No dia 12 de Agosto uma grande página da história religiosa acabou de ser virada.
A caneta caiu pela fraqueza das mãos que escreveram durante sessenta anos, mas os anjos a apanharam e a colocaram no livro da vida.
A um dos seus mais ilustres filhos do século XIX a Diocese de Soissons, da qual eu também sou filho, oferece, através do meu ministério, as minhas lágrimas e dores, o meu grande sentido de perda, mesclado com gratidão e respeito, o tributo de orações que ele fez por merecer por tantos motivos.
No estilo dos verdadeiros sacerdotes, em vez de se instalar num castelo de marfim da sua superioridade intelectual, ele atirou-se no seu ministério, especialmente em favor da classe trabalhadora.
Precursor de Leão XIII, precedendo o seu tempo, ele proclamou aos quatro ventos:
- Ide ao povo!
Por 20 anos houve alguma iniciativa religiosa em São Quintino que não contasse com o apoio desta grande alma, o Pe. Dehon?
Os jovens acorriam até ele cheios de entusiasmo; os padres devotos e dignos uniram decisivamente os seus ideais ao dele.
O Colégio São João era uma colmeia esfuziante de energia na qual o mais puro mel foi produzido.
Com que veneração, emoção e piedoso afecto os ex-alunos referem-se ao Pe. Dehon.
Com que dor souberam da sua morte e com que angústia rodearam o seu esquife.
Ele deve ter sido grande, um homem de coração grande, tão amado!
Os grandes trabalhos de Deus nunca acontecem sem adversidades.
O Pe. Dehon não trilhou uma estrada de triunfos.
O seu Monte das Bem-aventuranças esteve ao lado do Monte Calvário.
Ele, porém, tinha feito o seu voto de vítima.
Palmilhando um caminho de pedras e espinhos ele encontrou o Coração de Jesus e entregou-se completamente a ele, juntamente com um bom grupo de amigos.
Muitos padres da Diocese de Soissons devem o nascimento, o desenvolvimento e a realização da sua vocação sacerdotal a este grande e santo sacerdote, cujo coração era tão generoso, nunca recuou diante das dificuldades, obstáculos e desilusões e para quem a palavra ‘impossível’ não existia.
A exemplo de São João Baptista, ele não nutria inveja daqueles que o superaram em crescimento espiritual desde que estivessem no caminho de Cristo e a seu serviço.
Por isso a Diocese de Soissons e o seu Bispo lhe devem eterna gratidão.
O Pe. Dehon sabia que estava a morrer e não se perturbou com isso.
Pouco antes de dar o último suspiro, contou-me um dos seus amigos:
- Jesus é tão bom, ele logo me receberá no paraíso.
Nós recitaremos as preces finais da sagrada liturgia de forma que a vontade desta grande alma sacerdotal, sempre cheia de confiança, seja atendida.
E a todos vós que credes em Cristo eu digo:
- Sede amigos do Coração de Jesus como era o Pe. Dehon e, com ele, superareis este momento em paz e no regaço do Senhor.
Amen.
D. Henrique Binet, Bispo de Soissons, Sermão do Funeral do Pe. Dehon,19 de Agosto de 1925
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