Porque é Carnaval, ninguém leva a mal.
No
folclore madeirense há, numa rapsódia, a adaptação da letra e da música de um
fado antigo português (1903/04?), chamado Margarida Vai à Fonte. O fado
original começa assim:
Margarida
vai à fonte (bis)
Vai
encher a cantarinha
Brotem
lírios pelo monte
Vai
sozinha para a fonte
Vai
à fonte e vem sozinha.
Brotem lírios pelo monte
Vai à fonte e vem sozinha.
Na
versão madeirense há apenas o início adaptado de maneira brejeira explicando
por que é que a Margarida vai à fonte. Ela vai à fonte não por interesses
pessoais, como imaginam as mentes perversas, para namorar ou para saciar a sua
sede, mas por pura caridade, não a pensar em si, mas nos outros, pois reza
assim:
Margarida
vai à fonte (Bis)
Vai
à fonte e logo vem.
Vai
buscar um balde de água (bis)
Pra
lavar os pés à mãe
Vai
buscar um balde de água
Pra
lavar os pés à mãe.
E
no folclore madeirense tudo fica por aqui, pois não há mais nada sobre a
Margarida. Mas pensando melhor, a Margarida não é só filha da mãe, mas também
filha do pai. Então porque é que não se refere nenhum préstimo ao seu
progenitor? Aqui vai uma proposta para colmatar essa discriminação e promover a
igualdade de género ou de outra espécie de fonte:
Margarida
vai à adega (Bis)
Vai
à adega e alegre vai.
Vai
buscar um jarro de vinho (Bis)
Pra
dar de beber ao pai.
Vai
buscar um jarro de vinho
Pra
dar de beber ao pai.
Assim
está melhor, pois vemos bem a dedicação da Margarida quer à mãe, quer ao pai,
lavando a garganta a um e os pés à outra. Mas isto não pode ficar por aqui. E
para a avó não vai nada, nada, nada? A Margarida sabe cuidar bem de todos,
novos e velhos. Eis a prova disso:
Margarida vai à horta (Bis)
Vai à horta e não vem só.
Vai buscar umas couvinhas (Bis)
Pr’o jantar da sua avó.
Vai buscar umas couvinhas
Pr’o jantar da sua avó.
A
Margarida é de facto uma moça muito prendada. É pena estar solteira. Não é por
falta de atributos, como se vê, nem por falta de vontade. Então porque é que
ainda não encontrou namorado? Talvez porque não tem procurado no lugar certo.
Vejamos:
Margarida vai à igreja (bis)
Vai de peito apertado.
Vai rezar a Santo António (Bis)
Que lhe dê um namorado.
Vai rezar a Santo António
Que lhe dê um namorado.
Já
que Santo António ainda não atendeu o sonho da Margarida, há aqui alguém que
queira dar uma ajudinha? Não é ajudar a ir à fonte, à adega ou à horta, mas
ajudá-la a encontrar um noivo. Nem é preciso ir com ela à igreja para rezar.
Basta aproximar-se assim:
Margarida vem aqui (Bis)
Vem aqui qu’eu não te vejo.
Aproxima a tua boca (Bis)
Para me dares um beijo.
Aproxima a tua boca
Para me dares um beijo.
Quem
sabe se a Margarida toma o gosto e haja casamento. Por enquanto não podemos
exigir mais da Margarida. É uma moça generosa, mas muito respeitada. Querem
continuar esta história? Respeito é uma das poucas coisas que se recebe quanto mais
se dá. Fiquemos então por aqui:
Margarida vai-te embora (Bis)
Vai-te embora descansar.
Quem quiser mais de ti (Bis)
Vai
ter muito qu’esperar.
Quem quiser mais de ti
Vai ter muito qu’esperar.
Para
ouvir a canção original
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