perseguições secretas.
Os desgostos que sofreu nesta
casa e sobretudo os perigos que corria a sua inocência levaram os pais a
tirá-lo de lá para o meter numa casa eclesiástica. A sua piedade já sólida,
pareceu então encontrar-se no seu ambiente natural e cresceu consideravelmente
no meio de bons exemplos que tinha sob os seus olhos”.
Nós sabíamos e agora vemos de
maneira palpável esta verdade de facto: a mais bela das virtudes da infância
reina principalmente nas casas da educação cristã.
Quero terminar com um contraste.
Copio o retrato do colegial dos nossos dias, traçado por um escritor que tem um
dos primeiros lugares na Revista dos Dois
Mundos e que é, nesta circunstância, apenas o eco da opinião comum (Georges
Sand).
“O adolescente, diz ele, ou é
educado de uma maneira excecional ou então deixa de existir. O que nós vemos
todos os dias é um colegial mal educado, infetado por algum vício grosseiro que
já destruiu no seu ser a santidade do primeiro ideal; ou, se, por milagre, a
pobre criança escapou a esta peste das escolas, é impossível que tenha
conservado a castidade da imaginação ou a santa ignorância da sua idade… É
feio, mesmo quando a natureza o dotou de beleza… tem o aspeto envergonhado e
nunca vos olha nos olhos.
As carícias da sua mãe fazem-no
corar; dir-se-á que se reconhece indigno… Ser-lhe-ão necessários anos para
perder o fruto desta detestável educação, para perder esta marca de fealdade
que uma infância desgraçada e o embrutecimento da escravidão imprimiram na sua
fronte, para olhar com serenidade e erguer a cabeça… Mas já as paixões se
apoderaram dele; nunca terá conhecido os afetos puros de que acabo de falar”.
É este, segundo parece, o retrato
do adolescente de hoje, quando não é educado de maneira excecional. Se assim é,
pais e mães de família, procurai para os vossos filhos essa educação excecional,
e estou convencido de que a encontrareis nas casas de educação cristã.
Mostrei-o nestes traços que recolhi de cem biografias diversas. Queria
mostrá-lo nos vossos filhos, mas não se louva os vivos e além do mais, para a
maior parte deles, a sua tenra idade desculpa-lhes a falta ainda de alguma
virtude.
Não posso ainda no nosso caso
louvar os defuntos. Nascemos há pouco tempo. Todavia o céu enviou-nos já a mais
amável das nossas crianças e arrebatou-a o ano passado. A sua vida poderia ser
objeto de uma notícia não menos interessante do que qualquer outra. Julgai por
algumas linhas extraídas da alocução proferida no seu funeral: “Saúdo, dizia o
seu venerável pároco, saúdo os restos mortais desta criança de catorze anos com
o mesmo respeito com que saudaria o ancião vergado pela vida e de virtude
consumada. Oiço, com efeito, o livro da sabedoria que nos diz: O que torna
venerável a velhice, não é a longevidade da vida, mas a prudência do homem
ainda que jovem que substitui os cabelos brancos, e a vida sem mancha, ainda
que curta, é uma feliz e gloriosa velhice. Vós que conhecestes o Eugénio,
dizei-me, esta singela pincelada dada pelo próprio espírito de DEUS, não traz
até aos nossos olhos a figura pura e radiante do nosso querido menino? Quem não
trocou com encanto algumas palavras com ele? Quem não se sentiu atraído por
ele? Quem não se achou melhor ao separar-se dele? A piedade era a base desta
natureza essencialmente cristã. A piedade foi porventura entrave para o cultivo
da inteligência? Vede: no confronto com espíritos de elite, qual é o seu lugar?
O primeiro invariavelmente. Ele tem no quadro de honra um lugar garantido, e
quando os seus mestres queriam citar um modelo para o trabalho, para a
obediência, para a educação e as boas maneiras, eles diziam: Vede o Eugénio” (Eugénio
Savard, d’Origny-Saint-Benoît. – Discurso pronunciado no seu funeral por M.
Abade Jardinier).
Este quadro condiz com o que nos
ofereceu há pouco o escritor que se assina por Georges Sand.
Voltemos a ler agora a objeção
que ressoou este ano na imprensa e na tribuna: “A educação cristã não é capaz
de produzir a virtude.” Ela espanta-vos, não é? E o seu atrevimento faz-vos
sorrir.
A vossa confiança está reanimada;
era esse o meu objetivo. Entrego-vos agora, pais e mães, os vossos filhos. Eles
vão receber as recompensas do seu trabalho, esperando triunfos mais brilhantes
num cenário mais elevado, em que hão de imitar, assim o espero, os mais velhos
que conseguiram este ano cinco diplomas de bacharelato.
De seguida Monsenhor se
dignar-se-á dar-lhes a sua bênção, depois partirão fortes e alegres para
praticar durante as férias as virtudes que são as amáveis companheiras da
educação cristã: a piedade, a pureza, a energia e o afeto.
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