“Num
dia de novembro (de 1946), pelas quatro horas da tarde, o Provincial veio dizer-me:
-
Pensei que tu fazias um jeitão lá na Madeira, na Escola de Artes e Ofícios…
sabes de eletricidade….
O
mais difícil foi dizer aos meus pais! Primeiro ao pai… depois à mãe!
-
Onde é a Madeira?
A
verdade é que eu não sabia bem onde estivesse esta Madeira.
Procurei
no planisfério dependurado na sala de jantar. Havia lá no meio de tanta água;
mas o sinal da ilha perdia-se entre outras letras e marcas.
-
Está no meio do Oceano…
Ficaram
na mesma.
Foi
uma minha tia, grande devoradora de livros, que resolveu o problema e tornou a
Madeira familiar em minha casa.
Encontrou
um romance italiano que fala de “um dia na Madeira”.
O
livro foi lido… estudado! Ilha maravilhosa, cheia de flores… clima ótimo. Meus
pais ficaram um tanto aliviados.
Mais
aliviados ficaram quando, uns dias depois, lhes pude apresentar o meu Superior:
Pe. Ângelo Colombo.
Ficaram
logo a gostar do homem.
-
Confiamos-lhe o nosso filho – disse meu pai.
-
É tão criança ainda – acrescentou minha mãe.
Eu
era um rapaz de 25 anos, saído há meses do seminário, com os olhos fechados,
apenas com um desejo grande de semear a Boa Nova aos pobres.
O
Pe. Colombo, já com 2 anos de sacerdócio, uns tantos de Universidade, com o seu
doutoramento, com uma experiência romana… e, especialmente, um padre com
verticalidade e humanidade servidas por uma inteligência serena e clara, foi a
pessoa escolhida pela Providência, capaz de responder ao desígnio que tinha
sobre nós.
Passámos
o último mês na azáfama da preparação da partida.
Pus-me
a estudar também português. Empresa difícil!
Comprei
a única gramática que havia no comércio naquele tempo: o Ragliavini. Começava,
como é natural, pela pronúncia.
Desanimei!
Umas
tantas maneiras de pronunciar o ‘e’, outras tantas de pronunciar ‘a’, meia dúzia
de sibilantes e regras sem fim.
Estava
mesmo para largar tudo da mão quando, mais adiante, encontrei um trecho em
português que me encantou. Era a descrição da menina de olhos verdes de “As
Viagens da Minha Terra”. À minha maneira, mas entendi tudo. Aquele trecho,
reconciliou-me com a língua portuguesa para sempre!”
Isto
foi há 75 anos, nas vésperas de partirem para Portugal e fixarem-se na Madeira!
(CF.
Memórias pessoais do Pe. Gastão Canova)
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